Ressaca literária: o que estou fazendo para superá-la [tradução 13]

Para a tradução deste mês, resolvi falar sobre um assunto que todo leitor, em algum momento, fala: a famosa ressaca literária.

E escolhi esse tema porque tenho visto muitas pessoas com dificuldade para ler nesses últimos tempos. É a soma de notícias ruins, mais de um ano vivendo uma grande incógnita e, em alguns casos (e me encaixo nessa) uma correria danada, apesar de tudo.

O artigo original, porém, foi escrito em janeiro de 2018 (ou seja, um contexto bem diferente do nosso, né?), por Chiara Nicolazzo, e pode ser lido aqui. Espero que alguma dessas dicas possa ser útil!

Também gostaria de ressaltar que uma tradução mais literal do título seria algo como “o bloqueio do leitor”, mas adoro esse termo “ressaca” que adotamos por aqui. Então vamos ao que interessa?


Começo a escrever este post sem muita enrolação, mas partindo de uma confissão. Estou de ressaca literária. Uma ótima situação para alguém que administra um blog no qual se fala principalmente de livros, né?

Devo dizer que nunca fui uma daquelas leitoras que se importa com o número de livros lidos, mas é um fato: se vocês acompanham a minha coluna os livros do mês, vocês provavelmente perceberam que ultimamente tenho lido pouco. O que está acontecendo?, perguntei-me. A única resposta que consegui me dar foi que nos últimos meses tenho acumulado muito stress. A experiência de comprar e reestruturar uma casa com certeza foi emocionante, mas também foi um projeto que me sugou tudo. Paciência, tempo, energia mental. Desde setembro comecei a enfrentar situações antipáticas para alguém que se define como uma leitora compulsiva. Leio e percebo que não estou atenta, porque a minha mente vaga para outros cantos. Olho os livros à espera de serem lidos e não tenho vontade nem mesmo de pegá-los. Digo a mim mesma que estou lendo muito pouco e percebo que não me importo com isso.

Inicialmente, pensei que uma vez que passasse o caos de trabalhadores dentro de casa e os problemas mais urgentes, a situação melhoraria. No entanto, continuo me sentindo presa a uma situação que não me pertence. Mais ligada às tarefas cotidianas que às aventuras fantásticas que vivem nos livros.

Pensei, portanto, que poderia ser útil falar com vocês. O que estou fazendo para mudar essa situação? Digamos que não existem regras mágicas, busco apenas escutar o meu instinto e devo dizer que, devagar, as coisas estão melhorando. Então resolvi contar a vocês a minha experiência através das 5 coisas que estou fazendo para superar a ressaca literária.

1) Não me forçar

Percebi que é inútil me forçar. Se eu leio quando não tenho vontade e estou pensando em outras coisas, ler torna-se simplesmente algo automático. E não é bom, porque não aproveito o momento e não gravo nada. Consequentemente, me irrito. Ler apenas por dever, apenas para não perder o hábito, torna-se mais uma daquelas ações que cotidianamente “tenho que fazer”, não uma daquelas que “quero fazer”.

2) Não experimentar

Nesses meses, tentei por diversas vezes ler algum dos livros que estavam pegando poeira na minha cabeceira, à espera de serem lidos. Em sua maioria, são livros que comprei ao acaso, apenas porque custavam pouco, ou que recebi de brinde de alguma editora. Em ambos os casos, são livros que acabaram nas minhas mãos quase por acaso, não porque eu os desejasse ler há muito tempo. Percebi, portanto, que é inútil experimentar novas leituras neste período, porque esta se revelou uma atividade improdutiva.

3) Estabelecer quantas páginas ler por dia

Ter ressaca literária significa que existem dias que encontro mil desculpas e mil tarefas para fazer só para não abrir um livro. Nos últimos tempos, por exemplo, estou acompanhando várias séries televisivas e voltei a fazer crochê com o objetivo de fazer um suéter (mas isso é uma outra história). Entendi, portanto, que é eficaz sim, dizer a mim mesma “Chiara, você tem que ler pelo menos vinte páginas e depois pode fazer o que bem entender“. Comigo funciona. Isso de estabelecer um total de páginas para ler por dia me permite reestabelecer uma conexão entre eu e o livro que, sem isso, não seria possível.

