Minhas escolhas — Taynara Melo

Título: Minhas escolhas
Autora: Taynara Melo
Editora: Publicação Independente
Páginas: 101
Ano: 2021

É difícil falar sobre Minhas escolhas quando já falei o quanto acho ele incrível no prefácio que a autora me convidou a escrever para a obra. Por outro lado, provavelmente só lerá o prefácio quem já estiver predisposto a ler o livro e uma resenha é sempre uma boa forma de fazer novos leitores se interessarem, certo? Então aqui vamos nós!

Narrado por Lívia, uma mulher de 27 anos que crescera em uma cidade pequena, no interior, e que agora mora em São Paulo (capital), Minhas escolhas é um livro que consegue, em poucas páginas, abordar algumas temáticas importantes, ao mesmo tempo que nos coloca ao lado dessa protagonista tão forte e tão real.

“Quero ser quem eu quiser ser, pois ainda não me conheço de verdade”

A história já começa com Lívia se questionando sobre algumas imposições sociais relacionadas a roupas e cosméticos. Esses questionamentos também se estendem aos cuidados com nosso corpo, como depilação e, no extremo, cirurgias plásticas (apenas por estética).

“Lívia? Lembre-se sempre: ser diferente é bom”

A posição de Lívia, porém, é um pouco complicada, uma vez que ela trabalha para uma empresa de beleza e deve estar sempre na moda e seguir todas as novidades do setor. Para piorar: ela é ex-namorada do dono da empresa.

“Eu queria nunca ter aceitado seu pedido de namoro, mas, infelizmente, não dava para voltar e refazer minhas escolhas”

Quem nunca fez escolhas erradas na vida que atire a primeira pedra, não é? Ainda mais quando se é jovem e toda oportunidade parece simplesmente imperdível. Imagine, Lívia vinha de uma cidade do interior, precisava trabalhar para pagar suas despesas na cidade grande. Um emprego em uma renomada empresa de beleza… O que mais querer?

“Quando foi que minha vida virou um caos e eu não percebi?”

Felizmente, conhecemos essa personagem num momento de reflexão, percebendo que nada daquilo tinha a ver com ela. O primeiro clique foi livrar-se de um relacionamento tóxico com seu ex. O passo seguinte era sair daquele emprego que não combinava com sua essência. Mas sempre há pedras no caminho…

“Nunca me senti tão livre como me sentia agora, dois meses após o término. Mas ainda precisava me libertar daquele emprego”

É por meio desse enredo que a autora consegue discutir sobre padrões surreais de beleza, relacionamentos abusivos, perigos das redes sociais, mas também sobre sonhos, escolhas, amizades e família.

“Adoraria que os pais conversassem com seus filhos sobre o que é real e o que não é nas redes sociais”

Acho que, no fundo, todos nós carregamos algo de Lívia dentro de nós. E todos nós passaremos por um momento em que será preciso parar e refletir se estamos realmente na estrada certa ou se é o momento de retroceder um pouco e mudar os rumos. Porque tarde nunca é, mesmo que dê medo!

“Não temos bola de cristal para saber o que o futuro nos reserva”

Ah, eu também não poderia deixar de mencionar que, através do clímax da história (que nos deixa com o coração na mão!), Taynara consegue falar também sobre feminismo, feminicídio e sobre a importância de não julgar apenas pelas aparências.

“O que nós mulheres e homens precisamos é de mais atitude, empatia das autoridades, menos burocracia na hora de aplicar a justiça”

Acredito que, por todas as temáticas que mencionei, seja importante lembrar que esta é uma história que pode despertar algum tipo de gatilho. Para mim, os temas foram tratados de maneira relativamente leve, deixando a leitura prazerosa, apesar dos assuntos mais fortes, mas fica o aviso para quem tem dificuldades com algum desses temas. De resto, posso apenas recomendar a leitura de Minhas escolhas, que você encontra aqui.

