Il paese dei balocchi [tradução 38]

Introdução

Recentemente, tive a sorte de ser apresentada ao rock progressivo (que os conhecedores chamam mais simplesmente de prog). E, como se não bastasse poder conhecer um estilo musical que estou adorando ouvir, também fui apresentada a grupos italianos de prog!

Por isso, trago aqui a tradução de uma resenha que fala sobre um grupo de prog italiano bem interessante, cujo nome despertou minha atenção logo de cara: Il paese dei balocchi.

Eu sabia que este nome não me era estranho e que estava ligado ao universo literário. E a resposta veio fácil: Pinocchio. Quer algo mais italiano que isso?

O texto que trago aqui fala sobre a banda, mas também sobre o único disco dela, que tem o mesmo nome. E se a pulga já estava atrás da orelha, bastou ver os títulos das músicas e apertar o play para pensar: eu PRECISO saber mais sobre isso.

Antes de passar para a tradução em si, porém, uma explicação sobre o que é, em Pinocchio, Il paese dei balocchi, porque isso não vai aparecer ao longo do artigo, mas acho que esta introdução pode deixar as coisas ainda mais interessantes.

Il paese dei balocchi (ou “O país dos brinquedos, da diversão”) é um lugar mágico, onde as crianças podem fazer o que querem, sem regras ou responsabilidades. Seria o paraíso, se não fosse por um detalhe: quem fica muito tempo por lá se transforma em burro

Pinocchio é uma história infantil e Il paese dei balocchi tem a sua função ali: simbolizar que viver uma vida sem disciplina, trabalho e responsabilidade traz consequências.

O que isso tudo tem a ver com um disco de prog italiano? Bom, leia a tradução abaixo, deste texto aqui, originalmente publicado no site Donato Ruggiero, em março de 2020.

Tradução 

Estamos em 1972, ano de publicação de muitas obras primas do prog italiano (só para citar alguns, o álbum homônimo e “Darwin”, dos Banco, “Us” do Balletto di Bronzo, “Nuda”, dos Garybaldi, “Jumbo” e “DNA”, dos Jumbo, “Uomo di pezza” do Orme, “Storia di un minuto” e “Per un amico”, do PFM) e entre eles encontramos uma pequena pérola, desconhecida para a maioria: Il Paese dei Balocchi, disco da banda homônima, formada em Roma.

Nascido das cinzas dos Under 2000, ativos desde 1965, o PdB, em 1971, foi notado pelo produtor Adriano Fabi, que propôs a gravação de um álbum. Isso aconteceu no ano seguinte e as gravações duraram somente duas semanas. Fizeram parte delas também o maestro Claudio Gizzi (futuro membro dos Automat, com Musumarra) que cuidou dos arranjos das cordas.

A obra que nasce das mentes de Armando Paone (voz, teclado), Fabio Fabiani (guitarra), Marcello Martorelli (baixo) e Sandro Laudadio (bateria, voz), é um álbum conceito de temática muito pessimista “porque naqueles tempos não acreditávamos nas instituições ‘oficias’ e estávamos enjoados e oprimidos por tudo o que nos rodeava (Vietnã, política, conformismo hipócrita,…) em que os ‘porquês’ eram tantos e sem respostas convincentes. Nos inspiramos espiritualmente em tudo isso para a criação do nosso LP… Justamente procurando ‘AS’ respostas. O nosso LP, em linhas  gerais, é uma viagem do homem dentro de si mesmo… (‘si mesmo’… aqui imaginado como um Paese dei Balocchi, aquele onde todos nós gostaríamos de viver, fugindo de uma realidade que não nos empolga e onde quem tem os fios do poder… é um rei déspota que nos manobra como ‘fantoches’). É a busca por nós mesmos, ou melhor, pela própria identidade humana, passando através do bem e do mal, tentando entender quem somos, porque estamos aqui e aonde estamos indo, até chegar à esperança… vã, porque no final da viagem descobrimos que a ‘crua’ realidade na qual vivemos, nada mais é do que um espelho no qual podemos ver o reflexo da nossa própria alma” (da entrevista de Fabio Fabiani, concedida a Augusto Croce).

A divulgação do álbum acontece também com a participação da banda em dois grandes eventos organizados naquele ano: o grande concerto de Villa Pamphili, em Roma, e a Mostra d’Oltremare, em Napoli. Do disco, lembra Laudadio, foram publicadas somente 1800 cópias.

