Espero que não seja segredo para ninguém, mas caso ainda seja, aqui vai uma revelação: sou apaixonada pela escrita do Maicon Moura.
E por falar em segredos, hoje trago mais alguns quotes de O segredo de Susan, uma obra que nos envolve e nos faz pensar sobre os diversos temas (difíceis) que ela aborda.
“Marcas quase esquecidas de uma violência sem razão”
Dentre eles, podemos mencionar a questão da confiança e da verdade.
“Confiança só existe uma vez. Ter a confiança de alguém é muito importante. Bom, apenas se essa pessoa não tiver te sequestrado por tanto tempo”
“O mundo quer enganar você. E que você engane de volta. Ele quer que você entenda que está tudo bem, ele quer que você sorria enquanto a televisão te mostra um corpo de uma mulher num beco”
As marcas de um doloroso e obscuro passado (vivido pela protagonista e ignorado por todos).
“Os hematomas em seu braço mostram que o escuro ainda caminha com ela”
“Linhas brancas, acima dos meus joelhos, mostram que em algum momento eu não fui feliz”
“Nesse escuro eu me sentia salva”
Um livro que fala, em suma, sobre as complexidades da vida de uma maneira diferente daquela que podemos estar acostumados.
“Foi nesse momento que eu entendi que existem dois mundos”
“Com onze anos, eu não quero me preocupar com o futuro”
E sobre a passagem do tempo, por mais intrincada que ela possa ser na própria narrativa apresentada.
“Temos todo o tempo do mundo para corrigir nossos erros.
“Só que o tempo, ele pode ajudar de alguma maneira e muitas vezes melhorar isso”
O segredo de Susan é uma leitura que nos deixa de boca aberta e cabeça fervilhando. Se quiser conferir a resenha, clique aqui. Para acessar o ebook (disponível também no Kindle Unlimited), basta clicar abaixo. E não deixe de acompanhar o trabalho do Maicon em suas redes sociais (Instagram | Linkedin).
Título: O segredo de Susan
Autor: Maicon Moura
Editora: Publicação independente
Páginas: 140
Ano: 2022
Acho que dificilmente alguém não se interessa pela palavra segredo no título de um livro, afinal, são muitas as possibilidades narrativas a partir dessa simples junção de letras, não é mesmo?
Uma vez mais, o autor Maicon Moura soube fazer um bom uso dos recursos narrativos à sua disposição, construindo uma história que não apenas gira em torno de um mistério interessante, mas que também nos coloca para refletir sobre alguns elementos que nos rodeiam.
“Se isso fosse um romance, isso tudo pareceria loucura”
Como podemos imaginar, pelo título, Susan é a protagonista desta obra. Aos 12 anos (ou 11, se quisermos ser mais exatos), a pequena Susan Ernesto foi sequestrada e passou os seus 12 anos seguintes em cativeiro.
“Os hematomas em meus braços lembram aquilo que vivi”
Assim, a história se passa em dois momentos: os anos do sequestro e o presente. A obra inclusive começa no momento em que Susan chega à delegacia, após finalmente fugir do cativeiro.
“— Deve ter sido horrível ficar doze anos presa — ele diz. — Imagino como deve ter sido.
Penso em todos que me falaram isso, imagino qual seja a fantasia que querem realizar”
O que chama a atenção, logo de cara, são as críticas que o autor vai inserindo de maneira natural, dando coesão e peso à história.
“Você lê o jornal e percebe como o sujeito que escreveu aquilo sabe como é viver em um cativeiro”
As críticas, porém, não são direcionadas a um único assunto e, se por um lado, isso faz com que o autor não se aprofunde em nenhuma das questões apontadas, por outro lado, isso dá ainda mais sentido à história como um todo.
“No mundo você precisa mudar para sobreviver”
De início, como eu disse, acompanhamos Susan voltando à sociedade e vivendo toda a fama que o cativeiro acabou gerando para ela, que se torna uma influencer conhecidíssima e disputadíssima.
Nas revistas, eles pensam que todo mundo é igual”
Alternadamente, vemos flashes do sequestro muito bem inseridos ali, mesmo quando parecem ser apenas episódio aleatórios e soltos. Isso nos faz entender a história de Susan e nos aproxima da protagonista.
