Citações #65 — Sorte ou destino?

Que tal conhecer um pouco melhor o livro Sorte ou destino?, da Bruna Oliveira, através de alguns trechinhos que ficaram de fora da resenha?

Na história, a protagonista Anna claramente não tem uma grande autoestima.

“Você e essa sua mania de se menosprezar. Quantas oportunidades você deve ter perdido na vida, achando que era só coisa da sua cabeça?!”

Ao longo das páginas vamos compreendendo como ela, por conta disso, tenta realmente se anular perante os outros.

“Durante toda a minha vida tentei passar despercebida pelos colegas de sala engraçadinhos que sempre faziam piadas em relação a minha aparência. O problema dessa estratégia que eu adotei, é que esse tipo de comportamento quando repetido ao longo dos anos acaba não te deixando apenas blindada contra as brincadeiras de mau gosto. Ele te deixa invisível aos olhos da maioria das pessoas, e essa é a pior sensação do mundo”

E como ela deixa de viver muitas coisas, justamente por essa visão deturpada que tem de si, preferindo as histórias dos livros que lê à sua própria história.

“Realmente me arrependi de ter admitido meu interesse para a minha amiga, porque apesar de ser uma pessoa que se apaixona fácil, e sempre estar suspirando por alguém que nem sabe da minha existência, não costumo me abrir com ninguém sobre minhas paixonites. Uma vez que elas nunca dão em nada, é menos vergonhoso guardar o coração partido só para mim”

“O problema é que às vezes a gente toma uma decisão e o resultado dela acaba por ser o oposto do que esperamos”

“Quando não é real, é mais difícil de se machucar”

Felizmente, porém, o amor consegue sempre arrumar uma brecha e tomar conta de nós, antes mesmo de qualquer outro sentimento vir à tona.

“Não quero pensar em mais nada, eu só quero que meu coração pare de pular no meu peito todas as vezes que ele aparece de um jeito surpreendente, seja pessoalmente ou por mensagem”

“Ai meu Deus! Esse sorriso… Como é possível um simples sorriso ser capaz de fazer isso comigo?”

“Na hora que ela entra no carro, sorri para mim, e seu perfume me atinge em cheio. E é nesse momento que me sinto o cara mais sortudo do planeta, porque estou levando uma garota incrível para um encontro”

E quando nos damos conta, já é tarde demais: não queremos abrir mão da felicidade que a paixão traz.

“Eu poderia me desfazer em milhões de pedaços nesse instante que nem me importaria porque me sinto muito feliz”

“De todo modo, eu posso afirmar com absoluta certeza que nunca estive tão feliz e completa como agora”

“É meu amigo, quando a gente tá apaixonado nada tira o nosso bom humor”

Sorte ou destino? consegue, ainda, nos ensinar muitas lições. Como por exemplo compreender o que os personagens enxergam como destino.

“Já o destino é quando, apesar de todas as oportunidades perdidas, a vida vai te dando outras chances de fazer a coisa certa”

Ou ainda a necessidade de não perdermos tempo.

“A vida é curta demais para se perder tempo em todos os sentidos, românticos, familiares ou profissionais”

E também as marcas que os relacionamentos podem deixar em nós.

“Quando a pessoa não supera o término, ela ainda está apaixonada pelo ex. Agora o trauma é outra questão, não tem a ver com sentimentos e sim com o fato de que aconteceu algo ruim no relacionamento dos dois e ele tem medo que se repita mesmo estando namorando uma pessoa diferente”

Sorte ou destino foi uma daquelas leituras clichês que deixou meu coração quentinho e que também abriu espaço para pensamentos interessantes. Infelizmente, como eu disse na resenha, o livro não está mais disponível, mas você pode conhecer outras obras da autora clicando aqui.

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Hoje não tem resenha, mas…

O mês de março foi uma loucura só. Mas talvez você, que acompanha assiduamente este Blog, não tenha percebido, porque mesmo assim consegui manter as postagens em dia. As leituras, por outro lado, ficaram um pouco esquecidas, mesmo que a contragosto. Com isso, hoje não tenho nenhum livro para resenhar por aqui.

Eu poderia, contudo, escrever sobre qualquer outra coisa. Tanto é que o segundo post da semana será mantido normalmente. Mas ao invés de escrever algo novo para cá, gostaria de te convidar para ler (e assinar, caso ainda não assine) a minha newsletter!

