Som do fim do mundo — Maicon Moura

Título: Som do fim do mundo: contos 
Autor: Maicon Moura
Editora: Publicação independente 
Páginas: 156
Ano: 2024

Sinopse

Em “Som do Fim do Mundo”, uma coletânea cativante de contos do autor de “Não Quero Patos Elétricos”, somos levados a explorar uma nova faceta de sua narrativa. Em vez do cenário típico de ficção científica, encontramos histórias breves e envolventes que desafiam as expectativas e nos transportam para mundos fantásticos e surreais, ocultos nas dobras do cotidiano.

Com uma prosa mágica e envolvente, Maicon nos apresenta uma série de contos que se destacam pela sua originalidade e charme. Influenciado por gigantes da literatura brasileira como Murilo Rubião e Lygia Fagundes Telles, o autor revela que a magia está presente nos detalhes mais simples da vida. Nestas páginas, o extraordinário emerge do comum, transformando o banal em algo verdadeiramente extraordinário.

Cada conto é uma jornada única, onde o humor se entrelaça com a melancolia, criando um universo narrativo rico em contrastes e emoções. Mesmo os momentos mais absurdos nos fazem refletir sobre nossa própria existência e os mistérios que permeiam nosso dia a dia.

“Som do Fim do Mundo” é mais do que uma simples coletânea de contos; é uma porta de entrada para o mundo encantador e multifacetado de Maicon Moura. Se você busca uma leitura que desperte sua imaginação e o faça questionar a realidade, este livro é o seu bilhete de entrada para um universo de magia e reflexão.

Resenha

Som do fim do mundo é uma coletânea que vem para desafiar nossas expectativas, com contos curtos e finais surpreendentes. Ao longo da leitura, nunca sabemos onde cada história irá nos levar. E essa é justamente a ideia.

A obra é composta por 10 textos e tentarei apresentar brevemente cada um, fazendo o possível para não dar spoilers.

As estrelas do lago

Sim, um lago como peça central. Um lago que carrega um mistério pelo qual dificilmente você não irá se render, ao mesmo tempo em que imagina o quanto ele deve ser bonito. Dá vontade de tocá-lo, mas sabemos que esta não é uma boa ideia.

Mas para além de todos os segredos que queremos desvendar, esta história também me encantou porque fala da adolescência de uma forma que só quem já passou por ela poderia falar.

“Que saudade da fase em que nossas decisões burras, em nossa cabeça, eram algo de que nos gabávamos. Mostrar uma cicatriz e contar sua história, mesmo que você estivesse totalmente errado em ter feito aquilo”

(As estrelas do lago)

Coma

Só lendo este conto para perceber que seu título tem um duplo sentido.

A história, que parece banal, tem um final horripilante, daqueles que nos deixa boquiabertos.

“Eu não conseguia dizer que estava bem. E não tinha certeza se estava”

(Coma)

Disco da Terra

A leitura deste conto é, sem dúvidas, uma experiência. A começar pelo protagonista, que se acha o melhor do universo e vive (podemos chamar isso de vida?) para manter esse status.

Além disso, esta é uma história de uma realidade talvez não tão distante de nós e que nos faz refletir sobre o cuidado (ou a falta dele) que temos com o nosso planeta.

“O engraçado da raça humana sempre foi sua paixão pelo planeta. E, mesmo assim, estavam tacando fogo em tudo o que podiam. ‘Amo as árvores, então vou fazer um guarda-roupa com elas’”

(Disco da Terra)

Por fim, o conto nos permite enxergar a Terra de outra perspectiva, para que possamos valorizar e conviver em harmonia com o que temos hoje.

“Os animais, em poucos anos, se tornaram armas mortais prontas para tirar o vírus humano da Terra. Então a humanidade decidiu sair por livre e espontânea vontade e ir para Marte. Um lugar que não estava tão vazio, mas, somos bem conhecidos por invadir lugares e dizer que os descobrimos”

(Disco da Terra)

Som do fim do mundo

Claro que o conto que serve de título ao livro não poderia deixar de ser um espetáculo

Além de fazer referência a elementos da nossa cultura narrativa, a história explora uma visão do fim de mundo que provavelmente você ainda não parou para imaginar.

