Carrie Soto está de volta — Taylor Jenkins Reid

Título: Carrie Soto está de volta 
Original: Carrie Soto is back 
Autora: Taylor Jenkins Reid 
Editora: Paralela 
Páginas: 352 
Ano: 2022 
Tradutor: Alexandre Boide

Sinopse

A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido. Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente. Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.

Resenha

Preciso começar esta resenha destacando que Carrie Soto está de volta não foi um livro que me prendeu de início, mas que depois me deixou totalmente rendida.

“Você não precisa provar nada para ninguém. Só precisa ser quem você é”

Acredito que parte da demora em me conectar com a história vem do fato que Carrie não é uma personagem cativante. Mas as poucos vamos entendendo que ela tem de ser exatamente assim para que a narrativa funcione e faça a sua mágica. Esta não é uma personagem que veio para se tornar adorada, mas para ser quem é.

“As pessoas agem como se fosse impossível esquecer seu próprio nome, mas, se você não tomar cuidado, pode se afastar tanto do que sabe a respeito de si que deixa de se reconhecer como a pessoa que um dia foi”

Logo de cara conhecemos Javier e Carrie Soto. Pai e filha, ases do tênis.

“Meu pai se mudou de Buenos Aires para os Estados Unidos aos vinte e sete anos. Tinha sido um excelente tenista na Argentina, ganhando treze títulos em onze anos de carreira. Era chamado de ‘Javier el Jaguar’. Era elegante, mas mortal”

Também ficamos sabendo, ainda no começo da história, que a mãe de Carrie morrera quando esta era bem pequena. 

“Minha maior lembrança mesmo é do vazio que ela deixou para trás. Na minha casa, havia sempre a sensação de que antes tinha mais alguém lá. Mas no fim ficamos só meu pai e eu mesmo”

Esse é um detalhe que, como percebemos mais adiante, contribui em grande medida para a personalidade de Carrie. Influencia em seu medo de amar, ao mesmo tempo em que deixa o caminho livre para que Javier dê tudo de si para transformar a filha numa grande campeã.

“Seus sonhos haviam sido realizados. Os meus, não”

Acontece que essa sede por vitórias se entranha de tal forma na protagonista que ela passa a viver somente para isso: ganhar. E acaba deixando de lado todo o resto da vida que poderia viver também.

“Não tinha nenhuma amiga, nem no circuito, nem na vida”

O retorno ao qual o título nos remete é de Carrie às quadras, após cinco anos de sua aposentadoria. E, claro, esse retorno se dá porque ela está prestes a perder o seu recorde.

“Tudo o que nós conseguimos é efêmero. Em um segundo está na nossa mão, em seguida não está mais”

Mas o esporte, assim como qualquer profissão que exige muito de nosso corpo, não é algo que se possa fazer indefinidamente, assim como não é algo que conseguiremos executar da mesma maneira eternamente. Carrie, contudo, é teimosa e não vai desistir de tentar. 

“É enlouquecedor me esforçar tanto quanto antes e não conseguir os mesmos resultados”

Nos primeiros capítulos deste livro, somos apresentados ao antes, aos anos de ouro de Carrie e sua trajetória até eles.

“Alguns homens têm permissão para estender indefinidamente sua infância, mas as mulheres sempre têm um trabalho a fazer”

Depois, passamos a acompanhar o retorno de Carrie às quadras: seus treinos, suas buscas pela forma e pela perfeição. Mas, principalmente, acompanhamos todo o aprendizado que essa experiência traz para a protagonista e toda a transformação interna pela qual ela, pouco a pouco, vai passando.

“Dar tudo de si e mesmo assim não conseguir. Nunca chegar lá e ainda ter que aparecer todo dia com um sorriso no rosto?”

Se engana quem pensa, porém, que este é um livro somente sobre breakpoints, games e sede de vitória. O que me conquistou ao longo desta narrativa foi perceber que há muito mais nas entrelinhas

“Mas é claro que não existe certo ou errado. Tudo depende do ponto de vista”

Conforme Carrie avança em seu retorno às quadras, ela tem de lidar com frustrações, cobranças — principalmente internas — e sentimentos que, por anos, ela não se permitiu sentir.

“É preciso saber aproveitar o embalo quando está dando tudo certo e ter força para nadar contra a corrente quando a maré vira”

A construção da narrativa também permite que se façam críticas — muito bem inseridas na história —, à nossa sociedade, principalmente com relação ao machismo

“Uma das grandes injustiças do mundo corrompido em que vivemos é que se considera que as mulheres vão decaindo com a idade, e que os homens, por algum motivo, vão se tornando mais profundos”

Mas o que mais chamou minha atenção foi o fato desta não ser nem de perto uma história de amor (romântico) e, ainda assim, conseguir dar umas boas pauladas sobre o tema.

“Quanto maior é a felicidade no início, pior é a tristeza no fim”

Além de Javier e Carrie Soto, outro personagem importante nesta narrativa é Bowe Huntley, que, ao contrário da protagonista, consegue ser cativante, mesmo que, num primeiro momento, não seja apresentado como o melhor dos homens.

“Sei que você só estava tentando… cuidar de mim. E eu não sou uma pessoa fácil de ser cuidada”

Claro que isso acontece principalmente porque a história é narrada em primeira pessoa, o que torna ainda mais enviesada a nossa visão.

“Quando acelero a cena na minha mente, mal consigo suportar o que vejo. Ele vai dizer alguma coisa encantadora em algum momento, e eu vou começar a acreditar que é verdade, apesar de todas as evidências em contrário. E vou começar a gostar dele, ou vou me apaixonar por ele, ou vou sentir uma coisa que vou achar que nunca aconteceu antes comigo. E então um dia, quando eu estiver mais envolvida, ele vai deixar de gostar de mim ou de me amar, por um motivo ou por outro. E eu vou acabar com um vazio no peito”

Sendo este o segundo livro que leio de Taylor Jenkins Reid, não posso deixar de comentar outro elemento que chama atenção em suas obras (ao menos nas que li até agora): o uso que a autora faz de diferentes gêneros textuais para compor sua história e auxiliar na construção dos personagens e dos cenários.

Em Carrie Soto está de volta, por exemplo, nos deparamos com algumas transcrições de programas esportivos e reportagens que falam, principalmente, sobre a protagonista. E essas transcrições nos ajudam a ampliar a compreensão dos elementos que compõem esta narrativa.

