Daquelas leituras que entregam muito mais do que se espera, ano passado tive a oportunidade de ler Teto para dois(Beth O’Leary) e me surpreender com uma história cheia de nuances, que me deixou bem reflexiva.
Por isso, apesar de ter deixado apenas algumas poucas passagens de fora da resenha, não poderia deixar de trazê-las aqui.
Teto para dois é uma narrativa que vai, aos poucos, nos fazendo enxergar um relacionamento abusivo.
“Sem ele, eu me sinto… perdida”
“Você é linda e eu nunca vou machucar você como ele fez”
Também é uma história que nos faz refletir sobre a síndrome do impostor (que atinge principalmente as mulheres).
“Eu me sinto uma fraude. Quer dizer, trabalhei quase em tempo integral no livro dela nos últimos meses, mas também reclamei demais e não paguei a ela um bom adiantamento, na verdade”
Abordando tais temas, o livro não poderia deixar de retratar, também, como a terapia pode ser (e realmente é) de grande ajuda.
“Achei que ela fosse me dizer o que tem de errado comigo. Em vez disso, meio que descobri algumas coisas sozinha… o que eu não teria feito sem ela sentada ali. Muito estranho”
Teto para dois tem uma protagonista contagiante, dona de uma força que ela mesma não reconhece, e encantadora.
“Tiffy é tão impulsiva que é contagioso”
Se você não conhece muito desta história, te convido a ler minha resenhaaqui e, claro, já garantir o seu exemplar (físico ou digital).
Calma, não vai embora ainda não! Semana passada escrevi um post sobre os cinco anos do Blog das Tatianices e gostaria de avisar que ele já está atualizado com a vencedora do sorteio de cinco livros nacionais que preparei. Corre lá para conferir.
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Título: Teto para dois
Original: The flatshare
Autora: Beth O’Leary
Editora: Intrínseca
Páginas: 400
Ano: 2019
Tradutora: Carolina Selvatici
Alguns livros são mais difíceis de resenhar que outros e eu não poderia imaginar que Teto para dois seria um desses livros, mesmo depois de ler as palavras da Fernanda nesta resenha.
“Quando repetimos uma verdade vezes o bastante, quando nos esforçamos o suficiente, um dia funciona”
A dificuldade de falar desse livro não reside no fato de que muito já se falou sobre ele, mas sim no quanto ele pode atingir de maneiras tão únicas e pessoais cada um de nós.
“Deveria ficar feliz, mas não consigo”
Com uma narrativa em primeira pessoa que alterna entre os protagonistas, Tiffy e Leon, a história aborda temas como relacionamentos tóxicos, injustiça, amizade, força e a necessidade de falarmos e não desperdiçarmos as oportunidades que a vida nos dá.
“Não deixe sua.. reticência natural atrapalhar você. Deixe claro o que sente por ela. Afinal, você é um livro fechado, Leon”
Tiffy precisa desesperadamente de um lugar não muito caro para morar. Ela e seu (ex) namorado já haviam terminado (de novo) há três meses, mas ela ainda morava no apartamento dele e a situação tornava-se insustentável (isso pode parecer óbvio, mas com o desenrolar da história a coisa só piora…).
Depois de muitas visitas a apartamentos terríveis, Tiffy se depara com um anúncio bem inusitado: uma proposta de divisão de uma casa de apenas um quarto, mas que seria ocupado durante o dia pelo dono e a noite e aos finais de semana por Tiffy.
“É preciso dizer uma coisa sobre o desespero: ele deixa a cabeça da gente muito mais aberta”
Claro que o dono desse anúncio é Leon, que precisa muito de dinheiro para pagar o advogado de Richie, seu irmão, que está preso (injustamente? Só a leitura nos fará descobrir).
Mas de um lado temos Gerty e Mo, grandes amigos de Tiffy, achando essa ideia absurda; de outro lado temos Kay, namorada de Leon, que certamente não gosta nem um pouco de saber que, mesmo que indiretamente, ele vai dividir sua cama com outra mulher.
E claro que essa divisão — que acaba realmente acontecendo — é apenas o começo de tudo o que se desenrola depois.
“Aquela sensação de novo, a raiva represada ao ouvir alguém que você tenta muito amar dizer as piores coisas”
Tiffy tem um coração enorme. Daqueles que não mecerem experienciar a maldade humana tão de perto, mas que talvez justamente por isso, acabam experienciando.
“Estou com medo de que ele esteja preparando alguma coisa. Homens assim não vão embora depois de um susto”
Ao mesmo tempo em que vamos conhecendo aos poucos essa protagonista, também vamos descobrindo, com ela, as feridas de seu antigo relacionamento. Até chegar um ponto em que é difícil não ter horror a Justin.
“Sei que é difícil pensar coisas ruins dele, Tiffy, mas, seja qual for a desculpa que queira arranjar para todo o resto, nem você pode ignorar que ele deixou você para ficar com outra mulher”
Cada revelação e acontecimento são como uma facada no coração ou, pior ainda, um espelho para quem já viveu coisas parecidas, mesmo sem se dar conta.
“Então estar com ele era divertido. Mas será que era bom para mim?”
Enquanto Tiffy vai nos fazendo refletir sobre a toxicidade de seu relacionamento, Leon nos faz enxergar dois outros importantes pontos sobre as relações humanas: a dor de enxergar que já não há mais espaço, em nossas vidas, para aquela pessoa que um dia amamos (e com quem, muitas vezes, ainda estamos juntos, talvez por hábito) e a necessidade de não deixarmos para depois o amor que temos para dar hoje.
“Holly: você é péssimo em contar às pessoas o que sente de verdade”
Se a história de Tiffy e Leon — tanto separadamente quanto quando elas se cruzam — já daria um livro, Teto para dois nos surpreende, também, com as narrativas paralelas que aparecem, e que trazem as demais temáticas que mencionei anteriormente.
Gostei da forma como a amizade de Mo, Gerty e Tiffy funciona. É clara a preocupação de Mo e Gerty com Tiffy, mas eles também sabem que ela precisa caminhar com as próprias pernas, mesmo que eles não estejam de acordo com as escolhas dela. O que, contudo, não faz com eles saiam do lado dela.
“Ser legal é uma coisa boa. A gente pode ser forte e legal. Não precisa ser uma coisa de cada vez”
Foi difícil não se deixar envolver por essa narrativa. Eu estava curiosa com a troca de post its entre Tiffy e Leon, que eu já sabia que acontecia, mas não imaginava que esses pedacinhos de papel nos ajudariam a enxergar tanta coisa também.
“É estranho ver como é fácil conhecer alguém pelos vestígios que a pessoa deixa para trás”
Quando, já perto do final, a história deu um salto de dois anos, eu quase chorei (mais), pois não queria que o livro acabasse. É difícil se despedir de personagens tão marcantes e presentes como esses.
Se você ainda não leu Teto para dois e ficou com vontade, não deixe de clicar abaixo para saber mais. E se você já leu, vem me contar o que achou!