4) Reler o meu livro/autor preferido

Um sintoma dessa situação é o de ter perdido o entusiasmo de me perder em uma história. Percebi, porém, que isso não acontece quando releio um livro que amo muito ou aproximando-me de escritores que eu curto. Por isso que ultimamente reli diversos livros que sempre têm o poder de me levar de volta para casa. Entre os livros que tirei das caixas estão, por exemplo, L’ora di tutti de Maria Corti e Se non ti vedo non esisti de Levante e, depois, também foi fundamental, como sempre, a minha escritora preferida Isabel Allende, de quem reli alguns trechos dos meus romances preferidos, o seu último trabalho, Além do inverno, e agora estou relendo inteiramente Il quaderno di Maya. Além disso, justamente ontem fiz uma compra online contendo dois títulos que gostaria de ler há muito tempo e que, por diversos motivos, nunca comprei. Acredito que esse seja o caminho.

5) Me dar um tempo

É inútil me desesperar por uma situação que, eu sei, não mudará da noite para o dia, mas que se desenrolará naturalmente e com alguma prudência da minha parte. Não posso me culpar por todo o stress que interiorizei nos últimos tempos e que saiu de mim desta forma. Tudo o que eu posso fazer é me dar um tempo para reencontrar o entusiasmo pela leitura nos autores e nas palavras que amo dia após dia.

Preciso dizer que resolvi dividir com vocês a minha situação porque acho que confrontar essa situação pode ser uma arma a meu favor e talvez também a favor de alguém mais que possa estar na mesma situação. Eu gostaria, portanto, se vocês quiserem, de ouvir as histórias de vocês o seus conselhos.


E aí, o que você faz quando está de ressaca literária? Ou você é uma pessoa tão abençoada que nunca passou por essa situação?

Eu concordo com a autora do texto que é preciso ir ao poucos e não se forçar. Às vezes dá uma sensação de que não vai passar nunca, mas aí a gente reencontra a vontade sim. A única coisa que não costumo fazer, nem mesmo nesses casos, e reler alguma obra. Mas recorro ao meu gênero favorito: um bom romance clichê!

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3 passos para voltar a ler [tradução 1]

3 passos para voltar a ler

Antes de começar o post em si, queria explicar uma coisinha… Navegando pelos blogs que sigo, vi um artigo que adorei (mas, confesso, já não me lembro qual foi!) e, ao final,  descobri que ele era, na realidade, a tradução de um post em inglês. Então eu pensei “por que não?”.

Para quem não sabe, eu também trabalho com tradução, do português para o italiano e, por isso, resolvi trazer para cá o inverso: posts italianos traduzidos para o português. Assim, me esforço a ler mais textos em italiano e pratico a tradução. O que acharam da ideia? Mãos à obra!

O primeiro post tem o título que coloquei lá em cima: “3 passos para voltar a ler”.

“Quando meus clientes chegam para mim porque estão com dificuldade de equilibrar trabalho e vida privada, uma das coisa que mais desejam é voltar a ler.

Eles não encontram mais tempo para fazê-lo, se esquecem desse desejo entre um compromisso e outro ou, no melhor dos casos, leem apenas textos relacionados ao trabalho deles, perdendo completamente a dimensão onírica para a qual, anteriormente, a leitura os conduzia.

É por isso que resolvi compartilhar com você três sugestões simples para recuperar o prazer da leitura, uma vez que tenho certeza que até mesmo contigo já aconteceu, ao menos uma vez, de se encontrar nesta situação, e não queremos que isso aconteça de novo, certo?

FAÇA DA LEITURA UMA PRIORIDADE

O que acontece quando você sempre foi uma grande leitora é que, acostumada a considerar a leitura um hábito cotidiano, você nunca a coloca na agenda porque “de qualquer forma, leio todos os dias”.

Mas se você faz isso, mais cedo ou mais tarde a vida toma o controle e puff, você descobre que faz um ano que não le nem mesmo meio romance, porque tinha muito o que fazer.

O único modo de remediar e evitar que essa trágica circunstância se repita é fazer da leitura uma prioridade, colocando-a, sem desculpas, na sua agenda, come se não fosse, de fato, um hábito.

Dê-se um tempo específico (diariamente, semanalmente ou mensalmente, de acordo com o que você deseja) para dedicar-se à leitura e coloque-o de verdade em sua agenda, como você faria com qualquer compromisso.

Separe o tempo da leitura puramente lúdica daquele das leituras relacionadas ao seu trabalho, incluindo estas no tempo dedicado à sua formação, caso contrário, acredite em mim quando falo, você se encontrará novamente na situação de antes!