“Talvez um meteorito explodisse o planeta, algo que sempre fora cultuado pela indústria do entretenimento. Um grande meteoro atingindo o planeta e tudo indo para os ares. Esse era o sonho”

(Som do fim do mundo)

Não pergunte

Como dito no começo desta resenha, essa antologia vem para desafiar nossas expectativas. E este conto é um ótimo exemplo disso: o final dele me pegou totalmente de surpresa.

A história em si já é bem interessante: será que não vivemos fazendo as perguntas erradas? (Seria essa mais uma delas?)

“As questões erradas continuam sendo realizadas diariamente, milhares de vezes, gerando em sua trajetória errônea, catástrofes que não são esperadas pela humanidade”

(Não pergunte)

E quais são as consequências de uma pergunta errada em nossas vidas? Qual seria o impacto de uma pergunta certa?

“A dúvida certa fez algo muito mais forte do que qualquer religião: ela abriu na mente dessas pessoas a janela para a conexão mental”

(Não pergunte)

Minha alma entre batidas

Só o título desse conto já seria capaz de me fisgar e, não vou negar, ele foi meu preferido, não apenas pela história em si, mas também pelo fato do texto ter ritmo, o que combina demais com o desenrolar dele.

“As batidas da música criavam ritmos em nossos movimentos. De longe, reparei que ela me olhava e, de longe, ela reparou que eu reparava. O ritmo da música nos fazia dar passos curtos e dançantes um em direção ao outro”

(Minha alma entre batidas)

Mas não se deixe enganar: este não é um simples conto romântico. A história tem muitas camadas e é sombria de um jeito delicioso.

“Não era amor. Não era paixão. Estava drogado”

(Minha alma entre batidas)

Ao mesmo tempo que nos arrepiamos, também ficamos abalados com os belos tapas na cara que esta história dá.

“Ali naquele grupo de amigos, éramos mais desconhecidos que conhecidos”

(Minha alma entre batidas)

Em busca do Éden

Este foi um conto que me arrancou belas risadas. Os personagens são exagerados e muito bem marcados e a história chega a beirar o absurdo de uma maneira bem interessante.

Tupavntis: o limite do poder é o estômago

Sabe aquela velha história de “seria cômico se não fosse trágico”? Pois é isso que acontece neste conto.

“Desde os tempos mais antigos, antes mesmo da primeira guerra, antes de inventarem o sanduíche e bem antes de Jesus morrer — ele nem chegou a saber sobre essa pequena aldeia que prosperava no meio do deserto, cultuando uma árvore — os Tupavntis já existiam”

(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)

Nesta fantasia bem maluca, Maicon explora uma narrativa cheia de comicidade na medida certa, mas também com algumas boas críticas ao comportamento humano e reflexões sobre a nossa existência.

“‘Louco é morrer tão jovem, louco é desistir de viver, louco é perder a esperança’. Muitos cantores de rock, country e outros ritmos que precisam de um violão ou guitarra e aqueles que usam ukulele ou cavaquinho, inspiraram suas canções nessa fala clássica de Rosnan. Uma fala que reverberou pelo universo. Mesmo que Rosnan nunca tenha feito nada para ser lembrado, essa frase ficou entre as paredes rabiscadas da cabana”

(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)

O rapaz gentil do mercado

Com uma narrativa deliciosa e envolvente, neste conto Maicon consegue nos trazer uma história que, aos poucos, se revela de terror, mas que logo de cara nos desperta muita curiosidade e vontade de ler mais e mais.

Há nela um personagem que encanta, mas que de longe podemos sentir o cheiro de problema. Que se revela muito maior do que o esperado.

Oi, meu bebê

Para fechar esta antologia, que conto! Daqueles que são um soco no estômago e que nos deixam pensando o que o futuro reserva para a humanidade (ou para a falta dela).

