Título: L’amica geniale - volume primo Autora: Elena Ferrante Editora: Edizioni E/O Páginas: 327 Ano: 2011 Título em português: A amiga genial

Finalmente chegou o meu momento de ler a aclamada autora italiana Elena Ferrante (que ninguém sabe exatamente quem é, mas que faz muito sucesso mesmo assim). E não posso deixar de agradecer à minha prima, que, mesmo sem saber, realizou o meu desejo de ler a obra no original.
Apesar de toda a expectativa (foram anos esperando por esse momento), comecei a leitura com dois pés atrás, porque justamente quando peguei o livro para ler, vi mais de uma pessoa relatando que não conseguiu seguir adiante na leitura.
“Experimentei uma sensação que, depois, na minha vida, repetiu-se muitas vezes: a alegria do novo”
Felizmente, fui até o final do primeiro volume desta tetralogia (série de quatro livros) e posso dizer que entendo quem achou o livro chato. Até certo ponto ele realmente é e já vou comentar sobre isso. Mas o livro também é ótimo, e espero conseguir deixar isso igualmente claro, mesmo sem saber muito bem por onde começar a falar tudo o que tenho para falar.
A amiga genial está dividido em duas partes (além do prólogo) e a primeira delas, a infância, é bem arrastada. Para se ter uma ideia, são quase 60 páginas relatando praticamente um único episódio, alternando com um ou outro evento que enriquece a descrição e o detalhamento deste primeiro.
Apesar da monotonia desta primeira parte do livro, ela é necessária para que possamos conhecer os personagens (e são muitos, viu! Tanto é que, no começo do livro, tem um índice dos personagens) e o cenário desta história: uma cidadezinha na periferia de Nápoles, que, por si só, também já é um espaço italiano um tanto quanto complicado, principalmente à época (anos 50).
“Vivíamos em um mundo no qual as crianças e os adultos se feriam com frequência, das feridas saía sangue, que supurava e, às vezes, elas morriam”
A obra é narrada por Elena Greco, mais conhecida por Lenù ou Lenuccia. Passada a parte da infância, é muito interessante acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento, ao mesmo tempo que é bem doloroso.
“Talvez eu não seja assim tão feia, pensei, talvez eu só não saiba me enxergar”
Gostei bastante da forma como termina a parte da infância e como, na parte da adolescência, a narrativa foi ficando mais dinâmica e envolvente até que, quando me dei conta, eu só queria saber o que viria a seguir e acompanhar cada passo da Lenù (e, consequentemente, da Lila).
“Quando desapareceu, pareceu que havia sumido a única pessoa em toda a sala capaz de me arrancar dali”
Apesar de Lenù ser a narradora e de ser os seus caminhos que acompanhamos, há outra personagem que ganha destaque nessa história e que é quase tão ou mais protagonista que Lenù: Lila (ou Lina para todos os outros e Raffaella Cerullo como nome de batismo).
“Lila era demais para qualquer um”
A relação dessas duas é uma coisa de doido. Fiquei quase o livro inteiro gritando (na minha cabeça) que a Lila é extremamente tóxica para, no final das contas, até entender o que elas viviam.
“Decidi que eu deveria me inspirar naquela menina, jamais perdê-la de vista, mesmo que ela se irritasse e me expulsasse de perto”
Ler essa narrativa é mergulhar em um cenário italiano complexo: os diálogos são, em sua maioria, em dialeto, nos lembrando deste importante traço cultural. Além disso, ao longo da narrativa, somos apresentados à pobreza, a abusos, ao medo, à violência. Uma Itália muito diferente daquela romantizada em tantas outras histórias.
“Nápoles, de acordo com ele, sempre foi assim: se corta, se parte e depois se recompõe, e o dinheiro corre e cria dificuldades”.
Apesar desta ser uma história difícil, com passagens realmente dolorosas e sensíveis (sim, há gatilhos), ela não deixa de ser bonita, de carregar muitos sonhos, principalmente de uma mudança de vida. Aliás, esta é uma história que se passa em Nápoles, nos anos 50, mas que poderia muito bem se passar no Brasil, em pleno 2022.
“A riqueza, naquele último ano do ensino fundamental, se tornou uma ideia fixa para nós”.
Lenù e Lila são muito diferentes e, ao mesmo tempo, têm tanto em comum. Ao longo das páginas deste livro, vamos justamente unindo os retalhos da colcha que forma suas vidas, encontrando as mesmas cores em alguns pontos e cores opostas, mas complementares, em outros.
A narrativa é realmente tão boa que o livro virou série, em 2018, na HBO. Dizem que ela é bem fiel ao livro, então se você prefere produções audiovisuais, fica a dica para conhecer essa história.
Enquanto isso, eu, como leitora, fui de “socorro, que leitura arrastada”, no início, para “ok, preciso demais dos outros volumes desta tetralogia”. Agora entendo o sucesso desse livro e entro para o time dos que recomendam. Então, se tiver gostado, não deixe de clicar no livro ali embaixo para saber mais.
Como sempre faço quando leio livros em italiano, os trechos inseridos ao longo da resenha foram traduzidos por mim e agora trago os originais, na ordem em que apareceram aqui no post.
“Provai una sensazione che poi nella mia vita s’è ripetuta spesso: la gioia del nuovo”
“Vivevamo in un mondo in cui bambini e adulti si ferivano spesso, dalle ferite usciva il sangue, veniva la suppurazione e a volte morivano”
“Forse non sono così brutta, pensai, forse sono io che non so vedermi”
“Quando sparì mi sembrò che fosse sparita l’unica persona in tutta la sala che aveva l’energia per trascinarmi via”
“Lila era troppo per chiunque”
“Decisi che dovevo regolarmi su quella bambina, non perderla mai di vista, anche se si fosse infastidita e mi avesse scacciata”
“Napoli, secondo lui, era così da sempre: si taglia, si spacca e poi si rifà, e i soldi corrono e si crea fatica”
“La ricchezza, in quell’ultimo anno delle elementari, diventò un nostro chiodo fisso”
Quando eu terminei o livro (com aquele gancho gigantesco) eu lembro de virar a última página bem casualmente esperando mais….e nada. Tinha acabado. Hahahaha.
Eu sinto que esse livro poderia sim ser perfeitamente ambientado em um bairro periférico de São Paulo em 2022.
Não acho Lila tóxica. Acho a relação delas é como se fosse venenosa. Mas é um veneno que faz as duas sobreviverem, principalmente pq a vida delas é inteiramente venenosa. O veneno que as duas se dão, é o que da resistência pra elas lutarem contra o resto da sociedade.
Eu digo isso, porém, depois de ter lido os 4 livros.
De todo modo, amo essa série. E deve ter sido embaçado ler com os dialetos.
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Ah, o famoso gostinho de “PRECISO de mais!” Hahahahahaha
E sim, faz muito sentido essa sua visão da relação delas. Mais para o final desse primeiro volume já fui mudando de opinião e agora aguardo o resto para ter uma ideia melhor, para ver onde chega a minha visão disso.
E olha, o dialeto não foi difícil não. São só em (algumas) falas e, pelo contexto, dá para ir entendendo, além de ter muita coisa parecida com o próprio italiano. Acho que ouvindo seria mais difícil, mas no escrito dá para entender sim!
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Quero ler em breve!
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Vale muito a pena!
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