Citações #97 — Uma canção para a libélula

Uma canção para a libélula, da Juliana Daglio, foi minha primeira leitura de 2025 e, ainda que quase um ano tenha se passado, ainda há ecos destas páginas em mim. Como mencionei na resenha, trata-se de uma obra densa, porque aborda temas como a dor (física e emocional):

“Quando uma dor pede para levar embora suas lembranças ruins, ela leva também a parte boa”

“Não havia amor no mundo que pudesse me salvar da dor cortante que já tinha roubado a vida dentro de mim”

“Naquele ínterim, eu compreendi com uma certeza quase palpável, que as vítimas da Depressão e do Suícidio não são apenas aqueles que sofrem”

“Ninguém sabia a tristeza atroz que estava dentro de mim, oca e funda como um abismo aberto dentro do peito”

“Às vezes, é só ouvindo ou lendo sobre a dor de outras pessoas que conseguimos encontrar saída para as nossas”

“Apesar da dor que carregava sobre os ombros, era bom me sentir ouvida”

“Talvez a dor seja inevitável. Algo que todos os seres vivos terão que passar eventualmente”

Ao longo da narrativa, descobrimos que muito dessa dor vem da perda e do luto.

“Quando você morre, mata também uma parte das pessoas que o amam”

“O mundo me deu um anjo e eu o deixei partir”

“O dia que conheci minha mulher, foi o mesmo em que a perdi”

“Talvez ainda houvesse algo em mim a ser salvo; um caco do que um dia eu fui”

“O frio, só o frio. Mas ele não foi suficiente para calar a voz da menina que eu fui…”

“A vida e a morte não se posicionam em lados opostos de um tabuleiro…”

“Quando você morre, mata também uma parte das pessoas que o amam”

Provavelmente, já deu para perceber que uma das temáticas centrais da obra é a depressão, que se faz presente sobretudo através da Vilã Cinzenta:

“Saí dali terminando de desmoronar, certa de que não havia tratamento nenhum que pudesse parar aquilo”

“Tinham me dito que os remédios iam fazer efeito com o tempo e eu me sentiria um pouco melhor, mas nada disso aconteceu”

“Mandar um depressivo ver as coisas de forma mais positiva é como pedir a um deficiente auditivo que ouça uma música…”

“A angústia trazida pela depressão causa um horror imenso, sem motivos concretos…”

“Nada é realmente belo, num patamar totalmente multicolorido, para quem tem a Depressão nas veias da mente”

“Ali estava a Vilã Cinzenta me sabotando novamente, me dizendo que nada seria como antes”

“Não há motivos para seguir em frente, não há galhos em que se apoiar quando se cai de cabeça no abismo dessa Vilã”

Esta é uma temática que também nos conduz à solidão e ao vazio existencial:

“É dolorosamente solitário não ser compreendido”

“É preciso ter coragem para enfrentar a sobrevivência”

Para tratar dos assuntos até aqui mencionados, é preciso falar, também, das relações humanas, cruciais para esta história:

“Alex e Marcos viveram treze anos com um fantasma meu pairando na casa”

“Suas palavras ecoavam, derrubando as muralhas que eu tinha construído ao redor de mim”

 “Pessoas tendem a dramatizar, algo que sempre me incomodou nas relações sociais”

“Ninguém é bom ou mau, tampouco uma mistura exata. As pessoas são complexas…”

Mas também há espaço para o amor:

“Pessoas como eu, que crescem frias, distantes e cheias de complexidades, quando cedem não amam pouco, mas poucos”

“Estar apaixonada era correr o risco de ser rejeitada”

“Era sobre aquilo que as pessoas apaixonadas escreviam em canções…”

“De alguma forma ser forte por outra pessoa era mais fácil do que ser forte por mim mesma”

E há espaço para a poesia, na forma de música, de arte, de expressão.

