
Hoje encerro minha série de posts sobre esses contos russos. Não deixe de conferir também:
- Contos Russos – Tomo I e II (parte 1);
- Contos Russos – Tomo I e II (parte 2);
- Contos Russos – Tomo I e II (parte 3);
- Contos Russos – Tomo I e II (parte 4).
Uma coisa muito interessante de ter lido esses contos russos e ter pesquisado mais sobre cada um e seus autores, foi poder perceber o desenvolvimento da literatura desse país. As histórias possuem muitas similaridades, como o fato da maioria delas retratar um jovem casal apaixonado. Ao mesmo tempo, porém, cada uma dessas histórias é única e apresenta um desfecho totalmente surpreendente. Sem contar que é possível ir percebendo as escolhas de cada autor, a forma como eles foram conduzindo suas histórias e o porquê deles pertencerem a determinada “escola literária”.
No post de hoje falarei sobre o conto Lady Macbeth do distrito de Mtsensk escrito por Nikolai Semiônovitch Leskov e publicado em 1865. Trata-se de uma obra que pertence à vertente naturalista da literatura russa e realmente podemos acompanhar, ao longo da história, as transformações da personagem de acordo com as forças que se fazem presente ao redor dela. A narrativa é simples, com um narrador onisciente que conta a história de maneira que o leitor mantém-se entretido e curioso.
O conto começa apresentando a personagem principal, Katerina Lvovna Ismáilova, e, de certa forma, justificando o título dado. Antes de continuar essa resenha, vale lembrar que a Lady Macbeth de Shakespeare é uma mulher forte, que forja o assassinato de seu próprio marido. Em decorrência de suas ações desmedidas a personagem termina por ficar louca…
Katerina Ismáilova, segundo o narrador, não era bonita, mas possuía uma aparência simpática e que estava sempre entediada em sua grande propriedade, onde vivia com o marido, o comerciante Zinóvi Boríssytch e o sogro, Boris Timoféitch. O casamento de Katerina e Zinóvi era totalmente desprovido de amor, realizado apenas por interesse. Além disso, o temperamento seco de Zinóvi só piora a situação, sem contar o fato de que eles nunca conseguiram ter um filho.
O aparecimento do jovem trabalhado Serguiêi muda, no entanto, a rotina de Katerina, que encontrava-se ainda mais entediada na ausência de seu marido, que fora resolver problemas do trabalho longe de casa.
É então que começam a ocorrer traições, trevas e… Assassinatos! Juntos, eles matam o sogro, o marido e até mesmo um sobrinho, que aparece para estragar tudo. Lembremos que este é um conto que pertence ao naturalismo russo e que, portanto, não economiza nem um pouco no horror desses assassinatos e na naturalidade com que os amantes agem durante toda a história.
Por outro lado, trata-se, justamente, de uma narrativa não romântica e que, mais uma vez, não possui um final digno de “e viveram felizes para sempre”. O casal de assassinos acaba sendo descoberto, numa cena que me lembrou muito o filme “Mãe”, quando todos começam a invadir a propriedade dos protagonistas de maneira selvagem. E Katerina, não só pelas atrocidades cometidas, mas também por tudo o que vive após ser descoberta, termina como a verdadeira Lady Macbeth: totalmente entregue à loucura.
“Nem todo caminho, porém, é liso: há, vez por outra, buracos”
Contos Russos – Tomo II (p.136)
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