Melanie — Maxwell dos Santos

Título: Melanie
Autor: Maxwell dos Santos
Editora: Giostri
Páginas: 88
Ano: 2019

melanie blog

Não importa quantos livros eu leia, ainda me impressiono como, por vezes, livros tão curtos conseguem abordar diversos assuntos importantes ao longo de suas páginas. Com Melanie não foi diferente, ainda que, ao meu ver, fosse possível ampliar a história, aprofundando algumas das temáticas da obra.

Melanie nos conta a história de uma menina que tem exatamente esse nome. Ela vem de uma família humilde e seu pai falecera alguns anos antes, de câncer. O sonho dessa jovem era ser médica, mas todos nós sabemos que os cursos de Medicina são extremamente concorridos nas Universidade Públicas e absurdamente caros nas Particulares.

“Uma menina linda por dentro e por fora, com olhar que encanta a qualquer pessoa, tem a voz mais doce que eu já escutei, tão educada e meiga!”

(p.22)

Apesar de estar bem distante de ter as condições que os jovens ricos tinham — como acesso às melhores escolas e cursinhos — Melanie sempre foi extremamente dedicada e batalhadora. Trabalhou para juntar dinheiro para pagar um cursinho, se inscreveu no Programa Universidade para Todos, se destacou entre os alunos do cursinho e teve a oportunidade de estudar em um grande cursinho pré-vestibular com 100%, devido ao seu desempenho.

E é por meio dessa história que Maxwell dos Santos nos fala sobre as desigualdades do sistema educacional, sobre o império dos cursinhos pré-vestibulares e, principalmente, sobre cotas.

E se esses três assuntos já nos dão muito pano para manga, há ainda mais um elemento que o autor incluiu em sua história: um acidente de carro causado por dois jovens extremamente ricos e irresponsáveis, que custou a vida de duas pessoas queridas e importantes para Melanie: sua prima e seu irmão mais novo.

“De que vale alcançar o objetivo, se as pessoas queridas não tão mais entre a gente pra partilhar essa alegria?”

(p.45)

E por falar no irmão mais novo de Melanie, mais um assunto que entra nas páginas deste livro: ele era portador de Síndrome de Down e, através desse personagem, o autor também fala sobre preconceito e discriminação.

O livro também começa com uma dedicatória que já me deixou arrepiada e totalmente curiosa por essa história que é daquelas que amo ler (e amo ainda mais quando são reais).

Apesar de ter gostado da premissa e mesmo da história em si, achei — como disse lá no começo — que o livro poderia ter se alongado um pouco mais, se aprofundando em alguns aspectos, ainda que o autor, ao falar das cotas, por exemplo, tenha trazido tanto a visão de quem precisa delas ou é a favor, como daqueles que se vêem “prejudicados” por elas.

Por vezes, achei a mudança de cenário meio brusca, assim como alguns saltos rápidos demais na linearidade da história. O modo como ela é narrada também é um pouco jornalística demais, direta, tirando um pouco da experiência de se ler a história de uma jovem contada realmente pelos olhos de alguém dessa idade.

Ainda assim, Melanie é uma leitura extremamente necessária. Um livro que nos faz refletir sobre algumas condições extremamente reais e tristes da educação brasileira e da luta de tantos jovens.

Se você ficou com vontade de conhecer Melanie, clique aqui.

 

 

A matemática das relações humanas

Título: A matemática das relações humanas
Autor: Aimee Oliveira, Clara Savelli, Bruna Ceotto, Bruna Fontes
Editora: Duplo Sentido
Páginas: 124
Ano: 2018 (1º edição)

Blog das Tatianices (1)

Uma coisa é certa: quem não sabe sobre o que é o livro A matemática das relações humanas, estranha o título. Já adianto que não sou nada fã de números, mas que, mesmo assim amei esse livro e vocês já vão entender meus motivos.

Como vocês devem ter visto, A matemática das relações humanas tem mais de uma autora (siiim, só mulheres!). Isso porque trata-se de um livro de contos! Antes dos contos, porém, há uma introdução da Vanessa S. Marine, organizadora do livro, e só com esse texto eu já fiquei emocionada e arrepiada. Ela fala sobre vestibular e sobre como não passar não significa que sejamos fracassados. E é por isso (e pelos contos, que reforçam essa ideia) que recomendo muito essa leitura para quem está nesse momento tenso da vida.

Sobre os contos, as histórias são independentes, mas possuem alguns fios condutores e, por isso, recomendo que vocês leiam na sequência. Todos eles se passam no cursinho “Desígnio” e alguns personagens aparecem mais de uma vez.

