
Para a tradução deste mês, resolvi falar sobre um assunto que todo leitor, em algum momento, fala: a famosa ressaca literária.
E escolhi esse tema porque tenho visto muitas pessoas com dificuldade para ler nesses últimos tempos. É a soma de notícias ruins, mais de um ano vivendo uma grande incógnita e, em alguns casos (e me encaixo nessa) uma correria danada, apesar de tudo.
O artigo original, porém, foi escrito em janeiro de 2018 (ou seja, um contexto bem diferente do nosso, né?), por Chiara Nicolazzo, e pode ser lido aqui. Espero que alguma dessas dicas possa ser útil!
Também gostaria de ressaltar que uma tradução mais literal do título seria algo como “o bloqueio do leitor”, mas adoro esse termo “ressaca” que adotamos por aqui. Então vamos ao que interessa?
Começo a escrever este post sem muita enrolação, mas partindo de uma confissão. Estou de ressaca literária. Uma ótima situação para alguém que administra um blog no qual se fala principalmente de livros, né?
Devo dizer que nunca fui uma daquelas leitoras que se importa com o número de livros lidos, mas é um fato: se vocês acompanham a minha coluna os livros do mês, vocês provavelmente perceberam que ultimamente tenho lido pouco. O que está acontecendo?, perguntei-me. A única resposta que consegui me dar foi que nos últimos meses tenho acumulado muito stress. A experiência de comprar e reestruturar uma casa com certeza foi emocionante, mas também foi um projeto que me sugou tudo. Paciência, tempo, energia mental. Desde setembro comecei a enfrentar situações antipáticas para alguém que se define como uma leitora compulsiva. Leio e percebo que não estou atenta, porque a minha mente vaga para outros cantos. Olho os livros à espera de serem lidos e não tenho vontade nem mesmo de pegá-los. Digo a mim mesma que estou lendo muito pouco e percebo que não me importo com isso.
Inicialmente, pensei que uma vez que passasse o caos de trabalhadores dentro de casa e os problemas mais urgentes, a situação melhoraria. No entanto, continuo me sentindo presa a uma situação que não me pertence. Mais ligada às tarefas cotidianas que às aventuras fantásticas que vivem nos livros.
Pensei, portanto, que poderia ser útil falar com vocês. O que estou fazendo para mudar essa situação? Digamos que não existem regras mágicas, busco apenas escutar o meu instinto e devo dizer que, devagar, as coisas estão melhorando. Então resolvi contar a vocês a minha experiência através das 5 coisas que estou fazendo para superar a ressaca literária.
1) Não me forçar
Percebi que é inútil me forçar. Se eu leio quando não tenho vontade e estou pensando em outras coisas, ler torna-se simplesmente algo automático. E não é bom, porque não aproveito o momento e não gravo nada. Consequentemente, me irrito. Ler apenas por dever, apenas para não perder o hábito, torna-se mais uma daquelas ações que cotidianamente “tenho que fazer”, não uma daquelas que “quero fazer”.
2) Não experimentar
Nesses meses, tentei por diversas vezes ler algum dos livros que estavam pegando poeira na minha cabeceira, à espera de serem lidos. Em sua maioria, são livros que comprei ao acaso, apenas porque custavam pouco, ou que recebi de brinde de alguma editora. Em ambos os casos, são livros que acabaram nas minhas mãos quase por acaso, não porque eu os desejasse ler há muito tempo. Percebi, portanto, que é inútil experimentar novas leituras neste período, porque esta se revelou uma atividade improdutiva.
3) Estabelecer quantas páginas ler por dia
Ter ressaca literária significa que existem dias que encontro mil desculpas e mil tarefas para fazer só para não abrir um livro. Nos últimos tempos, por exemplo, estou acompanhando várias séries televisivas e voltei a fazer crochê com o objetivo de fazer um suéter (mas isso é uma outra história). Entendi, portanto, que é eficaz sim, dizer a mim mesma “Chiara, você tem que ler pelo menos vinte páginas e depois pode fazer o que bem entender“. Comigo funciona. Isso de estabelecer um total de páginas para ler por dia me permite reestabelecer uma conexão entre eu e o livro que, sem isso, não seria possível.
4) Reler o meu livro/autor preferido
Um sintoma dessa situação é o de ter perdido o entusiasmo de me perder em uma história. Percebi, porém, que isso não acontece quando releio um livro que amo muito ou aproximando-me de escritores que eu curto. Por isso que ultimamente reli diversos livros que sempre têm o poder de me levar de volta para casa. Entre os livros que tirei das caixas estão, por exemplo, L’ora di tutti de Maria Corti e Se non ti vedo non esisti de Levante e, depois, também foi fundamental, como sempre, a minha escritora preferida Isabel Allende, de quem reli alguns trechos dos meus romances preferidos, o seu último trabalho, Além do inverno, e agora estou relendo inteiramente Il quaderno di Maya. Além disso, justamente ontem fiz uma compra online contendo dois títulos que gostaria de ler há muito tempo e que, por diversos motivos, nunca comprei. Acredito que esse seja o caminho.
5) Me dar um tempo
É inútil me desesperar por uma situação que, eu sei, não mudará da noite para o dia, mas que se desenrolará naturalmente e com alguma prudência da minha parte. Não posso me culpar por todo o stress que interiorizei nos últimos tempos e que saiu de mim desta forma. Tudo o que eu posso fazer é me dar um tempo para reencontrar o entusiasmo pela leitura nos autores e nas palavras que amo dia após dia.
Preciso dizer que resolvi dividir com vocês a minha situação porque acho que confrontar essa situação pode ser uma arma a meu favor e talvez também a favor de alguém mais que possa estar na mesma situação. Eu gostaria, portanto, se vocês quiserem, de ouvir as histórias de vocês o seus conselhos.
E aí, o que você faz quando está de ressaca literária? Ou você é uma pessoa tão abençoada que nunca passou por essa situação?
Eu concordo com a autora do texto que é preciso ir ao poucos e não se forçar. Às vezes dá uma sensação de que não vai passar nunca, mas aí a gente reencontra a vontade sim. A única coisa que não costumo fazer, nem mesmo nesses casos, e reler alguma obra. Mas recorro ao meu gênero favorito: um bom romance clichê!