“A música era minha liberdade”

“Usei a música para fugir de alguns dos meus problemas, para realmente não ter que enfrentá-los”

“A canção da Libélula era um fragmento perdido da minha alma”

“Certas mensagens são mais eficazes se ditas sem palavras”

Um livro introspectivo, que nos faz refletir, também, sobre autoconhecimento:

“A verdade fere, mas liberta”

“Não queria me identificar com aquilo. Era humilhante e doloroso”

“Eu não queria mais ser eu, porque não queria pôr outra pessoa quebrada no mundo”

“As cicatrizes não são algo para se exibir, mas podemos usar as nossas para evitar as dos outros”

“— Superar, Vanessa — retrucou de imediato. — Não é esquecer e nem passar por cima do que aconteceu”

“É nos momentos que precedem à loucura que toda a sensatez se volta para a realidade da vida”

“Não importa em qual lugar dessa cidade eu esteja, meu passado vai sempre me perseguir”

Apesar das muitas frases que trouxe aqui, ainda há muito a se explorar na leitura de Uma canção para a libélula, então, se você se interessou, não deixe de procurar.

Citações #96 — Um milhão de finais felizes

Demorei tempo demais para finalmente conhecer a escrita do Vitor Martins, mas já dizia o ditado “antes tarde do que nunca” (até porque seria triste demais passar por essa vida sem nunca ler nada do autor).

Um milhão de finais felizes foi publicado em 2018 e, de maneira leve — mas ainda tão necessária hoje — consegue abordar temas de extrema importância, falando, por exemplo, sobre ansiedade

“Será que algum dia no futuro meus problemas de hoje também parecerão pequenos?”

“Percebo que esse é meu ideal de felicidade. Estar junto sem medo de que alguma coisa ruim vá acontecer a qualquer momento”

Também retrata as dificuldades da vida, os sentimentos e a força que cada um pode ter dentro de si.

“— Eu sei que eu ainda estou meio quebrado por dentro, mas eu não sou frágil”

Outra temática que permeia toda a obra (e não apenas essa, mas tantas outras do autor) é o da homofobia

“Saber que meu pai prefere um filho drogado do que um filho gay me causa uma dor diferente de todas as dores que eu já senti”

Se você quer saber mais sobre esta história, clique abaixo para ler a resenha completa

Citações #95 — Novelion: a ascensão de uma estrela

Novelion, do Lucas Luyu, foi uma inesperada e grata leitura realizada no último ano.

“— Se são más línguas, por que escuta?

— Por que ainda são línguas?”

O livro, publicado em 2019, foi capaz de me envolver e me deixar com vontade de seguir adiante na série.

“A fagulha foi solta. O caos está presente; só não vê quem não quer”

A premissa é bem interessante: mergulhamos em uma sociedade dividida em signos e na qual é preciso conquistar o direito de viver. Para isso, portanto, os jovens precisam passar pela Seleção

“Eu sempre acreditei estar preparado para a seleção, mas agora que ela está tão próxima não sei dizer ao certo se algum dia estive”

“Novelion é o motivo da nossa existência. Eles mandam em tudo”

“Na cabeça dele, devo ter sido esfaqueado umas trinta vezes. Na minha, ele é quem está sendo esfaqueado. Isso é a Seleção Ultra-humana”

“Incrível como eles gostam de tornar nossas vidas um reality show amaldiçoado”

“No fundo, a seleção tem a ver com isso. Ou você manipula e se torna um dominante, ou é manipulado e vira o dominado”

“Parece que a garota mascarada estava certa; a Seleção Ultra-humana não é um conto de fadas. É um conto de horror”

Uma história bem ao estilo Jogos Vorazes, mas que acrescenta algumas camadas interessantes, como usar as características dos signos do zodíaco para construir os personagens

“Ele sabe que eu estou viajando além da mesa e resolve não me incomodar. Um pisciano entende um pisciano. E como entende”

“O maior inimigo de um pisciano é a própria mente dele”

“— Para onde é que os piscianos vão quando ficam olhando para o nada?”

“Eu sinto um pressentimento ruim. E quando nós, piscianos sentimos isso, significa que algo vai dar ruim. Bem ruim”

“É claro que não refletimos inteiramente as qualidades e defeitos do nosso signo de origem, entretanto, vê-lo da forma como é, me faz repensar na organização da sociedade”

“Escavei um poço gigantesco e enterrei meu lado sensível há quase dez anos. Em uma única noite, a mascarada conseguiu desenterrá-lo. Eu odeio tanto o fato de amar ser pisciano”

Neste tipo de narrativa, não poderia faltar, também, o conflito político.

“Parece que estou envolvido no meio de um jogo político pelo controle de Novelion. Um jogo, cuja principal arma é o assassinato”

“Tentar entender Novelion é o mesmo que entrar num labirinto”

“Por quê? Por que ela está fazendo isso? Será que a Cúpula a mandou propositalmente pra me matar?”

