Crônicas e agudas — Antonio Carlos Sarmento

Título: Crônicas e agudas — histórias leves para divertir e fazer pensar 
Autor: Antonio Carlos Sarmento 
Editora: Becalete 
Páginas: 304 
Ano: 2022

Como é gostoso ver um trabalho que admiramos crescer e alcançar novos caminhos, não é mesmo?

Antônio Carlos Sarmento é o autor por trás de um dos blogs que eu mais gosto de acompanhar por aqui (tanto que já indiquei ele mais de uma vez em postagens minhas) e que tem o mesmo nome do livro que hoje venho resenhar: Crônicas e Agudas.

“As ruas, a literatura e a cultura em geral dão dinâmica ao idioma: criam palavras e expressões, tornam outras arcaicas e o transformam constantemente”

Um título que, por si só, já demonstra muito da destreza do autor com a língua portuguesa: ao mesmo tempo em que joga com um jargão quase médico, também brinca com o gênero que traz em sua escrita.

E eu, como uma admiradora de crônicas desde que conheci o gênero, quando ainda estava na escola aprendendo sobre o maravilhoso universo da literatura, não poderia deixar de me encantar com uma obra como essa, recheada de temas e reflexões tão interessantes.

“Passeava então pelas ruas, visitava uma livraria e encontrava prazer em ficar sem falar nem ouvir. É bom descansar um pouco os sentidos” 

É verdade que eu já conhecia a maioria das crônicas deste livro, justamente por ser leitora (quase) assídua do blog de Antonio Carlos. Mas como o próprio autor disse, não há nada como poder lê-las impressas. Pegar um livro em mãos, sentir o papel, escolher o local que for para ler.

“Ler é principalmente uma questão de gosto. E gosto vem com o hábito”

Mesmo (re)lendo esses textos e tendo enorme apreço por tantos deles (todos, talvez), não posso negar que tenho alguns preferidos

“Nossa individualidade nos obriga a desenhar nosso próprio trajeto, singular e único”

Na ponta da língua, por exemplo, além de abordar um assunto que sempre me agrada — as nuances de nossa língua — ainda me fez relembrar a época em que li Mario Prata, outro nome tão importante da crônica brasileira e que também mais de uma vez escreveu sobre as palavras e a riqueza da língua que falamos.

Também muito me agrada o texto Pizza de domingo, na qual o autor apresenta uma solução divertida para um problema que parecia insolúvel (que, claro, não comentarei aqui, deixando para que o leitor descubra qual é).

Corônica, outro jogo de palavras ótimo, é uma crônica linda, com uma lição que pode nos surpreender.

“Tem coisa mais contagiosa que vírus” 

Aniversário de 15 anos e Bate papo também são crônicas que ganharam demais meu coração. Textos que falam sobre a importância de ler, de desconectar um pouco e viver o real, o essencial, a nossa história.

“Tenho receio de que toda esta velocidade possa acabar por nos fazer menos humanos”

Crônicas e agudas, como o próprio subtítulo indica — histórias leves para divertir e fazer pensar — aborda de maneira leve, bem-humorada, clara e sincera os mais diversos temas, nos propiciando horas de uma leitura prazerosa que passa voando.

“Sim, porque maturidade não tem a ver com o simples passar dos anos, mas com a capacidade de absorver o aprendizado que a vida nos oferece e assim crescer em reflexão, bom senso e equilíbrio”

Se este livro despertou o seu interesse, entre em contato com o autor Antonio Carlos Sarmento para adquirir o seu exemplar. O contato pode ser feito por email (antoniocsarmento@gmail.com) ou Whatsapp ((21)99989-7239) e o livro pode ser enviado para todo o Brasil. Aproveite, também, para seguir o autor em suas redes sociais (Blog | Facebook).

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No coração de um assassino — Davi Busquet

Título: No coração de um assassino
Autor: Davi Busquet
Editora: Lettre
Páginas: 166
Ano: 2021

A resenha de hoje é para quem gosta de um bom thriller. Mas daqueles de nos deixar de queixo caído mesmo!

Se você já leu a antologia Serial Killer: a verdadeira face do mal, publicada também pela Editora Lettre, talvez se lembre do conto O sangue. Ele já é surpreendente por si só, e é o prólogo desta obra, que irá trabalhar sobre o serial killer ali apresentado.

“Alguns homens não precisam de motivos, perfis de vítimas, traumas de infância ou distúrbios psiquiátricos para fazer o que fazem — alguns simplesmente são cruéis”

Em No coração de um assassino entramos em contato com a vida de Hermanni, um rapaz relativamente jovem, um pouco solitário, e que vai no contando sua vida, fazendo-nos chegar a sentir pena dele.

“A Hermanni, mais uma vez, restava-lhe somente chorar”

O livro é dividido em duas partes, além de ter um prólogo — que já mencionei — e um epílogo.

Na primeira parte, somos apresentados a alguns flashes da vida do protagonista da obra. São alguns momentos específicos — quase que aleatórios — mas que parecem ser importantes para a construção deste personagem.

