Heroínas (Antologia)

Título: Heroínas 
Autoras: Laura Conrado; Pam Gonçalves; Ray Tavares 
Editora: Galera 
Páginas 254 
Ano: 2018

Sinopse

Três escritoras brasileiras ― Laura Conrado, Pam Gonçalves e Ray Tavares ― reinventam clássicos para inspirar cada vez mais heroínas. Não faltam heróis. Dos clássicos às histórias contemporâneas, os meninos e homens estão por todo lugar. Empunhando espadas, usando varinhas mágicas, atirando flechas ou duelando com sabres de luz. Mas os tempos mudam e já está mais do que na hora de as histórias mudarem também. Com discussões feministas cada vez mais empoderadas e potentes, meninas e mulheres exigem e precisam de algo que sempre foi entregue aos meninos de bandeja: se enxergar naquilo que consomem. Este é o livro de um tempo novo, um tempo que exige que as mulheres ocupem todos os espaços, incluindo a literatura. Laura Conrado imaginou as Três mosqueteiras como veterinárias de uma ONG, que de repente contam com a ajuda de uma estudante que não hesita em levantar seu escudo para defender os animais. A Távola Redonda de Pam Gonçalves é liderada por Marina, que diante do sumiço do dinheiro que os alunos de sua escola pública arrecadaram para a formatura, desembainha a espada e reúne um grupo de meninas para garantirem a festa que planejaram. E Roberta é a Robin Hood de Ray Tavares. Indignada com a situação da comunidade em que vive, a garota usa sua habilidade como hacker para corrigir algumas injustiças. Este é um livro no qual as meninas salvam o dia. No qual elas são o que são todos os dias na vida real: heroínas. Finalmente.

Resenha

Heroínas é um livro que reúne três contos, de três autoras diferentes, unidas por uma mesma proposta, que o próprio título deixa claro: trazer um protagonismo feminino e inspirador. E o melhor: em situações bem próximas à realidade. Uma proposta simples, mas necessária.

“Para uma menina como eu, conviver com a personificação do seu sonho é um presente”

Uma por todas, todas por uma

O primeiro conto foi escrito por Laura Conrado, autora também de O retorno de Saturno, que já tive a oportunidade de ler (e adorei).

A história tem o título de Uma por todas, todas por uma e é narrada por Daniela D’Artagnan, uma adolescente que está no último ano do ensino médio e que quer muito poder trabalhar na ONG Mosqueteiros.

Por isso, ao parecer uma oportunidade de se voluntariar, mesmo não cumprindo os requisitos, ela resolve tentar. E já na recepção recebe uma negativa um tanto quanto malcriada.

A sorte, porém, logo lhe sorri e Daniela começa a não apenas realizar seus sonhos, mas também a contribuir para que eles permaneçam vivos e funcionando como deveria ser.

“E eu estou convencida: o melhor lugar do mundo é o agora”

Uma por todas, todas por uma

Esta é uma história sobre amor aos animais, boas ações, conquistas, amizades e amores.

O segundo conto recebe o título de Formandos da Távola Redonda e foi escrito por Pam Gonçalves, da qual que ainda não li outras narrativas (mas pretendo em breve).

Nesta história, narrada em terceira pessoa, a protagonista é Marina, que logo de cara se vê em uma grande enrascada: salvar a formatura do terceirão a apenas oito semanas do grande evento.

O problema é que, devido a um assalto, todo o dinheiro juntado até então fora roubado e a diretora resolveu confiar a Marina, devido à sua popularidade, a missão de salvar o evento mais aguardado do ano.

Para tal empreitada, porém, Marina decide formar uma comissão de formatura, que acaba sendo totalmente composta por mulheres.

“Uma lei não dita tinha ficado bem claro para todas aquelas mulheres. Só poderiam confiar nelas mesmas”

Formandos da Távola Redonda

Com este grupo, iremos refletir sobre amizade, respeito e o poder da união e da boa vontade. Mas também iremos percorrer o caminho da dúvida, do medo e da injustiça.

“Ela não se reconhecia mais. Não sabia se o que queria era real. Mas precisava descobrir, ou não conseguiria continuar sem explodir”

Formandos da Távola Redonda

Por fim, o terceiro conto, escrito por Ray Tavares (de quem já li o divertido Os doze signos de Valentina), narra a história de Roberta Horácio, um bebê que fora abandonado na porta de Gilberto e Magdalena Horácio, mas que jamais sequer desconfiou de seu passado.

Os Horácio moravam na Selva de Pedra, uma comunidade periférica. Mas Roberta é extremamente inteligente e consegue boas oportunidades para subir na vida.

“Roberta era só cérebro e pouca atividade física”

Robin, a proscrita

O destino, porém, muitas vezes é cruel, e ela se vê órfã muito cedo.