“E isso me deixa em um silêncio atordoado por um instante, a distância entre quem eu sou e como as pessoas me veem”

Muitas outras reflexões seriam possíveis de se fazer sobre este livro (inclusive pretendo ainda fazer outras, mas talvez não aqui) que, despretensiosamente, abarca tantos pensamentos. Porém vou deixar que você descubra por si o que mais esta história pode te reservar. Para isso, clique abaixo e garanta o seu exemplar.

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Citações #67 — Mocassins e all stars

Para uma história que poderia ser só mais uma adolescente, Mocassins e all stars, da Clara Savelli, tem muito para nos fazer pensar. Por isso, hoje trago aqui alguns dos trechos que deixei de fora da resenha e que podem nos ajudar a conhecer um pouco melhor a obra. 

Ao retratar uma época complicada — os anos finais da escola — este livro acaba nos fazendo pensar sobre momentos difíceis.

“Sei lá, às vezes eu acho que você não quer ser feliz de novo. Parece que você precisa de um pouco de drama na sua vida para conseguir seguir em frente”

“Você tinha as marcas de alguém que foi pisoteada pela vida, mas que deu um belo de um dedo do meio na cara dela e saiu por cima de tudo”

“Acho que é verdade quando dizem que no fundo do poço tem uma mola, que mal ou bem vai te impulsionar para cima de volta”

A narrativa também nos faz enxergar a importância de termos boas pessoas ao nosso lado nesses momentos.

“Apesar de todos os esforços de meus amigos para me alegrar, meu mundo estava totalmente cinza”

“Os caquinhos de seu coração são unidos novamente, por aqueles que te apoiaram nos momentos difíceis, e você aprende”

Mas ela nos lembra, ainda, que algumas dores não diminuem tão facilmente, principalmente quando se trata da perda de alguém que amamos.

“Meu Dia de Ação de Graças foi um prenúncio daquilo que eu achei que ia ser o meu Natal. Vazio e incompleto”

“Eu estava me sentindo tão vazia, tão sozinha e com tantas saudades do meu pai, que precisava ocupar minha mente de alguma forma”

“O tempo não levou nada embora”

Logo no começo da história, sabemos que a protagonista Julie não apenas perde o pai, como também acaba mudando de cidade, o que contribui ainda mais para o seu sentimento de perda e de saudade.

“Acho que a saudade que eu estava fez as coisas ficarem ainda mais bonitas”

“Eu amava Nova York. Amava cada pequeno detalhe de Nova York. Acho que tendemos a sentir isso em relação à nossa cidade natal de qualquer forma”

Essa saudade é um sentimento que nos impulsiona a refletir sobre o que tínhamos.

“Não é como se reparássemos em todos os detalhes dos lugares que você costuma passar. Só vira rotina”

E também sobre quem somos.

“Minhas paredes protetoras tinham caído muito rápido e eu me sentia totalmente vulnerável”

“Crianças. Sempre com uma maneira diferente de ver a vida. Mais simples, mais colorida, mais alegre”

A dor também pode nos tornar mais empáticos.

“— Desculpa se eu estou sendo grosseira ou algo assim, mas eu só quero mostrar que tudo tem dois lados e que é muito fácil julgar quando você não está passando pela situação”

Ou simplesmente nos deixar com medo de viver e de amar.

“Parecia extremamente errado. Então, por que parecia extremamente certo também?”

“Primeiros amores são sempre os mais fortes”

Por fim, gostaria de destacar a forma como o mar é retratado na narrativa. Por mais que ele apareça poucas vezes, é nítida a sua importância para a construção da obra.

“O mar me encantava e me assustava na mesma intensidade”

“Aquele era o mar, que apesar de todas as suas belezas, tinha todos os seus segredos. E tinha levado ele de mim”

Se você se interessou por essa obra, não deixe de ler também a resenha que escrevi.

Curando meu coração — Elisio Carvalho

Título: Curando meu coração: recomeços… 
Autor: Elisio Carvalho 
Editora: Ler&Gostar 
Páginas: 133 
Ano: 2023

Sinopse

Poemas do coração, contos, poesias para ler e refletir. Livro leve cheio de reflexões e pensamentos do cotidiano. Você vai se apaixonar!

Resenha

Curando meu coração é um livro que contém prosa e, principalmente, poesia, oferecendo ao leitor não apenas versos dispostos de maneira aleatória, mas também uma história que guia a nossa leitura.

Está história, aliás, é a vida do autor, que resolveu transformar em versos os seus sentimentos e suas vivências.

“Leiamos os poemas, eles sempre podem nos responder. Ou não…”

Fica claro — porque o autor nos conta isso — que os poemas não foram escritos pensando no livro, mas a forma que o autor escolheu para reuni-los e a sequência em que estão dispostos, torna muito natural e fluída a leitura.

Como o título também evidencia, Elisio Carvalho escreve principalmente sobre seu coração e a busca pela felicidade em meio à dor. Isso porque aos 55 anos, Elísio Carvalho viu-se viúvo. Pouco tempo depois, viu-se isolado devido à pandemia. 

Mas a arte é capaz de fazer mágicas e, por meio dela, o autor foi conseguindo se sentir menos sozinho. E até mesmo abriu espaço para novos amores e alegrias em seu coração. Coisas nem sempre fáceis de se aprender, não é mesmo?

“Entendi que poderia voltar a viver plenamente após conhecê-la”

É muito interessante acompanhar a narrativa dessa obra e enxergar os sentimentos que vão surgindo e ganhando novas formas.

“Cada um de nós tem uma verdade particular”

A edição é simples, com impressão em folhas brancas, e cada capítulo possui uma ilustração colorida muito bonita, que enriquece o trabalho feito no livro.

No total, são 10 capítulos, que enumero abaixo, cada um contendo as poesias que a ele se relacionam.

  • Minha amada
  • Família
  • Masterchef
  • Cíntia
  • Lonjura
  • Mulher Plena
  • Bela Itália
  • O voo do pássaro
  • Amor adolescente
  • A vida é poesia

Curando meu coração é um daqueles livros que podemos saborear aos poucos e que nos inspiram a enxergar a vida com olhos tranquilos, amorosos e positivos. Uma leitura doce e profunda.

Se quiser conhecer de perto esta obra, não deixe de seguir o autor em suas redes sociais (Instagram | Facebook). Ou então clique aqui e garanta o seu exemplar.

TAG: No outono é sempre igual

Para variar, faz um tempinho que não respondo uma TAG aqui no Blog, então resolvi escolher esta, que combina com a época do ano em que estamos, apesar de trazer um pouquinho de todas as estações do ano.