A última edição foi enviada domingo (02/04) e nela eu comento um pouco dessa correria que mencionei, mas também falo sobre amor, sobre minhas leituras, faço um apanhado dos posts de março e te convido a conhecer alguns livros e financiamentos coletivos que estão acontecendo.

Para além disso, não tenho muitas novidades de lugar e acontecimentos, mas tenho VÁRIAS coisinhas que não poderia deixar de divulgar, a começar por dois lançamentos que tive a oportunidade de revisar e que estão no mundo, só esperando a sua leitura

Você também pode ler (e comentar) as edições anteriores. A newsletter existe no Substack somente desde janeiro, então dá para colocar a leitura em dia e aproveitar.

Chegou até aqui e na verdade não entendeu nada do que eu falei? Então espera, vou te explicar o que é uma newsletter!

Ela nada mais é do que um email enviado para pessoas que se inscrevem em uma lista e que tem funções diversas: lojas e empresas, por exemplo, podem enviar uma newsletter para falar de produtos e promoções. Escritores enviam newsletters para compartilhar seus textos (e lançamentos, claro). E eu? Bom, eu envio porque às vezes é gostoso só escrever e compartilhar coisas nem sempre cabem aqui.

A minha news (para os íntimos) é recheada de abobrinhas, resumos de leituras e de posts do blog, lugares-pessoas-momentos, novidades e, para fechar, uma musquinha (tem até playlist da news no Spotify).

Você pode ler qualquer edição já enviada sem precisar se inscrever, mas se você gostar do que encontrar lá e decidir assinar a news (gratuitamente), você receberá os próximos textos diretamente no seu email. Ah, prometo não lotar sua caixa de entrada. Só costumo enviar as news uma vez por mês, então é bem tranquilo!

Teresinha — Ana Larousse

Tem música que a gente houve e que nitidamente percebe uma história se desenrolando em forma de poesia cantada. Teresinha, de Ana Larousse, é uma dessas canções.

Toda vez que ouço esta música, é difícil não vislumbrar as imagens que são tão bem colocadas ao longo dos versos dela.

A música em questão faz parte do álbum Tudo começa aqui, lançado pela cantora em 2013 e cheio de outras músicas que carregam doçura, sentimentos e, claro, histórias.

Teresinha traz uma homenagem à vó de Ana. Com uma letra cheia de sentimentalidade e uma melodia gostosa de se ouvir, é difícil não se encantar por esta narrativa.

Acho que nas primeiras vezes em que ouvi a canção, me chamaram a atenção frases como “ela guiava colada no volante” e “e reclamava, tudo bem, do jeito dela”, pois são imagens tão comuns, mas ao mesmo tempo, tão únicas dentro da história aqui contada.

Ao mesmo tempo em que há imagens concretas, como o cabelo pintado de vermelho e o biscoito e o café para ir embora, a música também tem diversas imagens abstratas, como o velho tempo que entra e a hora de dormir em paz, que dão ares melancólicos à historia, nos fazendo entender que ela teve o seu fim.

Tudo que até aqui mencionei culmina com o final triste da música — também marcado pela diminuição do ritmo da própria melodia —, que talvez só quem já perdeu uma pessoa tão importante pode entender: a dificuldade em dizer adeus, o medo de ficar só e a capacidade de compreender que a morte também faz parte do ciclo da vida.

Deixo, abaixo, a letra completa da música, e também o vídeo, para quem quiser ouvir e se deliciar com ela.

Teresinha (Ana Larousse)