“Tanto o coração em seu peito, quanto a comida em seu colo esfriaram, com o ar noturno soprando para longe as cinzas, o cheiro de queimado e os planos tão cuidadosamente pensados ao longo de tanto tempo”

Como eu disse, esses momentos no fazem sentir certa pena de Hermanni — ao menos comigo foi assim — e quase nos fazem esquecer o tipo de livro que estamos lendo.

“Era incrível que uma única gaveta tivesse tanto para dizer e o fazia de maneira silenciosa, para um menino mais calado que a cômoda”

Mas então a segunda parte chega sem aviso prévio. Digo, a separação no livro é bem clara, mas não sei se eu estava preparada para o que viria. Não sei se eu imaginava que a divisão em partes representava uma quebra tão grande e, ao mesmo tempo, tão clara para uma pessoa minimamente mais esperta que eu (o que não é difícil, convenhamos).

“Você mesma disse: algumas coisas têm que ser arrancadas do jardim, para que outras cresçam em seu lugar”

Nessa segunda parte, todas as pontas são atadas e muitas revelações são feitas.

Realmente, me surpreendi com a forma como o autor conduziu e construiu essa história. Tendo lindo a antologia que mencionei no início desta resenha, também adorei as inserções nada forçadas que o autor colocou de outros contos em sua obra. Uma homenagem muito bonita e uma criatividade sem igual. Se você gosta de caçar easter eggs recomendo a leitura de Serial Killer: a verdadeira face do mal e, em seguida, a leitura de No coração de um assassino.

Li a obra em formato ebook e gostei bastante da diagramação. Já adquiri a versão física e estou ansiosa por ela, porque sei que tem detalhes ainda mais bonitos e caprichados. E, por falar nisso, a obra está em pré-venda até amanhã, sendo possível adquiri-la por um preço promocional. O frete é gratuito para todo o Brasil e hoje ainda foram anunciados alguns brindes exclusivos para quem adquirir nessas últimas 48 horas.

“Ele compreendeu, a duras penas, que nada é para sempre”

Para conhecer um pouco mais o autor e acompanhar os trabalhos dele, sugiro que você leia a entrevista postada no blog da Editora Lettre e que siga-o no Instagram.

“Apesar de tudo, a dor cedeu e outra maior tomou o seu lugar”

A casa de vidro — Anna Fagundes Martino

Título: A casa de vidro
Autora: Anna Fagundes Martino
Editora: Dame Blanche
Páginas: 87
Ano: 2016

Sabe aquele livro que você termina de ler e se pergunta se realmente entendeu algo? Pois então, essa foi minha sensação com A casa de vidro. Não se trata de um texto muito rebuscado, mas bastante metafórico. Ao menos eu acho!

“Vocês têm uma obsessão por isso de normal”

A história é curta e, neste caso, isso talvez contribua para a dificuldade em entendê-la. É como se tivesse faltado algo para que o leitor pudesse realmente mergulhar no cenário proposto e entender o mundo criado pela autora. Não que seja um mundo totalmente novo também, pois uma parte dele é o nosso mundo: humano, com guerras e etiquetas, por vezes, difíceis de compreender.

“Esse mundo de vocês tem regras demais. Como vocês dão conta de lembrar de tudo?”

A casa de vidro nos apresenta Eleanor, uma jovem que vive com seu pai em uma casa cheia de empregados, e em cujo quintal há uma grande estufa — a tal casa de vidro — fruto de caprichos de seu genitor.

A vida de todos era pacata, até o aparecimento de um novo jardineiro, que passaria a se dedicar à estufa: Sebastian. Ninguém, além de Eleanor, pareceu se importar muito com o fato de que, depois que Sebastian passou a integrar o quadro de funcionários, a estufa ganhara muito mais vida, assim como a natureza ao redor dela. As pessoas só pareciam se importar, porém, com o fato dele ser “estranho”.

Até esse ponto é relativamente fácil acompanhar a narrativa, ainda que, desde o início, ela tenha saltos temporais, indicados já nos títulos dos capítulos. Mas depois de conhecer Sebastian, não é apenas a vida de Eleanor que muda. A nossa compreensão da história acaba sofrendo um pouco.

“Você diz uma coisa e sente outra o tempo todo”

Aos poucos vamos entendendo que Sebastian não é exatamente humano e, se essa é uma das raras coisas que realmente ficam claras ao longo da história, é igualmente evidente o quanto é esse personagem que nos faz refletir sobre a nossa existência neste mundo.

“E quando um humano fica triste, seu coração dói de tal forma… Que é como se fosse sólido como osso e tivesse se rachado. E aí dói”

Por outro lado, a figura de Eleanor também nos faz refletir: vivendo em uma época em que a figura feminina era totalmente dependente e submissa à figura masculina, Eleanor parece ser uma mulher diferente, uma mulher que enxerga todo seu poder e que mostra como, no fundo, as coisas não são exatamente o que parecem.

“Quando o marido morrer, também ela deixará de existir diante dos olhos do mundo”

Creio que há muito mais por trás das páginas deste curto livro do que aquilo que consegui compreender, mas isto é tudo o que tenho a apresentar a vocês.