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Positivo — Marcela Brazão

Título: Positivo
Autora: Marcela Brazão
Editora: Publicação independente
Páginas: 58
Ano: 2020
Cabeçalho com capa do livro "Positivo", da autora Marcela Brazão

Positivo é a obra de estreia de Marcela Brazão e não posso deixar de dizer que foi um ótimo início! Trata-se de uma novela (então sim, a leitura é bem rapidinha) e, já pelo título, podemos perceber como tudo foi muito bem planejado e como cada coisa se encaixa ali.

“Eu sabia que não deveria me abalar pelo que os outros pensavam ou como as pessoas olhavam, contudo, era algo que ainda me incomodava”

Quando leio a palavra “positivo”, logo penso em algo bom, alto astral, feliz. Mas esse não é o sentido primeiro da palavra usada no título deste livro e isso já vai sendo explicado desde as páginas iniciais da obra. “Positivo” é, antes de tudo, o resultado de um teste. O teste que muda a vida de Rosa, a protagonista.

“Não idealize achando que o amor será uma explosão e que vai acontecer de repente, de um momento para o outro. Cada cuidado, cada carinho e cada preocupação é amor”

Aos 40 anos, solteira, acima do peso, morando na casa da madrasta, reconstruindo a vida, Rosa descobre-se grávida. E, apesar de tudo o que acabei de listar, esta não é a história de uma pobre coitada que acha a vida injusta. Não, Rosa é uma mulher forte, capaz de dar a volta por cima quantas vezes forem necessárias. Mas, mais que isso: Rosa é uma mulher real.

Não, não estou dizendo que a novela baseia-se em fatos reais (isso eu não tenho como afirmar, nada é falado sobre o assunto), mas que Rosa é uma protagonista como tantas mulheres que existem, em carne e osso, em nosso planeta. Alguém com medos e traumas, mas com vontade de seguir em frente.

“A estatística cruel que mostrava que metade das mulheres eram demitidas após a licença maternidade era um dos pontos que me assombrava diariamente”

A narrativa em primeira pessoa torna a história quase um diálogo conosco. Um diálogo no qual temos a possibilidade de conhecer o passado e o presente de Rosa. Mais ainda: o passado que se faz presente em seus medos, inseguranças, angústias.

“Ricardo tinha me feito desacreditar do amor e esse rapaz estava me ensinando a amar de verdade”

Positivo é um livro que consegue, mesmo em sua curta extensão, abordar temas muito importantes como relacionamento abusivo (e tantas coisas que giram ao redor disso, como inseguranças, os outros desacreditando a sua história…), gravidez após os 40 anos, padrões de beleza (e peso) impostos pela sociedade (e por médicos também, diga-se de passagem), gravidez e mercado de trabalho, homofobia… Enfim, tem muito pano para manga ao longo dessas páginas.

“As agressões eram completamente desacreditadas pela minha madrasta. Tudo era exagero da minha parte”

A forma como a história é contada e o fato de conhecermos Rosa após seu relacionamento abusivo, tornam os acontecimentos um pouco mais leves e, acredito, esta não é uma história que desperte tão facilmente algum tipo de gatilho, mas se você tem muita sensibilidade a esse tema (ou algum outro dos que mencionei acima), claro, talvez seja melhor não ler. De qualquer forma, tudo foi tratado com a seriedade necessária e, ao mesmo tempo, com uma leveza muito plausível.

O texto é muito bem escrito e percebe-se que houve preocupação da autora com a revisão do mesmo. A leitura, como eu disse antes, é rápida — devido à curta extensão da obra — e fluída, uma vez que queremos chegar ao final e saber o que acontecerá com Rosa. O que o destino guarda para ela.

E aliás, o final! Se estamos falando de uma história que retrata algo tão palpável, o final também deveria ser assim, sem idealizações. E Marcela conseguiu trabalhar bem essa questão: o final é feliz, claro, mas um feliz real. Um feliz que enxerga que o futuro pode mudar tudo de novo e que está tudo bem ser assim, porque sempre podemos nos reerguer mais uma vez.

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