Ela pintava o cabelo de vermelho
Deixava os óculos do lado do chuveiro
Pra não cair
Deixava o velho tempo entrar
Ela guiava colada no volante
Rezava o terço pra cuidar do outro instante
Então vai
Que o tempo tá batendo atrás
E é hora de dormir em paz
Que falta você vai fazer
A casa é grande pra você
O medo te apagou, eu sei
Num carro azul 15 quilometros por hora
O mesmo biscoito e o café pra ir embora
E anoitecer
O riso que eu vi crescer
Ela esperava os filhos na janela
E reclamava, tudo bem, do jeito dela
É muito tempo eu sei
A vida cansa pra valer
Eu mesma vou adoecer
Talvez antes de ter historias pra contar
Antes de ver o amor passar
Isso deve doer
Ela fez a vida dela e de outros cinco
Se eu bem me lembro
Eu tava no colo dela
Ela guardou a minha infância no porão
Ela cuidou pra gente sempre se lembrar
Que antes era eterno
Mas tudo vai e volta só
Então vai que eu fico só a lembrar
Do tempo que era bom
Pé-de-manga, banhos de chuva
Jogar cartas, guaraná
Cor na poça d’água
Eu sei, morrer não dói
Mas ir embora nunca é fácil
Me ensina a dizer adeus
Me ensina a tricotar
Me ensina a cozinhar como você
Me ensina a não crescer só

Morangos mofados — Caio Fernando Abreu

Título: Morangos mofados 
Autor: Caio Fernando Abreu 
Editora: Companhia das Letras 
Páginas: 188 
Ano: 2019 (1º edição)

Sinopse

Em sua obra mais célebre, publicada em 1982, quando tinha trinta e quatro anos, Caio Fernando Abreu faz transbordar de cada página a angústia, o desassossego e o estilo confessional que o consolidaram como uma das vozes mais combativas e radicais de sua época. A prosa visceral dos dezoito contos de Morangos mofados ― potencializada pela hesitação coletiva de um país que vislumbrava a redemocratização ante a falência incipiente do regime militar ― traduziu as inconstâncias humanas mais profundas e continua, ainda hoje, arrebatando leitores de todas as gerações. Para José Castello, que assina o posfácio desta edição, embora seja um livro de narrativas curtas, “a obra mantém uma férrea unidade, em torno da coragem de se despir, da fidelidade aos sentimentos mais íntimos e mesmo os mais terríveis, e ainda à dificuldade de ser”.

Resenha

Em algum momento, uns anos atrás, li algo sobre Morangos Mofados e resolvi incluir este livro na minha lista de livros desejados e no meu aniversário deste ano, este foi um dos livros que a Isa me deu de presente e logo resolvi pegá-lo para ler.

Não me lembrava que se tratava de uma antologia de contos e confesso que, num primeiro momento, fiquei em dúvida do porquê havia me interessado por esta obra, até que entendi: os contos dela retratam, em sua maioria, relacionamentos homoafetivos.

“Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também”

(Conto: Terça-feira gorda)

Os personagens, na maior parte das histórias, não possuem nome e em mais de um momento me enganei com relação ao que imaginava sobre eles (porque, claro, meu pensamento sempre acabava seguindo, mesmo que sem querer, um padrão que não era o que o autor estava retratando).

Achei alguns textos de uma poética bonita, mas que os deixam mais difíceis de ler, tornando o ritmo de leitura um pouco mais lento. Ritmo este que talvez fosse necessário para uma obra como esta.

“Sempre posso parar, olhar além da janela. Mas do interior do trem, nunca é fixa a paisagem”

(Conto: Eu, tu, ele)

As temáticas também nem sempre facilitam: falar do ser humano, da nossa complexidade, dos nossos medos, sem sombra de dúvidas não é algo que se faça de maneira simples.

“Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio”

(Conto: Caixinha de música)

A obra é dividida em três partes:

  1. O mofo — contém nove contos e é dedicada aos tempos da ditadura militar.
  2. O morango — contém oito contos e trata sobretudo das transformações interiores.
  3. Morangos mofados — contém o conto que dá nome ao livro.

Esta edição da Companhia das Letras é muito bonita: o papel tem um toque gostoso e torna a leitura confortável e as bordas são arredondadas. Além disso, ela conta com uma carta do autor a José Márcio Penido e um posfácio de José Castello, que torna toda a leitura ainda mais significativa.

“Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos — acordar, comer, caminhar, dormir —, dentro dele algo permanecia imóvel”

(Conto: Transformações)

Apesar do período em que foi publicado, Morangos mofados ainda conserva ares de atualidade (o que não necessariamente é bom). E alguns de seus trechos ganham novos e inesperados significados com o passar dos anos.

“Então pensei devagar que era proibido ou perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval”

(Conto: Terça-feira gorda)  

Todos os contos possuem uma dedicatória, o que acrescenta mais uma dimensão às narrativas e também à obra.

