Madeleine Butchertz — Renata Mariotto

Título: Madeleine Butchertz
Autora: Renata Mariotto
Editora: Publicação independente
Páginas: 296
Ano: 2021

Madeleine Butchertz é um livro surreal e assustadoramente real, já que se utiliza de elementos de nossa realidade — como guerras, uma busca incessante por riquezas e poder e um vírus devastador —, além de trabalhar com realidades que ainda podem vir a nos atingir, com tecnologias avançadas que podem ser úteis para o bem e para o mal.

“Eles foram muito além, inexplicavelmente conseguiram criar um vírus para escravizar toda a humanidade sem prisões. Eles fizeram do próprio corpo humano uma prisão”

Por trabalhar com elementos da nossa realidade, porém, devo ressaltar que a história torna-se delicada, podendo nos levar a interpretações perigosas. Então enfatizo que, apesar das similaridades com alguns elementos de nossa vida, essa ainda é uma obra totalmente de ficção.

O título do livro é também o nome da protagonista, uma menina que se torna uma grande mulher, inspirada por seu pai — um importante pesquisador —, que ela perde ainda pequena.

“Nesta busca por compreender o inexorável, chegou à vida adulta. Decidiu então povoar o vazio com a medicina. A ciência médica e a capacidade de regenerar vidas através da cirurgia plástica começaram a trazer um novo sentido ao seu ser”

Mas toda a enredada trama não conta, claro, com apenas a figura de Madeleine e, para citar ao menos mais um personagem essencial à história, temos Aaron. Juntos, esses dois vão mover montanhas para salvar àqueles que puderem salvar.

“Aaron cresceu introspectivo, afastado do pai. Carter mantinha-se distante. O sofrimento pelo falecimento da esposa o tornou um homem de pouca afetuosidade, um pai presente em suas responsabilidades legais, porém, ao mesmo tempo contido ao demonstrar suas emoções”

Só que Madeleine dá nome ao livro não apenas por ser filha de um grande homem, mas porque ela, sozinha, é uma pessoa extremamente poderosa. E tem um poder que nem ela mesma conhece, mas que se mostrará extremamente precioso e necessário.

“Houve dias no início em que tive medo de mim mesma. Hoje tenho medo de não fazer o que devo, o que posso por tantos inocentes!”

O livro é permeado de ação e de uma dura luta do “bem” contra o “mal” ou, para melhor explicar, de humanos que só pensam em si e em riqueza contra humanos que enxergam uns aos outros.

“Não conseguia acreditar que existisse qualquer sentimento dentro de uma alma tão calculista, mas ali, naquele instante, ele transparecia humanidade”

Uma obra extremamente atual e que, mesmo que às vezes nos percamos um pouco nela, nos fará pensar e refletir sobre como temos vivido nossas vidas e deixado que o mundo siga se transformando, quase nunca para melhor.

“A doença propagava-se impiedosamente, fugindo de qualquer controle médico que a ciência pudesse almejar. A progressão da nova peste não seguia nenhum parâmetro previamente observado em outras pandemias na história da medicina. Os acometidos se debatiam em busca de ar, num sofrimento lento e letal, que avançava ceifando a vida de tantos”

E mesmo em meio ao caos e à ação constante, o amor também faz-se forte e presente nesta narrativa, trazendo mais algumas pitadas de fogo, mas também de calmaria, mostrando, uma vez mais, a força de tal sentimento, que não tem hora e nem lugar para acontecer.

“Ela jamais poderia compreender como o amor florescera diante do desespero e a ameaça de destruição de toda a humanidade como a conhecemos”

Para além da história, o que chama atenção nesta obra é o trabalho gráfico feito nele, com diversas fotos ilustrativas coloridas, coisa bem rara de encontrarmos em livros como esse, principalmente por se tratar de uma edição independente.

Se consegui te deixar com uma pulga atrás da orelha sobre como tudo isso que descrevi pode ser possível e ainda caber em um livro de menos de 300 páginas, você pode clicar abaixo para ler o ebook ou então comprar a edição física (e outros mimo) no site da autora. Aproveite para também segui-la nas redes sociais.

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Tamara Jong: a última flor do paraíso — José M. S. Freire

Título: Tamara Jong: a última flor do paraíso
Autor: José M. S. Freire
Editora: publicação independente
Páginas: 361
Ano: 2020

Em 2019 eu escrevi uma resenha sobre o segundo volume de Tamara Jong e, já naquele momento, expliquei que é possível ler as obras separadamente. Foi por isso que não pestanejei em mergulhar na leitura de Tamara Jong: a última flor do paraíso, quinto volume desta série de ficção científica criada pelo autor José M. S. Freire.