Algumas doses de ironia tornam a leitura ainda melhor.

“Eu não fazia ideia que cobras sorriam, até vê-lo”

“O negócio é que os humanos sempre acharam que exploravam o espaço quando, na verdade, nunca haviam ido mais longe que a lua”

Há, ainda, espaço para introspecção.

“É da dificuldade que nasce a necessidade”

“Que tipo de pessoa eu seria se acabasse com o sorriso dela?”

“Eu preciso meditar. Eu preciso me deitar. Eu preciso de um tempo sozinho. Eu preciso voltar para a minha bolha”

“Eu estou vivo e ao mesmo tempo morto. Não tenho ânimo. Quero chorar por um motivo desconhecido. Quero ser fraco e não forte. Quero desistir e dizer que não devia estar aqui. Mas tem algo dentro de mim, logo atrás da camada de dor que envelopa meu coração e diz que estou onde deveria estar”

E, claro, para a dor.

“É doloroso demais pensar em algo que você não sabe se existe”

“— A dor é passageira, não se preocupe. Tudo na vida é passageiro, mas aquela dor perdura por um longo tempo”

“Viver é doloroso”

Se você se interessou por essa história, leia a resenha completa clicando abaixo.

Citações #94 — Em busca de sentido

Daquelas leituras que mexem profundamente conosco, Em busca de sentido, escrito por Viktor E. Frankl, aborda muitas questões que merecem ser discutidas. Por isso, além do que já apresentei na resenha, aqui você poderá conferir alguns trechos do livro.

Começaremos pelo fato de que a história nos conta sobre os horrores do holocausto do ponto de vista de um sobrevivente e, mesmo que este não seja o foco da obra, há diversas passagens sobre isso.

“Ninguém ainda consegue acreditar que de fato tiraram literalmente tudo da gente”

“A ‘vida’ do ‘número’ é irrelevante. O que está por trás desse número, o que representa esta vida, é menos importante ainda: o destino — a história — o nome de uma pessoa”

“É compreensível que a maioria dos prisioneiros seja atormentada por uma espécie de sentimento de inferioridade. Antes, cada um de nós havia sido ‘alguém’, ou ao menos julgava sê-lo”

“Desde Auschwitz nós sabemos do que o ser humano é capaz. E desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo”

“A bondade humana pode ser encontrada em todas as pessoas e ela se acha também naquele grupo que, à primeira vista, deveria ser sumariamente condenado”

Claro que este tema nos leva a outro: como se sentem e se enxergam as pessoas que passaram por esse horror.

“Todos nós que escapamos com vida por milhares e milhares de coincidências ou milagres divinos — seja lá como quisermos chamá-los — sabemos e podemos dizer, sem hesitação, que os melhores não voltaram”

“Será que a pessoa nada mais é que um resultado de múltiplos determinantes e condicionamentos, sejam eles de ordem biológica, psicológica ou social?”

A falta de alegria — mas a necessidade do humor — também se fazem presente nesta narrativa. Este tema, aliás, é recorrente em obras com esta temática e sempre nos faz pensar.

“A vontade de humor — a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada — constitui um truque útil para a arte de viver”

“Literalmente, desaprendemos o sentimento de alegria”

O tema central da obra, contudo, não é exatamente o Holocausto, mas o sofrimento e, como o próprio título deixa claro, a busca por um sentido.

“Se a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte”

“Durante anos a fio a pessoa acreditou ter chegado ao ponto mais baixo possível do sofrimento, mas constata agora que, de alguma forma, o sofrimento não tem fundo, que aparentemente não existe o ponto baixo absoluto, e as coisas podem piorar cada vez mais, descer cada vez mais…”

“Sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que encontra um sentido, como o sentido de um sacrifício”

Por fim, é bonito de ver como, apesar de tudo, ainda há espaço para reflexões sobre o amor

“Naquele momento, fico sabendo que o amor pouco tem a ver com a existência física de uma pessoa”

Se quiser saber mais sobre esta obra profunda e necessária, clique abaixo para ler a resenha completa.