O legal desta TAG é que ela não agrada apenas aos leitores, mas também aos fãs de Sandy e Júnior, já que as categorias são baseadas na música As quatro estações

Vi essa TAG lá no Infinitas Vidas e você pode conferir as respostas da Priih clicando abaixo.

Sem mais delongas, vamos às minhas respostas?

“A noite cai, o frio desce”: um livro que se passa em uma época fria

Devo começar esta resposta explicando que quando eu resolvo responder TAG’s por aqui, gosto de tentar usar minhas leituras mais recentes, para não ficar tão repetitivo. Mas como eu leio muitos nacionais, é difícil achar uma história que se passe numa época realmente fria… Porém, vou mencionar aqui o conto Quando a chuva passar, da Ana Farias Ferrari.

“Mas aqui dentro predomina esse amor que me aquece, protege da solidão”: um livro quentinho no coração

Bom, das leituras que já realizei este ano, sem dúvidas Arlindo, da Ilustralu.

“A noite cai, a chuva traz o medo e aflição”: um livro com uma atmosfera sombria

Correndo os olhos pelas opções, pensei em diversas nuances para esse “sombria”, mas acho que Aquela vez em Pirenópolis , do Héber Luciano, combina tanto com a palavra em questão quanto com o trecho da música.

“Mas é o amor que está aqui dentro que acalma meu coração”: um livro que você gostaria de poder viver dentro e interagir com os personagens

Ao mesmo tempo que eu poderia facilmente responder “todos”, também sinto que, no final das contas, minha timidez não me deixaria interagir com ninguém, mas tem muitos personagens da antologia Clichês em rosa, roxo e azul, da Maria Freitas, que eu adoraria conhecer.

“No outono é sempre igual”: um livro, autor ou gênero que você sempre gosta de ler nessa época do ano

Não costumo fazer leituras temáticas, principalmente com relação às estações do ano. Mas uma autora que gosto de ler sempre, independentemente da temperatura que os termômetros marcam, é a Tayana Alvez.

“As folhas caem no quintal”: um livro que trata sobre algum assunto delicado

Das minhas leituras recentes, acho que não posso deixar de mencionar Dolls (A. S. Victorian), que contém cenas de abuso, violência e ideação suicida.

“Só não cai o meu amo”: um livro com uma história de amor

Basicamente todos que eu leio, mas vou citar aqui Antes eu do que nós, da Grazi Ruzzante, capaz de nos fazer enxergar o amor de novas formas e finais felizes de maneiras inesperadas.

“Pois não tem jeito, não, é imortal”: um livro que você acha que deveria virar um clássico para que todas as futuras gerações possam ler

Nossa, difícil essa, hein? Acho que só o tempo mesmo para dizer o que pode ser ou não um clássico. Enquanto isso, eu sigo pregando que cada um leia o que quiser, desde que leia. 

Bônus

Pensando no tema desta TAG, não posso deixar de indicar outras duas obras que também retratam as quatro estações:

Um ano inesquecível, antologia de contos em que cada narrativa tem como pano de fundo uma das estações do ano. As histórias foram gravadas em audiovisual e os filmes devem estar para sair.

Os olhos claros do pássaro, livro da Valéria Macedo que resenhei está semana, no qual a autora nos conta a sua vida usando as estações do ano para nos apresentar sentimentos, vivências, acontecimentos e, claro, a passagem do tempo.

Quais seriam as suas respostas? E o que você achou das minhas? Já conhecia essas obras? A maioria delas está resenhada aqui no blog!

Os olhos claros do pássaro — Valéria Macedo

Título: Os olhos claros do pássaro 
Autora: Valéria Macedo 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 132
Ano: 2023 

Sinopse

Adultos são crianças crescidas, que carregam dentro de si as lembranças de suas infâncias.

Neste livro, a autora, aos quarenta e cinco anos, narra como a vida a levou a destinos jamais imaginados. Como o viver em São Paulo, Miami, Paris, Londres e Washington tornou possível revisitar sua infância.

Como cada nova morada continha as respostas às suas dores de menina e ao turbulento amor por seu pai.

Ela convida, com delicadeza, o leitor a também fazer a migração mais significativa de todas, em direção a um horizonte particular e profundo que existe em cada um de nós.

Resenha

Algumas leituras que fazemos são tão boas que nos inspiram até mesmo a querer escrever mais e melhor, colocando em palavras aquilo que sentimos e vivemos.

“Compreendi que a história que vivi não era uma história excepcional, mas comum. Preencheu-me de qualidades e defeitos. Era só minha, mas todos carregavam suas próprias histórias”

Em Os olhos claros do pássaro, Valéria Macedo nos conta sobre a sua vida de uma maneira que é impossível não se encantar e se apaixonar.

“Só se aprende sobre a vida vivendo”

A narrativa começa com a autora relembrando a juventude, principalmente sua relação com o pai e com os acontecimentos que marcaram a vida daquela família.

“Nunca dividi com ninguém a realidade de dentro de minha casa. Sofria antecipadamente com a possibilidade de alguém julgar as pessoas que mais amava”

Por meio de suas palavras, podemos perceber o amor que ela sente por aqueles que a criaram. Mas que nem mesmo este amor foi suficiente para evitar, num primeiro momento, sofrimento e incompreensão.

“Penso que muito do sofrimento que sentimos na perda de alguém que amamos está em nos perdemos também”

Valéria perdeu o pai quando ela tinha apenas 22 anos. E esse acontecimento marca somente o início desta obra. Depois disso, muita água rolou, fazendo a autora enxergar com novos olhos a vida.

“O universo pode nos surpreender com aquilo que não somos nem capazes de imaginar. E se o novo não atender minhas expectativas, ele sempre me recompensará através das lições”

Se engana quem acha que esta é apenas mais uma autobiografia. Como eu disse, Valéria consegue nos contar sua vida de maneira que tudo parece extraordinário — ainda que seja simples e a própria autora carregue muita simplicidade e humildade — e poético, sem ser enfadonho.

“Nós estamos, nós não somos”

Através dos olhos e das vivências de Valéria, viajamos por Miami, Paris, Londres e Washington, acompanhando sua vida de imigrante e de  expatriada.

“Carregamos nossas raízes conosco, mas podemos ser muito mais. O que somos é maior do que o lugar onde nascemos e o lugar onde estamos”

Também acompanhamos o crescimento, o amadurecimento e as transformações vividas pela autora.