Mas o ponto alto da história é que Susan se perde em seu personagem e com a aparição de Marvin nós também acabamos por nos perder. Mas não de uma maneira ruim!
“Quem sou eu? Essa é uma pergunta difícil, considerando a filosofia por trás disso tudo. Estamos presos em pessoas que falaram quem somos”
A verdade é que já vivemos perdidos: em um mundo feito de aparências — e das aparências que queremos mostrar — é difícil saber quem cada um é de verdade. E, ao mesmo tempo, é muito fácil acreditar em qualquer um e se deixar levar pelos discursos de quem tem coragem de se impor.
O final dessa narrativa mostra justamente isso: como as pessoas — nós inclusive — se deixam levar e como isso pode trazer muitas consequências. Como é preciso que tenhamos calma no momento de processar as informações que recebemos e, principalmente, de julgarmos os outros ou darmos voz a qualquer um.
“E terão pessoas que vão duvidar de você. Que não vão acreditar no quão forte você é. Essas pessoas são as que você menos espera”
Geralmente eu tenho dificuldade de relacionar uma leitura com outra que eu já tenha feito, mas ao longo das páginas de O segredo de Susan, por diversas vezes, me lembrei de Luigi Pirandello, um autor clássico italiano que eu gosto muito. Ao final desta obra brasileira, tive ainda mais certeza da proximidade entre os escritos desses autores, mesmo que Maicon nunca tenha lido Pirandello.
Se você já leu Pirandello e duvida do que eu estou falando, leia O segredo de Susan. Se você nunca leu Pirandello, mas entendeu que temos aqui uma obra incrível para ler, baixe O segredo de Susan. E se você ainda está em dúvida… Bom, está esperando o quê para já garantir o seu exemplar e se apaixonar por essa história também?
Título: Cigarro e anéis no rabo do gato e outros contos
Autor: Maicon Moura
Editora: publicação independente
Páginas: 57
Ano: 2021
No início do ano eu postei aqui no blog a resenha de Não quero patos elétricos, indicando fortemente a leitura desta obra. Mas se mesmo depois do que escrevi você não se convenceu a ler um livro que talvez te tire da zona de conforto, hoje eu trago uma nova (e talvez mais fácil) opção: a coletânea Cigarro e anéis no rabo do gato e outros contos, publicada pelo mesmo autor.
“As horas passam rápido. Como os dias, os meses e os anos. Coisas irão acontecer e outras não irão”
Considero que esta possa ser uma forma “mais fácil” de te convencer a embarcar em um novo gênero literário porque as histórias aqui são mais curtas (afinal, são contos) e você pode saboreá-las com calma, além de pegar algumas sutis menções à space opera anteriormente resenhada. Porém, um alerta: o fato das histórias serem mais curtas e de você poder lê-las com calma não significa que você irá se deparar com histórias banais ou toscas. Muito pelo contrário!
“Existem pessoas que sabem muitas coisas. Essas pessoas não estão na faculdade, não estão em escritórios, não são Deuses. Estão por aí, esperando o momento certo para mudarem seu modo de ver as coisas”
A coletânea Cigarro e anéis no rabo do gato reúne cinco contos que se passam numa realidade que (ainda) não é nossa, com simulacros, tecnologia e uma consciência ambiental muito acima da que temos hoje (e que ainda tem tanto a melhorar). É muito maluco perceber, porém, como apesar de tudo isso, os personagens são bem parecidos conosco, sendo reais e humanos mesmo quando não o são (achou confuso? Leia e entenderá!).
“O pensar é um grande mistério, as lembranças são confusas e nossa opinião é falha. Somos um amontoado de incertezas não confiáveis”
Outro aspecto excelente desta coletânea é que as narrativas trazem muitos significados e descobertas para nós, leitores, nos fazendo refletir sobre a vida e a morte e tudo o que há entre essas duas pontas.
“Sabemos que vai acabar e o que estamos fazendo?”
Confesso que tive a honra de ler essa obra ao menos duas vezes (porque, além de tudo, eu a revisei!) e não vou negar que a cada leitura eu me surpreendo com um novo detalhe, um novo pensamento.