A capa, onde se pode ver diversos pedaços de tecido coloridos costurados, representa em cheio a colagem de sons (clássicos e eletrônicos) e atmosferas (forçadamente melancólica) presentes no álbum, que não deve ser entendido como uma composição confusa, mas como uma grande habilidade técnica e capacidade de fazer malabarismos no complicado universo do “conhecer a si mesmo”.

A primeira faixa do álbum, com um longo título, é Il trionfo dell’egoismo, della violenza, della presunzione e dell’indifferenza (o triunfo do egoísmo, da violência, da presunção e da indiferença). O início é arrebatador: um passeio que nos lembra uma pequena parte, depois do solo de bateria no início, de Il tramonto di un popolo (O pôr do sol de um povo), música do Capitolo 6, presente no álbum Frutti per Kagua (publicado no mesmo ano). Neste o destaque é a flauta, enquanto naquele não tem um elemento que se sobressai, mas é a sublime mistura entre guitarra, órgão, baixo e bateria que se impõe. E então uma mudança abrupta: entram os instrumentos de corda, criando um suspense, e a música muda completamente. Os últimos segundos são muito relaxantes.

Música multifacetada é Impotenza dell’umiltà e della rassegnazione (Impotência da humildade e da resignação). Em apenas quatro minutos, Il paese dei balocchi se aventura em numerosas e repentinas mudanças que desorientam o ouvinte. O começo é bem minimalista, com uma guitarra “distante” e um tema de poucas notas, retomados pouco depois, de maneira decidida, por uma guitarra distorcida. A evolução da música é introduzida pelo baixo de Martorelli e a sucessiva entrada de toda a banda, acompanhada por coros (presentes já um pouco antes da entrada do baixo). Pouco depois, o órgão, sozinho, tenta trazer calma, mas só aparentemente: os coros entram novamente com uma guitarra toda em estilo “western”. Em seguida, um breve trecho de teclado ao estilo de Battiato. A música termina com um bom e puro prog “made in 1972”.

Com Canzone della speranza (Música da esperança), o PdB “respira” um pouco. É a primeira faixa cantada do álbum. Um leve arpejo dá início a uma balada melancólica (estado de espírito endossado pelos coros). A tristeza base da música está presente também nos instrumentos de corda, na voz e no texto: “Eu vendo tudo e vou embora, todos os sonhos, a melancolia / deixo a tranquilidade por um pouco de liberdade / uma sobra de sinceridade, a fé, um pouco de caridade / procuro coisas que nunca tive / as mãos estendidas de um amigo, talvez um sorriso / palavras doces que nunca ouvi / perdi o país com o qual sonhei, o vento vai me levar / mundo mais novo, estou aqui para você / cores vivas me curarão / o amor que agora não está em mim, verá”.

Evasione (Evasão) tem um sabor onírico, psicodélico (sensação criada pelo som “aquoso” da guitarra na primeira parte da canção). A partir do segundo minuto, a atmosfera de sonho ganha mais força com a entrada do teclado e da bateria. Vale notar algumas esporádicas inserções de sintetizador e um final mais encorpado.

Risveglio e visione del paese dei balocchi (Despertar e visão do país dos brinquedos) tem uma estrutura e ainda cria uma atmosfera capaz de ser usada sem problemas como música de filme. O riff de baixo do interlúdio parece tirado de uma faixa dos Banco.

Música de dupla personalidade é Ingresso e incontro con i baloccanti (Entrada e encontro com os brincalhões). A primeira parte tem uma introdução muito animada, que exala algo de medieval. A segunda parte foi confiada apenas à voz, que se exibe em um canto de tom “monástico”.

A breve, mas intensa, Canzone della verità (Música da verdade), realizada apenas com cordas, lembra muito de perto músicas presentes nos três “Concerto Grosso” do New Trolls.

Outra música bem curta é Narcisismo della perfezione (Narcisismo da perfeição). Os únicos participantes da “contenda” são guitarra e voz. Enxerga-se ali algo que será próprio de Angelo Branduardi nos anos seguintes.

Vanità dell’intuizione fantastica (Vaidade da intuição fantástica). depois de dois minutos de som “em baixo volume” (órgão e guitarra), é o baixo, acompanhado das percussões, que dá sentido à música. Eles preparam o terreno para um bom trecho de prog. O solo de órgão presente aqui soa muito britânico. A última parte da música tem sonoridades mais psicodélicas.