“Antes éramos controlados por uns oitenta anos. Agora eles nos controlam para sempre”

(Oi, meu bebê)

Uma história para se ler com um lencinho do lado, porque para além de ser um baque, ela também fala muito sobre a solidão

“Eles queriam que você crescesse sozinho. A solidão é algo terrível. Talvez muito pior que a manchinha em seu pulmão”

(Oi, meu bebê)

Para além da pluralidade narrativa de O som do fim do mundo, esta antologia também nos mostra toda a habilidade de Maicon com o design. A diagramação é linda e torna a leitura ainda mais agradável.

E aí, que conto você acha que seria o seu preferido?

Não deixe de conferir e garantir seu exeplar de O som no fim do túnel e aproveite para seguir o Maicon em suas redes sociais (Instagram | Substack).

* Lembrando que qualquer compra feita na Amazon a partir dos links postados neste Blog, irá gerar uma comissão para este espaço, sem custo algum para você, ou seja, todos saem felizes nesta história (:

Cigarro e anéis no rabo do gato — Maicon Moura

Título: Cigarro e anéis no rabo do gato e outros contos
Autor: Maicon Moura
Editora: publicação independente
Páginas: 57
Ano: 2021

No início do ano eu postei aqui no blog a resenha de Não quero patos elétricos, indicando fortemente a leitura desta obra. Mas se mesmo depois do que escrevi você não se convenceu a ler um livro que talvez te tire da zona de conforto, hoje eu trago uma nova (e talvez mais fácil) opção: a coletânea Cigarro e anéis no rabo do gato e outros contos, publicada pelo mesmo autor.

“As horas passam rápido. Como os dias, os meses e os anos. Coisas irão acontecer e outras não irão”

Considero que esta possa ser uma forma “mais fácil” de te convencer a embarcar em um novo gênero literário porque as histórias aqui são mais curtas (afinal, são contos) e você pode saboreá-las com calma, além de pegar algumas sutis menções à space opera anteriormente resenhada. Porém, um alerta: o fato das histórias serem mais curtas e de você poder lê-las com calma não significa que você irá se deparar com histórias banais ou toscas. Muito pelo contrário!

“Existem pessoas que sabem muitas coisas. Essas pessoas não estão na faculdade, não estão em escritórios, não são Deuses. Estão por aí, esperando o momento certo para mudarem seu modo de ver as coisas”

A coletânea Cigarro e anéis no rabo do gato reúne cinco contos que se passam numa realidade que (ainda) não é nossa, com simulacros, tecnologia e uma consciência ambiental muito acima da que temos hoje (e que ainda tem tanto a melhorar). É muito maluco perceber, porém, como apesar de tudo isso, os personagens são bem parecidos conosco, sendo reais e humanos mesmo quando não o são (achou confuso? Leia e entenderá!).

“O pensar é um grande mistério, as lembranças são confusas e nossa opinião é falha. Somos um amontoado de incertezas não confiáveis”

Outro aspecto excelente desta coletânea é que as narrativas trazem muitos significados e descobertas para nós, leitores, nos fazendo refletir sobre a vida e a morte e tudo o que há entre essas duas pontas.

“Sabemos que vai acabar e o que estamos fazendo?”

Confesso que tive a honra de ler essa obra ao menos duas vezes (porque, além de tudo, eu a revisei!) e não vou negar que a cada leitura eu me surpreendo com um novo detalhe, um novo pensamento.

“Deprimente é pensar que esse não é o mundo real”

E se você ainda está achando o título desse livro muito estranho, saiba que ele é o nome de um dos contos, e que depois da leitura, talvez as coisas passem a fazer mais sentido. Aliás, os títulos dos contos, em ordem, são:

  1. Beijo e chuva de sábado
  2. Cigarro e anéis no rabo do gato
  3. “Papai?” perguntou minha menininha
  4. Ele, a moça e a saída
  5. Mas eu quero morrer (conto bônus, que eu já havia lido de maneira separada e cuja resenha você encontra aqui).

“Corri como se a vida dependesse daquilo. E dependia”

Espero ao menos ter despertado a sua curiosidade com relação à essa coletânea e a tudo o mais que o Maicon escreve. Você pode acompanhar o trabalho do autor através da newsletter, do Instagram e do Linkedin.