“Deprimente é pensar que esse não é o mundo real”
E se você ainda está achando o título desse livro muito estranho, saiba que ele é o nome de um dos contos, e que depois da leitura, talvez as coisas passem a fazer mais sentido. Aliás, os títulos dos contos, em ordem, são:
Beijo e chuva de sábado
Cigarro e anéis no rabo do gato
“Papai?” perguntou minha menininha
Ele, a moça e a saída
Mas eu quero morrer (conto bônus, que eu já havia lido de maneira separada e cuja resenha você encontra aqui).
“Corri como se a vida dependesse daquilo. E dependia”
Espero ao menos ter despertado a sua curiosidade com relação à essa coletânea e a tudo o mais que o Maicon escreve. Você pode acompanhar o trabalho do autor através da newsletter, do Instagram e do Linkedin.
“Eu devia ter me esforçado mais”
Com relação a esse trabalho, ele está disponível na Amazon, mas em breve ganhará o formato físico… Com um prefácio meu! Entre em contato com o autor para adquirir o seu exemplar.
Título: Dê um match
Autor: Maicon Moura
Editora: Publicação independente
Páginas: 13
Ano: 2020
Um título com um imperativo desses pode fazer parecer que este conto é o que não é. Mas a verdade é que nada nele é o que uma primeira olhada indica.
Então não ache que nessas 13 páginas você encontrará fórmulas mágicas de como conseguir muitos matches no tinder. Acho que mais fácil você encontrar o que não fazer nesse aplicativo, ainda que haja as inserções de Otávio, um personagem que tem várias frases prontas de “conselhos de beleza e afins”.
Entre nos alertar, de maneira sutil, sobre os perigos do Tinder e nos fazer rir com as abobrinhas de Otávio, esta história toma rumos e chega a um desfecho que acho difícil não te deixar de queixo caído.
Ao mesmo tempo que pensamos “puts, como eu não pensei nisso”, a leitura de Dê um match também nos faz pensar como a imaginação do autor foi longe! E olha que não é a primeira obra do autor que eu leio (você pode conferir as resenhas anteriores aqui e aqui), mas mesmo assim eu fui surpreendida pela quarta vez.
Então deixo a dica de que se você for ler algo do Maicon, já leia pensando “o que será que ele vai me aprontar dessa vez?”.
É comum termos medo de sair da nossa zona de conforto, inclusive (ou principalmente?) quando se trata de gosto literário. Não quero patos elétricos é uma obra que tinha tudo para me manter longe, principalmente pelo gênero, mas é difícil não sentir certa curiosidade com esse título, principalmente em combinação com a capa. Ainda assim, o medo estava ali comigo quando peguei este livro para ler.
“— Ele é um humano, seu corpo foi feito pra responder apenas com medo a tudo que ele não entender”
A verdade, porém, é que fui fisgada logo de início. Talvez tenha contribuído imensamente para isso o fato de que, logo de cara, compreendemos tanto o título quanto a capa. Aliás, a cada virar de página vemos que nada foi colocado no livro em vão. Mas também não posso deixar de mencionar o carisma dos personagens desta história.
“A ideia singela de vida foi questionada, ironicamente, por toda a vida”
O humano Adam Igan e seu amigo robô, Craig, vivem viajando pelo espaço em uma nave chamada Gandan, cujo sistema operacional — de nome Moe — age quase como uma mãe para eles. Juntos, eles vivem altas aventuras — autodenominando-se cowboys espaciais — e nós, ao longo da leitura de Não quero patos elétricos passamos a conhecer apenas uma mínima parte delas, compreendo, no entanto, um pouco do passado e do presente deles.
“Após ser ativado dentro de uma pequena fábrica, em algum lugar que você ainda não conhece, espera que sua vida seja simples. Por que te deram a noção de vida?”
Confesso que não sei o que eu deveria esperar de um livro que tem uma pegada mais para a ficção científica, mas dei boas risadas com Não quero patos elétricos. Achei a leitura super leve, mas, ao mesmo tempo, instigante, porque esse é o tipo de história em que nada é o que parece ser e, a cada momento, todo o rumo da narrativa muda, mas sem ficar confuso ou sem nexo.
