Se estivéssemos juntos seria mais fácil, porém fomos separados logo que chegamos aqui, e agora tentávamos nos adaptar nesse planeta estranho.
A Terra.
Graças à minha habilidade conseguia lembrar de tudo, mas duvidava que ele se lembrasse de qualquer coisa.
Precisava encontrá-lo e arrumar um jeito de voltarmos para Neros, era a única maneira de continuarmos vivos.
Só tínhamos três dias para deter Hunter antes que ele acabasse com tudo.
Resenha
Não é só pelo fato de se tratar de um conto que a leitura de Neros é rápida, mas também porque a história em si — ainda que breve — nos prende e instiga.
“John e eu éramos os últimos sobreviventes do nosso planeta, e tentávamos agora nos adaptar nesse planeta estranho”
A Terra não é mais o que conhecemos e é nesse planeta estranho que os protagonistas desta história aterrisam.
“Era notável a falta de afeto que as pessoas desse mundo tinham um com o outro, eles não se tocavam ou falavam, se ignoravam constantemente”
Em Neros, as pessoas têm poderes especiais. Ao menos, a maioria. E não ter poderes – ou dependendo do poder que se tem — é possível que aconteça aquilo que, infelizmente, acontece muito por aqui também: o preconceito.
“Quando Norah havia sentido Hunter se aproximando, ela teve uma visão onde nós dois salvaríamos toda a Neros da destruição. Ao revelar isso para os meus pais, eles se mostraram surpresos, afinal, meu poder não era extraordinário, era até comum, porém ele salvaria nosso planeta”
Mas está história é também sobre isso: sobre como cada pessoa, com seu jeito único, pode ser essencial.
“Graças a minha super inteligência e telecinese, conseguia descobrir tudo sobre qualquer coisa ou pessoa, e também movimentá-las, sem qualquer interação física. Essa era a minha habilidade, todos em meu planeta tinham habilidades especiais”
Além disso, nas poucas páginas desta história, mergulhamos em uma narrativa de autoconhecimento e com pitadas de romance.
“Quando estávamos um com o outro nos sentíamos normais, não tínhamos defeitos e o mais importante, não julgávamos um ao outro”
Uma ótima leitura para realizar rapidamente e, ao mesmo tempo, deixar a cabeça fervilhando de ideias.
“Hunter destruiria tudo o que ainda restava de Neros se eu não estivesse lá para impedir, precisava manter nosso planeta vivo, mas só tinha setenta e duas horas, esse era o tempo que levaria para ele devorar todo o planeta”
Infelizmente, a obra não está mais disponível, mas siga a autora em suas redes sociais para conhecer outros livros dela.
Título: Som do fim do mundo: contos Autor: Maicon Moura Editora: Publicação independente Páginas: 156 Ano: 2024
Sinopse
Em “Som do Fim do Mundo”, uma coletânea cativante de contos do autor de “Não Quero Patos Elétricos”, somos levados a explorar uma nova faceta de sua narrativa. Em vez do cenário típico de ficção científica, encontramos histórias breves e envolventes que desafiam as expectativas e nos transportam para mundos fantásticos e surreais, ocultos nas dobras do cotidiano.
Com uma prosa mágica e envolvente, Maicon nos apresenta uma série de contos que se destacam pela sua originalidade e charme. Influenciado por gigantes da literatura brasileira como Murilo Rubião e Lygia Fagundes Telles, o autor revela que a magia está presente nos detalhes mais simples da vida. Nestas páginas, o extraordinário emerge do comum, transformando o banal em algo verdadeiramente extraordinário.
Cada conto é uma jornada única, onde o humor se entrelaça com a melancolia, criando um universo narrativo rico em contrastes e emoções. Mesmo os momentos mais absurdos nos fazem refletir sobre nossa própria existência e os mistérios que permeiam nosso dia a dia.
“Som do Fim do Mundo” é mais do que uma simples coletânea de contos; é uma porta de entrada para o mundo encantador e multifacetado de Maicon Moura. Se você busca uma leitura que desperte sua imaginação e o faça questionar a realidade, este livro é o seu bilhete de entrada para um universo de magia e reflexão.