É uma “prova de força”  do órgão, muito bem tocado por Paone, que ocupa os mais de quatro minutos de Ritorno alla condizione umana (Retorno à condição humana). Para a ocasião foi usado um órgão Mescioni, de 1947, presente na igreja de S. Euclide, igreja na qual também foram registrados alguns coros (para aproveitar a reverberação) presentes no disco. Para complementar, algumas intervenções de sintetizador.

Conclusão

Se você, assim como eu, não conhecia nada disso, espero que tenha gostado. E se já conhecia, que esta tradução ao menos tenha trazido algumas informações novas.

Sigo escutando Il paese dei balocchi, tentando unir a sonoridade a todas essas possíveis interpretações e significados que cada uma das músicas (e são apenas 10, passa tão rápido!) pode ter.

Ah, e se quiser ouvir também, é só dar o play

A modo tuo — Ligabue

A modo tuo — Ligabue

Talvez você, leitor mais atento deste Blog, tenha se perguntado o porquê da louca aqui ter usado uma música em italiano numa resenha de um livro sobre o Paquistão. Bem, talvez eu não esteja tão louca assim e possa explicar tudo neste post aqui! Bora?

Quando eu estava lendo Livre para voar, acabei escutando, de novo,  A modo tuo (do seu jeito, em uma tradução simples). Uma música escrita por uma pai para a sua filha. Assim como o livro é de um pai sobre sua filha (em linhas bem gerais, claro).

A música é uma espécie de diálogo recheado de bons desejos, mas no qual cabe, também, um pedido de desculpas pelo mundo que o filho receberá. E esse talvez seja um dos pontos exatos em que não pude deixar de casar essa canção com a leitura que trouxe a vocês.

Será difícil te pedir desculpa
Por um mundo que é como é
Eu tento fazer alguma coisa
Mas é difícil mudá-lo

Mas essa música também parece cair como uma luva em Livre para voar em muitos outros aspectos como, por exemplo, o fato de ambos os pais sentirem certo medo — misturado a um maravilhamento, claro — diante da criança que os aguarda, uma criança que vem para trazer uma mudança, seja no próprio adulto, seja no mundo que a recebe:

Será difícil crescer
Antes que você cresça
Você, que fará tantas perguntas
E eu que fingerei saber mais

A verdade é que a letra de A modo tuo é tão linda quanto o livro Livre para voar. É uma música que eu ouço e ouço e não deixo de achar incrível. Com uma mensagem sincera, forte. Para além dos trechos que apresentei acima (e que, bem livremente, tentei traduzir), essa música ainda fala sobre ver (e deixar) seus filhos crescerem. Ter de ser um mero espectador a partir do momento que o filho passa a escolher seus próprios caminhos. E até nisso eu consigo encontrar ecos das palavras de Ziauddin.

Será difícil te ver de costas
Pelos caminhos que escolherá
Todos os semáforos
Todas as proibições
E as filas que evitará
Será difícil
Enquanto lentamente você se afasta
Procurando sozinha
Aquilo que será

Confesso que eu poderia ouvir essa música vezes e vezes seguidas (e depois passar semanas com ela na cabeça) e poder escrever esse post foi mais um presente para mim mesma (hoje é meu aniversário) do que qualquer outra coisa. Se bem que eu tentei traduzir uns trechinhos para que vocês tenham uma idea da beleza dessa música. O texto original segue abaixo e, no final desse post, vocês podem ouvir a versão cantada pelo próprio Ligabue (tem uma versão cantada pela Elisa também, igualmente linda)

Sarà difficile diventar grande
Prima che lo diventi anche tu
Tu che farai tutte quelle domande
Io fingerò di saperne di più
Sarà difficile
Ma sarà come deve essere
Metterò via i giochi
Proverò a crescere
Sarà difficile chiederti scusa
Per un mondo che è quel che è
Io nel mio piccolo tento qualcosa
Ma cambiarlo è difficile
Sarà difficile
Dire tanti auguri a te
A ogni compleanno
Vai un po’ più via da me
A modo tuo
Andrai, a modo tuo
Camminerai e cadrai, ti alzerai
Sempre a modo tuo
Sarà difficile vederti da dietro
Sulla strada che imboccherai
Tutti i semafori
Tutti i divieti
E le code che eviterai
Sarà difficile
Mentre piano ti allontanerai
A cercar da sola
Quella che sarai
A modo tuo
Andrai, a modo tuo
Camminerai e cadrai, ti alzerai
Sempre a modo tuo
Sarà difficile
Lasciarti al mondo
E tenere un pezzetto per me
E nel bel mezzo del tuo girotondo
Non poterti proteggere
Sarà difficile
Ma sarà fin troppo semplice
Mentre tu ti giri
E continui a ridere
A modo tuo
Andrai, a modo tuo
Camminerai e cadrai, ti alzerai
Sempre a modo tuo