“O falar sobre o que vivemos é etapa do processo de cura. O escutar sobre o que o outro viveu é exercício de empatia e é viver as infinitas possibilidades apresentadas pelo Universo, porém através do outro”

Além disso, vemos Valéria se tornar mãe e acompanhamos com muito prazer o crescimento dessa nova família, formada por ela, seu marido e seus filhos.

“Tom me fez mãe”

A escrita deste livro é um espetáculo à parte: os mais diversos temas são tratados com delicadeza e poesia, com uma escolha de palavras que tornam ainda mais tocantes os acontecimentos.

“Meu pai era conjunto de memórias. E não seríamos todos?”

Ao longo destas páginas, acompanhamos alguns poucos, mas intensos, anos da vida da autora, recebendo um panorama muito interessante desta vivência tão especial.

“Que presente são os encontros que nos inspiram”

Essa é uma daquelas obras que, em verdade, dá vontade de destacar todas as suas linhas, por ter uma sucessão de passagens que inspiram, nos fazem refletir,  nos tocam.

“Adultos são crianças crescidas, que carregam dentro de si as lembranças de suas infâncias”

Nada mais justo, portanto, que conferir com seus próprios olhos o que Os olhos claros do pássaro te reserva. Para isso, basta clicar abaixo ou seguir a autora em suas redes sociais (Facebook | Instagram) para verificar todos os canais onde é possível adquiri-lo (são vários, não tem desculpara para não ter um exemplar físico ou digital).

Citações #66 — Crônicas e agudas

Já falei tantas vezes sobre o trabalho do Antonio Carlos Sarmento, mas se ainda não te convenci a ir conhecê-lo com seus próprios olhos, deixo aqui alguns trechos retirados das crônicas que compõem a obra Crônicas e Agudas, publicada em 2022.

“Duas pessoas nunca leem o mesmo livro. A história é única para cada um, pois a imaginação é própria de cada mente”

As crônicas reunidas neste livro tratam de assuntos diversos, dos mais banais aos mais complexos.

“A limitação da liberdade desnorteia”

Trata de assuntos sérios, mas também nos faz rir e sentir leveza.

“Lembrei que, numa ocasião, ao final de uma reunião polêmica, um amigo estrangeiro me disse que nós, latinos, somos muito passionais. Se alguém discorda ou se opõe à alguma ideia ou posição nossa, já o tratamos como inimigo”

Os textos do autor são capazes de nos fazer pensar, ao mesmo tempo em que queremos apenas ler mais e mais.

“Como é grande o nosso apetite por formar opinião sobre tudo e sobre todos, sem lembrar que o maior risco de julgar é o de ser injusto”

E claro que muitos textos tratam do amor, das relações humanas e do carinho, assuntos que dominam o pano de fundo da maioria dos textos, de uma forma ou de outra.

“Como é bom ouvir uma voz amiga num momento de tristeza”

“Demonstrações de amor quando estamos frágeis têm um peso ainda maior”

“Fiquei imaginando quantas outras diferenças haveria entre eles, como em todo casal e como é preciso controlar a nossa tendência de querer fazer o outro semelhante a nós mesmos”

“O abraço é tão essencial como o alimento”

Não posso deixar de mencionar, também, as reflexões sobre o viver.

“A gente  balança quando ainda não consegue andar. A gente balança quando já não consegue mais andar”

E sobre o tempo que temos neste mundo.

“Tenho a impressão de que todo tempo ganho é imediatamente transformado em mais atividades, mais compromissos, mais informações”

Conte-me: agora eu consegui te convencer a ao menos dar uma espiada no blog do Antônio Carlos?

Dolls — A. S. Victorian

Título: Dolls. 
Autora: A. S. Victorian 
Editora: Publicação independente. 
Páginas: 275 
Ano: 2018

Sinopse

A família Hyeon era perfeita, todos diziam. Até um desastre acontecer e transformar profundamente Jack Hyeon. Ela decide então que a vida é curta demais para viver de aparências e que precisa começar a fazer suas próprias escolhas. Como primeira decisão, aproxima-se de uma colega de escola, Ede, que é o contrário dos padrões que os senhores Hyeon impuseram para a filha.

Já Edeline carrega sua própria lista de infortúnios e descobre na amizade uma forma de superar o passado. Mas a vida dá uma reviravolta quando percebe que seus sentimentos estão tomando um outro rumo.

Resenha

Dolls foi um livro que comecei com as expectativas lá embaixo, mas que logo me conquistou de tal maneira que dei atenção somente a ele.

“Como ser fiel a uma coisa que nunca daria certo?”

Vale ressaltar que a leitura é pesada, por mais que o leitor esteja a todo momento sendo preparado para o pior. Antes de continuar, gostaria de lembrar que há cenas de violência doméstica, estupro e tentativa de suicídio.

“Eu sempre tive medo do escuro, mas, depois de um tempo, o medo está tanto ao nosso lado que já se torna nosso amigo”

A narrativa começa nos apresentando duas garotinhas tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidas: Edeline Stein (Ede) e Jaqueline Hyeon (Jack).

“Eu e a Jack sabemos como é ter momentos difíceis. Não é muito bom ficar guardando isso dentro de você, dói muito e só vai piorar. Precisa de alguém com quem conversar”

Esse início, aliás, me lembrou bastante O lado extraordinário da falta, mas no caso de Dolls, como eu ressaltei, a história vai ganhando contornos muito mais pesados.

Porém, como no livro mencionado, temos Edeline, filha única, em uma família humilde e cheia dos seus problemas.

“A família se mudara há pouco tempo. Não queria ter escolhido exatamente aquela parte do subúrbio, muito menos aquela casa que não era nem um pouco o que desejavam chamar de lar, mas as circunstâncias, a falta de capital para algo melhor e a pressa, os fizeram ficar com o que conseguiram: a casa longe do centro, meio acabada, meio inteira”

Não que a família de Jack seja perfeita como quer fazer parecer, muito pelo contrário, aliás. Mas eles são uma grande e extremamente influente família. Ao menos dinheiro eles possuem de sobra.

“Não era uma família muito unida aquela”

Dolls começa quando as meninas têm apenas sete anos de idade e se conhecem na escola em que estudam. 

“Por mais que odiasse a escola, preferia ficar lá do que voltar para o vazio de casa”

Um incidente, porém, logo as separa e, após um salto temporal elas finalmente se reencontram.

“As coisas mudaram depois do acidente com Edeline e nos dez anos que se seguiram. Os pais de Jack decidiram mudá-la de turno, e, por alguns anos, ela foi esquecida pelos antigos colegas”

Voltando às diferenças entre as duas meninas, está o fato de que Jack é extremamente fria e, aparentemente, desinteressada de tudo, enquanto Ede tem um brilho no olhar que fascina o coração gelado de Jack. 