O primeiro conto, da Aimee Oliveira, chama “Uma lição de Victória” e é excelente para quem está naquela dúvida entre faculdade pública (e possivelmente uma mudança de cidade) e faculdade particular. Esse conto também consegue trabalhar uma intensa relação de amor entre avó e neta e um lindo romance.

“O poder de uma conversa franca nunca deveria ser subestimado”

A matemática das relações humanas (p.35)

O poder de uma conversa franca, aliás, acaba permeando todas as outras histórias também, de uma forma ou de outra.

Quem narra esse primeiro conto é Victória, que além de estar se preparando para o vestibular de gastronomia, também faz as famosas bolotas de queijo vendidas na lanchonete do cursinho. E essas bolotas fazem sucesso mesmo (fiquei com vontade de experimentar)!

O segundo conto do livro chama-se “Miçangas” e foi escrito por Clara Savelli. Eu não sei se consigo escolher um preferido no livro, mas esse certamente tocou meu coração de forma intensa, pois mexe muito com a questão de buscarmos nossos sonhos (não que os demais contos também não abordem essa temática).

“Era doloroso não ter ninguém que comprasse meu sonho comigo. Mas era mais doloroso ainda saber que ninguém sequer acreditava que eu era capaz de conseguir”

A matemática das relações humanas (p.48)

Narrado por Júlia, uma jovem que além de estudar faz caderninhos artesanais e tem um pequeno negócio online para vendê-los, esse conto nos mostra o quão difícil pode ser fazer com que os outros enxerguem nossos esforços, além de trazer um romance que realmente me surpreendeu.

“Para perguntas como as minhas, nem o melhor cursinho tinha respostas”

A matemática das relações humanas (p.66)

Até aqui tivemos personagens que se mostram um tanto quanto incertas com relação ao vestibular como um todo. Victória não sabe se quer mudar de cidade e nem se tem chances de passar nos concorridos vestibulares de gastronomia; Júlia, por outro lado, não entende essa necessidade de passar em uma universidade, quando ela já tem um negócio que está aos poucos crescendo.

Em “Múltipla escolha”, o conto escrito por Bruna Ceotto, a situação muda um pouco: Karen é excelente aluna, a melhor em matemática. O problema dela é com relação ao curso. Enquanto seus pais querem que ela faça engenharia, ela sonha com ciência da computação. Este é um conto, portanto, sobre escolher o próprio destino ou deixar que escolham por nós (o que, socorro, tocou no meu calcanhar de Aquiles).

“É difícil para mim admitir algo assim. Eu sou racional. A garota de exatas. Aquela que confia mais em números, porque números não comportam grandes interpretações: eles são o que são”

A matemática das relações humanas (p.86)

Esse conto é para ler com muita atenção e pensar bem sobre a mensagem que ele passa.

Para concluir o livro, temos o conto “Tabula Rasa”, escrito pela Bruna Fontes. Como eu fui surpreendida pela personagem desse conto, não direi muito sobre ela, com medo de que seja um spoiler. Já adianto, contudo, que esse conto segue um pouco a linha do anterior, com relação à necessidade de que tomemos as rédeas de nossas vidas.

“Em um momento estávamos falando sobre a morte; no outro, falamos sobre a vida. E, talvez, a diferença entre uma coisa e a outra, no modo como nos afeta ao acontecer, não seja assim tão diferente”

A matemática das relações humanas (p.114)

É um conto mais “pesado”, por assim dizer, um tapa na cara necessário. E, por falar nisso, encerro essa resenha com o melhor tapa de todos:

“Durante todo o ensino médio, somos levados a acreditar que o ano do vestibular é o ‘ano decisivo’, que esse é o momento em que devemos fazer as nossas escolhas, determinar o nosso futuro e, a partir dali, apenas construir nossa caminhada rumo ao sucesso. Eu gostaria que alguém tivesse me falado naquela época, enquanto eclodiam minhas crises de ansiedade por medo de não conseguir uma vaga e, assim, arruinar toda a minha vida, que nada disso é verdade”

A matemática das relações humanas (p.116)

Felizmente já passei pela fase de vestibulanda, mas adoraria ter lido esse livro naquela época. O que não significa que não amei ler agora. Me fez relembrar muitas coisas e também me fez refletir sobre minhas escolhas. Porque esse livro é assim: não te faz pensar apenas no vestibular, mas também no seu percurso por inteiro, na sua vida.

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