Título: Carrie Soto está de volta Original: Carrie Soto is back Autora: Taylor Jenkins Reid Editora: Paralela Páginas: 352 Ano: 2022 Tradutor: Alexandre Boide

Sinopse
A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido. Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente. Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.
Resenha
Preciso começar esta resenha destacando que Carrie Soto está de volta não foi um livro que me prendeu de início, mas que depois me deixou totalmente rendida.
“Você não precisa provar nada para ninguém. Só precisa ser quem você é”
Acredito que parte da demora em me conectar com a história vem do fato que Carrie não é uma personagem cativante. Mas as poucos vamos entendendo que ela tem de ser exatamente assim para que a narrativa funcione e faça a sua mágica. Esta não é uma personagem que veio para se tornar adorada, mas para ser quem é.
“As pessoas agem como se fosse impossível esquecer seu próprio nome, mas, se você não tomar cuidado, pode se afastar tanto do que sabe a respeito de si que deixa de se reconhecer como a pessoa que um dia foi”
Logo de cara conhecemos Javier e Carrie Soto. Pai e filha, ases do tênis.
“Meu pai se mudou de Buenos Aires para os Estados Unidos aos vinte e sete anos. Tinha sido um excelente tenista na Argentina, ganhando treze títulos em onze anos de carreira. Era chamado de ‘Javier el Jaguar’. Era elegante, mas mortal”
Também ficamos sabendo, ainda no começo da história, que a mãe de Carrie morrera quando esta era bem pequena.
“Minha maior lembrança mesmo é do vazio que ela deixou para trás. Na minha casa, havia sempre a sensação de que antes tinha mais alguém lá. Mas no fim ficamos só meu pai e eu mesmo”
Esse é um detalhe que, como percebemos mais adiante, contribui em grande medida para a personalidade de Carrie. Influencia em seu medo de amar, ao mesmo tempo em que deixa o caminho livre para que Javier dê tudo de si para transformar a filha numa grande campeã.
“Seus sonhos haviam sido realizados. Os meus, não”
Acontece que essa sede por vitórias se entranha de tal forma na protagonista que ela passa a viver somente para isso: ganhar. E acaba deixando de lado todo o resto da vida que poderia viver também.
“Não tinha nenhuma amiga, nem no circuito, nem na vida”
O retorno ao qual o título nos remete é de Carrie às quadras, após cinco anos de sua aposentadoria. E, claro, esse retorno se dá porque ela está prestes a perder o seu recorde.
“Tudo o que nós conseguimos é efêmero. Em um segundo está na nossa mão, em seguida não está mais”
Mas o esporte, assim como qualquer profissão que exige muito de nosso corpo, não é algo que se possa fazer indefinidamente, assim como não é algo que conseguiremos executar da mesma maneira eternamente. Carrie, contudo, é teimosa e não vai desistir de tentar.
“É enlouquecedor me esforçar tanto quanto antes e não conseguir os mesmos resultados”
Nos primeiros capítulos deste livro, somos apresentados ao antes, aos anos de ouro de Carrie e sua trajetória até eles.
“Alguns homens têm permissão para estender indefinidamente sua infância, mas as mulheres sempre têm um trabalho a fazer”
Depois, passamos a acompanhar o retorno de Carrie às quadras: seus treinos, suas buscas pela forma e pela perfeição. Mas, principalmente, acompanhamos todo o aprendizado que essa experiência traz para a protagonista e toda a transformação interna pela qual ela, pouco a pouco, vai passando.
“Dar tudo de si e mesmo assim não conseguir. Nunca chegar lá e ainda ter que aparecer todo dia com um sorriso no rosto?”
Se engana quem pensa, porém, que este é um livro somente sobre breakpoints, games e sede de vitória. O que me conquistou ao longo desta narrativa foi perceber que há muito mais nas entrelinhas.
“Mas é claro que não existe certo ou errado. Tudo depende do ponto de vista”
Conforme Carrie avança em seu retorno às quadras, ela tem de lidar com frustrações, cobranças — principalmente internas — e sentimentos que, por anos, ela não se permitiu sentir.
“É preciso saber aproveitar o embalo quando está dando tudo certo e ter força para nadar contra a corrente quando a maré vira”
A construção da narrativa também permite que se façam críticas — muito bem inseridas na história —, à nossa sociedade, principalmente com relação ao machismo.
“Uma das grandes injustiças do mundo corrompido em que vivemos é que se considera que as mulheres vão decaindo com a idade, e que os homens, por algum motivo, vão se tornando mais profundos”
Mas o que mais chamou minha atenção foi o fato desta não ser nem de perto uma história de amor (romântico) e, ainda assim, conseguir dar umas boas pauladas sobre o tema.
“Quanto maior é a felicidade no início, pior é a tristeza no fim”
Além de Javier e Carrie Soto, outro personagem importante nesta narrativa é Bowe Huntley, que, ao contrário da protagonista, consegue ser cativante, mesmo que, num primeiro momento, não seja apresentado como o melhor dos homens.
“Sei que você só estava tentando… cuidar de mim. E eu não sou uma pessoa fácil de ser cuidada”
Claro que isso acontece principalmente porque a história é narrada em primeira pessoa, o que torna ainda mais enviesada a nossa visão.
“Quando acelero a cena na minha mente, mal consigo suportar o que vejo. Ele vai dizer alguma coisa encantadora em algum momento, e eu vou começar a acreditar que é verdade, apesar de todas as evidências em contrário. E vou começar a gostar dele, ou vou me apaixonar por ele, ou vou sentir uma coisa que vou achar que nunca aconteceu antes comigo. E então um dia, quando eu estiver mais envolvida, ele vai deixar de gostar de mim ou de me amar, por um motivo ou por outro. E eu vou acabar com um vazio no peito”
Sendo este o segundo livro que leio de Taylor Jenkins Reid, não posso deixar de comentar outro elemento que chama atenção em suas obras (ao menos nas que li até agora): o uso que a autora faz de diferentes gêneros textuais para compor sua história e auxiliar na construção dos personagens e dos cenários.
Em Carrie Soto está de volta, por exemplo, nos deparamos com algumas transcrições de programas esportivos e reportagens que falam, principalmente, sobre a protagonista. E essas transcrições nos ajudam a ampliar a compreensão dos elementos que compõem esta narrativa.
“E isso me deixa em um silêncio atordoado por um instante, a distância entre quem eu sou e como as pessoas me veem”
Muitas outras reflexões seriam possíveis de se fazer sobre este livro (inclusive pretendo ainda fazer outras, mas talvez não aqui) que, despretensiosamente, abarca tantos pensamentos. Porém vou deixar que você descubra por si o que mais esta história pode te reservar. Para isso, clique abaixo e garanta o seu exemplar.