Ao mesmo tempo em que me diverti ao longo das páginas deste livro, porém, também encontrei algumas críticas sutis, mas muito bem colocadas. Críticas que cabem muito bem em histórias como essa, que se passam em um futuro que, na realidade, apenas podemos imaginar.
“Mas para um grupinho de 10 bilhões de pessoas, a raça humana — que se dividia em partes por conta de papel com valor, ou por conta da cor, ou por causa de uma coisa que eles chamavam de gênero —, mudanças climáticas não faziam sentido nenhum e aquecimento global era algo inventado para arrecadar dinheiro. Era o que eles diziam”
A questão do tempo, na história, é outra coisa a se levar em consideração. Apesar do tanto de ação e aventura com a qual nos deparamos, me parece que a história se passa em um curto intervalo de tempo. E este é um tema que inclusive gera um plot na narrativa.
“Em uma semana me amarraram mais que em toda minha vida”
E por falar em plot… Como eu disse antes, a leitura deste livro é instigante e uma das coisas que contribui para isso é o fato de que sempre há algo novo que queremos descobrir através, principalmente, do olhar de Adam. São vários plots muito bem pensados e encaixados.
Não quero patos elétricos é muito mais que uma busca por patos de verdade, é uma história que irá te fazer se desligar do mundo real, ao mesmo tempo que vai te propiciar alguma reflexões interessantes. Então, se você busca algo leve, diferente e surpreendente, recomendo que leia este livro.
Hoje eu trago a vocês, queridos leitores deste Blog, uma resenha dupla. Isto porque semana passada, realizei a leitura de dois contos de um mesmo autor. E apesar de escritos pela mesma pessoa, cada um desses contos têm as suas particularidades.
Primeiro, peguei para ler Mas eu quero morrer. Mergulhei na leitura como muitas vezes faço, tendo apenas visto a capa e sem ler a sinopse. E deparei-me com sete páginas que me deixaram reflexiva.
Somos jogados em uma realidade na qual os avanços tecnológicos nos permitem viver para sempre — e aí acho que esse título tão impactante já fique um pouco mais claro —, mas não apenas isso: podemos viver para sempre em corpos jovens e saudáveis. Será que isso é realmente tão bom assim?
Um conto rapidinho de ler e que eu super indico para quem curte ficção científica. Mas também indico para quem não conhece tanto o gênero, pois pode ser uma interessante porta de entrada.
Por outro lado, Quase alguma coisa é um conto muito… Real? Ele pode parecer confuso, mas a verdade é que confuso somos nós e é isso o que está retratado ali. Peguei ele logo após Mas eu quero morrer, apesar de ainda estar reflexiva, e logo fui nocauteada novamente, rendendo-me a uma história totalmente diferente, mas igualmente incrível.
Este conto nos mostra o quanto nossa mente é capaz de nos fazer enxergar o que não existe, ou então de criar uma realidade quase que paralela. E tudo isso, claro (ou principalmente), durante o banho, no momento em que mais deixamos nossa mente vagar livremente. E o mais interessante é que, por vezes, acreditamos tanto naquilo que criamos que depois fica difícil separar o real do imaginário.
Indico ele para quem gosta de algo mais introspectivo, que nos faz refletir sobre nossos comportamentos, mesmo aqueles que, por vezes, já se tornaram banais.
O desfecho de ambos os contos surpreende e gostei da experiência de lê-los. Duas experiências bem diferentes uma da outra, é verdade, mas que me permitiram conhecer um pouco mais da escrita deste autor nacional que, em breve, lançará um livro solo.
E as duas leituras também foram extremamente rápidas, então se você busca algo para ler em minutos, deixo aqui a minha indicação! Só não me responsabilizo se, mesmo sendo uma leitura rápida, você sair com a cabeça em parafuso…
Se interessou por esses contos? Então adquira Mas eu quero morrer aqui e Quase alguma coisa aqui. Ambos também encontram-se gratuitos no Kindle Unlimited. Experimente gratuitamente aqui.