SE COLOQUE UM OBJETIVO

Agora que você já se deu um tempo, por que não colocar-se, também, um objetivo? Se você coloca na agenda um tempo para a leitura a noite, mas adormece desastrosamente depois de meia página, será um pouco difícil terminar um romance antes de dois anos, então é melhor tentar alguns ajustes.

Coloque-se um tempo para ler o livro que você escolheu e divida o número de páginas dele de acordo com a quantidade de dias que se deu para lê-lo. Se, por exemplo, você quer ler um livro por mês e este mês você escolheu um romance de 300 páginas, para ler em trinta dias serão suficientes 10 páginas por dia: fácil, não?

Pode parecer um pouco obsessivo compulsivo (e obviamente tratando-se de mim e da amiga que, por sua vez, me aconselhou este modo de proceder, realmente é), mas te garanto que se você precisa retomar o hábito da leitura, isso funciona maravilhosamente.

Se você gosta dessa ideia, pode também usar este app¹, que eu amo muito, que te permite estabelecer o seu desafio de leitura para o ano em curso, de atualizá-la constantemente com os seus progressos e suas avaliações, além de descobrir um monte leituras interessantes a se fazer, graças à bela comunidade que o utiliza².

ESCOLHA AS SUAS LEITURAS CERTAS COM ANTECEDÊNCIA

Principalmente se você tende a cair na armadilha de ler apenas leituras relacionadas ao trabalho, é fundamental escolher com antecedências as leituras que deseja fazer por puro prazer.

Para isso, o app que te aconselhei pode ser de grande ajuda; experimente explorar os conselhos de leitura e escolher, com antecedência, os títulos que gostaria de ler esse ano: mas lembre-se, escolhendo romances ou ensaios, a única regra é que devem ser rigorosamente não ligados ao seu trabalho; tudo aquilo que for de trabalho deve ser considerado uma leitura de formação e, por isso, não vale!

Faça uma bela lista dos livros que escolheu para o seu desafio de leitura desse ano e depois comece a ler pelo título que mais te inspira, seguindo o método da divisão cotidiana de páginas ou apenas separando, por dia, o tempo justo na agenda.

Se você está com pouca inspiração, pode baixar gratuitamente aqui³ o ebook do meu Goddess Bookclub, que reúne diversos conselhos de leituras mágicas relacionadas à espiritualidade ou à feminilidade sacra e muitos aprofundamentos escritos por mim sobre os livros propostos. Boa leitura!”

O texto original você encontra aqui: https://giadacarta.com/riprendere-a-leggere/

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Notas:
¹. Aqui a pessoa coloca o link do Goodreads.
². No Brasil, temos uma plataforma similar, que é o Skoob. Já falei sobre ele aqui.
³. Novamente a autora coloca um link, que é esse aqui.

Como começar a ler?

Como começar a ler_

Já ouvi muita gente afirmando categoricamente que não gosta de ler. Também já escutei coisa do tipo “eu queria ler mais, mas não consigo. O que eu posso fazer?”. Confesso que uma frase como essa segunda mexe muito comigo (não que a primeira não mexa também, mas vocês entenderam).

O objetivo desse cantinho é incentivar a leitura e, veja só, nem sempre apenas falar sobre um livro, sobra sua história e sobre o que me chamou a atenção naquelas páginas é suficiente para que uma pessoa quebre a barreira entre o não ler e o ler.

Andei refletindo muito sobre o assunto. É claro que dicas de “como começar a ler” ou “como ler mais” é o que não falta por aí. E, ainda assim, as pessoas não leem? Por que? Confesso que também não sei, mas quis arriscar trazer algumas sugestões aqui.

Para começar, eu gostaria de dizer que, hoje em dia, é muito difícil encontrar alguém que não seja um leitor. Sim! Porque aposto que você não lê livros, mas lê notícias em jornais e revistas, posts de blogs e até mesmo os famosos “textões” das redes sociais. Pois bem, ainda que não sejam livros, são leituras. E um primeiro passo para ler (e ler mais) talvez seja a substituição: troque a leitura de uma notícia que vai te deixar mal, por algumas páginas de um livro gostoso. Troque textões, que talvez não te acrescentem muito, por alguns parágrafos daquele livro que está parado na sua estante há alguns meses.

