
Uma das minhas maiores alegrias recentes com relação à literatura tem sido poder finalmente ler em italiano a tetralogia napolitana, da Elena Ferrante.
Foram anos esperando para ter esses exemplares em mãos e a mesma quantidade de anos fugindo de informações sobre a história, para não perder a magia da leitura. A única coisa que eu sabia era que este era um grande sucesso literário e que provavelmente havia um motivo para isso.
Storia del nuovo cognome é o segundo volume da série e a cada página lida eu tinha mais certeza de que o sucesso era merecido. Em poucos parágrafos muita coisa acontecia e a leitura transcorria entre prender a respiração, ficar chocada e querer falar sobre tudo com qualquer pessoa que aparecesse na minha frente.
A história traz inúmeras temáticas fortes e por mais que eu tenha escrito uma longa resenha sobre esta obra, várias coisas ainda ficaram de fora. Por isso, hoje trago alguns dos trechos que destaquei ao longo da leitura e que gostaria de compartilhar com você.
Como geralmente faço com livros que leio em outras línguas, colocarei os trechos com a minha tradução e, ao final, as passagens originais, na ordem em que aparecerem por aqui.
Uma temática que me parece muito importante na obra da Elena são as relações humanas. Ou melhor, o quão difícil elas são. E digo uma coisa: elas são de uma complexidade assustadora ao longo da história.
“Eu disse a ela: é só nos movermos que erramos, quem entende os homens, ah, quantos aborrecimentos eles nos causam, a abracei com força e parti”
“Nunca me ocorreu, como havia acontecido em outras ocasiões, que ela sentia a necessidade de me humilhar para poder suportar melhor sua própria humilhação”
Storia del nuovo cognome fala, ainda, sobre como as pessoas mudam, se transformam ou simplesmente mostram a sua verdadeira essência, seja ela qual for (o que nos faz amar e odiar os personagens a cada instante).
“Como ela poderia desaparecer assim, sem deixar um vazio?”
“O cinema, os romances, a arte? Como as pessoas mudavam rapidamente, seus interesses, seus sentimentos”
Mais que isso, esta é uma obra sobre a complexidade do amor, principalmente numa sociedade patriarcal e machista, cabendo algumas críticas bem interessantes e bem colocadas ao longo das páginas.
“Pensei que eu era mais sortuda do que Lila, Antonio não era como Stefano. Ele nunca me faria mal, ele só era capaz de fazer mal a si mesmo”
“Imagine se pudéssemos fazer essas coisas, eu e você. Viajar. Trabalhar como garçonetes para nos sustentar. Aprender a falar inglês melhor do que os ingleses. Porque ele pode se dar ao luxo e nós não?”
“Diria que ele derramava sobre todos nós, inclusive sobre mim, a confusão que sentia dentro de si”
“Pensei: o fato de Lila estar casada não é um obstáculo nem para ele nem para ela, e essa constatação me pareceu tão odiosamente verdadeira que meu estômago se revirou, levei a mão à boca”
“‘Você estava destinada a grandes coisas’ ‘Eu as fiz: me casei e tive um filho’ ‘Qualquer um é capaz disso'”
Neste segundo volume também temos a chance de conhecer mais a fundo os personagens do primeiro volume, principalmente as protagonistas, além de conhecer outros personagens, mergulhando cada vez mais em suas características e complexidades.
“Lina, quanto mais cercada de afeto e estima, mais cruel ela pode se tornar”
“Mudei, não na aparência, mas em profundidade”
“Percebi rapidamente que Pietro Airota tinha um futuro e eu não”
Como esta é uma narrativa que nos mostra jovens vivendo como adultos antes do tempo, a história também fala muito sobre juventude.
“Em resumo ele disse que o problema da juventude é a falta de olhos para se ver e sentimentos para se sentir com objetividade”
E, muito relacionado a isso, sobre como nos enxergarmos, tanto no mundo quanto dentro de nós mesmos e o quanto aquilo que nos cerca influencia esta visão.
“Eu odiava a mim mesma, me desprezava”
“Eu não era capaz de confiar em verdadeiros sentimentos. Eu não sabia me deixar levar além dos limites”
“Eu não disse nada sobre mim, ela não disse nada sobre si mesma. Mas as razões dessa lacuna eram muito diferentes”
Por fim, não poderia deixar de mencionar que esta é uma história que a todo momentos ressalta a importância dos estudos, mostrando como o conhecimento pode nos levar adiante e nos fazer conquistar aquilo que sequer imaginamos.
“Eu, Elena Greco, filha de um mero funcionário estatal, aos dezenove anos estava prestes a sair do bairro, prestes a deixar Nápoles. Sozinha”
“Agora tudo o que eu era, eu queria construir por mim mesma”
Espero que estes trechos tenham despertado a sua curiosidade para esta obra, caso ainda não a conheça, ou que tenha te ajudado a matar um pouco da saudade dela.
Para concluir, como prometido, deixo aqui os trechos originais, conforme utilizados ao longo deste post.
“Le dissi: appena ci muoviamo sbagliamo, chi li capisce i maschi, ah, quante noie ci danno, l’abbracciai forte, filai via”
“Non mi venne mai in mente, come invece era accaduto in altre occasioni, che avesse sentito la necessità di umiliarmi per poter sopportare meglio la sua umiliazione”
“Come si poteva svanire così, senza lasciare un vuoto?”
“Il cinema, i romanzi, l’arte? Come cambiavano in fretta le persone, i loro interessi, i loro sentimenti”
“Pensai che ero più fortunata di Lila, Antonio non era come Stefano. Non mi avrebbe fatto mai del male, era capace di farne solo a se stesso”
“Pensa se queste cose le potessimo fare anche io e te. Viaggiare. Fare le cameriere pe mantenerci. Imparare a parlare l’inglese meglio degli inglesi. Perché lui se le può permettere e noi no?”
“Diciamo che rovesciava su tutti noi, anche su di me, la confusione che sentiva dentro”
“Pensai: che Lila sia sposata non è un ostacolo né per lui né per lei, e quella constatazione mi sembrò così odiosamente vera che mi si rivoltò lo stomaco, portai una mano alla bocca”
“‘Eri destinata a cose grandi’ ‘Le ho fatte: mi sono sposata e ho avuto un figlio’ ‘Di questo sono capaci tutti’”
“Lina, tanto più è circondata dall’affetto e dalla stima, tanto più può diventare crudele”
“Sono cambiata non all’apparenza, ma in profondità”
“Capii presto che Pietro Airota aveva un futuro e io no”
“Disse nella sostanza che il problema della gioventù era la mancanza di occhi per vedersi e di sentimenti per sentirsi con oggettività”
“Odiavo piuttosto me stessa, mi disprezzavo”
“Non ero capace di affidarmi a sentimenti veri. Non sapevo farmi trascinare oltre i limiti”
“Io non dissi niente di me, lei niente di sé. Ma le ragioni di quella laconicità erano molto diverse”
“Io, Elena Greco, la figlia dell’usciere, a diciannove anni stavo per tirarmi fuori dal rione, stavo per lasciare Napoli. Da sola”
“Ora tutto ciò che ero volevo ricavarlo da me”
Se quiser saber mais sobre esta obra, não deixe de ler a resenha completa clicando abaixo!