Citações #93 — Recesso

Recesso, do autor Claus Castro, foi uma leitura que me apareceu do nada, graças ao contato do próprio autor, e que me fez pensar em alguns (vários) assuntos, que retomo aqui, com alguns trechos que destaquei ao longo da leitura e que ficaram de fora da resenha.

O primeiro deles é a nossa memória: aquilo que lembramos e esquecemos, por querer ou pela passagem do tempo.

“Lembrar é um presente me tomando o futuro e este tempo é um sono do qual não posso despertar”

“Algo morre em você e você não consegue continuar sendo a mesma pessoa. Você se perde, no amor ou nessa ausência, e passa a ser tudo aquilo que detestava, para esquecer, para não esquecer, para tampar o rombo no seu peito com a continuação de uma história que já terminou”

“Você esconde no fundo de um álbum no celular uma foto de alguém que não vê há dez anos”

“Toda vez que ficamos, estamos deixando algo para trás, um lapso, uma oportunidade ou o início de uma memória que seja”

Tempo, aliás, é outra temática muito presente, e o autor nos faz pensar sobre a História e o que estamos fazendo com nossas vidas.

“Três revoluções industriais, e a tecnologia foi capaz de nos aproximar de tudo, menos de nós mesmos”

“Quando nasci havia um muro, e pessoas morrendo por uma liberdade em cima dele. Hoje somos livres e vivemos nossas vidas construindo barreiras entre nós”

“A história não era linear, não éramos lineares, nossas histórias não passavam de linhas que ora se trançavam e ora se desembaraçavam numa grande fiação de mais um maquinário que nos roubava”

O narrador possui uma amargura muito visível e, por isso, essas temáticas são tão densas, assim como quando ele fala sobre a relação que temos uns com os outros e como deveríamos estar mais verdadeiramente presentes.

“Mal saíamos de casa e nos sentíamos tão sozinhos, nossas dores não eram mais capazes de nos unir de nos fazer encontrar no outro um ombro para desabar”

“Antes precisávamos de pessoas que falassem, agora precisamos de pessoas que possam escutá-las”

“Nunca antes se falou tanto em amor e nunca antes quisemos ser verdadeiramente tão amados”

Relacionamentos, aliás, estão no cerne dessa narrativa, e nos despertam muitas reflexões.

“Quem era ela pra querer um homem em mim? E quem era eu pra querer uma mulher nela?”

“Mulheres… o que fazer com elas? O que faríamos sem elas? O que estaríamos fazendo se fôssemos elas?”

Há um destaque especial para a dor, presente em diversos momentos da narrativa.

“Não há como combater a dor com a dor, tudo que se tira disso é mais sofrimento”

“A dor é tudo que me move”

Barulho e silêncio também aparecem em tantos outros momentos da história.

“O barulho te assusta num primeiro momento, mas o silêncio pode trazer à tona muitas outras palavras que não foram escutadas”

“Não há conversas, nem murmúrios, só o que existe é o caos, e você em silêncio querendo lutar contra isso”

Recesso é uma leitura que ecoa muito em nós por, além dos temas já mencionados, trazer uma profunda reflexão de um eu que não sabe bem que é e porque veio ao mundo. 

“Diziam que eu poderia ser tudo o que quisesse, porém não consigo nem ser eu mesmo”

“Não importa quanto tempo passe, eu ainda estarei aqui. E acho que é isso o que mais me desespera”

“A vida estava tentando me ensinar uma lição, que eu nunca poderia aprender”

E por nos lembrar constantemente de que a vida não é fácil.

“Por que é que quando a coisa resolve andar é aí que ela volta pior do que antes?”

“Aceitar que a vida é um caminho difícil não vai tornar as coisas mais fáceis; no entanto, isso tornará as que seguirem assim verdadeiras”

Concluo este post com uma passagem que vai dar muito o que pensar e convido você a saber mais sobre este livro através da minha resenha. 

“A barbárie está na indiferença, no cruzar dos braços. Não mexe um músculo move muito mais coisa que se pode imaginar”

Citações #92 — O caçador de pipas

Acredito que ler O caçador de pipas ao menos uma vez na vida é essencial. O livro, escrito por Khaled Hosseini e publicado em 2005 tem muito a nos oferecer.

A história nos faz aprender muito sobre uma Cabul que provavelmente poucos de nós conhece (eu, ao menos, não sabia praticamente nada e talvez jamais soubesse sem uma leitura dessas).