O texto que mais gostei foi Aqueles dois — história de aparente mediocridade e repressão. Uma das poucas histórias em que os personagens têm nome e cuja narrativa possui uma clareza deliciosa de acompanhar.

Se você se interessou por esta obra, não deixe de clicar abaixo para saber mais e garantir o seu exemplar. A obra pode ser lida em formato físico ou digital.

Conhecer Morangos mofados se faz necessário em alguma medida.

Citações #64 — Proibidos de esquecer

Claro que eu escrevi uma longa resenha de Proibidos de esquecer, da Tayana Alvez, mas acabei deixando de fora dela muitos lindos trechos, que hoje trago aqui.

Relembro que a obra não está mais disponível para leitura, mas que fica a torcida para que, num futuro não muito distante, ela ganhe uma nova edição.

Proibidos de esquecer é uma narrativa que carrega em si muitas dores.

“Engulo em seco, porque o vazio que luto constantemente para esquecer ainda dói”

“É sempre mais difícil ver o que dói na gente, né?”

Parte dessas dores é causada por um dos sentimentos mais puros e intensos que existem: o amor. Em todas as suas formas.

“A gente sempre vai olhar para outra pessoa e pensar que seria mais feliz se…”

“O término do nosso casamento não me tirou só a minha esposa, mas a minha melhor amiga”

“Como a gente pode amar alguém que não conhece? Como a gente pode carregar tanta culpa por algo que não fez?”

As perdas também se fazem presentes ao longo desta história.

“Quando o perdi, muito de mim foi perdido também”

“É engraçado como quando a gente está feliz, sente que tudo vai durar para sempre” 

“E depois que a gente tem nossa alma partida, nunca é fácil sair do único lugar onde achamos conforto”

Mas se engana quem pensa que este é livro simplesmente triste, daqueles capaz de nos deixar apenas destruídos (deixa também, mas calma lá). Proibidos de esquecer também nos faz ter vários insights positivos sobre a vida.

“As coisas que não duram para sempre também dão certo. Só que no tempo delas”

“Tem reencontros que a gente acha que nunca vão acontecer”

E esta narrativa ainda traz uma definição bem interessante para a inveja.

“Inveja não é querer o que alguém tem, isso é cobiça. Inveja é querer que alguém não tenha alguma coisa”

Por fim, esta é, ainda, uma história sobre recomeços e sobre dar novos rumos às nossas vidas, apesar de tudo.

“No Rio eu sou ‘o pai do Roger’, ‘o pai daquele menino que…’, e eu simplesmente não consigo mais lidar com isso”

Vai me dizer que depois desses lindos trechos você não ficou com vontade de conhecer mais da escrita da Tayana Alvez? Então já segue a autora em suas redes sociais (Instagram | Twitter) e não perde mais nada dela!

Por um triz — Laís Corrêa

Título: Por um triz 
Autora: Laís Corrêa 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 270
Ano: 2023

Sinopse

Thales Fernandes vive uma vida totalmente desregrada e superficial, frequentando diversas festas regadas a drogas, bebidas e mulheres, coisas que para ele são sinônimo de uma vida fácil, livre e feliz.

Sua aparência de tirar o fôlego e sua fama facilitam tudo: as garotas vivem se jogando aos seus pés. Exceto uma. É por isso que tudo começa a mudar.

Marina Barros é uma garota centrada em seus estudos e projetos, mesmo afirmando que a vida é muito curta para se preocupar demais. Sempre tranquila, ela não se deixa aborrecer à toa, ainda que seu coração tenha a sina de se apaixonar pelos caras errados.

Quando as vidas de Thales e Marina se cruzam, os dias ganham um novo significado. O que ninguém previa era que um trágico acidente de carro, mudaria completamente os rumos que eles estavam tomando. 

E agora? Será que Thales vai aprender a ver e viver a vida de uma forma diferente? E Marina? Será que está certa em sua Filosofia de vida?

Resenha

A resenha de hoje é para quem procura uma história capaz de nos deixar aos prantos. Então já separa uma caixinha de lenço e vem conhecer a história de Thales e Marina.

Marina Barros é uma jovem muito centrada nos estudos e em seus planos pessoais, mas ela sente que sua vida será curta e, por isso, até onde sua timidez e seu jeito permitem, procura viver tudo o que tem direito.