“Pare de agir como se ninguém se importasse e você tivesse que carregar todo peso sozinha”

Mas, como eu disse, elas também possuem semelhanças e não falo somente da idade: ambas passam por situações bem difíceis (lembra que deixei um alerta no início desta resenha?) e sentem-se extremamente sozinhas.

“As coisas não simplesmente somem, sabe? Nós vamos guardando elas dentro de nós… Até que explodem”

Tão opostas por um lado e tão semelhantes por outro, Ede e Jack sempre tiveram o necessário para se darem bem.

“— Esse é o problema das pessoas — Mordeu o sanduíche. — Elas costumam se prender aos momentos ruins e esquecem os felizes”

A história não se resume a acontecimentos pesados e tristes. Há muitas passagens capazes de nos oferecer um quentinho no coração e um abraço gostoso.

“Gostar de alguém era algo novo para ela”

E na mesma medida em que há personagens que não parecem ter coração, há muitos outros que renovam nossa fé na humanidade.

“Nós não precisamos magoar as pessoas para sermos felizes”

O que me encantou nessa história foi o fato de que ela é muito real, palpável. As personagens agem de acordo com suas histórias, seus sofrimentos e suas pequenas conquistas. E por mais que nem todo mundo encontre alguém que renove as esperanças, alguns dos pontos felizes dessa história são uma pequena fuga necessária para a realidade apresentada.

“Você não precisa tentar ser forte sempre. Todo mundo precisa ser ajudado às vezes”

Além disso, tem ainda um detalhe que me encantou muito nesta narrativa, mas que não quero revelar aqui, porque foi gostoso imaginar se isso aconteceria e a revelação foi muito boa de acompanhar. 

“Gostar de alguém é errado?”

Se você se interessou por essa história, adquira seu ebook clicando abaixo. E aproveite para seguir a autora em suas redes sociais (Instagram | Twitter | Site | Instagram literário).

Nomes famosos, títulos de filmes e livros [tradução 30]

Dia desses, um dos meus alunos falou que seria legal fazermos uma aula sobre traduções de nomes de personagens

Traduções desse tipo (nomes de personagens, títulos de livros e filmes e até músicas) costumam dar muito pano para manga, então eu logo me empolguei com a ideia.

Além disso, como trabalho muito um ensino voltado aos interesses dos alunos, logo fui procurar vídeos e textos sobre o tema e, dentre minhas leituras, encontrei um artigo, que resolvi trazer para cá.

É muito interessante porque o artigo trata das traduções entre inglês e italiano, mas com resolvi trazer os nomes que usamos em português, noto como por aqui também modificamos diversas coisas.

Hoje, portanto, vamos ler a tradução do texto Nomes famosos, títulos de filmes e livros: as estranhas traduções em língua italiana, escrito por Pietro Gambino e publicado em setembro de 2020 no site Italiano Avanzato: da studente a fluente.


Eis aqui um assunto que você dificilmente encontrará em um curso de língua italiana! Vamos falar sobre nomes famosos e suas traduções para a língua italiana! Títulos de livros, títulos de filmes, nome de personagens nem sempre mantém, no italiano, a forma original. Alguns anos atrás, aliás, era bem normal traduzir tudo.

Com o tempo, por sorte, esse hábito mudou, ou ao menos se enfraqueceu, mas os nomes permaneceram, porque já haviam sido decorados por todos. O maior exemplo? Sem dúvidas, TOPOLINO, conhecido em outros países como Mickey Mouse!

O mundo Disney é muito peculiar: quase não existem personagens que não tenham mudado seu nome na tradução em língua italiana. Você conhece Pippo (Pateta)? E Paperino (Pato Donald)?

E mais:
Mickey Mouse – Topolino
Pateta – Pippo
João Bafo de Onça – Pietro Gambadilegno
Pato Donald – Paperino
tio Patinhas – Paperon de Paperoni
Huguinho, Zezinho e Luisinho – Qui, Quo e Qua

Aqui uma pequena LISTA!

O mundo dos quadrinhos é certamente aquele com mais traduções e adaptações em língua italiana. Como vimos, não apenas o título, mas também o nome dos personagens principais mudam!

Na Itália não é estranho, por exemplo, assistir um filme do Uomo Ragno (Homem Aranha) ou ler as histórias do Uomo Pipistrello (Batman). Por sorte, pelo menos nesses casos, os nomes italianos ficam servem tanto quanto os originais: não é um problema usar o nome em inglês.

Aqui está um belo artigo sobre esse assunto!

Dos quadrinhos aos livros, é apenas um passo! Não tenho ideia dos infinitos nomes modificados no decorrer dos anos, mas tentarei me concentrar em uma saga muito famosa. Vamos falar de Harry Potter e de suas traduções em língua italiana.

Em italiano, Harry Potter se chama Enrico Vasaio! Não, calma, estou brincando. Esse seria o nome se fizéssemos uma tradução literal, em italiano, dos personagens!

De qualquer forma, muitos nomes que vêm do universo de Harry Potter foram realmente modificados (e continuam a mudar no decorrer dos anos, às vezes criando muita confusão nas várias edições de livros). Menos problemáticos, deste ponto de vista, são os filmes, pelo menos até o próximo remake. Alguns exemplos de como os italianos conhecem esses personagens famosíssimos:
Albus Dumbledore – Albus Silente
Severus Snape – Severus Piton
Minerva McGonagall – Minerva McGranitt
Neville Longbottom – Neville Paciock

Se você é fã de Harry Potter, aqui está uma página onde você pode encontrar numerosos exemplos de traduções em língua italiana: POTTERPEDIA.

Mas, em geral, até mesmo os títulos de livros podem sofrer grandes modificações, às vezes para possibilitar jogos de palavras ou expressões que não existem em outras línguas:
O apanhador no campo de centeio – Il giovane Holden
O sol é para todos – Il buio oltre la siepe
As vinhas da ira – Furore
A lista pode ser infinita!

E chegamos ao ponto que talvez seja o mais sensível: justamente aquele dos filmes. Aqui também foi somente nos últimos anos que (quase) pararam de traduzir e mudar títulos. O problema é que, às vezes, causaram um grande desastre, usando nomes errados e absurdos! Em especial, entre as traduções em língua italiana, o maior crime toca à obra prima Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Para fazê-lo parecer uma comédia romântica, por razões puramente comerciais, o título em italiano tornou-se: Se mi lasci ti cancello (se você me deixar, eu te deleto).