Resenha
Som do fim do mundo é uma coletânea que vem para desafiar nossas expectativas, com contos curtos e finais surpreendentes. Ao longo da leitura, nunca sabemos onde cada história irá nos levar. E essa é justamente a ideia.
A obra é composta por 10 textos e tentarei apresentar brevemente cada um, fazendo o possível para não dar spoilers.
As estrelas do lago
Sim, um lago como peça central. Um lago que carrega um mistério pelo qual dificilmente você não irá se render, ao mesmo tempo em que imagina o quanto ele deve ser bonito. Dá vontade de tocá-lo, mas sabemos que esta não é uma boa ideia.
Mas para além de todos os segredos que queremos desvendar, esta história também me encantou porque fala da adolescência de uma forma que só quem já passou por ela poderia falar.
“Que saudade da fase em que nossas decisões burras, em nossa cabeça, eram algo de que nos gabávamos. Mostrar uma cicatriz e contar sua história, mesmo que você estivesse totalmente errado em ter feito aquilo”
(As estrelas do lago)
Coma
Só lendo este conto para perceber que seu título tem um duplo sentido.
A história, que parece banal, tem um final horripilante, daqueles que nos deixa boquiabertos.
“Eu não conseguia dizer que estava bem. E não tinha certeza se estava”
(Coma)
Disco da Terra
A leitura deste conto é, sem dúvidas, uma experiência. A começar pelo protagonista, que se acha o melhor do universo e vive (podemos chamar isso de vida?) para manter esse status.
Além disso, esta é uma história de uma realidade talvez não tão distante de nós e que nos faz refletir sobre o cuidado (ou a falta dele) que temos com o nosso planeta.
“O engraçado da raça humana sempre foi sua paixão pelo planeta. E, mesmo assim, estavam tacando fogo em tudo o que podiam. ‘Amo as árvores, então vou fazer um guarda-roupa com elas’”
(Disco da Terra)
Por fim, o conto nos permite enxergar a Terra de outra perspectiva, para que possamos valorizar e conviver em harmonia com o que temos hoje.
“Os animais, em poucos anos, se tornaram armas mortais prontas para tirar o vírus humano da Terra. Então a humanidade decidiu sair por livre e espontânea vontade e ir para Marte. Um lugar que não estava tão vazio, mas, somos bem conhecidos por invadir lugares e dizer que os descobrimos”
(Disco da Terra)
Som do fim do mundo
Claro que o conto que serve de título ao livro não poderia deixar de ser um espetáculo.
Além de fazer referência a elementos da nossa cultura narrativa, a história explora uma visão do fim de mundo que provavelmente você ainda não parou para imaginar.
“Talvez um meteorito explodisse o planeta, algo que sempre fora cultuado pela indústria do entretenimento. Um grande meteoro atingindo o planeta e tudo indo para os ares. Esse era o sonho”
(Som do fim do mundo)
Não pergunte
Como dito no começo desta resenha, essa antologia vem para desafiar nossas expectativas. E este conto é um ótimo exemplo disso: o final dele me pegou totalmente de surpresa.
A história em si já é bem interessante: será que não vivemos fazendo as perguntas erradas? (Seria essa mais uma delas?)
“As questões erradas continuam sendo realizadas diariamente, milhares de vezes, gerando em sua trajetória errônea, catástrofes que não são esperadas pela humanidade”
(Não pergunte)
E quais são as consequências de uma pergunta errada em nossas vidas? Qual seria o impacto de uma pergunta certa?
“A dúvida certa fez algo muito mais forte do que qualquer religião: ela abriu na mente dessas pessoas a janela para a conexão mental”
(Não pergunte)
Minha alma entre batidas
Só o título desse conto já seria capaz de me fisgar e, não vou negar, ele foi meu preferido, não apenas pela história em si, mas também pelo fato do texto ter ritmo, o que combina demais com o desenrolar dele.