“A vida é dura em toda parte, mas, ainda assim, é tudo que temos, e nós devemos lutar por ela”

Uma vez mais, o prefácio é crucial para o embarque nessa aventura. Ele nos dá um bom panorama do que veio antes e nos faz entrar no clima da história.

“Eu perdi uma batalha, mas haverá muitas outras. Quando você crescer, você entenderá que as guerras são como a própria vida: só se para de lutar quando se morre!”

Desta vez, porém, os protagonistas estão cada um em um canto, lutando para sobreviver. E a narrativa vai, a cada capítulo, nos mostrando um desses personagens e suas aventuras.

Conhecemos, assim, diversos cenários e, claro, ficamos de cabelo em pé em algumas situações, sempre imaginando que é o fim da linha para alguém. Mas será que é mesmo?

“Aliás, na verdade, era isto que mais doía em André: o ego ferido por ter sido enganado por uma criatura rudimentar como aquela. Ele não se perdoava por ter sido tão descuidado”

Dentre esses cenários, uma vez mais, notamos muitas similaridades com o nosso verdadeiro mundo, principalmente com relação a problemas e coisas ruins… E, ao mesmo tempo, nosso verdadeiro mundo entra “disfarçadamente” na história de uma maneira que achei genial:

“No reino do Brehzil, sabe-se tudo mas não se faz nada!”

(assim, somente com o quote, não dá para pegar totalmente a ideia, então sugiro que você leia a obra para que entenda completamente porque isso foi muito criativo).

E claro que, uma vez mais, temos muito sobre o que refletir e mais ainda a aprender, porque isso, desde o primeiro livro que li, já fica claro: o autor consegue inserir diversas passagens interessantes, mas sem que fiquem forçadas na narrativa.

“Eu, que sempre vivi no luxo e na riqueza, acabei de aprender com você e o Rodrigo que a joia mais preciosa que podemos ostentar em nossas vidas é a face radiante das pessoas leais e amigas, estampada para sempre no véu de nossas lembranças”

Neste volume, no entanto, senti que, apesar de todas as cenas de arrepiar, a ação não esteve tão bem presente quanto anteriormente, dando mais espaço a descrições. Além disso, os capítulos são grandinhos, então se acomode bem no momento de ler e embarque nesta aventura única.

Se quiser conhecer essa história — e também os outros volumes de Tamara Jong — clique aqui.

Enlace — Ana Farias Ferrari & Érulos Ferrari Filho

Título: Enlace
Autores: Ana Farias Ferrari & Érulos Ferrari Filho
Editora: Publicação independente
Páginas: 45 
Ano: 2020

Se você acompanha este blog, provavelmente viu a resenha de Não quero patos elétricos, que foi uma leitura bem diferente do que estou acostumada a fazer. E, logo depois deste livro, resolvi ler Enlace, que também era algo que eu já imaginava ser totalmente fora da minha zona de conforto.

Apesar de muito mais curta — afinal, trata-se de um conto — a leitura de Enlace já foi mais difícil para mim, por realmente adentrar na ficção científica e abordar a questão das inteligências artificiais (que, para muitos — eu inclusive — ainda é um universo praticamente desconhecido). Uma narrativa breve, mas com uma profundidade sem igual, que fui apreciando aos poucos.

Aliás, este conto vai além disso, pois nos apresenta, dentre os personagens, à inteligência artificial mais evoluída já criada pela humanidade. Uma IA capaz de raciocinar e até de ser empática! E Enlace é o título desta história, mas também o nome da tal inteligência artificial retratada. Ela é enviada ao espaço com dois seres humanos que compartilham um passado. E um passado recheado de… Sentimentos!

“Eu sou quem sou porque vivi essa experiência, sem ela eu não sei quem eu seria”

Pelo pouco que sei sobre inteligências artificiais, vejo-as com máquinas com uma enorme capacidade de raciocínio. Mas raciocínio lógico, daqueles que segue uma regra e que pode acabar por errar diante de qualquer coisa que fuja à essa regra. Enlace (a inteligência artificial) surpreende, nesta história, por isso: ela dialoga com os seres humanos que a controlam, dando respostas ou reagindo de uma maneira que não seria esperada para uma inteligência artificial.