Bella Ciao — Canção popular italiana

Bella Ciao Canção popular italiana

Começo esse post expressando minha profunda indignação comigo mesma por somente hoje estar escrevendo um post sobre Bella Ciao. Isso porque quando criei essa categoria aqui no Blog, minha ideia era justamente poder trazer um pouco de História através da música e Bella Ciao, sem dúvidas, tem muito a nos ensinar. E se engana quem pensa que esta é simplesmente a música tema da série La casa de papel. Bella Ciao é uma canção bem antiga e mesmo sua versão original não é a mais conhecida. Mas vamos por partes.

A melodia dessa música vem dos tradicionais cânticos de trabalhadores rurais italianos e sua “primeira” letra (ou a primeira letra a que temos acesso hoje) nos remete a esse contexto. Eram canções entoadas para ritmar o trabalho e diminuir o peso deste.

Stamattina mi sono alzato, o bella ciao, bella ciao
Bella ciao ciao ciao, stamattina mi sono alzato,
ho trovato I’invasor!
A lavorare laggiù in risaia
Sotto il sol che picchia giù!
E tra gli insetti e le zanzare, o bella ciao, bella ciao
Bella ciao ciao ciao, e tra gli insetti e le zanzare,
duro lavoro mi tocca far!
Il capo in piedi col suo bastone, o bella ciao, bella ciao
Bella ciao ciao ciao, il capo in piedi col suo bastone
E noi curve a lavorar!
Lavoro infame, per pochi soldi, o bella ciao bella ciao
Bella ciao ciao ciao, lavoro infame per pochi soldi
E la tua vita a consumar!
Ma verrà il giorno che tutte quante o bella ciao, bella ciao
Bella ciao ciao ciao, ma verrà il giorno che tutte quante
Lavoreremo in libertà!

De forma bem resumida, essa letra aí em cima nos mostra um trabalhador rural que acorda e tem de ir ao trabalho, no campo, debaixo de um sol que queima, em meio a insetos, com um chefe a pegar no pé. Tudo isso, em troca de pouco dinheiro e vendo a vida passar. Um trabalho praticamente escravo, feito enquanto se sonha com um trabalho livre.

Sendo uma canção popular, a letra de Bella Ciao foi mudando aos poucos com acréscimos e alterações feitas pelo próprio povo que a entoava. E assim vamos chegando à uma versão mais próxima da música que se tornou símbolo da resistência antifascista italiana, cantada pelos partigiani. Mas, de novo, vamos por partes.

O fascismo ao qual me refiro aqui é aquele que surgiu na Itália por volta de 1910, e que esteve no poder entre 1922 e 1943. Um regime totalitário, nacionalista e antiliberal, representado e exercido por Benito Mussolini. O discurso nacionalista de Benito Mussolini ganhou muitos adeptos, principalmente entre as classes conservadoras italianas, dentre elas, a dos proprietários de terra (sim, provavelmente os empregadores daqueles que entoavam a música apresentada acima!).

E mais: os fascistas queriam tomar o poder por via eleitoral, mas também através de atos violentos contra seus opositores. Desde o momento em que começaram a buscar o poder os “camisas negras” (como eram conhecidas algumas milícias partidárias do fascismo) foram extremamente agressivos, com o objetivo de intimidar e enfraquecer a oposição.

Concomitantemente à ascensão do regime fascista — e em seus anos mais duros — surge um movimento popular de resistência armada, formada pelos Partigiani (partigiano, no singular), que são combatentes que não pertencem a um exército regular. Eles se utilizavam, principalmente, de emboscadas, sabotagens e interceptações de mensagens e eram um grupo formado por desertores e praticamente todos os tipos de civis (homens, mulheres, religiosos, comerciantes e pessoas de qualquer ideologia política).

