Quem sou eu para criticar?

Este Blog nasceu como um espaço para compartilhar resenhas e incentivar a leitura. Porém, na minha opinião, incentivar a leitura não é somente falar sobre livros, mas também encorajar os autores — principalmente os nacionais — a continuar escrevendo. Afinal, sem as histórias deles, o que leríamos?

Sabendo disso, vocês devem imaginar como é difícil escrever uma boa resenha, não é mesmo? Apresentar um livro de maneira atrativa, sem dar spoilers, destacando os pontos altos da obra e ainda dando a minha opinião. Sim, é realmente algo trabalhoso e um processo que se inicia já na leitura do livro, outra coisa que demanda certo tempo.

E o que tudo isso tem a ver com o título deste post? Bem, eu não gosto de 100% dos livros que eu leio o que, claro, é algo normal, principalmente se vocês levarem em consideração que eu leio um livro atrás do outro e não costumo ter preconceitos ao iniciar uma leitura (não sou daquelas pessoas que só lê um gênero ou que não gosta de narrativas em primeira ou terceira pessoa e assim por diante).

Mas, como alguém que tem consumido muita literatura nacional e, mais ainda, muita literatura nacional contemporânea, a cada dia eu reconheço mais e mais o peso que minhas palavras podem ter. E não, eu não me considero uma influencer de verdade, mas só da resenha chegar ao autor do livro (o que não é difícil, pois muitas vezes conseguimos até mesmo marcá-los no twitter ou no instagram), já há um peso enorme colocado sobre ela.

Ah, mas então, se você não gostou do livro, é só não falar sobre ele. Sim, essa certamente é uma opção! Cogitada inclusivo nos casos em que eu fechei parceria para ler determinado livro (nesses casos eu sinto uma cobrança ainda maior de falar sobre o livro, afinal, confiaram em mim para apresentar aquela obra a outras pessoas). Mas muitas vezes eu penso também que o que eu não gostei pode se tornar o livro preferido de outra pessoa, afinal, cada um de nós tem o seu gosto!

Porém, às vezes eu realmente me sinto numa saia justa: mesmo gostando de falar sobre livros nacionais contemporâneos, há muita coisa ruim por aí. E por ruim eu quero dizer, por exemplo, que simplesmente faltou uma revisão ou então que o desenvolvimento da história realmente deixou a desejar.

E bem, eu tenho um compromisso com as pessoas que leem este blog também, não? Afinal, se eu ficar indicando livros “ruins”, vocês deixarão de se interessar por aquilo que apresento aqui, não?

Neste ponto da discussão, portanto, levanto a bandeira da crítica construtiva, ou seja, eu posso ser sincera em minha resenha, dizer que não gostei, mas apontar exatamente o que não gostei, o que poderia mudar. E de novo, claro, entramos em um campo muito complicado. Mesmo este tipo de crítica talvez seja melhor feita em um diálogo direto com o autor do que em uma resenha, não?

Mas aí eu volto à pergunta do título: quem sou eu para criticar?

É engraçado, pois eu realmente sempre me fiz/faço essa pergunta. Mesmo hoje, tendo contato com tantos escritores, para mim estes são pessoas de outro mundo, pessoas que se dedicam, que se doam para as páginas dos livros que escrevem. E aí me vem a mente esse bendito desse questionamento.

Por outro lado, porém, vejo várias pessoas criticando (e, muitas vezes, de maneira bem rude) como se fossem especialistas em algo e, pior ainda, como se apenas a opinião delas importasse. E isso é muito triste porque, infelizmente, devido a palavras assim, desmedidas, muitos autores sentem-se totalmente desmotivados a continuar um trabalho que, por si só, é bem árduo.

Outra coisa que muito me encuca: vejo uma crítica sendo mal recebida. Paro para ler a crítica e ela é: não gostei, faltou aprofundamento. Ora essa, faltou aprofundamento na própria crítica, não? O que significa “faltou aprofundamento”?

Mas aí você, leitor mais atento, me pergunta: Tati, na sua aba “serviços” está escrito que você faz “leitura crítica”. Como fica isso, se você está dizendo que não se consdidera uma pessoa à altura de criticar algo? Bom, vamos por partes!

Eu acho que críticas precisam ser feitas com cuidado, com uma escolha adequada de palavras e, claro, com profissionalismo. Se você não tem o que criticar, melhor ficar quieto, não? “Não gostei” não é uma crítica e nem um elogio: é a sua opinião.

Em segundo lugar, quando eu digo que ofereço um serviço de leitura crítica, estou falando de algo feito diretamente com o autor e, muitas vezes, antes de determinado texto ser publicado. Significa que eu leio algo e digo se há alguma parte que eu vejo potencial para desenvolver mais, se há coisas que estão se repetindo desnecessariamente e até mesmo se, dentro dos meus conhecimentos, há algo que possa vir a ser ofensivo para algum tipo de leitor.

