O que você gosta nos livros que você curte? [tradução 5]

Vamos de mais uma tradução? Já estamos indo! E mais: sobre um tema que também estou planejando trazer para cá a minha opinião, pois tenho pensado muito sobre e ouvido falar muito também. Isso mesmo, vamos falar sobre avaliações de livros. Para aquecer os motores, porém, trago essa tradução. O post original, em italiano, você encontra aqui, e ele foi publicado em 2011!

Confesso que, “aquecer os motores” foi modo de dizer, porque vamos é começar o assunto com tudo! Depois dele, o que terei a dizer será quase nada. E vamos que vamos!


É inevitável que, de vez em quando, nos perguntemos com quais instrumentos e critérios julgamos os livros que lemos.

Tem quem se pergunte se, por acaso, o hábito de julgar os livros e exprimir-se em termos de “gosto/não gosto” não seja um mero atalho que nos mantém superficiais, fazendo das palavras que dedicamos aos livros que lemos um mero falatório. (Aproveitamos para falar disso, também, devido ao sucesso de participação dos leitores em nossos posts sobre os livros mais lindos e algumas observações que um ou outro leitor fez sobre o excesso de simplicidade que comporta um julgamento seco como esse, baseado em “gosto/não gosto”).

Fica o questionamento: o leitor comum — ou seja, nós — tem uma espécie de “dever” intelectual de aprender a usar algum instrumento crítico? Existe um espaço pleno de sentido entre o mero falatório e a crítica profissional?

É uma pergunta que, por sorte, muita crítica, principalmente anglo-saxônica, se esforça há anos para responder, “divulgando” os instrumentos da própria “ciência”.

A propósito, alguns meses atrás, eu havia indicado James Wood, que publicou um livro dedicado exatamente a isso: Como funciona a ficção (Sesi Editora). Uma obra que já faz um certo tempo que tenho sempre à mão, principalmente porque eu me divirto, de vez em quando, em testá-lo com os livros e contos que leio.

Recentemente, também (cito outro como exemplo, acredito que existem centenas que poderiam ser mencionados aqui) o crítico inglês John Sutherland escreveu um livro similar, pelo menos na questão da aplicação: 50 Literature Ideias you Really Need to Know.

Tento, portanto, quase como um jogo, listar as perguntas que eu deveria/gostaria de fazer enquanto leio um livro, se eu não quisesse ser um leitor comum, mas um “como se deve” (usarei Wood, mas podemos pensar outras dezenas de perguntas, basta tentar):

1) Qual é o tipo de narrador que o escritor incumbiu de contar a história? Para além das questões técnicas (onisciente, narrador personagem, uso do estilo indireto livre, primeira pessoa…), é um narrador que sentimos perto de nós? Quanto e como usa a ironia dramática? O quanto está perto ou longe de seus personagens?

2) Como é o jogo entre os detalhes narrativos mostrados? Por exemplo, entre aqueles importante e aqueles (aparentemente) insignificantes; do contraste entre eles depende muito da eficácia das cenas, por exemplo, na capacidade de desenvolver as tensões. É nos detalhes, que se corre o risco de cair no convencional

3) O que procuramos nos personagens? Como eles devem ser para que possamos senti-los vibrar nas páginas, para que possamos vê-los e apreciá-los com a sutiliza necessária que os faz viver? Somos objetivos com a estética do personagem ou julgamos com base em uma qualidade moral presumida?

4) E a consciência dos personagens? Como entramos no pensamento deles? E mais: entramos realmente ou o autor no engana, nos mostra uma imitação da consciência?

5) O livro que lemos é uma máquina de empatia? Conseguimos ver, sentir e compreender a complexidade do nosso “tecido moral” (“nosso” entendido como “condição humana”).

6) A linguagem contém uma multiplicidade de registros, harmonias e dissonâncias, mudanças e saltos de estilo que trazem a complexidade do mundo retratado? As metáforas sabem nos surpreender ou são óbvias, batidas e previsíveis?

7) A história e a trama nos surpreendem? Ou são óbvias, forçadas? Ou então as narrativas são tão elaboradas e centrais que esmagam todo o resto, nos fazendo esquecer que o livro é muito mais e vai muito além de uma única narrativa.

Vocês têm critérios claros de julgamento? Ou não? Me ajudem a enriquecer a lista (ou a eliminar alguns itens, se preferirem)?