“As batidas da música criavam ritmos em nossos movimentos. De longe, reparei que ela me olhava e, de longe, ela reparou que eu reparava. O ritmo da música nos fazia dar passos curtos e dançantes um em direção ao outro”
(Minha alma entre batidas)
Mas não se deixe enganar: este não é um simples conto romântico. A história tem muitas camadas e é sombria de um jeito delicioso.
“Não era amor. Não era paixão. Estava drogado”
(Minha alma entre batidas)
Ao mesmo tempo que nos arrepiamos, também ficamos abalados com os belos tapas na cara que esta história dá.
“Ali naquele grupo de amigos, éramos mais desconhecidos que conhecidos”
(Minha alma entre batidas)
Em busca do Éden
Este foi um conto que me arrancou belas risadas. Os personagens são exagerados e muito bem marcados e a história chega a beirar o absurdo de uma maneira bem interessante.
Tupavntis: o limite do poder é o estômago
Sabe aquela velha história de “seria cômico se não fosse trágico”? Pois é isso que acontece neste conto.
“Desde os tempos mais antigos, antes mesmo da primeira guerra, antes de inventarem o sanduíche e bem antes de Jesus morrer — ele nem chegou a saber sobre essa pequena aldeia que prosperava no meio do deserto, cultuando uma árvore — os Tupavntis já existiam”
(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)
Nesta fantasia bem maluca, Maicon explora uma narrativa cheia de comicidade na medida certa, mas também com algumas boas críticas ao comportamento humano e reflexões sobre a nossa existência.
“‘Louco é morrer tão jovem, louco é desistir de viver, louco é perder a esperança’. Muitos cantores de rock, country e outros ritmos que precisam de um violão ou guitarra e aqueles que usam ukulele ou cavaquinho, inspiraram suas canções nessa fala clássica de Rosnan. Uma fala que reverberou pelo universo. Mesmo que Rosnan nunca tenha feito nada para ser lembrado, essa frase ficou entre as paredes rabiscadas da cabana”
(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)
O rapaz gentil do mercado
Com uma narrativa deliciosa e envolvente, neste conto Maicon consegue nos trazer uma história que, aos poucos, se revela de terror, mas que logo de cara nos desperta muita curiosidade e vontade de ler mais e mais.
Há nela um personagem que encanta, mas que de longe podemos sentir o cheiro de problema. Que se revela muito maior do que o esperado.
Oi, meu bebê
Para fechar esta antologia, que conto! Daqueles que são um soco no estômago e que nos deixam pensando o que o futuro reserva para a humanidade (ou para a falta dela).
“Antes éramos controlados por uns oitenta anos. Agora eles nos controlam para sempre”
(Oi, meu bebê)
Uma história para se ler com um lencinho do lado, porque para além de ser um baque, ela também fala muito sobre a solidão.
“Eles queriam que você crescesse sozinho. A solidão é algo terrível. Talvez muito pior que a manchinha em seu pulmão”
(Oi, meu bebê)
Para além da pluralidade narrativa de O som do fim do mundo, esta antologia também nos mostra toda a habilidade de Maicon com o design. A diagramação é linda e torna a leitura ainda mais agradável.
E aí, que conto você acha que seria o seu preferido?
Não deixe de conferir e garantir seu exeplar de O som no fim do túnel e aproveite para seguir o Maicon em suas redes sociais (Instagram | Substack).
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Madeleine Butchertz é um livro surreal e assustadoramente real, já que se utiliza de elementos de nossa realidade — como guerras, uma busca incessante por riquezas e poder e um vírus devastador —, além de trabalhar com realidades que ainda podem vir a nos atingir, com tecnologias avançadas que podem ser úteis para o bem e para o mal.
“Eles foram muito além, inexplicavelmente conseguiram criar um vírus para escravizar toda a humanidade sem prisões. Eles fizeram do próprio corpo humano uma prisão”
Por trabalhar com elementos da nossa realidade, porém, devo ressaltar que a história torna-se delicada, podendo nos levar a interpretações perigosas. Então enfatizo que, apesar das similaridades com alguns elementos de nossa vida, essa ainda é uma obra totalmente de ficção.
