Pílulas azuis — Frederik Peeters

Título: Pílulas azuis 
Original: Pilules bleues 
Autor: Frederik Peeters 
Editora: Nemo 
Páginas: 206 
Ano: 2022 (9º reimpressão) 
Tradutor: Fernando Scheibe

Sinopse

Nesta narrativa gráfica pessoal e de rara pureza, por meio de um roteiro simples e de temas universais (o amor, a morte), Frederik Peeters conta sobre seu encontro e sua história com Cati, envolvendo o vírus ignóbil que entra em cena e muda tudo, e todas as emoções contraditórias que ele tem de aprender a gerenciar: amor, raiva, compaixão. Pílulas azuis nos permite acompanhar, sem nenhum vestígio de sentimentalismo, através de um prisma raramente (senão nunca) abordado, o cotidiano de uma relação cingida pelo HIV, sem deixar de lançar algumas verdades duras e surpreendentes sobre o assunto. Apesar da seriedade do tema, Pílulas azuis é uma obra cheia de leveza e humor. Não é à toa que é considerada por muitos a obra-prima de Frederik Peeters. Uma das mais belas histórias de amor já publicadas.

Resenha

Não sou uma pessoa que costuma ler muitos quadrinhos, conheço bem pouco desse universo. Mas acompanhando as postagens da Maíra (@literamai) é difícil não se interessar por algumas (várias) histórias. E foi assim que Pílulas azuis foi parar na minha lista de livros desejados. 

“E, de tempos em tempos, entre desconhecidos, algumas pessoas especiais…”

Nesta obra autobiográfica, Frederik Peters nos fala sobre temas como amor, companheirismo, presença, morte, preconceito e, o principal: sobre AIDS.

“A ciência apenas nomeou! Foi a sociedade que classificou!”

Uma história que parece começar sem grandes pretensões, apesar do traço já nos indicar certa densidade e melancolia, mas que, ao final, nos traz muitos ensinamentos e reflexões.

“As pessoas continuam desinformadas. Tenho que explicar toda a história desde o começo, todas as evoluções da medicina… É uma chatice… A ignorância leva ao medo”

E se este quadrinho já fez muita gente enxergar os avanços da medicina, o sabor da leitura torna-se ainda melhor quando feito após notícias da eficácia do tratamento (e até da cura) da doença a partir do transplantes com células-tronco.

Logo no início da história, Frederik nos fala sobre Cati, uma mulher livre, espontânea, por quem ele se apaixona. Mas queria o destino que eles ficassem juntos apenas muitos anos mais tarde, quando a bagagem dela já havia triplicado em tão pouco tempo: ela tornara-se HIV positiva e tinha um filho igualmente positivo.

Juntos, os três vão aprendendo a lidar com a doença, com os julgamentos da sociedade, com as constantes idas a médicos e hospitais. 

“As pessoas muitas vezes têm medo do que é muito pequeno ou invisível… Têm a impressão de que aquilo pode lhes fazer mal… Entende?”

Por ser um quadrinho, a leitura desta obra é relativamente rápida, mas pede um pouco de respiro. O traço é duro e a narrativa é toda em branco e preto, com impressão em papel off-white, que contribui para o contraste entre o traço (que parece nanquim) e o espaço. Não é um desenho necessariamente muito agradável aos olhos, assim como o tema não o é.

Uma leitura daquelas que não imaginamos precisar, até que a realizamos. Então se você tem uma mínima curiosidade sobre a vida e seus percalços, já deixo aqui a minha recomendação. Não é muito difícil encontrar a obra em formato físico (tem em vários sites, inclusive na estante virtual) e também tem o ebook na Amazon:

Publicidade

A diferença invisível — Mademoiselle Caroline e Julie Dachez

Título: A diferença invisível
Original: La différence invisible
Autoras: Mademoiselle Caroline e Julie Dachez
Editora: Nemo
Páginas: 192
Ano: 2017
Tradutor: Renata Silveira

diferença invisível

Eu não sou muito de ler HQ’s e mangás, não por preconceito, mas por falta de hábito e de conhecer histórias nesses estilos que me pareçam interessantes. Mas esse ano me desafiei a ler ao menos uma obra em algum desses estilos e meu namorado logo se colocou à disposição para encontrar algo que me agradasse. E, como sempre, acertou em cheio!

Até agora, com o perdão de estar sendo injusta com os demais livros, essa foi minha melhor leitura de 2020. Isso porque além de trazer um tema pelo qual eu me interesso, tudo é muito bem feito e retratado nessa HQ.

“Escrita por uma jovem com Asperger e alta capacidade intelectual, e ilustrada por uma talentosa desenhista, esta HQ mostra a protagonista, Marguerite, no trabalho, em casa, com seu namorado e depois com seus amigos aspies”

(p. 5)

A diferença invisível nos apresenta uma mulher que somente aos 27 anos descobre que tem Asperger. Mas, ao longo dos quadrinhos, vamos acompanhando essa sua descoberta. Então primeiro conhecemos a personagem, seu cotidiano, seus incômodos.

“Acho que chegamos ao ponto em que posso dizer com certeza que Marguerite está cansada. Cansada de ser julgada o tempo todo. Cansada de tentar ser como as outras pessoas. Pessoas com as quais ela se parece por fora, nada mais. Cansada de tudo isso”

(p. 47)

Uma coisa que chamou muito a minha atenção nesta HQ foi o uso das cores. Muita coisa é em preto e branco e o vermelho é usado em tudo aquilo que incomoda Marguerite (e tantos outros com Asperger). Também há cores mais leves (azul, amarelo), para momentos agradáveis, ou para quando ela sabe que pode ser plenamente ela.

“Autista sim, mas para Marguerite isso não é pejorativo. Sua identidade está completa. Sua fadiga constante, suas dificuldades em compreender as segundas intenções e o subentendido, em manter laços de amizade; tudo isso era perfeitamente explicável. Que alívio”

(p. 123)

A diferença invisível foi uma leitura extremamente leve e importante para mim. Eu consegui realmente mergulhar na leitura, além de apreciar a parte gráfica. Marguerite é uma personagem capaz de nos cativar e, despretensiosamente, nos ensinar muito. Essa foi uma HQ que li com imenso prazer e que acho que todo mundo deveria ler também.

Se você tem curiosidade de conhecer essa história, clique aqui.

12 livros para 2020

Doze livros para 2020

Como eu disse na minha retrospectiva, não costumo estabelecer metas, ainda mais de leitura. Mas, esse ano, resolvi me desafiar um pouco, separando 12 tipos de livros que eu gostaria de ler ao longo do ano, um para cada mês (e não necessariamente na ordem que colocarei aqui):

  1. Um livro escrito por uma mulher
  2. Uma HQ ou um mangá
  3. Um livro em inglês
  4. Um livro em italiano
  5. Um livro de fantasia
  6. Um livro clássico
  7. Uma biografia/livro de não ficção
  8. Um livro sobre o ou que se passe no período do Holocausto
  9. Um livro de um(a) escritor(a) negro
  10. Um livro de poesia
  11. Um livro sobre algum transtorno/doença psicológica
  12. Um livro com protagonistas LGBTQ+

Aceito sugestões para cada uma das categorias acima, ainda que algumas delas tenham sido pensadas de acordo com alguns livros que estão parados na minha estante (e esse é o verdadeiro desafio: desencalhar livros!).

Conforme eu for cumprindo as leituras, trarei a resenha para vocês e a qual categoria o livro pertence. Lembrando (a mim mesma) que cada livro só poderá eliminar uma categoria!

Alguém que me acompanhar nessa? Ou vocês também já estabeleceram seus desafios?