Citações #63 — Fisheye

Se você já leu minha resenha de Fisheye, da Kami Girão, deve ter percebido que esta é uma história muito bonita e interessante. Por isso, hoje trago aqui alguns dos trechos que ficaram de fora do post anterior.

Uma das coisas que me chamou a atenção na narrativa foi o humor ácido da protagonista, que a cada página fica mais e mais justificado diante de tantos percalços vividos por ela.

“E ri porque era humilhação demais para que eu me atrevesse a chorar”

A história tem como tema central a perda da visão de Ravena Sombra, mas ela também trata de muitos outros tipos de perdas.

“Ainda doía perceber que minhas amizades haviam morrido”

“Mas nem mesmo uma aceitação prévia consegue evitar a dor de perder alguém”

E também fala sobre o medo e o poder (muitas vezes negativo) que esse sentimento tem.

“Tinha tanto medo que já estava sufocada por ele”

Outro ponto interessante de Fisheye é a presença da internet (de maneira até que bem marcante) na construção de algumas das relações humanas ali retratadas.

“A gente nunca é pessoalmente o que parece ser pela internet”

Com estes trechos e este breve post, reforço minha recomendação para que você conheça esta obra tão sensível e importante! Não deixe de ler a resenha se você nunca ouviu falar sobre este livro e, claro, já garante o seu exemplar.

Fisheye — Kami Girão

Título: Fisheye 
Autora: Kami Girão 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 320 
Ano: 2020 (2º edição)

Uma pessoa querida já te recomendou tanto um livro que a sua curiosidade só aumentava? Pois foi assim que conheci Fisheye, mais de uma vez indicado, sempre com lindas palavras, pela Michelle Pereira.

Dizem que a expectativa é inimiga da apreciação, mas isso não aconteceu com esse livro que superou — e muito — tudo o que eu poderia esperar para esta história.

“Não queria mais promessas sem fundamento”

A narrativa é intensa, bem escrita e propicia ao leitor um mix de emoções que é até difícil colocar em palavras.

“Era sempre mais fácil fugir daquilo que não se quer encarar”

A protagonista, Ravena Sombra, gera, por si só, sentimentos bem contraditórios dentro de nós: de início, ela é a típica popularzinha odiável do Ensino Médio. Mas então ela passa a descobrir coisas sobre si mesma e sobre a vida, transformando-se. E aí é impossível não sentir compaixão e querer abraçá-la, dizendo que tudo ficará bem.

“A imagem que construí na escola não era uma que eu gostaria de carregar para o meu futuro, mas ela me pertencia. Era a minha memória”

Logo no começo do livro encontramos a protagonista ansiosamente se arrumando para uma festa. Mas ela não imaginava que era ali que tudo começaria a mudar e desmoronar.

“Os adolescentes conseguem ser bem maldosos com um pouco de boa vontade”

Ravena fica momentaneamente cega por conta de um flash na balada e isso causa um acidente: um belo tombo, no meio da festa, que ainda vai gerar muitos burburinhos falsos e um belo castigo para ela.

Dias depois, porém, investigando a causa dessa cegueira momentânea, Ravena descobre muito mais, sobre seu passado e seu futuro: ela tem retinose pigmentar.

“Nomes grandes de doenças nunca era bom sinal”

Se você não sabe nada sobre essa doença, tudo bem. Este é um ótimo livro para aprender um pouquinho sobre isso, com a própria protagonista, ao mesmo tempo em que tantos outros assuntos importantes também são discutidos.

“Era diferente encarar o mundo daquela maneira, mas não era de todo ruim”

Acredito que os trechos que já usei até aqui deixam claro que a autora trabalha, na história, muitos aspectos da adolescência e da crueldade que essa fase carrega. Para além do bullying e das aparências, Kami Girão ainda consegue falar sobre as escolhas diante do final da fase escolar e do quão difícil elas são.

“Não conseguia imaginar o que me aguardava do lado de fora da escola. Viver ali era seguro, apesar dos pesares, e a realidade lá fora parecia assustadora”

Fisheye também fala — e muito — sobre relações familiares. Ravena podia não ser a melhor pessoa do mundo no início da história, mas seu lar certamente contribuía para sua personalidade terrível.

“Senti uma lágrima escorrer quando me dei conta de que estava sozinha”

O pai está sempre trabalhando ou aproveitando a vida com a amante; a mãe vive assistindo televisão e se afogando em sua tristeza; a irmã mais velha, quando ainda morava com eles, vivia provocando Ravena.

“Para sobreviver em um mundo de aparências, é necessário obedecer às regras impostas”

Mas nem tudo é maldade e dor neste livro. Ao mesmo tempo em que o mundo de Ravena começa a ruir, entra em cena um personagem capaz de mudar tudo (mais uma vez).

“Era esquisito perceber que o belo e o horrível podiam habitar a mesma pele e montar a feição da  mesma pessoa”

Daniel — também conhecido pelas más línguas por Queimadinho — é um jovem que tem um passado bem pesado, mas que leva a vida de maneira leve e que, com isso, tem muito a ensinar.

“Aquele era um lado de Daniel que eu desconhecia completamente. Mas também era um lado que me fascinava”

É assim que, através dele, a narrativa ainda aborda a importância da verdade, do amor, do cuidado com o outro e de não julgarmos pela aparência, pois o interior sempre esconde muito mais.

“A verdade nem sempre é o caminho mais fácil, mas é o mais adequado em qualquer situação”

Fisheye é uma história na qual podemos acompanhar um grande amadurecimento da protagonista, ao mesmo tempo em que aprendemos e refletimos sobre assuntos diversos, mas intimamente conectados.

“Possuir, no instante de um clique, aquilo que não se tinha mais, registrar momentos usando outras formas de sentir, revolucionar a arte e a percepção de quem enxerga por ser cego e fotografar”

Uma narrativa que facilmente nos leva às lágrimas. No meio do livro, há um interlúdio escrito por Victória, a irmã de Ravena, e se você acha que ali iremos respirar com mais tranquilidade, não se engane: o bolo na garganta só aumenta!

“Não se fica triste com demonstrações verdadeiras de carinho e afeto”

Se você se interessou por Fisheye (e eu espero que tenha se interessado!), clique abaixo para garantir o seu ebook ou entre em contato com a autora para verificar a disponibilidade de um exemplar físico (eu tive a sorte de garantir um e foi nele que realizei minha leitura. Edição excelente!). Aproveita e já segue a Kami nas redes sociais (Instagram | Twitter), para ficar por dentro dos demais trabalhos dela.