O título do livro é também o nome da protagonista, uma menina que se torna uma grande mulher, inspirada por seu pai — um importante pesquisador —, que ela perde ainda pequena.
“Nesta busca por compreender o inexorável, chegou à vida adulta. Decidiu então povoar o vazio com a medicina. A ciência médica e a capacidade de regenerar vidas através da cirurgia plástica começaram a trazer um novo sentido ao seu ser”
Mas toda a enredada trama não conta, claro, com apenas a figura de Madeleine e, para citar ao menos mais um personagem essencial à história, temos Aaron. Juntos, esses dois vão mover montanhas para salvar àqueles que puderem salvar.
“Aaron cresceu introspectivo, afastado do pai. Carter mantinha-se distante. O sofrimento pelo falecimento da esposa o tornou um homem de pouca afetuosidade, um pai presente em suas responsabilidades legais, porém, ao mesmo tempo contido ao demonstrar suas emoções”
Só que Madeleine dá nome ao livro não apenas por ser filha de um grande homem, mas porque ela, sozinha, é uma pessoa extremamente poderosa. E tem um poder que nem ela mesma conhece, mas que se mostrará extremamente precioso e necessário.
“Houve dias no início em que tive medo de mim mesma. Hoje tenho medo de não fazer o que devo, o que posso por tantos inocentes!”
O livro é permeado de ação e de uma dura luta do “bem” contra o “mal” ou, para melhor explicar, de humanos que só pensam em si e em riqueza contra humanos que enxergam uns aos outros.
“Não conseguia acreditar que existisse qualquer sentimento dentro de uma alma tão calculista, mas ali, naquele instante, ele transparecia humanidade”
Uma obra extremamente atual e que, mesmo que às vezes nos percamos um pouco nela, nos fará pensar e refletir sobre como temos vivido nossas vidas e deixado que o mundo siga se transformando, quase nunca para melhor.
“A doença propagava-se impiedosamente, fugindo de qualquer controle médico que a ciência pudesse almejar. A progressão da nova peste não seguia nenhum parâmetro previamente observado em outras pandemias na história da medicina. Os acometidos se debatiam em busca de ar, num sofrimento lento e letal, que avançava ceifando a vida de tantos”
E mesmo em meio ao caos e à ação constante, o amor também faz-se forte e presente nesta narrativa, trazendo mais algumas pitadas de fogo, mas também de calmaria, mostrando, uma vez mais, a força de tal sentimento, que não tem hora e nem lugar para acontecer.
“Ela jamais poderia compreender como o amor florescera diante do desespero e a ameaça de destruição de toda a humanidade como a conhecemos”
Para além da história, o que chama atenção nesta obra é o trabalho gráfico feito nele, com diversas fotos ilustrativas coloridas, coisa bem rara de encontrarmos em livros como esse, principalmente por se tratar de uma edição independente.
Se consegui te deixar com uma pulga atrás da orelha sobre como tudo isso que descrevi pode ser possível e ainda caber em um livro de menos de 300 páginas, você pode clicar abaixo para ler o ebook ou então comprar a edição física (e outros mimo) no site da autora. Aproveite para também segui-la nas redes sociais.
Título: Tamara Jong: a última flor do paraíso
Autor: José M. S. Freire
Editora: publicação independente
Páginas: 361
Ano: 2020
Em 2019 eu escrevi uma resenha sobre o segundo volume de Tamara Jong e, já naquele momento, expliquei que é possível ler as obras separadamente. Foi por isso que não pestanejei em mergulhar na leitura de Tamara Jong: a última flor do paraíso, quinto volume desta série de ficção científica criada pelo autor José M. S. Freire.
“A vida é dura em toda parte, mas, ainda assim, é tudo que temos, e nós devemos lutar por ela”
Uma vez mais, o prefácio é crucial para o embarque nessa aventura. Ele nos dá um bom panorama do que veio antes e nos faz entrar no clima da história.