“Em Cabul, empinar pipas era um pouco como ir para a guerra”

“Estar de volta a Cabul era como ir ao encontro de um velho amigo que tínhamos esquecido, e ver que a vida não tinha sido boa para com ele; que tinha se tornado um indigente, um sem-teto”

Muito além disso, porém, a escrita nos permite refletir, por exemplo, sobre honestidade.

“— Quando você mata um homem, está roubando uma vida — disse baba. — Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça. Entende?”

“Tinha tanta coisa boa acontecendo na minha vida… Tanta felicidade… E fiquei me perguntando se eu merecia isso”

“Perspectivas são um luxo quando se tem um enxame de demônio zumbindo constantemente na cabeça”

Sobre tomar decisões.

“Era minha última chance de tomar uma decisão”

Sobre reputação.

“Mas eu era homem e o único risco que corria era o orgulho ferido. E feridas como essas têm cura. Já as reputações, não. Será que ela ia aceitar o meu desafio?”

Sobre coragem

“Comecei a achar que, em muitos aspectos, Soraya Taheri era uma pessoa melhor que eu. Coragem era apenas um deles”

E também sobre a passagem do tempo.

“Mas o tempo pode ser uma coisa bem voraz — às vezes se apodera de todos os detalhes só para si mesmo”

Por fim, uma temática central é aquela da necessidade humana de contar histórias.

“Bem, as pessoas precisam de histórias para se divertir em tempos tão difíceis como esses”

Se você se interessou por este livro e quer saber mais sobre ele, não deixe de ler a resenha completa. 

Citações #91 — As grandes navegações

As grandes navegações, obra escrita por Gael Rodrigues e publicada em 2023, foi uma grata surpresa para mim no último ano.

Ganhei o ebook da presente da Geovana, do Capítulo 20 e não tinha grandes expectativas sobre a obra, apesar da sinopse ter chamado minha atenção com uma simples palavra: amizade.

“Algo passa a existir para gente depois que o nomeamos. Um desconhecido pega o mesmo vagão do metrô que o seu, todas as manhãs, mas começa a existir apenas depois de ser apresentado numa festa qualquer por um amigo qualquer”

“Recomenda-se compartilhar os sonhos numa mesa de café da manhã, com cheiro de café quente atingindo as narinas, aquecendo os sorrisos”

A história, contudo, vai muito além do tema da amizade, nos fazendo mergulhar num universo novo e encantador, uma vez que se inicia em Moçambique, para, em seguida, trabalhar certo contraste com o Brasil.

“A mulher-insular, agora, era também oca. Sem rumo e sem peso. Nada sentia, lágrima nenhuma corria pelo seu rosto. Oca, oca”

“São Paulo era uma cidade grande, feita para caber mentiras e vidas escondidas”

Outro tema que aparece em diversos momentos da narrativa é a questão da diferença e do diferente.

“Protegia-te e mesmo que não soubesses, eu estava em segurança contigo. Dois diferentes juntos são menos diferentes”

“‘O diferente tem vocação para partir. Seja da casa em que ele nunca teve cômodo próprio. Do grupo de amigos em que, apesar das tentativas, o diferente falhou em se conectar profundamente. Ou de uma torre’”

“Mas é o sonho a casa dos diferentes, e é preciso que eles saibam. Feito abraço quente que nunca houve”

“O homem acordado tem asco à diferença. O homem acordado quer a segurança dos iguais, para não ser surpreendido com a aterrorizante ideia de tomar decisões. De trilhar caminhos novos. De ter à sua frente um alienígena a revelar tanto do que ele tenta esconder”

E destaco aqui outro ponto crucial nesta narrativa: a língua.

“A língua separa, mas também une, ela também dizia”

O que me leva, ainda, a outras temáticas importantes: o contar histórias e o lembrar

“Memória de branco é boa porque eles vivem remoendo o passado”

“A brincadeira de encaixe ensinou Leonildo a ser paciente. Não havia lugar para onde ir, nem a pressa dos que vão. Aprendeu a humildade de desistir de uma conclusão, não se ater ao encaixe mais rápido e fácil. Desconfiar. Foco, mais foco. Voltar à estaca zero e recomeçar”

“Deveria ser algo novo dentro dele a transmutar as coisas todas do mundo em uma determinada pessoa”