Até eu, naquele tempo, me lembro que não queria assisti-lo, porque realmente acreditava que fosse a enésima comédia romântica. O poder dos nomes! Por sorte, consertei isso alguns anos depois.

Outros nomes modificados?
Esqueceram de mim – Mamma ho perso l’aereo
Sociedade dos poetas mortos – L’attimo fuggente
Cidadão Kane – Quarto potere
Star Wars – Guerre stellari (mas hoje usamos também o título original)
Vertigo – La donna che visse due volte
A noviça rebelde – Tutti insieme appassionatamente
12 homens e uma sentença – La parola ai giurati

Uma lista aqui.


Você já tinha parado para pensar nas traduções dos títulos que conhecemos? E o que achou deste artigo?

De repente esclerosei — Marina Mafra

Título: De repente esclerosei: um faz de conta de verdade 
Autora: Marina Mafra 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 316 
Ano: 2018 (1º edição) 

Sinopse

Mitali Montez possui um arquivo pessoal de mágoas. Protege e ama incondicionalmente Aurora, sua melhor amiga e única família. É surpreendida pelo destino ao conhecer Dimitri Mifti, um moço com habilidades para derreter o seu coração gelado. O retorno misterioso do pai muda a perspectiva do seu passado, mas é através da adaptação com o diagnóstico de Esclerose Múltipla que ela percebe a necessidade do perdão para encontrar a paz que não sabia que precisava.

Resenha

De repente esclerosei é um livro que nos lembra que todos nós estamos sujeitos a condições imprevisíveis e que nada têm a ver com quem somos ou com o que fazemos, mas que isso não significa que somos os únicos no mundo passando por determinado problema.

“Como viver sem saber quando será a última vez que fecharemos os nossos olhos?”

Como gosto de histórias que podem nos ensinar algo sobre coisas reais e as quais eu não tenho muito conhecimento, o título deste livro logo chamou a minha atenção e sua sinopse terminou por me fisgar de vez.

Devo ressaltar, porém, que mais do que me ensinar algo, esta narrativa despertou ainda mais a minha curiosidade para o tema da esclerose múltipla.

“Eu conseguiria fazer qualquer coisa, só que não com a mesma facilidade de uma pessoa normal”

Mitali (Mit) e Aurora (Rora) são melhores amigas desde a infância e dividem a vida que estão construindo na cidade grande, depois de saírem de Boieira, a cidade natal delas.

“Acho que posso dizer que, finalmente, eu e a Rora conquistamos o nosso lugar no mundo. E só quem perdeu ou nunca teve, sabe o que isso representa”

Apesar de bem diferentes uma da outra, as duas se dão bem e, principalmente, zelam muito pela vida da amiga.

“Aurora é minha única amiga na vida e desde o berço”

Não é de se espantar, portanto, que Aurora fique muito preocupada com algumas queixas de Mitali: formigamento nas pernas, dificuldade em andar, perda de equilíbrio.

“Entre ouvir ou dizer ‘vai ficar tudo bem’ até, realmente ficar, há uma imensidão de fatos que não podem ser ignorados”

Mitali, contudo, vai deixando para lá tudo isso, até o momento em que não é mais possível ignorar seus sintomas e ela precisa buscar ajuda urgente.

“Vivo um pesadelo em tempo real, sem o alívio de poder acordar”

Entre os primeiros acontecimentos preocupantes de Mitali e o seu diagnóstico, porém, muitas outras coisas ocorrem e, pouco a pouco, vamos descobrindo mais sobre ela e sobre sua história.

“Acredito que os lugares guardam memórias e que se pudessem falar, contariam os nossos segredos mais profundos”

Mitali trabalha como gerente em uma livraria e o seu chefe, o senhor Braga é quase como um pai para ela.

“Ele vivia querendo me arrumar um namorado, desde que não aceitei nenhum dos seus filhos”

Não que Mitali não tenha um pai de verdade: Aurora perdera os pais em um acidente de carro e a mãe de Mitali também falecera anos antes, mas Maurice ainda é vivo, só nunca fora um pai muito presente.

“Te amei desde o primeiro momento, mas da minha maneira. Hoje eu me arrependo, pois perdi muita coisa e o tempo não volta”

A aproximação desse pai que até então fora muito ausente, no meio do turbilhão de coisas que acontecem com Mitali, é mais um ponto de reviravolta na história, fazendo nossa protagonista parar e refletir sobre seus sentimentos e sobre a sua própria vida.

“— Essa situação só me fez refletir. A vida acaba em um piscar de olhos”

O senhor Braga, por sua vez, é o responsável por apresentar Dimitri a Mitali e, novamente, a vida da protagonista sofre uma grande transformação.

“Não acreditava que havia uma vida antes do que vivíamos”

Não sei se eu que sigo desacreditada demais do amor, mas achei que o romance entre Mitali — uma pessoa até então bem fechada para os sentimentos, principalmente amorosos — e Dimitri foi de zero a cem muito rápido. 

“Ele era mais que o grande amor da minha vida, era o meu melhor amigo, a melhor pessoa do mundo para mim”

De qualquer forma, Dimitri é uma figura essencial para que Mitali consiga lidar com tudo o que está passando e é angustiante vê-la tentando afastá-lo.

“Ele era a única parte normal da minha vida, a única que me permitia sentir segurança”

Para além da esclerose múltipla, esta é uma obra que fala sobre o amor ou sobre os laços que construímos com as pessoas de nosso sangue ou não.

“Talvez fosse bom encontrar pessoas como eu, em um lugar não tão cheio de pessoas como a gente”

E o laço principal que esta história aborda é a amizade.

“Há dias em que ajudamos e dias em que precisamos ser ajudados. Não importa a nossa personalidade, estamos no mesmo barco”

Por isso, é bem difícil não se abalar com as brigas de Mitali e Aurora, que tem muita dificuldade de entender pelo que a amiga está passando. Em algumas situações, chega a dar até um pouco de raiva da Rora.

“Algumas pessoas gostam de complicar a vida, Rora é uma delas”

De repente esclerosei também fala bastante sobre perdas, não apenas de uma vida “normal”, mas também das pessoas que amamos.

“Não dissemos nenhuma palavra, pois não há conforto quando a dor é por ausência de quem partiu”

E claro, com uma história dessas, esta obra também tinha de falar do medo, principalmente do amanhã, sempre tão desconhecido.