“Eu perdi uma batalha, mas haverá muitas outras. Quando você crescer, você entenderá que as guerras são como a própria vida: só se para de lutar quando se morre!”
Desta vez, porém, os protagonistas estão cada um em um canto, lutando para sobreviver. E a narrativa vai, a cada capítulo, nos mostrando um desses personagens e suas aventuras.
Conhecemos, assim, diversos cenários e, claro, ficamos de cabelo em pé em algumas situações, sempre imaginando que é o fim da linha para alguém. Mas será que é mesmo?
“Aliás, na verdade, era isto que mais doía em André: o ego ferido por ter sido enganado por uma criatura rudimentar como aquela. Ele não se perdoava por ter sido tão descuidado”
Dentre esses cenários, uma vez mais, notamos muitas similaridades com o nosso verdadeiro mundo, principalmente com relação a problemas e coisas ruins… E, ao mesmo tempo, nosso verdadeiro mundo entra “disfarçadamente” na história de uma maneira que achei genial:
“No reino do Brehzil, sabe-se tudo mas não se faz nada!”
(assim, somente com o quote, não dá para pegar totalmente a ideia, então sugiro que você leia a obra para que entenda completamente porque isso foi muito criativo).
E claro que, uma vez mais, temos muito sobre o que refletir e mais ainda a aprender, porque isso, desde o primeiro livro que li, já fica claro: o autor consegue inserir diversas passagens interessantes, mas sem que fiquem forçadas na narrativa.
“Eu, que sempre vivi no luxo e na riqueza, acabei de aprender com você e o Rodrigo que a joia mais preciosa que podemos ostentar em nossas vidas é a face radiante das pessoas leais e amigas, estampada para sempre no véu de nossas lembranças”
Neste volume, no entanto, senti que, apesar de todas as cenas de arrepiar, a ação não esteve tão bem presente quanto anteriormente, dando mais espaço a descrições. Além disso, os capítulos são grandinhos, então se acomode bem no momento de ler e embarque nesta aventura única.
Se quiser conhecer essa história — e também os outros volumes de Tamara Jong — clique aqui.
Título: Enlace
Autores: Ana Farias Ferrari & Érulos Ferrari Filho
Editora: Publicação independente
Páginas: 45
Ano: 2020
Se você acompanha este blog, provavelmente viu a resenha de Não quero patos elétricos, que foi uma leitura bem diferente do que estou acostumada a fazer. E, logo depois deste livro, resolvi ler Enlace, que também era algo que eu já imaginava ser totalmente fora da minha zona de conforto.
Apesar de muito mais curta — afinal, trata-se de um conto — a leitura de Enlace já foi mais difícil para mim, por realmente adentrar na ficção científica e abordar a questão das inteligências artificiais (que, para muitos — eu inclusive — ainda é um universo praticamente desconhecido). Uma narrativa breve, mas com uma profundidade sem igual, que fui apreciando aos poucos.
Aliás, este conto vai além disso, pois nos apresenta, dentre os personagens, à inteligência artificial mais evoluída já criada pela humanidade. Uma IA capaz de raciocinar e até de ser empática! E Enlace é o título desta história, mas também o nome da tal inteligência artificial retratada. Ela é enviada ao espaço com dois seres humanos que compartilham um passado. E um passado recheado de… Sentimentos!
“Eu sou quem sou porque vivi essa experiência, sem ela eu não sei quem eu seria”
Pelo pouco que sei sobre inteligências artificiais, vejo-as com máquinas com uma enorme capacidade de raciocínio. Mas raciocínio lógico, daqueles que segue uma regra e que pode acabar por errar diante de qualquer coisa que fuja à essa regra. Enlace (a inteligência artificial) surpreende, nesta história, por isso: ela dialoga com os seres humanos que a controlam, dando respostas ou reagindo de uma maneira que não seria esperada para uma inteligência artificial.
“Existir vale a pena, mesmo com risco de dor, mesmo com risco de sofrimento”
Aos poucos, porém, vamos compreendendo (assim como os humanos da narrativa) porque isso acontece. E, então, somos encaminhados a um desfecho que, uma vez mais, nos deixa estarrecidos (daqueles que você sente sua cabeça explodindo e uma voz ao fundo dizendo “uau!”).