“Eu tinha cinco anos e algo se quebrou num lugar tão profundo, impossível de achar”

“Leonildo contava sorridente, como se o passado não tivesse sido difícil, como se o presente também não o fosse”

“A máscara foi embora e Guilherme se deparou com um rosto diferente do que ele imaginava. Ele, como outros, completaram os rostos das pessoas incompletas, dando-se conta depois que haviam errado”

“Às vezes, a gente precisa fingir que está contando outra história para contar o que a gente realmente quer contar”

“Às vezes, ter acontecido é o motivo de não se falar mais da coisa, porque ela ficou completa e enterrada”

Também me chamou a atenção o fato da história, em certo momento, se passar durante a pandemia e nos transportar a algumas dificuldades que este período trouxe.

“Perderam o emprego e não queriam perder a vida, estavam prestes a perder o juízo”

Com tantas temáticas abordadas de maneira quase poética, há uma que não poderia deixar de aparecer: o amor

“Se soubesse, se pudesse, construiria um mundo onde o sol sempre estaria na iminência de se pôr”

“O sorriso dele cedeu a um certo constrangimento, ciente de que o amor é incapaz de tornar um chiqueiro num palácio”

“Eles sorriam, estavam felizes. Eram novos demais, por isso felizes”

“Ainda faltava uma estação e uma eternidade”

Uma história que fala de presente, passado e futuro

“Era como se ela soubesse que o futuro seria brilhante, que precisava aprender desde já como se é feliz”

E que nos lembra que, mesmo diante de toda e qualquer maldade, o que vale é o que temos dentro de nós, principalmente a bondade

“‘Não deixe o medo impedir você de compartilhar o que você tem de bom aí dentro, eles sempre aparecem e fazem a gente desacreditar, perder a confiança, mas nem todos são como eles, confie na sua intuição, e compartilhe o que você tem aí dentro’”

Se você acha que este livro pode te interessar, leia a resenha completa para saber mais e garantir seu exemplar.

Citações #90 — Um fake dating com benefícios

Digo e repito sempre: sou muito fã dos livros da Tayana Alvez e com Um fake dating com benefícios, publicado em 2024, não foi diferente. Por isso, hoje trago alguns (vários) trechos que ficaram de fora da resenha

O que mais me encanta na escrita da autora é que ela consegue abordar, de maneira inteligente e envolvente, temas muito importantes. Neste livro, posso citar, por exemplo, a forma como a autora trata das marcas deixadas pela pandemia do coronavírus.

“Contudo, o fim da pandemia devolveu o sol para uma vida que, até então, era de um inverno constante e me permitiu, aos poucos, conseguir sair de casa, reconquistar uma rotina ‘normal’ e interagir com as pessoas sem que o pânico que a doença me causou por anos me dominasse”

“E, por Deus, o covid tirou muitas coisas de mim, não tinha a menor chance dele tirar toda a minha vida das minhas mãos também”

“Dois anos se passaram desde o fim do caos, mas alguns de nós vão ter sequelas para sempre”

Por outro lado, como o próprio título da obra talvez possa sugerir, um dos temas centrais é, sem dúvidas, o amor e suas complexidades

“Só que, ainda assim, não posso fingir que não sinto nada, quando a verdade é que, todas as vezes que termino de ler a lista antes de ir a um dos nossos encontros, uma voz alta e clara toma minha cabeça dizendo que está tudo bem ele ser um problema. Afinal, eu sempre fui uma aluna nota dez em matemática”

“Isso não é paixão e muito, muito menos, amor. É só nostalgia e carência”

“Mas no amor os resultados lógicos raramente existem”

“Já ouvi que o amor é um sentimento, é o encontro de dois acasos, é uma escolha, mas a verdade é que o amor é exatamente como o mar: uma força, irrefreável e impiedosa, que lança nossas certezas por terra e acaba com cada plano que temos para contê-lo; amar alguém é incrível na mesma medida que perigoso”

“Beijar na boca é gostoso. Beijar alguém por quem você se atrai é uma delícia. Mas nada se compara a beijar a única mulher pela qual você sempre foi apaixonado”

“Eu sou maluco por essa mulher. Ela gosta de mim. E isso devia ser o suficiente”

“Se gosta tanto de mim, por que me largou aqui sozinha, Guilherme?”