“Existir vale a pena, mesmo com risco de dor, mesmo com risco de sofrimento”

Aos poucos, porém, vamos compreendendo (assim como os humanos da narrativa) porque isso acontece. E, então, somos encaminhados a um desfecho que, uma vez mais, nos deixa estarrecidos (daqueles que você sente sua cabeça explodindo e uma voz ao fundo dizendo “uau!”).

Por fim, é preciso mencionar ainda uma particularidade da obra: ela foi escrita a quatro mãos, por pai e filha! Ao longo da leitura, porém, senti a narrativa bem uniforme, sem conseguir distinguir o que foi escrito por cada um. A história é em terceira pessoa e consegue nos apresentar muito bem todas as nuances que a história precisava ter.

Mais do que desvendar todos os mistérios desta narrativa, a leitura de Enlace também vale a pena porque todo o valor arrecadado com a venda do ebook será doado ao Grupo Noel, que trabalha com famílias em situação de vulnerabilidade social.

Se você quer conhecer essa história, clique aqui.

Não quero patos elétricos — Maicon Moura

Título: Não quero patos elétricos
Autor: Maicon Moura
Editora: Lettre
Páginas: 227
Ano: 2020

É comum termos medo de sair da nossa zona de conforto, inclusive (ou principalmente?) quando se trata de gosto literário. Não quero patos elétricos é uma obra que tinha tudo para me manter longe, principalmente pelo gênero, mas é difícil não sentir certa curiosidade com esse título, principalmente em combinação com a capa. Ainda assim, o medo estava ali comigo quando peguei este livro para ler.

“— Ele é um humano, seu corpo foi feito pra responder apenas com medo a tudo que ele não entender”

A verdade, porém, é que fui fisgada logo de início. Talvez tenha contribuído imensamente para isso o fato de que, logo de cara, compreendemos tanto o título quanto a capa. Aliás, a cada virar de página vemos que nada foi colocado no livro em vão. Mas também não posso deixar de mencionar o carisma dos personagens desta história.

“A ideia singela de vida foi questionada, ironicamente, por toda a vida”

O humano Adam Igan e seu amigo robô, Craig, vivem viajando pelo espaço em uma nave chamada Gandan, cujo sistema operacional — de nome Moe — age quase como uma mãe para eles. Juntos, eles vivem altas aventuras — autodenominando-se cowboys espaciais — e nós, ao longo da leitura de Não quero patos elétricos passamos a conhecer apenas uma mínima parte delas, compreendo, no entanto, um pouco do passado e do presente deles.

“Após ser ativado dentro de uma pequena fábrica, em algum lugar que você ainda não conhece, espera que sua vida seja simples. Por que te deram a noção de vida?”

Confesso que não sei o que eu deveria esperar de um livro que tem uma pegada mais para a ficção científica, mas dei boas risadas com Não quero patos elétricos. Achei a leitura super leve, mas, ao mesmo tempo, instigante, porque esse é o tipo de história em que nada é o que parece ser e, a cada momento, todo o rumo da narrativa muda, mas sem ficar confuso ou sem nexo.

Ao mesmo tempo em que me diverti ao longo das páginas deste livro, porém, também encontrei algumas críticas sutis, mas muito bem colocadas. Críticas que cabem muito bem em histórias como essa, que se passam em um futuro que, na realidade, apenas podemos imaginar.

“Mas para um grupinho de 10 bilhões de pessoas, a raça humana — que se dividia em partes por conta de papel com valor, ou por conta da cor, ou por causa de uma coisa que eles chamavam de gênero —, mudanças climáticas não faziam sentido nenhum e aquecimento global era algo inventado para arrecadar dinheiro. Era o que eles diziam”

A questão do tempo, na história, é outra coisa a se levar em consideração. Apesar do tanto de ação e aventura com a qual nos deparamos, me parece que a história se passa em um curto intervalo de tempo. E este é um tema que inclusive gera um plot na narrativa.

“Em uma semana me amarraram mais que em toda minha vida”

E por falar em plot… Como eu disse antes, a leitura deste livro é instigante e uma das coisas que contribui para isso é o fato de que sempre há algo novo que queremos descobrir através, principalmente, do olhar de Adam. São vários plots muito bem pensados e encaixados.

Não quero patos elétricos é muito mais que uma busca por patos de verdade, é uma história que irá te fazer se desligar do mundo real, ao mesmo tempo que vai te propiciar alguma reflexões interessantes. Então, se você busca algo leve, diferente e surpreendente, recomendo que leia este livro.

Onde encontrá-lo? Aqui (físico) ou aqui (ebook).