E claro, eu só me sinto confortável para oferecer um serviço desses porque tenho formação na área de Letras e pela bagagem que essa paixão me permitiu acumular. Leio desde cedo e busquei uma formação que me pudesse trazer novas ferramentas de análise para minhas leituras.

Além disso, uma leitura crítica é bem diferente de uma resenha, que é um texto que está, na maioria das vezes, público. E se você quer fazer uma resenha apontando todos os defeitos de determinado texto, faça, mas saiba que você estará mexendo com os sentimentos de outra pessoa, então pense muito bem nas consequências que o seu texto pode trazer e esteja disposto(a) a conversar.

Coincidentemente ou não, quando toda essa reflexão começou a surgir em mim (e isso já faz um certo tempo), uma autora entrou em contato comigo, pedindo uma leitura crítica de um conto. Aquele foi o primeiro conta de vários outros que ela me mandou depois. Mas o retorno que tive dessa autora, com relação àquele trabalho foi: “adorei o feedback e as pontuações construtivas, irei levar todas em consideração”. Simples. É possível mostrar o que falhou (assim como também é muito bacana mostrar aquilo que ficou super bem feito) sem atacar o escritor e de forma que ele(a) também não se sinta atacado(a).

E, só para concluir, um fato curioso (e até uma dúvida que gostaria de tirar com vocês): semana passada eu fiz uma resenha de um livro que, para ser sincera, não gostei muito. Mas tentei ser sutil em minha crítica e focar mais em apresentar a história. Uma moça veio comentar comigo, depois, que ficou interessada no livro! E vocês, ao lerem a resenha, o que sentiram?

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9 comentários em “Quem sou eu para criticar?

  1. Acho difícil esta questão da leitura crítica, mas creio que você o faz muito bem, pois é gabaritada para tal fim. Admiro quem tem esta capacidade, eu muitas vezes mal sei interpretar uma história. Se for muito densa me perco todo, preciso voltar ao início, perco o foco com facilidade. Já pensei em comentar sobre livros que li, mas não o faço justamente por não saber separar opinião de impressões de meus gostos pessoais. Além disso, creio que seja muito difícil analisar criticamente e ser totalmente transparente e imparcial, visto que nosso background está sempre a nos influenciar. Pra mim neutralidade nunca existirá. Parabéns pelo ótimo trabalho. Sinceramente nunca me ocorreu de me interessar ou não pelos livros que você expôes aqui, mas é que a lista é tão grande de coisas a serem lidas, que no momento não cabe espaço para coisas novas… por enquanto!

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    1. Com certeza não é fácil e acho triste que as pessoas pensem que podem fazer a torto e a direito…
      Mas com certeza o nosso background tem uma enorme influência. E também é o que nos faz enxergar ou não algo que pode ser ofensivo para outra pessoa.
      Sobre a lista de coisas a serem lidas… Eu precisaria de umas 10 vidas para ler metade do que gostaria, então com certeza te entendo hahahaha

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  2. Concordo com tudo que falou. Não é porque não gostei que tenho que detonar o trabalho de alguém. Isso não é crítica construtiva! Antes de mais nada, devemos nos colocar no lugar do outro e lembrar que do outro lado existe um ser humano que sente como nós. Amei o post muito necessário.

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  3. “O livro que eu não gostei pode se tornar o livro preferido de outra pessoa”, é isso, acho que o nosso “trabalho” é divulgar e ai vai das pessoas terem ou não interesse no livro, filme etc.

    Na faculdade de letras aprendi que tudo que disser do livro, texto ou filme analisado, tenho que mostrar aquilo usando a própria obra analisada… Tipo exemplo bobo, o autor usa muitos adjetivos, e ai mostrar uma frase em que tem esse exagero, ou diálogos com problemas, e mostrar isso no texto, ou numa cena do filme etc etc. Do contrario fica fácil né, ah a direção é incrível… Tá bom mas porque? Fotografia majestosa, roteiro bem construído… e bla bla bla bla rssss.

    Outro fator que atrapalha muito nas criticas são aqueles textos rebuscados, acadêmicos por demais, e isso encontramos em sites, revistas ou jornais, penso que nesse grandes veículos o objeto é aproximar e não afastar o publico, mas as vezes o ego do critico, resenhista vai além da própria obra analisada, e por fim, é possível sim escrever um texto de qualidade, criativo mas acessível. Te mais!!

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    1. Nossa, muito obrigada pelo seu comentário! Você tocou em pontos muito importantes, principalmente essa questão de usarmos a própria obra para mostrar aquilo que estamos falando.
      E sim… Infelizmente as pessoas acham que usar palavras “difíceis” é escrever bem e que escrever bem é sinônimo de reconhecimento. Porém, se você escreve um texto pouco acessível… Ninguém vai ler!
      obrigada por passar aqui e contribuir com esta discussão!

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