“Eu sou uma pessoa muito calma. Poucas coisas me tiram do sério e eu não sou de ficar arrumando briga. Não seria isso que me faria chorar ou me descabelar. A vida é muito curta para me preocupar com banalidades”

Ela é uma personagem encantadora, daquelas que existem para nos passar uma linda mensagem e nos inspirar.

“A vida é curta, mas o mundo não vai acabar amanhã”

Por outro lado, temos Thales Fernandes, mais conhecido por Tubarão: um daqueles homens que só quer saber de pegação e que vê as mulheres como um simples objeto de prazer. Um horror.

“Eu não me apego, não assumo compromisso com ninguém, não será com ela que tudo isso vai ser diferente! Isso é só um plano para que eu atinja meu objetivo”

Apesar da fama de Thales, Marina acaba se apaixonando por ele, mas evita demonstrar esse sentimento. E é justamente essa aparente falta de interesse dela que chama a atenção de Thales.

Os amigos de Tubarão sabem que só existe uma forma dele conseguir de Marina o que quer: pedindo-a em namoro. E é isso que ele faz.

“Agora, uma parte de mim se sente culpada por todo esse jogo, já a outra se sente orgulhosa por esse feito e eu resolvo não pensar no conflito que há dentro de mim, ao menos não por enquanto”

Esse namoro de mentirinha, contudo, acaba trazendo muitas transformações para a vida de Thales.

“Afinal, se quero mesmo mudar, preciso estar pronto e preparado para os julgamentos que meus parças vão fazer”

É difícil não sentir um desgosto muito grande por Thales e por tudo o que ele faz com Marina, que aceita até demais a situação, até o ponto em que decide dar um basta.

“Eu te amo e isso não vai mudar, porém eu me amo mais e não vou esperar a vida inteira para você começar a seguir o que há dentro do seu coração”

A transformação, contudo, já estava acontecendo dentro de Thales, mas infelizmente ele só foi se dar conta disso tarde demais. E aí a gente até começa a sentir uma pequena compaixão por ele.

“Não tenha vergonha de chorar, isso mostra que você realmente é humano e tem sentimentos”

A narrativa é alternada entre os dois protagonistas e, assim, podemos ver diversas situações sobre o ponto de vista de um e de outro.

Por um triz trata de questões como a valorização de cada momento da vida, a alegria das pequenas coisas, o amor, a traição, a perda e o luto.

“Você não tem que ser forte o tempo todo, sentir a dor da perda é necessário. Você só não pode deixar isso te dominar a esse ponto, Thales”

Esta é, ainda, uma história que fala sobre sexo, drogas, abandono parental e depressão.

“Alguém precisava te dar esse choque de realidade, para ver se você acordava de vez para a vida”

A narrativa se passa no intervalo de pouco mais de um ano e nela temos cenários diversos, como a casa e o apartamento de Thales, a praia, as baladas e a casa de Marina.

O final foge ao óbvio e pode ser considerado triste, mas refletindo sobre ele, percebemos que era o necessário.

“Mal sabia eu que realmente era tarde demais, mas não pelo motivo que estava pensando”

Por um triz pode ser encontrado em formato digital (clique abaixo) e você pode seguir a autora em suas redes sociais (Instagram | Wattpad) para saber mais sobre este e outros lançamentos dela. 

E então, será que Marina Barros foi realmente capaz de operar uma mudança significativa em Thales Fernandes?

TAG: Chá literário

Faz muito tempo que não respondo uma TAG por aqui e no questionário que fiz no aniversário do Blog vi que esta é uma categoria apreciada pelos leitores deste site.

Por isso, hoje vou responder à TAG Chá literário, que vi lá no blog Literatura Presente, em 2021. Vem comigo?

1- Chá de Camomila — Um livro que acalmou você em situações agitadas.

Vou colocar aqui um livro que não sei explicar muito bem como, nem porque, mas cuja leitura me ajudou a virar uma chavinha numa época que eu precisava virar essa chavinha, deixando algumas coisas mais leves depois disso. 

O livro em questão é Pérolas da minha surdez, da Nuccia de Cicco. Apesar de não ter questões relacionados à surdez, esse livro me ajudou a superar outras dificuldades.

