Título: Novecento: Un monologo Autor: Alessandro Baricco Editora: Universale Economica Feltrinelli Páginas: 66 Ano: 1994 (1º edição)

Você já sentiu uma espécie de medo ao iniciar uma leitura?
Acho que com alguns livros mais e outros menos, sempre sinto um certo frio na barriga ao mergulhar em uma nova história. Mas com Novecento haviam muitas questões envolvidas: eu já havia lido outro livro do autor e não curti muito; a palavra “monólogo”, no subtítulo, me aumentava o medo dessa obra, ainda mais por ser um livro em outra língua; por fim, foi um livro que uma aluna leu e ela falava super bem dele (a famosa expectativa que pode nos fazer quebrar a cara, né?).
Felizmente, Novecento foi uma grata surpresa para mim! E fiquei bem feliz que o empurrão final para finalmente encarar essa leitura foi o fato do ebook ter entrado em promoção e duas amigas minhas terem se animado a ler também.
Como costumo fazer com livros lidos em outras línguas, colocarei ao longo da resenha a tradução de alguns trechos e, ao final, deixarei os trechos originais, na ordem que aparecem aqui.
Como o próprio subtítulo sugere, Novecento é um monólogo e confesso que foi inevitável ficar imaginando a encenação desta obra.
“Agora que o vejo em forma de livro, me parece mais um texto que está em equilíbrio entre uma verdadeira encenação e uma história para se ler em voz alta”
Longe de ser chata, porém, a narrativa traz trechos engraçados e reflexivos, além de surpreender o leitor em diversos pontos.
“E eu gosto de pensar que alguém lerá”
A história se passa em um navio, o que por si só já poderia ser bem diferente. E não se trata de um navio qualquer, mas um a vapor, que no período entre guerras transportava milhares de imigrantes para a “América” (isto é, para os Estados Unidos, mas também para o Brasil).
E o navio, como tantos naquele período, transportava pessoas muito ricas e pessoas muito pobres. Evidentemente, cada classe viajava de uma forma, mas todos sobre o mesmo navio. E foi assim que, um belo dia, a equipe do navio encontrou um bebê abandonado ali. Dentre as opções que tinham, acabaram por adotar o tal garoto, o protagonista deste livro, dando-lhe o nome de Danny Boodmann T. D. Lemon Novecento.
“Encontrei-o no primeiro ano deste novo, ferradíssimo século, não? Chamarei ele de Novecento” “Novecento?” “Novecento.” “Mas é um número!”
Mas o nome não é a única peculiaridade deste personagem. Tendo nascido e crescido em um barco, Novecento nunca levou uma vida muito normal, nunca frequentou uma escola. Porém, acima de tudo isso: perante a lei, Novecento sequer existia! (não que ele se importasse muito com isso…).
“Ele tinha oito anos, mas oficialmente nunca havia nascido”
Apesar de nunca ter frequentado uma escola formal, Novecento aprendeu muito observando e vivendo. Como o próprio narrador ressalta em vários momentos, estando num navio como aquele, Novecento tinha contato com muitas pessoas e podia, através disso, conhecer o mundo, principalmente aquele não conhecia por si mesmo.
“Talvez ele nunca tivesse visto o mundo. Mas fazia vinte sete anos que o mundo passava por aquele navio e fazia vinte sete anos que ele, daquele navio, o espiava”
Além disso, Novecento crescendo principalmente entre os músicos do navio, tornou-se um grande pianista. O melhor, aliás.
“Era um bom plano. Funcionou pela metade. Não tornou-se rico, mas pianista sim. O melhor, juro, o melhor”
Para além do fato de não existir perante a lei — o que nos faz refletir muito sobre identidade — outro grande conflito da história está no fato de Novecento nunca ter pisado em terra firme e continuar querendo viver assim, mesmo quando já não parecia mais possível.
“Novecento… Por que você não desce?”
Eu gostei muito do desenrolar dessa história, e também do final dela. Um livro daqueles que fica ecoando em nós e que quando terminamos temos vontade de soltar um sonoro “uau”. Certamente valeu a pena tê-lo enfrentado e conhecido. E, felizmente, descobri que existe uma tradução dele para o português, ainda que seja um pouco antiga e, provavelmente, difícil de achar. Mas deixarei algumas opções ao final do post.
“Nos olhos das pessoas nós vemos aquilo que elas verão, não aquilo que viram”
Antes, porém, as citações originais:
“Adesso che lo vedo in forma di libro, mi sembra piuttosto un testo che sta in bilico tra una vera messa in scena e un racconto da leggere ad alta voce”
“E mi piace pensare che la qualcuno leggerà”
“L’ho trovato nel primo anno di questo nuovo, fottutissimo secolo, no? Lo chiamerò Novecento.” “Novecento?” “Novecento.” “Ma è un numero!”
“Aveva otto anni: ma ufficialmente non era mai nato”
“Il mondo, magari, non l’aveva visto mai. Ma erano ventisette anni che il mondo passava su quella nave: ed erano ventisette anni che lui, su quella nave, lo spiava”
“Era un buon piano. Funzionò a metà. Non diventò ricco, ma pianista sì. Il migliore, giuro, il migliore”
“Novecento… Perché non scendi?”
“Negli occhi della gente si vede quello che vedranno, non quello che hanno visto. Così, diceva: quello che vedranno”
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