Por fim, é preciso mencionar ainda uma particularidade da obra: ela foi escrita a quatro mãos, por pai e filha! Ao longo da leitura, porém, senti a narrativa bem uniforme, sem conseguir distinguir o que foi escrito por cada um. A história é em terceira pessoa e consegue nos apresentar muito bem todas as nuances que a história precisava ter.
Mais do que desvendar todos os mistérios desta narrativa, a leitura de Enlace também vale a pena porque todo o valor arrecadado com a venda do ebook será doado ao Grupo Noel, que trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade social.
É comum termos medo de sair da nossa zona de conforto, inclusive (ou principalmente?) quando se trata de gosto literário. Não quero patos elétricos é uma obra que tinha tudo para me manter longe, principalmente pelo gênero, mas é difícil não sentir certa curiosidade com esse título, principalmente em combinação com a capa. Ainda assim, o medo estava ali comigo quando peguei este livro para ler.
“— Ele é um humano, seu corpo foi feito pra responder apenas com medo a tudo que ele não entender”
A verdade, porém, é que fui fisgada logo de início. Talvez tenha contribuído imensamente para isso o fato de que, logo de cara, compreendemos tanto o título quanto a capa. Aliás, a cada virar de página vemos que nada foi colocado no livro em vão. Mas também não posso deixar de mencionar o carisma dos personagens desta história.
“A ideia singela de vida foi questionada, ironicamente, por toda a vida”
O humano Adam Igan e seu amigo robô, Craig, vivem viajando pelo espaço em uma nave chamada Gandan, cujo sistema operacional — de nome Moe — age quase como uma mãe para eles. Juntos, eles vivem altas aventuras — autodenominando-se cowboys espaciais — e nós, ao longo da leitura de Não quero patos elétricos passamos a conhecer apenas uma mínima parte delas, compreendo, no entanto, um pouco do passado e do presente deles.
“Após ser ativado dentro de uma pequena fábrica, em algum lugar que você ainda não conhece, espera que sua vida seja simples. Por que te deram a noção de vida?”
Confesso que não sei o que eu deveria esperar de um livro que tem uma pegada mais para a ficção científica, mas dei boas risadas com Não quero patos elétricos. Achei a leitura super leve, mas, ao mesmo tempo, instigante, porque esse é o tipo de história em que nada é o que parece ser e, a cada momento, todo o rumo da narrativa muda, mas sem ficar confuso ou sem nexo.
Ao mesmo tempo em que me diverti ao longo das páginas deste livro, porém, também encontrei algumas críticas sutis, mas muito bem colocadas. Críticas que cabem muito bem em histórias como essa, que se passam em um futuro que, na realidade, apenas podemos imaginar.
“Mas para um grupinho de 10 bilhões de pessoas, a raça humana — que se dividia em partes por conta de papel com valor, ou por conta da cor, ou por causa de uma coisa que eles chamavam de gênero —, mudanças climáticas não faziam sentido nenhum e aquecimento global era algo inventado para arrecadar dinheiro. Era o que eles diziam”
A questão do tempo, na história, é outra coisa a se levar em consideração. Apesar do tanto de ação e aventura com a qual nos deparamos, me parece que a história se passa em um curto intervalo de tempo. E este é um tema que inclusive gera um plot na narrativa.
“Em uma semana me amarraram mais que em toda minha vida”
E por falar em plot… Como eu disse antes, a leitura deste livro é instigante e uma das coisas que contribui para isso é o fato de que sempre há algo novo que queremos descobrir através, principalmente, do olhar de Adam. São vários plots muito bem pensados e encaixados.
Não quero patos elétricos é muito mais que uma busca por patos de verdade, é uma história que irá te fazer se desligar do mundo real, ao mesmo tempo que vai te propiciar alguma reflexões interessantes. Então, se você busca algo leve, diferente e surpreendente, recomendo que leia este livro.