“Na verdade, o amor que vejo em seus olhos todas as vezes que ele olha para mim é o mais perto que cheguei do meu coração explodir em anos”

“Queria odiar essa sensação. Queria detestá-lo, lembrar o tempo inteiro que ele foi embora e como foi, mas é o que Nina me disse: não consigo”

“O amor é a linha invisível que nos liga à lucidez. O amor é a força invisível que nos impulsiona a seguir”

“— A gente ama as pessoas apesar das coisas, não por causa das coisas, Beatriz”

“Qual verdade? — A de que a vida pode ser boa de muitos jeitos, mas não vale a pena sem amor”

Acredito que muitos dos trechos acima também vão nos levando a outro ponto importante para esta narrativa: o passado e alguns erros que ele esconde.

“São letras sobre amor, dor e culpa. Cada uma delas conta os fragmentos de uma história que jurei deixar morta e enterrada no passado”

“E eu gostaria que isso não fosse uma lembrança, mas é”

“Nós éramos fortes, feitos para nunca quebrar. E a única coisa que nos mantém longe é eu não saber porque nós quebramos”

“Talvez contar o que aconteceu não destrua tudo no fim das contas”

“Nós sabemos. Temos completa certeza de que o passado vai nos destruir”

“Na verdade, o tempo não cura nada”

“Mas o passado não é um lugar no qual a gente possa mexer…”

“Talvez não exista culpa, talvez as coisas tenham acontecido como deveriam e foi uma sucessão de equívocos que nos trouxe até aqui”

Uma história que carrega muitas dores, mágoas e a necessidade do perdão.

“Dois milhões de justificativas para dar, mas vejo em seus olhos escuros e perdidos que ela não se importa. Não mais”

“Às vezes, tudo que você precisa é de uma pessoa que ame de todo o coração bebendo água de coco na orla com você, depois de uma manhã de trabalho. E, às vezes, tudo o que o outro merece é o melhor de você depois de tanto tempo encarando apenas o pior e decidindo ficar”

“Você me traiu da pior forma que alguém pode trair outra pessoa: jurando que era pro meu bem”

“Perdoar, nunca vai significar esquecer”

Outra coisa que chama a minha atenção na escrita da Tayana é a sua capacidade de criar personagens tão reais e, também, tão incríveis. A forma como ela retrata o ser humano é precisa, marcante.

“Homens sensíveis são perigosos, eles cuidam de você, cantam para você e aí, pronto, você dorme agarrada neles. Mais especificamente, sendo a parte de dentro da conchinha”

“E todas essas pequenas grandes coisas fazem da minha amiga o meu xodó, aquilo que me traz esperança na humanidade”

“— Às vezes, as pessoas acham que sabem o que estão fazendo quando, na verdade, não têm a menor ideia”

E, claro, ela não se esquece jamais de colocar pessoas pretas como protagonistas, fazendo questão de nos lembrar do básico.

“É bom, é simplesmente bom saber que pessoas pretas e periféricas também conseguem realizar sonhos”

Por fim, acho importante destacar que os livros dessa autora sempre nos deixam lições marcantes, que com certeza vão variar muito de pessoa para pessoa, de acordo com o momento que estamos vivendo e aquilo que acreditamos, mas que, de uma forma ou de outra, estarão ali, ecoando em nós.

“Tentar fingir que você não quer ser feliz quando tudo o que precisa está a dois passos?”

“A vida é maior. Maior que a dor, a insegurança, a reclusão e o rancor”

Se você gostou dos quotes que encontrou aqui, não deixe de ler a resenha completa, para saber mais sobre este livro!

Citações #89 — Crônicas da surdez

Há tempos me interesso pelo assunto surdez. Não sei muito bem o porquê do interesse, mas é sempre um prazer poder aprender um pouco mais sobre o tema.

Com isso, não é de hoje que o trabalho da Paula Pfeifer tem estado no meu radar e esse ano eu finalmente li Crônicas da Surdez, cuja resenha você encontra aqui

Logo no início da obra há um esclarecimento muito importante sobre o que ela irá nos apresentar, ao mesmo tempo em que a autora tem a oportunidade de abordar uma questão de extrema importância: a heterogeneidade da surdez. 