2- Chá de maçã e canela combinação perfeita — Um personagem do livro que você se identificou.

Achei essa difícil, porque, para mim, todo livro traz algum personagem com o qual, em certa medida, consigo me identificar. Mas para não deixar de ser específica, vou mencionar a Alice (nome, aliás, que gosto muito), de Profissão Fangirl, da Ana Farias Ferrari. 

Como eu disse na resenha, mesmo que eu não seja exatamente uma fangirl, essa personagem vive sentimentos e situações que me fizeram experimentar uma forte (e dolorosa) conexão com ela.

3- Chá mate forte, mas viciante — Um livro que trate de um assunto forte ou delicado, mas você ficou envolvido com a história.

Costumo sempre comentar por aqui que gosto de livros que tratem do Holocausto. Inclusive já realizei várias leituras com essa temática e quero ler tantos outros livros desse tipo.

E, para não deixar esta categoria sem uma resposta mais específica, vou deixar aqui, o último livro que li sobre o tema: O tatuador de Auschwit, de Heather Morris.

4- Chá de Hortelã cheirinho refrescante me ajuda a respirar — Um livro com uma história de amor que te faz suspirar.

Puts, essa aqui foi sacanagem, porque se tem uma coisa que eu gosto é de um romancinho (já que não dá pra viver isso na vida real, que possamos viver ao menos na imaginação, né?). 

Contudo, também não posso deixar de citar nesta categoria ao menos um dos maravilhosos livros da Tayana Alves: O irlandês.

5- Chá de morango, sei que existe, mas nunca tomei — Um livro antigo que muita gente leu menos você.

Existem muitos clássicos (e não clássicos) que várias pessoas leram e eu não. Acontece.

O escolhido daqui, porém, é um clássico que eu tenho um exemplar físico, que quero muito ler, mas que estou adiando há algum tempo: A metamorfose, de Franz Kafka.

Essas foram as perguntas e respostas da TAG Chá literário. E as suas escolhas, quais seriam?

Luzes — Leblon Carter

Título: Luzes: quando as luzes se apagam (livro 1) 
Autor: Leblon Carter 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 2015 
Ano: 2022

Sinopse

Simas é um jovem de dezenove anos que acaba de se formar na faculdade de comunicação e artes de São Paulo. Apaixonado por literatura e escrevendo seu primeiro livro para participar do concurso de pequenos escritores de Nova Iorque, ele se vê obrigado a trabalhar em um cinema antes de poder concretizar seu sonho.

Lá, ele conhece Cedric, um jovem colega de trabalho por quem começa a despertar sinceros sentimentos. Em meio ao trabalho árduo, a escrita e o amor não correspondido, Simas se vê em apuros quando percebe que relacionamentos amorosos podem gerar diversos problemas para ele e para qualquer outro que queira se aventurar nessa história.

Aos poucos, ambos vão percebendo que a última sessão só acaba quando todas as luzes se apagam, ou quando o primeiro beijo acontece.

Resenha

Alguns livros conseguem equilibrar clichê e criatividade na medida certa, trazendo uma narrativa agradável de ler. É isso o que acontece com o livro que hoje vou resenhar: Luzes.

“O conceito de arte é meio único para cada pessoa. Não dá para generalizar”

Nesta obra, Simas nos conta sobre a sua vida, nos mostrando um cotidiano que poderia ser banal, mas que carrega tanta sentimentalidade e profundidade que fica difícil não se envolver.

“Às vezes penso que o ser humano é tão complexo e vazio ao mesmo tempo”

Simas é jovem, mas logo entendemos que sua infância não foi das mais fáceis e que ele ainda tem muita coisa para ajeitar na vida (assim como ainda tem muito o que viver também).

“Tudo se refere à passado, presente e futuro. Sem isso somos um amontoado de pele, osso e carne, que anda por aí, sem destino ou rumo fixo”

Ele mora com a irmã mais velha e, ao longo das páginas, vamos entendendo que ele tem uma relação complicada com a mãe (coisa que só se explica totalmente mais para o final do livro) e pai sequer faz parte de sua vida.