“O tempo passa depressa quando tememos o futuro e nos guia diretamente para o alvo dos nossos pesadelos”

A escrita do livro é envolvente: já nas primeiras páginas eu não queira mais largá-lo. Em alguns momentos me perdi um pouco no tempo da narrativa, mas nada que prejudicasse em grande medida a experiência.

“Todos temos uma história triste pra contar, Mit”

Se você se interessou por essa história, não deixe de acompanhar o trabalho da autora (Instagram | Twitter | Facebook | Site) e, claro, de adquirir o seu exemplar. Li o livro em formato ebook e gostei bastante da diagramação dele. A edição que tenho foi lançada de maneira independente, mas agora você tem acesso à edição da Martin Claret, em formato físico e digital!

Storia del nuovo cognome — Elena Ferrante

Título: Storia del nuovo cognome 
Título em português: História do novo sobrenome 
Autora: Elena Ferrante 
Editora: Edizioni E/O 
Páginas: 470
Ano: 2020 (29º reimpressão)

Ano passado eu tive (enfim!) a oportunidade de ler o primeiro livro da tetralogia escrita por Elena Ferrante e desde janeiro deste ano estive lendo o segundo volume, cujo título è Storia del Nuovo Cognome.

A leitura talvez tenha sido um pouco demorada, mas não poderia ser diferente, não apenas pelo tamanho do livro — ainda que ele pareça maior do que é, devido às páginas mais grossas —, mas principalmente pelo peso que a própria história tem. E eu provavelmente não conseguirei colocar em palavras tudo o que gostaria, mas tentarei, porque justamente esse volume dá ainda mais ênfase à importância da palavra. Falarei principalmente dos temas da obra, mas também tentarei abordar outros aspectos que a compõem.

“Queria obrigá-la a nomear as coisas. Queria que ela entendesse bem o que estava me dizendo”

E antes de começar, gostaria de lembrar que os quotes que utilizarei ao longo deste resenha foram traduzidos por mim e que, ao final, você encontrará a versão original deles, na sequência que aparecerem aqui.

Também gostaria de comentar que realizei essa leitura ao mesmo tempo que uma amiga (a Nati) e isso com certeza me abriu os olhos para tantas outras questões que eu não sei nem por onde começar a compartilhar tudo isso. Mas vamos do começo mesmo, né?

“Tudo é interessante se você sabe trabalhar isso”

Tive um pouco de dificuldade com o início deste livro, pois Lenù — a narradora — me parecia um pouco mais insuportável e petulante. Aos poucos, contudo, fui enxergando a melancolia, a dor e a solidão que permeavam suas ações e palavras.

“Eu tinha muitas ansiedades e a impressão de estar sempre errada, não importando o que eu fizesse”

Já adianto que a partir daqui será difícil não trazer spoilers, principalmente com relação ao primeiro volume. Feito o alerta, continue a leitura desta resenha por sua conta e risco.

O spoiler, aliás, já começa no título deste livro: o novo sobrenome é aquele que Lila recebe ao se casar com Stefano, coisa que acontece justamente ao final de A amiga genial. E aqui temos a primeira grande temática desta narrativa: o casamento.

“Me casar não significa ter uma vida de velha. Se ele quiser vir comigo, bom, mas se, por outro lado, está cansado demais à noite, saio sozinha”

Vale lembrar que a maioria dos personagens desta história — a narradora inclusive — encontra-se numa faixa etária entre 15 e 25 anos. São extremamente jovens, mas vivem (e têm de viver) como se fossem tão mais velhos e maduros.

“Mas a condição de esposa a havia fechado em uma espécie de redoma de vidro, como um veleiro que navega a todo vapor para um espaço inacessível, até mesmo sem mar”

O casamento, num primeiro momento, talvez seja o grande causador da crise na amizade de Lila e Lenù, ainda que, conforme avançamos na leitura, percebamos que existem muitos motivos para o distanciamento delas e as rupturas nessa amizade tão complicada (e, de novo, por vezes bem tóxica).

“Nada de rupturas, portanto não escaparíamos juntas pelas estradas do mundo”

O tema do casamento nos leva a outro muito presente neste volume: a violência. Não somente física, mas também psicológica. Ambas têm seu pesado espaço nas linhas deste livro e moldam as relações que observarmos.

“Claro, a explicação era simples: havíamos visto os nossos pais baterem nas nossas mães desde a infância. Havíamos crescido pensando que um estranho não podia nem mesmo esbarrar em nós, mas que os pais, o namorado e o marido podiam nos agredir quando quisessem, por amor, para nos educar, para nos reeducar”

Desde o primeiro livro, vejo a Lila como uma pessoa extremamente tóxica, principalmente para a Lenù. Mas o quanto disso não é fruto da sociedade em que elas vivem, ao mesmo tempo em que funciona, também, como um mecanismo de defesa?

“Quando reencontrei Lila, logo percebi que ela não estava bem e que tendia a me fazer mal também”

A amizade, aliás, é outra temática de grande força neste volume, uma vez que Lenù parece cada vez mais ser dar conta da maldade de Lila, ao mesmo tempo que não consegue viver sem ela (e ela percebe e reforça isso algumas vezes ao longo da narrativa).

“Mas Lila sabia bem como me atrair para as suas coisas. E eu não era capaz de resistir: de um lado dizia ‘basta’, de outro me deprimia com a ideia de não fazer parte da sua vida, do seu modo de se tornar”

Os conflitos entre elas aumentam nesta fase da vida e Lenù realmente chega a viver um tempo afastada. Mas nada parece capaz de amenizar essa relação… tóxica (desculpa, não consigo enxergar de outra forma, ao menos não ainda).

“Quanto a mim, decidi que daquele momento em diante viveria me ocupando apenas de mim, e a partir do retorno a Napoli foi exatamente o que fiz, impondo-me um comportamento de total afastamento”

Todos esses acontecimentos nos levam a outras temáticas que aparecem com força neste livro e que não posso deixar de mencionar aqui, como a sensação de despertencimento e a capacide de ir além, vividos por Lenù, mas não apenas.

“Sabia estar com aquelas pessoas, estava melhor que com os amigos do bairro em que cresci”

É impressionante como a maioria dos personagens, de alguma maneira, parece fazer parte e, ao mesmo tempo, parece perdido naquela realidade. É como se as peças não se encaixassem ali.

“Não é possível que eu reste prisioneira para sempre deste lugar e dessa gente”

Se por um lado todos os personagens têm sua cota de despertencimento ao bairro, Lenù é a que mais acaba se destacando e isso é notável inclusive na forma que todos a tratam: quanto mais o tempo passa, mais fica evidente o quanto as pessoas respeitam Lenù e a buscam quando precisam de palavras sábias, seja para acalmar ânimos, seja para ajudar na tomada de decisões.