Eram esses partigiani que entoavam a versão de Bella Ciao mais conhecida nos dias de hoje, uma versão que ganha um tom de “luta pela liberdade”:

Stamattina mi sono alzato,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
Stamattina mi sono alzato,
ed ho trovato l’invasor.
O partigiano, portami via,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
O partigiano, portami via,
ché mi sento di morir.
Se io muoio da partigiano,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
Se io muoio da partigiano,
tu mi devi seppellir.
E seppellire sulla montagna,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E seppellire sulla montagna,
sotto l’ombra di un bel fior.
E le genti che passeranno,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E le genti che passeranno,
Ti diranno «Che bel fior!»
«Questo fiore del partigiano»,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
«Questo fiore del partigiano,
morto per la libertà!»

Percebam que, esta nova letra, começa da mesma forma que a primeira apresentada, mas é em sua continuação que está a grande mudança: a pessoa que acorda pede para que um partigiano a ajude, pois sente que está morrendo. Mas, essa pessoa pede para que, caso realmente venha a morrer, ser enterrada como partigiano, em uma montanha, à sombra de uma bela flor, a “flor do partigiano morto pela liberdade”.

É uma letra bem forte e muito melódica (daquelas que gruda na cabeça) e só por esse último verso já dá para compreender porque ela ganhou o mundo e se tornou símbolo de tantas outras lutas (ainda que muitas pessoas sequer saibam o que estão cantando…)

A música do silêncio – Andrea Bocelli

Título: A música do silêncio
Original: La musica del silenzio 
Autor: Andrea Bocelli
Editora: Generale
Páginas: 320
Ano: 2013
Tradução: Claudia Zavaglia

(Leia ao som de Con te partirò)

Antes de escrever qualquer coisa sobre este livro preciso confessar uma coisa: eu não sabia que Andrea Bocelli é cego!

Em A música do silêncio, Andrea Bocelli dá vida a Amós Bardi, que é ninguém menos que o próprio autor transformado em personagem para preservar a identidade de outras pessoas que aparecem na história. Mas basta prestar atenção às iniciais do personagem e do escritor e você começará a perceber as semelhanças…

A escrita deste grande tenor italiano é leve, quase como uma conversa, fluida. Além disso, o autor se dirige ao leitor em alguns momentos, nos tirando da ficção e nos lembrando que trata-se de uma história real. Como não poderia deixar de ser, o único personagem que conhecemos a fundo é Amós, o que não nos impede de compreender bem as relações deste com as demais pessoas que o cercam.

Através de Amós conhecemos, então, toda a vida de Andrea Bocelli, desde sua feliz infância, apesar de todas as dificuldades, passando por sua adolescência até a vida adulta e, por fim, o sucesso. Entramos em contato com suas dúvidas, seus medos, seus amores, suas conquistas.

“Ó amarga adolescência, ó verdes anos nos quais a felicidade e a serenidade inconscientes podem, inexplicavelmente, causar desconforto, solidão, tristeza…”

A música do silêncio (pg.76)

No quarto capítulo do livro o autor resolve dar um sobrenome a seu personagem, que passa a ser Amós Bardi. Neste mesmo capítulo somos apresentados à sua família e seus costumes.

Mesmo com os percalços da vida, Andrea Bocelli conseguiu manter-se, na maioria das vezes, positivo e sua narrativa é, muitas vezes, otimista. Nascido cego, o cantor italiano enxergava luzes e cores com o olho direito. Após um triste episódio – cuja narração no livro chega a ser angustiante – ele perde inclusive esta capacidade. Ainda assim, o jovem encontra forças para seguir adiante: forma-se em Direito, bate de porta em porta atrás de uma gravadora que acredite em seu trabalho, continua sempre a estudar, busca melhorar sua performance musical. Um dia, finalmente, a vida lhe sorri. E tudo muda, tornando Andrea Bocelli o nome que conhecemos hoje.

“Conclusão: cada um de nós nada mais é do que a soma de todas as próprias experiências e conhecimentos”

A música do silêncio (pg.99)

A música do silêncio é, portanto, um livro encantador. Uma história que prende e que nos ensina. Uma narrativa suave, mas ao mesmo tempo real e até mesmo doída. Andrea Bocelli não é apenas um grande tenor, é também uma pessoa cheia de sentimento e lirismo, algo que fica evidente ao longo das páginas deste livro, principalmente quando ele fala de seus sentimentos e de seus amores.