Em Luzes, acompanhamos o início de Simas em seu novo emprego. Apesar de ter formação em cinema, o único cargo que ele consegue é como PAC, aquelas pessoas que conferem nossos ingressos, recolhem óculos 3D, limpam as salas do cinema…

“Quando você se forma em um curso que escolheu por amor, provavelmente acredita que as portas do mercado de trabalho vão magicamente se abrir. Porém, não foi bem isso que aconteceu comigo”

O próprio autor de Luzes — Leblon Carter — trabalhou como PAC, o que torna essa narrativa ainda mais rica, nos apresentando detalhes que muitas vezes desconhecemos.

O mais interessante, contudo, é o uso dos paralelos — muitas vezes mais presentes na forma de narrar do que fazendo parte da história em si — entre cinema e literatura e, claro, a análise das cores e luzes que o personagem volta e meia faz.

“As luzes internas tinham tons azulados, dando um ar de tranquilidade e calmaria”

A história não se passa em um intervalo de tempo muito grande, mas é o suficiente para que a vida de Simas passe por boas transformações: ele faz novas amizades e, claro, se apaixona. Mas será que esse sentimento o levará a algum lugar?

“E, mesmo com o som alto do filme nos alto-falantes, no teto, e as luzes piscando, na tela, em ritmo frenético, nada conseguia ser tão mágico quanto olhá-lo, de perto, em quase um escuro completo”

A maior parte da narrativa se passa dentro do próprio cinema, ainda que possamos, ao longo dela, também conhecer alguns outros espaços que compõem a vida do protagonista. Por mais delimitante que isso possa parecer, em momento algum a narrativa é monótona (muito pelo contrários, aliás).

“Então, independente de qual cor sejamos lá fora, temos a mesma tonalidade, aqui dentro”

Para além do cinema, das luzes e do amor, este livro nos fala bastante sobre solidão, de uma maneira que é difícil não se sentir tocado.

“Já eu… bom. Eu era a solidão. O lado azul da família. E não que eu seja antissocial ou que odeie seres humanos, mas existem momentos em que aquela tristeza momentânea bate e você só quer ficar sozinho. Ouvir apenas as vozes do seu pensamento e tentar se entender, por um milésimo de segundo, antes que as coisas comecem a ruir novamente. E as pessoas parecem nunca entender isso.  Então, quando você as abandona por um dia, para poder se dedicar totalmente nos outros trezentos e sessenta e quatro, elas acreditam que você está bravo ou que não quer mais falar com elas. E, por tê-las ignorado por um dia, você é ignorado, pelos outros trezentos e sessenta e quatro restantes”

E, claro, sendo Simas um escritor, o poder da palavra (tema que sempre chama a minha atenção) também se faz presente ao longo das páginas.

“Porque, seja de maneira intencional ou não, sempre machucamos outras pessoas. Palavras cortam como faca. Pensamentos escuros embaralham uma mente sã. Agressões físicas marcam a pele. E, às vezes, não nos damos conta disso. É como estar em uma guerra: você escolhe ser ferido ou ferir. E, acredite quando digo: a outra pessoa não vai pensar duas vezes em escolher te ferir”

Disponível apenas em formato digital, Luzes é um livro que vai te fazer vivenciar diversos sentimentos ao lado de Simas. Uma história para quem quer ler sobre amor e solidão apresentados de uma maneira quase poética, ainda que seja prosa pura.

“Não há nada mais instigante para mim do que ler um livro que me faça viajar para outro lugar”

Para garantir o seu exemplar, basta clicar abaixo. E não deixe de seguir o autor em suas redes sociais, para acompanhar o seu trabalho e seus lançamentos (Instagram | Twitter).

Citações #63 — Fisheye

Se você já leu minha resenha de Fisheye, da Kami Girão, deve ter percebido que esta é uma história muito bonita e interessante. Por isso, hoje trago aqui alguns dos trechos que ficaram de fora do post anterior.

Uma das coisas que me chamou a atenção na narrativa foi o humor ácido da protagonista, que a cada página fica mais e mais justificado diante de tantos percalços vividos por ela.

“E ri porque era humilhação demais para que eu me atrevesse a chorar”

A história tem como tema central a perda da visão de Ravena Sombra, mas ela também trata de muitos outros tipos de perdas.