Às vezes também pode acontecer, porém, de você ter dado início a vários livros e nunca ter conseguido acabar um. Mas te pergunto: qual era o gênero desses livros? E eu sei que essa é uma pergunta bem ampla e que requer ao menos uma dupla análise: talvez você prefira ler poesias a romances, mas acabou sempre iniciando a leitura destes e nunca mergulhou na leitura daqueles. Ou então você prefere crônicas a contos, mas, desconhecendo a diferença entre eles. Por outro lado, talvez você tenha só começado a ler livros de romance, mas goste mesmo de um bom thriller ou mesmo uma biografia, por exemplo. Eu pretendo começar a escrever mais sobre essas coisas por aqui também. Sobre gêneros, seja formato, seja tipo de histórias, e, quem sabe, vocês poderão dar uma nova chance aos gostos de vocês.

Nesse mesmo quesito, existe outro ponto muito importante a ser levado em consideração. Eu, confesso, não me importo com isso, mas descobri que muita gente sim: o tipo de narrador do livro! A maioria das histórias são narradas em primeira ou em terceira pessoa. Há leitores que só gostam de livros escritos em primeira pessoa, assim como o contrário também acontece. Você já havia parado para pensar nisso?

Um ponto elementar mas não muito: se você não tem o hábito de ler, preste atenção ao tamanho. E aqui eu não estou falando somente do tamanho do livro em si, mas também dos capítulos e até mesmo dos parágrafos. E por que? Porque se você não tem o hábito de ler, você talvez se canse mais facilmente ou perca a paciência mais facilmente. Se você interrompe a leitura no meio de uma ideia (ou seja, no meio de um capítulo e, pior ainda, no meio de um parágrafo) é ainda mais difícil você querer retornar a ela. Bom, pelo menos é o que eu acho!

E, ainda nessa linha, não crie metas irreais. Ler é um hábito, ou seja, algo que você vai adquirindo aos poucos e com persistência. Não ache que você só será considerado um leitor se ler um livro de pelo menos 200 páginas e se ler pelo menos três livros por mês. Não! Esse números não dizem nada. É melhor ler pouco, mas ler com qualidade. E claro, gostar do que se está lendo. Fora que, algumas leituras exigem mais tempo que outras. Algumas exigem que a gente faça uma pausa, respire, reflita. E claro: não se cobre a terminar um livro que você está odiando. Começou a ler algo e não gostou? Parte para a próxima! Talvez não seja o momento de ler aquilo, talvez você realmente não goste daquela narrativa. E está tudo bem.

Aliás, vocês sabiam que pessoas que estão acostumadas a ler podem sofrer de “ressaca literária”? Pois é. E quando esse mal nos acomete, parece que não existe livro no mundo que dos dê vontade de voltar a ler. Mas a gente volta. Com muita paciência e perseverança a gente volta.

Agora vamos ser sinceros: você leu tudo o que escrevi até aqui (e, só por isso, eu já te considero um leitor), mas está pensando “ok, mas eu não tenho tempo para ler!”. Sinto te informar, mas você está enganado(a)! Experimente carregar sempre um livro, um e-reader ou então baixar um app de leitura no celular (o kindle, por exemplo, não é apenas um aparelho, mas um aplicativo para celular também!). Sabe aquele momento que você está entediado(a), já revirou todas as redes sociais possíveis e não tem mais o que fazer? Leia! E quando você usa transporte público, mas o pacote de internet já acabou, o celular está descarregado e “perrengues” afins? Leia! Aos poucos isso vai viciando e você pode até acabar preferindo ler cada vez mais e mais!

Você também pode separar alguns minutos do seu dia para se dedicar à leitura. Sim, você pode separar minutos, não horas! 20 minutos por dia já são suficientes para colaborar com seu novo hábito.

Por fim, você deve estar pensando: “mas livros são caros“. Errou de novo! Quer dizer, livros podem ser caros, mas isso depende de muita coisa. Por exemplo, você pode pegar um livro emprestado gratuitamente em qualquer biblioteca (sua cidade certamente tem ao menos uma) ou mesmo com um amigo bondoso. Ou então você pode procurar dentre os inúmeros ebooks que a Amazon disponibiliza gratuitamente a cada dia um que possa te agradar. Você também pode ir a um sebo, comprar livros por preços menores, ou procurar na internet por promoções, cupons de desconto, trocas! As possibilidades são inúmeras!

E aí, vamos começar a ler ou ler mais ainda?