Citações #73 — Os olhos claros do pássaro

Os olhos claros do pássaro, obra escrita por Valéria Macedo e publicada em 2023, é aquele tipo de leitura que realizamos e que permanece em nós por muito tempo.

“A vida foi acontecendo e, sem perceber, um ruído silencioso se fez presente”

A escrita da autora é leve e fluida e, nesta obra, ela consegue abordar com leveza temas muito importantes. 

“Imagino que feridas mais profundas estavam abertas e pulsavam a céu aberto sem serem notadas”

Não consegui me aprofundar em muitos desses assuntos ao longo da resenha, então hoje trarei aqui um bom número de trechos que gostaria de ter compartilhado antes. 

“A observação do modo de viver do outro trazia reflexões sobre nossa própria vida e nossas escolhas”

“Tantas coisas viajam na gente e nem notamos”

“A gente guarda muito mais do que precisa”

Uma das temáticas que se faz muito presente na obra é o fechamento de ciclos, afinal, a vida é cheia deles, que tanto nos transformam, renovam, ensinam.

“Mal sabia eu que aquela fechadura simbolizaria a abertura de uma nova fase de minha vida”

“Sempre fui fã de recomeços”

“Algumas decisões não são nada fáceis. A conhecida escolha é sinônimo de renúncia”

“Tudo tem início, meio e fim. Tudo é temporário”

“As despedidas mais difíceis seriam as últimas”

“Às vezes nossos desejos e emoções podem apontar para uma direção diferente do que é o certo a fazer em relação ao que vivemos”

Os ciclos fechados na vida de Valéria, propiciaram à autora muitas (re)descobertas, principalmente de si mesma.

“Mudei de carreira aos vinte e seis anos: de analista de sistemas fui me dedicar à odontologia. O casamento, a nossa nova casa, a vida a dois e a nova carreira foram grandes oportunidades de me reinventar e respirar novos ares”

“O não pertencer me fazia sentir livre como jamais havia sido. Liberava-me para ser eu mesma. Não precisava me adequar a quase nada”

“Minha menina do passado estava presente. Eu estava inteira”

“Em pouco tempo, me dei conta que não tinha mais sentido me agarrar ao que já não era mais”

“Não se valorizar leva a perda de energia, a se tornar disfuncional e adoecer mentalmente e fisicamente”

“Quando reconheci minha ignorância passei a aceitar a do outro também”

“Não eram situações novas, mas eram situações ressignificadas”

“As nossas histórias são pedacinhos de uma história muito maior”

“Dentro da caixinha de ganhos residem perdas e dentro da caixinha das perdas se escondem ganhos”

Muitos desses trechos inclusive nos conduzem às suas reflexões sobre o pertencimento.

“Não via a possibilidade de ser aceita se expusesse a verdade que vivia intimamente”

“Os lugares fazem as pessoas ou as pessoas fazem os lugares?”

“Nunca foi o lugar, sempre foi a gente”

“Já me senti perdida no mundo. Não pertencente por inteira a nenhum lugar”

E sobre o estarmos (ou não) sozinhos nesse mundo.

“Estar em lugares lotados de pessoas circulando e estar só”

Um tema sem dúvidas importante para este livro é o da migração, como mencionei na resenha.

“Imigrar pedia coragem. Pessoas que deixaram seu país, sua família, às vezes seus filhos para possibilitarem uma vida melhor a um outro alguém”

“O julgamento das escolhas e motivações, que trouxeram estas pessoas a viverem longe de sua pátria, cabia só a elas mesmas”

“Viver em Paris em condições tão privilegiadas era algo que jamais havia imaginado”

“Os países onde vivemos e suas culturas não foram as grandes mudanças que aconteceram.  A grande migração foi interna”

A autora sempre nos lembra, contudo, que nem tudo é fácil e bonito como pode parecer para quem apenas acompanha de longe ou sonha com a vida em outro país.

“Tudo era novidade, os sons, cheiros, sabores e todos os rostos que via”

“Recebi demais do mundo e nem tudo foi bom”

“Era preciso diminuir a velocidade da viagem da vida e passar a apreciar mais as paisagens”

“Não podia combater a realidade, então aceitava e me adaptava”

“Aprendi a escutar silêncios por trás de palavras e palavras por trás de silêncios”

“As possibilidades eram infinitas, mas o tempo não”

“Confesso que, com o passar do tempo, passei a notar que sempre havia uma certa tensão no ar. Éramos revistados em todos os lugares que fôssemos”

“Em situação fragilizada, as relações entre as pessoas transitavam da superficialidade às profundezas rapidamente”

“Os encontros que nos incomodam são caminhos de reflexão”

“Londres carinhosamente esfregava na cara as minhas ilimitadas limitações”

É muito interessante como a natureza tem papel importante na construção desta narrativa, enriquecendo sentimentos e descrições.

“Sempre é verão em Miami”

“Outono é sinônimo de transição e mudança. Estação da impermanência. Não é verão extrovertido, nem inverno reservado. É caminho do meio. É equinócio, equilíbrio de luz e escuridão”

“Sábia é a árvore que aprendeu a desapegar de suas folhas para seu próprio bem”

“O frio contrai, encolhe, fecha, faz movimento para dentro”

E conhecer alguns lugares através dos olhos da autora se torna uma experiência muito interessante.

“Londres e sua pontualidade pontuam ideias contrastantes constantemente”

“Londres é coerentemente paradoxal. Cidade onde cabe o mundo”

“Londres era silêncio e velava tantas perdas. O mundo em luto”

Também é difícil não se encantar com o modo dela falar das pessoas que a cercam, principalmente seus filhos. E é muito bom ver que a autora enxerga a força contida em cada um de nós.

“Havia envelhecido, mas era um menino assustado, vulnerável e perdido”

“As mulheres podem ser verdadeiros portais de cura para outras mulheres”

“Nunca duvide do poder de quem nos quer verdadeiramente bem”

“Maitê era um espírito livre demais para tantas regras”

“Cada um de nós enfrentava seus próprios obstáculos”

E como há poesia mesmo nas coisas mais difíceis: em cada adeus, cada perda, cada dúvida. 

“Mas era doença que se disfarça, com um tudo bem e um sorriso. Ninguém notava”

“Acho que a passagem de um ano faz possível se vivenciar a ausência de quem amamos em todas as datas comemorativas nele contidas”

“Meu irmão havia tentado lançar voo para além do horizonte. Onde tememos ir, mesmo sabendo lá ser o nosso destino final”

“Quero enxergar o que não se vê através dos olhos. Desejo olhos sem o peso da memória”

“Fingimos que vivemos para sempre, mas estamos indo embora”

Um dos valores mais ressaltados é, sem dúvida, o da liberdade. Liberdade de escolher, de opinar, de sermos quem somos, de viver.

“Não há luxo maior do que o de ser livre”

“Onde não há discordâncias ou diferenças não há crescimento”

“Certos pensamentos podem custar o preço da liberdade de viver. Limitam o voo”

No fim das contas, tudo que mencionei até aqui e tudo aquilo que aprendemos aos longo das páginas desta obra culminam em duas reflexões bem importantes: o valor do aprendizado e dos sonhos que nos movem.

“Acredito que os sonhos são os grandes catalisadores de travessias”

“Aprender é essencial. Força motriz da vida”

Os olhos claros do pássaro é, como eu já disse, um livro para ser lido e relido. Se você ainda não se convenceu disso, passe lá na resenha para conhecer um pouco mais a fundo a obra e sua autora.

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