“Ainda doía perceber que minhas amizades haviam morrido”

“Mas nem mesmo uma aceitação prévia consegue evitar a dor de perder alguém”

E também fala sobre o medo e o poder (muitas vezes negativo) que esse sentimento tem.

“Tinha tanto medo que já estava sufocada por ele”

Outro ponto interessante de Fisheye é a presença da internet (de maneira até que bem marcante) na construção de algumas das relações humanas ali retratadas.

“A gente nunca é pessoalmente o que parece ser pela internet”

Com estes trechos e este breve post, reforço minha recomendação para que você conheça esta obra tão sensível e importante! Não deixe de ler a resenha se você nunca ouviu falar sobre este livro e, claro, já garante o seu exemplar.

Pílulas azuis — Frederik Peeters

Título: Pílulas azuis 
Original: Pilules bleues 
Autor: Frederik Peeters 
Editora: Nemo 
Páginas: 206 
Ano: 2022 (9º reimpressão) 
Tradutor: Fernando Scheibe

Sinopse

Nesta narrativa gráfica pessoal e de rara pureza, por meio de um roteiro simples e de temas universais (o amor, a morte), Frederik Peeters conta sobre seu encontro e sua história com Cati, envolvendo o vírus ignóbil que entra em cena e muda tudo, e todas as emoções contraditórias que ele tem de aprender a gerenciar: amor, raiva, compaixão. Pílulas azuis nos permite acompanhar, sem nenhum vestígio de sentimentalismo, através de um prisma raramente (senão nunca) abordado, o cotidiano de uma relação cingida pelo HIV, sem deixar de lançar algumas verdades duras e surpreendentes sobre o assunto. Apesar da seriedade do tema, Pílulas azuis é uma obra cheia de leveza e humor. Não é à toa que é considerada por muitos a obra-prima de Frederik Peeters. Uma das mais belas histórias de amor já publicadas.

Resenha

Não sou uma pessoa que costuma ler muitos quadrinhos, conheço bem pouco desse universo. Mas acompanhando as postagens da Maíra (@literamai) é difícil não se interessar por algumas (várias) histórias. E foi assim que Pílulas azuis foi parar na minha lista de livros desejados. 

“E, de tempos em tempos, entre desconhecidos, algumas pessoas especiais…”

Nesta obra autobiográfica, Frederik Peters nos fala sobre temas como amor, companheirismo, presença, morte, preconceito e, o principal: sobre AIDS.

“A ciência apenas nomeou! Foi a sociedade que classificou!”

Uma história que parece começar sem grandes pretensões, apesar do traço já nos indicar certa densidade e melancolia, mas que, ao final, nos traz muitos ensinamentos e reflexões.

“As pessoas continuam desinformadas. Tenho que explicar toda a história desde o começo, todas as evoluções da medicina… É uma chatice… A ignorância leva ao medo”

E se este quadrinho já fez muita gente enxergar os avanços da medicina, o sabor da leitura torna-se ainda melhor quando feito após notícias da eficácia do tratamento (e até da cura) da doença a partir do transplantes com células-tronco.

Logo no início da história, Frederik nos fala sobre Cati, uma mulher livre, espontânea, por quem ele se apaixona. Mas queria o destino que eles ficassem juntos apenas muitos anos mais tarde, quando a bagagem dela já havia triplicado em tão pouco tempo: ela tornara-se HIV positiva e tinha um filho igualmente positivo.

Juntos, os três vão aprendendo a lidar com a doença, com os julgamentos da sociedade, com as constantes idas a médicos e hospitais. 

“As pessoas muitas vezes têm medo do que é muito pequeno ou invisível… Têm a impressão de que aquilo pode lhes fazer mal… Entende?”

Por ser um quadrinho, a leitura desta obra é relativamente rápida, mas pede um pouco de respiro. O traço é duro e a narrativa é toda em branco e preto, com impressão em papel off-white, que contribui para o contraste entre o traço (que parece nanquim) e o espaço. Não é um desenho necessariamente muito agradável aos olhos, assim como o tema não o é.

Uma leitura daquelas que não imaginamos precisar, até que a realizamos. Então se você tem uma mínima curiosidade sobre a vida e seus percalços, já deixo aqui a minha recomendação. Não é muito difícil encontrar a obra em formato físico (tem em vários sites, inclusive na estante virtual) e também tem o ebook na Amazon: