
Vamos continuar as resenhas desses maravilhosos contos russos? Para quem não viu a primeira parte, basta acessar Contos Russos – Tomo I e II (parte 1).
Hoje falarei sobre os dois contos escritos por Alexandr Serguéievitch Púchkin, o maior poeta russo de todos os tempos e também aquele que é considerado o criador da língua russa moderna. Estes contos ainda fazem parte do Tomo I, voltado para o Sentimentalismo e o Romantismo russos. A prosa de Púchkin tem, de fato, inspiração romântica, mas inicia, também, certo realismo na literatura russa.
O primeiro conto chama-se O tiro, e está dividido em duas partes, sem torná-lo, no entanto, um conto muito mais extenso que os demais desse primeiro tomo. Nesse conto, o autor narra a história de um personagem chamado, para fins narrativos, de Sílvio. Tal história é contada por um narrador que, por sua vez, não se identifica, mas que sabemos que era um jovem militar.
Sílvio era um homem misterioso, mas muito gentil com os militares que estavam em seu lugarejo. Além disso, ele era um atirador exímio, capaz de acertar uma mosca na parede. O que o soldado que narra a história não consegue entender, porém, é o fato dessa interessante figura esquivar-se dos chamados “duelos”, que seriam nada menos que um “acerto de contas” entre homens, após algum desentendimento.
“A falta de coragem é o que menos se perdoa na mocidade, a qual tem o costume de tomar a bravura pela maior das virtudes humanas e faz dela a desculpa de todos os vícios possíveis”
Contos Russos – Tomo I (p.49)
Apenas anos mais tarde o nosso narrador consegue entender o estranho comportamento de Sílvio. Trata-se de uma história inesperada e muito interessante, que não revelarei aqui, pois vale a pena a leitura. A única coisa que direi, porém, é que uma parte da história é revelada ao narrador através do próprio Sílvio, mas o resto vem por meio de outros personagens…
Pesquisando um pouco mais sobre esse conto, descobri que, na realidade, ele abre a coleção Os contos de Belkin (que seria, portanto, o tal narrador desse conto), publicada em 1832 por Púchkin, ou seja, quarenta anos depois de A pobre Lisa, que apresentei no último post.
O segundo conto de Púchkin que aparece nos Contos Russos – Tomo I é A nevasca, que também faz parte d’Os contos de Belkin. Trata-se de uma história de amor quase à la “Romeu e Julieta” (Púchkin, aliás, era grande leitor de Shakespeare): dois jovens apaixonam-se, mas o relacionamento não é aceito pelos pais da jovem, uma vez que o rapaz é pobre. O amor, no entanto, sempre fala mais alto e os dois resolvem se casar às escondidas.
Mas (sempre tem que ter um mas…), na noite combinada uma forte nevasca acaba atrapalhando um pouco os planos do jovem casal…
“Qualquer que seja, o mistério sempre aflige o coração feminino”
Contos Russos – Tomo I (p.79)
O narrador vai contando a história ora de um, ora de outro. Nessa parte do casamento, quando ele conta o que está acontecendo com o jovem, a história prende o leitor, nos deixando angustiados e, ao mesmo tempo, nos fazendo ler com enorme avidez. Além disso, trata-se de um conto de inúmeros altos e baixos e, mais uma vez, um final um tanto quanto inesperado, que conta com a aparição de um terceiro personagem…
Além desses dois contos, o livro Os contos de Belkin também conta com as seguintes histórias: O chefe da estação, O fabricante de caixões, A sinhazinha.