“De que serviam os anos de escola e faculdade dentro daquela cidade?”

Outro ponto relacionado aos estudos que chamou minha atenção está na questão de que este nos ajuda a mudar de vida. Se por um bom tempo a leitura de Storia del nuovo cognome retrata muitas peculiaridades da realidade italiana, há passagens, principalmente ao final, que poderiam retratar a vida de muitas famílias brasileiras.

“Um pouco antes dos vinte e três anos eu era nada menos que doutora, tinha uma graduação em Letras, com nota máxima e mérito. Meu pai não havia ido além do quinto ano, minha mãe havia parado no segundo, nenhum dos meus antepassados, até onde eu sabia, havia aprendido a ler e escrever corretamente”

E claro que isso também escancara ainda mais a situação em que se vive no bairro em que se passa a história e nos faz enxergar, com maior clareza, muitas coisas do primeiro livro.

“A professora considerava óbvio que eu normalmente fizesse coisas que na minha casa, no meu ambiente, não eram de fato normais”

Os estudos de Lenù também reforçam, e isso aparece em diversas partes da narrativa, a distância que há entre o uso do italiano em detrimento do dialeto e viceversa. E essa é uma questão que talvez só quem realmente conhece um pouco da história da língua italiana pode entender.

Mas se eu tivesse de falar sobre apenas um tema central (depois de tudo isso que eu já falei? Sim), para este volume eu escolheria o amor. Ou os sentimentos humanos em geral, mas dando ênfase ao amor. Só não se engane: não estou falando daqueles amores de histórias água com açúcar e acho que isso já ficou claro até aqui, certo?

“As horas passaram, mas foi impossível aceitar que ele fosse tão profundo no lidar os grandes problemas do mundo, quanto superficial nos sentimentos amorosos”

Isso porque a trama é recheada de brigas de casal (não preciso nem dizer que a relação entre Stefano e Lila é extremamente complicada, né?), traições e rompimentos.

“E por mais que nós, meninas do bairro, desde pequenas quiséssemos nos tornar esposas, de fato, crescendo havíamos sempre simpatizado com as amantes, que nos pareciam personagens mais maleáveis, mais combativas e, principalmente, mais modernas”

Outro elemento que se sobressai neste volume é o fato de que, sendo a história narrada em primeira pessoa, totalmente por Lenù, ela torna-se cada vez mais uma narradora pouco confiável.

“Não sabia nada além disso, mas na escola havia aprendido a fazer com que acreditassem que eu sabia muito”

Em Storia del nuovo cognome continuam existindo muitos personagens, o que requer uma leitura cuidadosa para não se perder.

Além disso, o período em que se passa essa história vai de cerca dos 14 aos 19 anos de Lenù, com um longo período passado novamente a Ischia.

“Quer continuar sendo jovem, não sabe ser mulher”

A sucessão de acontecimentos é uma loucura: a cada nova página são inúmeros fatos que nos surpreendem, nos deixam de boca aberta, nos fazem prender a respiração. Não à toa eu não sabia muito bem como trazer tudo isso para cá.

“Basta um instante para mudar sua vida disto para aquilo”

Apesar de doloroso, e por vezes difícil, Storia del nuovo cognome é uma excelente continuação de L’amica geniale e ele é capaz de deixar o leitor ainda mais estarrecido e ansioso pelo que vem a seguir. Não vejo a hora de saber onde tudo isso vai dar.

Para encerrar, e como prometido, deixo aqui os trechos originais que usei ao longo desta resenha.

“Volevo obbligarla a nominare le cose. Volevo che capisse bene ciò che mi stava dicendo”

“Tutto è interessante se sai lavorarci”

“Avevo troppe ansie e l’impressione di essere sempre in errore, qualsiasi cosa facessi”

“Sposarmi non significa fare una vita da vecchia. Se lui vuole venire con me bene, se invece la sera è troppo stanco, esco da sola”

“Ma la condizione di moglie l’aveva chiusa in una sorta di recipiente di vetro, come un veliero che naviga a vele spiegate in uno spazio inaccessibile, addirittura senza mare”

“Niente fratture, dunque, non saremmo scappate insieme per le strade del mondo”

“Certo, la spiegazione era semplice: avevamo visto i nostri padri picchiare le nostre madri fin dall’infanzia. Eravamo cresciute pensando che un estraneo non ci doveva nemmeno sfiorare, ma che il genitore, il fidanzato e il marito potevano prenderci a schiaffi quando volevano, per amore, per educarci, per rieducarci”

“Quando rividi Lila, mi resi subito conto che non stava bene e che tendeva a far star male anche me”

“Ma Lila sapeva bene come tirarmi dentro alle sue cose. E io non ero capace di resistere: da un lato dicevo basta, dall’altro mi deprimevo all’idea di non essere parte della sua vita, del suo modo d’inventarsela”

“Quanto a me, decisi che da quel momento sarei vissuta occupandomi soltanto di me, e a partire dal ritorno a Napoli così feci, mi imposi un atteggiamento di assoluto distacco”

“Sapevo stare con quella gente, ci stavo meglio che con i miei amici del rione”

“Non è possibile che io resti prigioniera per sempre di questo posto e di questa gente”

“A cosa servivano gli anni del ginnasio, del liceo, della Normale, dentro quella città?”

“Poco prima dei ventitré anni ero nientemeno dottoressa, avevo una laurea in lettere, centodieci e lode. Mio padre non era andato oltre la quinta elementare, mia madre s’era fermata alla seconda, nessuno dei miei antenati, per quel che potevo sapere, aveva mai saputo leggere e scrivere correttamente”

“La professoressa dava per scontato che io facessi di norma qualcosa che a casa mia, nel mio ambiente, non era affatto normale”

“Passarono le ore, ma mi fu impossibile accettare che fosse tanto profondo nell’affrontare i grandi problemi del mondo, quanto superficiale nei sentimenti d’amore”

“E per quanto noi ragazze del rione sin da piccole volessimo diventare mogli, di fatto, crescendo, avevamo simpatizzato quasi sempre con le amanti, che ci parevano personaggi più mossi, più combattivi e soprattutto più moderni”

“Non sapevo nient’altro, ma a scuola avevo imparato a far credere che sapessi moltissimo”

“Vuole restare ragazza, non sa fare la moglie”

“Basta un attimo a cambiarti la vita da così a così”