Movida pelo desejo de vingança e utilizando seus conhecimentos, Roberta decide continuar morando — ou se escondendo — na Selva de Pedra, enquanto mexe com programas e algoritmos para roubar o dinheiro de pessoas influentes, ricas e corruptas e devolvê-lo à comunidade.

Uma história que vai muito além da sede de vingança, falando também sobre injustiças sociais, abandono, corrupção, violência e — por que não? — amor.

“Mas existia algo mágico em se sentir patética por estar amando”

Robin, a proscrita

É evidente a inspiração e a releitura feita em cada um dos contos que compõem Heroínas: o primeiro tem sua origem em Os três mosqueteiros, e isso fica claro com o título, que remete ao lema deles, mas também no sobrenome da protagonista e com o nome da ONG.

No segundo conto , a inspiração vem de Os cavaleiros da Távola Redonda, com bem aponta o próprio título da história.

Por fim, a inspiração do terceiro conto é a história de Robin Hood. Robin é o apelido de Roberta, que não apenas gosta de usar verde (como o personagem que inspira seu apelido), mas também age como ele, roubando dos ricos para dar aos pobres.

A leitura dos contos é bem tranquila e rápida. Ótima não apenas pelos temas que aborda, mas também pela leveza e naturalidade com que as histórias se desenrolam.

Para garantir seu exemplar físico ou digital, clique abaixo. E não deixe de conhecer os demais trabalhos das autoras, através de suas redes sociais.

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Dois garotos se beijando — David Levithan

 

Título: Dois garotos se beijando
Original: Two boys kissing
Autor: David Levithan
Editora: Galera
Páginas: 222
Ano: 2015
Tradutora: Regiane Winarski

dois garotos se beijando

Daquele doce prazer de pegar um livro sem grandes pretensões, me deparo com Dois garotos se beijando. Me entreguei, então, a uma leitura que se mostrou difícil a princípio, mas que logo me envolveu de tal maneira que talvez seja difícil falar desse livro.

“Uma coisa é mostrar a alguém a sua melhor e mais limpa versão. É bem diferente deixar que ele conheça seu eu profundo e irregular”

(pg. 64)

Com uma linguagem coloquial e quase poética, Dois garotos se beijando nos apresenta, na verdade, a história de vários adolescentes, contada por narradores externos, que aos poucos vamos entendendo quem são e porque narram essas histórias. E mais que isso, esse livro, na verdade, pode contar a história de praticamente qualquer adolescente, o que o torna ainda mais incrível.

“Você gasta tanto tempo e tanto esforço tentando se manter firme. E então tudo desmorona de qualquer jeito”

(pg. 36)

O que liga os personagens desse livro, claro, é o fato deles serem gays. E jovens. E viverem momentos delicados de sua vida, em que precisam mostrar às mentes preconceituosas que eles são tão humanos quanto qualquer ser humano. Ou até mais humanos que certos seres humanos.

“Há tantos momentos aos quais você acha que não vai sobreviver. Mas você sobrevive”

(pg. 97)

Este livro não tem capítulos, mas sim quebras a cada vez que mudam os personagens em foco. Assim, ora acompanhamos Neil e Peter, ora acompanhamos Cooper. Também podemos acompanhar Avery e Rayan, ou então Craig e Harry.

Um casal que está junto há certo tempo, um casal se formando, amigos que já foram um casal e um jovem solitário que não compreende o mundo, que o vê como um grande vazio e uma rede de mentiras. Há muito em comum entre eles, mas também há muito de único em cada um.

“Sempre há alguma coisa nova para aprender sobre a pessoa que você ama”

(pg. 46)

E entre uma história e outra vamos refletindo como, ainda hoje, há muito preconceito com pessoas LGBTQ+ e o quanto pode ser difícil, por causa disso, para elas se assumirem. Vamos refletindo, ainda, como, por outro lado, há muitas feridas que também dizem respeito a nós, nos mostrando ainda mais como somos todos iguais e podemos ter dores tão semelhantes.

“O amor é tão doloroso; como podemos desejar para alguém? E o amor é tão essencial; como podemos atrapalhar o progresso dele?”

(pg. 15)

Esse é um daqueles livros para você que gosta de falar sobre sentimentos, gosta de poder refletir sobre a vida e que, ao mesmo tempo, busca um livro com uma leitura fluída e que te prende, porque você quer saber se as coisas terminarão ou não “bem” (na medida do possível. E não que elas terminem efetivamente).

Dois garotos se beijando é um evento, e só lendo o livro você vai poder realmente entender o significado dessa frase. Ainda que ler esse livro, por si só, possa ser um grande evento em nossas vidas.

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