“Vamos esclarecer de uma vez por todas: a surdez não é homogênea, não existe certo nem errado quando se trata da forma pela qual um surdo escolheu para se comunicar e viver. Sou a favor do respeito à diversidade de escolha. O que funciona para mim pode não funcionar para você, e vice‑versa. Não tenho nada contra a língua de sinais e admiro muito os surdos bilíngues (que dominam o português e a LIBRAS). São tantos surdos com experiências de vida e comunicação distintas que quis escrever este livro para me comunicar com aqueles que vivem as mesmas situações que eu. Minha vivência com a língua de sinais e com surdos sinalizados é praticamente nula”

“Quando você lê a palavra “surdo”, o que lhe vem à cabeça? Pois saiba que a surdez é uma deficiência heterogênea. Não há uma definição única, e existem vários graus de perda auditiva”

Aliás, a autora nos lembra, como não poderia deixar de ser, que cada deficiência é única e traz as suas dificuldades, mas também a oportunidade de desenvolver algumas habilidades.

“Só que não existe deficiência melhor ou pior. Ao contrário, cada deficiência afeta e prejudica a vida da pessoa que convive com ela das mais variadas maneiras – é impossível e seria muito injusto escolher a pior de todas”

“A surdez torna as pessoas mais observadoras. A visão fica mais aguçada, e você passa a prestar atenção em coisas que antes passavam batido. Em especial, no comportamento humano”

O tema no qual ela mais se centraliza nesta obra, porém, é o da importância de buscar profissionais capacitados para atender e te ajudar em sua deficiência e, principalmente, não ter vergonha dela. Não se esconder, mas sim encarar a realidade

“Quando a surdez se manifesta na infância, são pouquíssimas as famílias que a encaram logo de primeira”

“No fundo, eu sabia, mas era mais seguro fingir que não era comigo e evitar qualquer contato telefônico com quem quer que fosse”

“Você quer cuidar da saúde ou viver de aparências?”

“Sentir vergonha da surdez é uma vergonha”

Para ajudar seus leitores nessa jornada, a autora ressalta que não somos o centro do universo: nem todos estão prestando atenção em nós (o que quase sempre é uma benção) e que há muitas pessoas gentis nessa vida.

“A maior epifania que já tive na vida foi perceber que, quase sempre, os outros não estão nem 1% interessados em nossa condição como achamos que eles estão”

“Acho que encontramos muito mais pessoas gentis e acolhedoras na vida do que gente rude, e ficar triste com algumas grosserias que nos fazem é bobagem – no geral, quem age assim nem lembra do que fez ou não considera sua atitude errada”

E ela também nos lembra de uma coisa muito importante.

“Viajar é um dos maiores prazeres da vida, que não deve ser deixado de lado por medo. Quem fica com receio de viajar sozinho para o exterior deveria pensar que imprevistos podem acontecer a qualquer um, independentemente de ouvir ou não”

Por fim, não posso deixar de ressaltar que o silêncio e o barulho marcam presença constante ao longo das páginas deste livro (o que talvez já fosse de se esperar, não é mesmo?). 

“Sinceramente, nunca consegui identificar no silêncio as trevas sombrias que muitas pessoas veem nele”

“Quando o silêncio faz parte de nós, não percebemos até que ponto o mundo é barulhento”

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Citações #88 — A cor púrpura

O post de hoje vai para você que ainda não se convenceu a ler A cor púrpura, escrito por Alice Walker.

Uma obra que, para além de um clássico, realmente tem muito a nos transmitir, falando, por exemplo, sobre pertencimento.

“Pela primeira vez na minha vida, eu sinto que tô no meu lugar”

Sobre o respeito ao próximo, mesmo que o próximo seja uma mulher vivendo numa sociedade extremamente machista.

“Eu num brigo as briga da Sofia, ele fala. Meu negócio é amar ela e levar ela pra onde ela quer ir”

Uma história sobre amores, não apenas românticos (aliás, este talvez seja o menos presente) e sobre exemplos.

“Talvez só de morarmos juntos, amar as pessoas faz com que elas se pareçam com a gente, eu falei. Você sabe como algumas pessoas casadas há muito tempo se parecem”

Mas, acima de tudo, uma obra sobre preconceitos, desrespeito e sobre vencer diariamente muitas batalhas. 

“Eu sei que os branco nunca escutam os negro, e pronto. Se eles escutam, eles só escutam o bastante pra poder dizer procê o que você deve fazer”

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