Tash e Tolstói — Kathryn Ormsbee

Título: Tash e Tolstói 
Original: Tash hearts Tolstoy
Autora: Kathryn Ormsbee
Editora: Seguinte
Páginas:  375
Ano: 2017
Tradução: Lígia Azevedo

Sinopse

Natasha Zelenka é apaixonada por filmes antigos, livros clássicos e pelo escritor russo Liev Tolstói. Tanto que Famílias Infelizes, a websérie que a garota produz no YouTube com Jack, sua melhor amiga, é uma adaptação moderna de Anna Kariênina. Quando o canal viraliza da noite para o dia, a súbita fama rende milhares de seguidores ― e, para surpresa de todos, uma indicação à Tuba Dourada, o Oscar das webséries. Esse evento é a grande chance de Tash conhecer pessoalmente Thom, um youtuber de quem sempre foi a fim. Agora, só falta criar coragem para contar a ele que é uma assexual romântica ― ou seja, ela se interessa romanticamente por garotos, mas não sente atração sexual por eles. O que Tash mais gostaria de saber é: o que Tolstói faria?

Resenha

Eu poderia ter quebrado a cara com esse livro, porque a expectativa estava lá em cima. Mas a verdade é que na primeira página eu já não queria mais largar a história.

“Não importa o que aconteça no futuro, temos isto: contamos uma história que não poderíamos ter contado sem a ajuda um do outro”

Há anos sendo um item da minha wishlist literária, o que sempre me chamou a atenção neste livro foi o fato dele ter uma protagonista assexual romântica. E, por conta disso, sempre ignorei que o Tolstói do título fosse… Tolstói!

“Nos abraçamos todas essas vezes e este abraço é exatamente igual aos outros e totalmente diferente deles”

Tash ainda está indo para o último ano do colégio, mas já tem uma vida e tanto: com sua melhor amiga, ela escreve e dirige uma websérie Famílias Infelizes — que é, nada mais nada menos, que uma adaptação de Anna Kariênina — livro que, aliás, agora preciso muito ler (aceito opiniões nos comentários).

“Solto um suspiro, tentando manter a calma. Às vezes dirigir é como cuidar de uma criança pequena: requer muita paciência, pulmões fortes e a habilidade de convencer criaturas egoístas a fazer o que você quer”

Como se isso já não fosse enredo suficiente para um livro, a websérie acaba viralizando da noite para o dia, então Tash, Jack e todo o elenco têm de lidar com a fama repentina (e com tudo o que ela traz, inclusive o hate), bem como a realização de alguns sonhos e o surgimento de muitas dúvidas.

“Algumas pessoas são um livro aberto — dá para saber o que sentem sem muita dificuldade”

Só que Tash e Tolstói ainda tem muito mais. O livro trabalha temas como amizade e relações familiares, bem como pontos onde esses dois assuntos se misturam e se confundem.

“Não tenho certeza de que estou totalmente bem com isso, mas vou estar. Em algum momento”

E, claro, tem a questão da (as)sexualidade da Tash, que poucas vezes vi tão bem trabalhada quanto vi neste livro.

“Não é engraçado como algo pode ser sério por tanto tempo até que de repente não seja mais? Um dia, vira uma piada”

Talvez o mais fascinante desse livro — que eu fiz questão de devorar, ao mesmo tempo que não queria que acabasse nunca — seja o fato de que nada fica forçado na narrativa. Temas sérios são abordados com leveza e com personagens que possuem suas personalidades tão únicas.

“Quando é um momento oportuno para más notícias?”

E mesmo sendo narrado em primeira pessoa — pela Tash — a narrativa nos permite conhecer em boa medida a Jack, a Klaudie (irmã da Tash, responsável por boa parte — mas não toda — das questões familiares desta história), o Paul (irmão da Jack e melhor amigo da Tash, com um papel importante em suas descobertas) e todo o elenco de Famílias Infelizes.

Por se passar nos Estados Unidos, a história também nos lembra de questões relativas ao ensino superior por lá: nem todo mundo tem a oportunidade de realmente fazer o que quiser (ok, não só por lá, mas lendo o livro dá para entender o que é diferente daqui do Brasil).

“Às vezes você tem que seguir as regras injustas da vida”

A história se passa em alguns poucos meses, mas temos flashes de anos anteriores, necessários para a construção da narrativa. E esses poucos meses do presente também valem por muitos. Quanta coisa pode acontecer em dois ou três meses?

“Não é engraçado como algo pode ser uma piada por muito tempo e de repente não ser mais?”

Acho que isso é o que posso falar desse livro sem dar muitos spoilers. E sim, em alguns momentos você vai sentir raiva de certos personagens. Inclusive da Tash. Mas nas páginas finais você vai querer muito saber como essa história pode terminar. E eu gostei da forma que a autora uniu o início ao fim da narrativa.

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Quando eu descobri o que era ser eu — Alanys Aleixo

Título: Quando eu descobri o que era ser eu 
Autora: Alanys Aleixo 
Editora: Publicação Independente 
Páginas: 27 
Ano: 2021

Existem histórias curtas que nos abraçam e nos fazem pensar, mesmo que em sua pequena finitude.

“A sensação de questionar a própria existência é de estar sempre abraçada com alguém que, ao mesmo tempo que te diz (de forma extremamente vaga e confusa) o que fazer, te direciona palavras de amor e ódio e te faz sentir medo”

Em Quando eu descobri o que era ser eu, somos apresentados a Agatha Magalhães, uma jovem que, apesar de ser super fã de romances, nunca se apaixonou de verdade por alguém.

“Agatha Magalhães sempre foi tão influenciável que deixaria que os outros decidissem seus sentimentos sobre o amor”

Para ela isso não era exatamente um problema, mas atire a primeira pedra quem nunca se sentiu pressionado por ainda não ter beijado ou por ainda não ter se apaixonado e sentido tudo o que as amigas descreviam sentir. 

“Eu só queria tanto gostar de alguém, como todo mundo fazia, que criava os sentimentos dentro de mim como criava nos personagens das minhas histórias”

Com a reclusão imposta pela pandemia, porém, Agatha começa a refletir ainda mais sobre todas essas questões, até que resolve pesquisar a fundo sobre seus sentimentos, para tentar se entender.

Esta é uma história que vai nos fazer pensar sobre todos os espectros e aspectos da sexualidade e daquilo que sentimos dentro de nós.

Por meio da narrativa construída por Alanys, podemos enxergar um pouquinho mais sobre arromanticidade e assexualidade que, mesmo com a quantidade sem fim de informações que temos hoje, ainda parecem ficar escondidos nas profundezas das discussões sobre o tema.

Mesmo que não traga muitas novidades sobre o tema para quem minimamente já pesquisou sobre ele, é sempre interessante acompanhar a trajetória de alguém que está se descobrindo e descobrindo como se relaciona com o mundo (e melhor ainda é perceber como essa relação é sempre única).

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