Ler faz bem (mas não importa a ninguém) [tradução 39]

Introdução 

Depois de um longo tempo sumida aqui do Blog (falei um pouco sobre isso aqui), finalmente trago um post novo. E, para marcar este retorno, escolhi traduzir um artigo cujo título chamou minha atenção, porque um dos intuitos deste espaço é justamente incentivar a leitura (inclusive, se você conhece alguém que colocou nas metas deste ano ler mais, já convida para conhecer esse espaço e trocar uma ideia).

Desfrute abaixo da tradução de Ler faz bem (mas não importa a ninguém), escrito por Maria Teresa Carbone e publicado originalmente no Il Manifesto, em 8 de agosto de 2024.

Tradução 

Que o hábito da leitura (de livros, não de mensagens de whatsapp) faz bem, é coisa que já se sabe. Mas se por acaso passou despercebido a alguém os infinitos artigos nos quais são elencadas as vantagens físicas e psicológicas escondidas entre as páginas de um romance ou de um ensaio, de uma antologia poética ou mesmo de um bom livro de receitas, eis que María J. García-Rubio e Ana Merino, no La Vanguardia, repropõem o tema à luz das mais recentes descobertas da neurociência.

O ponto de partida, como já havia explicado Maryanne Wolf no seu Proust e il calamaro (Editora Vita e Pensiero), é que ler — diferentemente do caminhar e do falar — não é uma característica inata aos seres humanos, uma vez que a escrita existe há “apenas” seis mil anos. Em outras palavras — explicam García-Rubio e Merino — “do ponto de vista neurocientífico, a leitura não está ligada a áreas cerebrais específicas, como, por outro lado, acontece com a visão, o olfato, a audição”. Este, que poderia parecer um problema, tem, contudo, consequências positivas, porque o cérebro da menina e do menino que aprende a ler é obrigado a encontrar uma — de certo modo inédita — “especialização” que envolve várias regiões cerebrais: “o giro supramarginal, o giro angular, as áreas frontais relacionadas aos processos motores envolvidos na articulação, e as áreas occipitais responsáveis pelo processamento de estímulos visuais como as letras, sem contar as áreas ligadas à memória, ao significado e ao conteúdo emocional dos grafemas e fonemas”.

Em resumo, um treinamento que faz parecer àquele dos atletas para as Olimpíadas uma piada, e que traz consigo, conforme aumenta o nível de complexidade dos textos, outros benefícios em termos de concentração, atenção e capacidade de empatia. De acordo com os últimos estudos sobre o tema, trazem à tona García-Rubio e Merino, a leitura reduz os níveis de estresse, porque “quando lemos são liberados neurotransmissores ‘bons’ como a dopamina e a ocitocina” e “retarda o envelhecimento, graças ao conceito de reserva cognitiva, uma espécie de ‘dispensa do conhecimento’ com a qual o cérebro se reabastece”. 

Diante de dados como esse, poderia-se esperar um assalto generalizado às livrarias e bibliotecas. Ao contrário, infelizmente devo dizer, quanto mais os cientistas demonstram, com estudos em mãos, que a leitura é um salva vidas, menos se lê. E não estamos falando só da Itália onde, sabe-se, a paixão pelos livros nunca foi um esporte de massa, mas de países há anos considerados como paraísos de leitores. 

Os últimos números sobre a leitura dos adultos no Reino Unido são uma dolorosa confirmação disso: como escreve Ella Creamer no Guardian, mostrando os resultados do relatório The State of the Nation’s Adult Reading, 35% dos cidadãos britânicos maiores de 16 anos declara ser um ex leitor, “ou seja, uma pessoa que lia regularmente por prazer, mas agora faz isso raramente ou nunca”. Este é, provavelmente, o dado mais melancólico da pesquisa, mas existe um outro ainda mais inquietante: o grupo etário entre 16 e 24 anos registra o nível mais baixo de leitores regulares (32%). E mais: 44% dos “jovens adultos” declara se considerar um ex leitor.

Para redimir estes desertores da leitura, será suficiente sacudir debaixo dos olhos deles as pesquisas da neurociência? Duvidamos e duvidam também os editores que, na metade de julho (escreve sobre isso Porter Anderson no Publishing Perspectives) na Feira do Livro de Frankfurt e na Feira do Livro para Jovens de Bolonha anunciaram em um comunicado conjunto que “às atividades das feiras para o desenvolvimento do livro serão acrescentados um centro de negócios sobre jogos”. 

Conclusão 

Ler é uma delícia, para além de qualquer benefício que estudos científicos possam descobrir com relação a este hábito. 

É uma pena, portanto, que poucas pessoas tenham consciência disso, mas, principalmente, que haja pouco incentivo para o florescimento deste hábito, ainda que, nos últimos tempos, temos visto redes sociais como o Tik Tok ajudando a disseminar e incentivar este hábito.

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