“Eu devia ter me esforçado mais”

Com relação a esse trabalho, ele está disponível na Amazon, mas em breve ganhará o formato físico… Com um prefácio meu! Entre em contato com o autor para adquirir o seu exemplar.

Serial Killer: a verdadeira face do mal (Antologia)

Título: Serial Killer: a verdadeira face do mal
Organização: Larissa Oliveira
Editora: Lettre
Páginas: 135
Ano: 2020

Recém saída do forno, a antologia Serial Killer: a verdadeira face do mal veio para abalar as estruturas. Bom, pode ser exagero meu, mas é que realmente me surpreendi com essa obra e não acho que seja simplesmente pelo fato desse ser um gênero com o qual não tenho tanto contato.

“Quero mostrar para ela que os monstros vivem na superfície, que o bem e o mal estão dentro de todos e que nós escolhemos qual lado queremos vivenciar”

(Conto: Na superfície)

As histórias que encontrei ao longo das páginas dessa antologia me surpreenderam pela variedade. Os seriais killers são muito diversos entre si: homens, mulheres, crianças (!), jovens, adultos, ricos, pobres… Isso sem contar, claro, aqueles contos que deixam certa dúvida no ar.

Nós somos o verdadeiro mal. Somos um mal que está oculto nas sombras, esperando o momento certo de rasgar sua garganta.

(Conto: Lady Jack)

Outra coisa que chamou a minha atenção é que há tanto homens quanto mulheres escrevendo. E há homens que fizeram protagonistas femininas e mulheres que fizeram protagonistas masculinos e assim por diante. Realmente bem mesclado e bem fora do padrão.

“A festa estava lotada de pessoas superficiais”

(Conto: Antes que o leite acabe)

E não, caro leitor, não se deixe enganar: muitas reviravoltas também nos aguardam nas páginas de Serial Killer. É claro que, num livro como esse, nem tudo é o que parece ser!

“Miguel se achava muito inteligente, e isso o tornava alguém altamente manipulável, pois bastava dar um sorriso meigo, se fingir de atrapalhada e dizer que acreditava em alguma besteira, para que ele confiasse ter alguém ingênuo à sua frente”

(Conto: Lady Jack)

Agora, uma coisa que me surpreendeu ainda mais que tudo o que já mencionei até aqui foi o fato de que, em mais de um conto, os seriais killers se apresentam a nós com uma falsa capa de moralidade, isto é, buscam justificar as mortes que cometem como uma espécie de justiça ou “limpeza da sociedade”.

“As palavras do dono do estabelecimento só comprovam o que eu sempre digo: as pessoas só se importam com os problemas das outras quando eles não causam problemas para si mesmas”

(Conto: Jingle Bells – Jungle Hells)

Isso me surpreende pela forma como os autores usaram desse elemento para construir suas histórias. Elemento este que, infelizmente, faz realmente parte de nossa sociedade. Afinal, quantas pessoas não fazem coisas ruins acreditando ou alegando estar fazendo algo de bom para o mundo?

É, essa antologia talvez tenha me deixado reflexiva. E tanto me deixou reflexiva que, olhando aqui a sinopse dela, me pergunto se eu não deveria ficar com certo medo dos autores. Isto porque na sinopse diz-se que “buscamos, nesta antologia, fazer com que cada autor mostrasse o seu monstro interior. Isso mesmo, todos temos um monstro adormecido dentro de nós”.

Ora, se a ideia era que cada autor mostrasse seu monstro interior e disso nasceram contos tão bem escritos… O que será feito desses monstros que agora estão entre nós?

Brincadeiras a parte, essa é uma antologia que vale a pena ser lida. Eu já solicitei a minha versão física (que está em pré-venda no site da Editora), porque vi que está com uma diagramação incrível, melhor que a de muita editora grande. Mas, por enquanto, li na versão digital (disponível na Amazon), que tem uma diagramação mais simples, mas que não muda em nada a qualidade das histórias lidas.

Se você é amante do gênero, a leitura desta antologia te permitirá conhecer novos autores. Se, por outro lado, você é como eu e não tem o hábito de ler coisas nessa área, aventure-se. Não me arrependo nem um pouco de ter me jogado de cabeça nessa.