Il Festival di Sanremo

Antes de começar esse post, gostaria de explicar que ele talvez seja um pouco diferente do que eu costumo trazer para a rubrica Ensino de Italiano, sem fugir, no entanto, ao propósito do nome. 

A questão é que antes eu escrevia mais para os alunos e esse post talvez venha a servir mais para professores, mas essa é mais uma tentativa de não deixar essa seção às traças novamente. Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Como sou uma pessoa que acredita que músicas são excelentes ferramentas para o ensino e o aprendizado de uma língua estrangeira, já estava mais do que na hora de escrever sobre Sanremo, não é mesmo? Ainda mais porque falta bem pouco para a edição deste ano. Mas vamos por partes!

O que é o Festival de Sanremo?

O Festival de Sanremo é o Festival da Música Italiana e é considerado um dos mais importantes e longevos festivais musicais do mundo.

Realizado na cidade italiana de mesmo nome, a primeira edição de Sanremo aconteceu em 1951 e a estatueta do Leão de Sanremo é o reconhecimento mais prestigioso para os músicos e intérpretes de música pop italiana. Desde 1977 o evento acontece no Teatro Ariston.

Para participar da competição, é preciso que a música seja escrita em língua italiana ou em alguma das línguas regionais italianas (os dialetos), por um italiano, e elas precisam ser inéditas. 

Além disso, desde 1956 (com algumas exceções), o vencedor de Sanremo é automaticamente selecionado (podendo, contudo, abdicar desse posto) para representar a Itália no Eurovision, competição musical que abrange toda a Europa e que, por isso, tem ainda mais visibilidade.

Por que ele é importante para o ensino de italiano?

Música e Itália têm tudo a ver. Basta pensar, por exemplo, que grande parte do vocabulário musical teórico utiliza palavras em italiano.

Para além disso, o Festival de Sanremo faz parte da história italiana e é marcado por muitos acontecimentos diretamente ligados a ela (como as mudanças ocorridas durante o período fascista).

Mas o festival não nos ajuda a olhar somente para trás: sendo possível acompanhar as notícias relacionadas a ele e, claro, ter sempre acesso aos vencedores (mas não só), ele se torna um norte para nos ajudar a conhecer novas músicas e artistas italianos.

Como transformá-lo em uma ferramenta didática?

As possibilidades de usar o Festival de Sanremo em sala de aula são inúmeras. Eu mesma, já usei algumas vezes e vou tentar compartilhar aqui duas dessas experiências, procurando trazer, com elas, outras sugestões também. 

A primeira foi o básico do básico: um vídeo contando a história do Festival, com muitos detalhes interessantes e muito pano para manga. 

Depois de assistir ao vídeo, um pouco de conversação sobre ele, e também sobre os conhecimentos prévios do aluno em relação ao assunto, sempre buscando aproximar o assunto à realidade do estudante, perguntando, por exemplo, se ele conhece outros festivais do tipo (lembrando que Sanremo, apesar de ser um Festival, tem um formato diferente do que hoje, no Brasil, chamamos de Festival, e que isso é um ponto bem interessante para se discutir).

Apesar de ser algo bem simples, o bacana dessa atividade é que ela pode ser adaptada a diferentes níveis: o vídeo não é dos mais difíceis, então é possível fazer diferentes atividades a partir dele, desde uma compreensão mais básica, até uma conversação mais avançada.

A segunda atividade que fiz envolve escolher algumas músicas (quando realizei essa atividade, por exemplo, peguei as vencedoras dos três últimos anos, mas o critério de escolha vai de acordo com o que você irá trabalhar em seguida) e fazer com que os alunos escutem a seleção e que, a partir dessa escuta, criem o ranking deles.

Com isso, é possível, também, dar início a diferentes discussões bem interessantes (por que você gostou mais dessa que daquela canção? Por que você acha que tal canção foi vencedora?). Sem contar que os próprios textos das músicas podem dar muito o que trabalhar, né?

A primeira vez que fiz essa atividade, também aproveitei para mostrar como, de um ano para outro, os estilos vencedores foram bem diferentes. O meu intuito, além de tudo, era mostrar que a música italiana não é só e necessariamente aquela música de amor que muitos brasileiros estão acostumados. Os vencedores em questão eram os de 2019 — Soldi (Mahmood), 2020 — Fai rumore (Diodato) e 2021 — Zitti e Buoni (Måneskin).

Certamente existem milhares de outras formas extremamente criativas de se usar o Festival de Sanremo em sala de aula e se você quiser compartilhar alguma aqui nos comentários eu vou adorar saber!

Para concluir, gostaria de destacar que a edição deste ano (a 73º!) acontecerá entre os dias 07 e 11 de fevereiro e trabalhar o tema nesse período pode ser bem interessante, inclusive fazendo os alunos acompanharem ao vivo as transmissões. E, claro, fazendo as apostas deles com quem será campeão!

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“Musica leggerissima” o significado da música de Colapesce e Di Martino [tradução 17]

Se tem uma coisa que eu adoro é poder usar música nas minhas aulas. E faço isso não apenas pelo fato de que eu sempre gostei de música, mas também porque é bem comum os próprios alunos pedirem indicações. Então, ao invés de simplesmente jogar um monte de informação de uma vez, vou compartilhando as poucos as músicas que conheço ou vou conhecendo.

Tento sempre buscar músicas que tenham a ver com o assunto da aula em questão ou então que usem muito alguma construção que será trabalhada, o que pode ajudá-los a entender e praticar tal construção. Mas, para não correr o risco de transformar as músicas em um mero instrumento gramatical, também gosto de entender o texto de cada uma, pesquisando seus possíveis significados. É impressionante o quanto já me surpreendi com músicas que diziam muito mais do que parecia em um primeiro momento.

Foi em meio a essas pesquisas que encontrei o texto que traduzirei aqui. Estava procurando sobre Musica leggerissima, uma das participantes do Festival de Sanremo de 2021. Esse é o mais importante festival de música italiana e esta é uma daquelas canções que ficam na nossa cabeça por alguns dias e que dá muita vontade de sair dançando, o que faz jus ao nome da canção.

Para além disso, porém, eu já adorava o fato de que é uma música sobre música e que usa termos do léxico musical — não apenas o leggerissima, que seria um tipo de música e que aqui traduzirei como música pop, mas também termos como crescendo, que pode ser encontrado em partituras, além de nomes de instrumentos musicais e situações nas quais costumamos ouvir música.

Foi só pesquisando um pouco, porém, que percebi que havia muito mais naquelas palavras. E acho que o artigo que traduzirei abaixo, escrito por Eleonora Damiani e publicado em 15 de março de 2021, neste site, já nos dá uma dimensão de como há profundidade em Musica leggerissima.


Italo Calvino dizia que “leveza não é superficialidade, mas planar acima das coisas, não ter pedras no coração”. Encontramos esse mesmo sentido de leveza no texto de Sanremo 2021 de Lorenzo Urcillo, conhecido como Colapesce, e de Antonio Di Martino.

É muito fácil cair na armadilha de etiquetar alguém como “superficial”, não vendo o quanto a pessoa que temos diante de nós está cheia de precisar permanecer na superfície das coisas para sobreviver. De fato, nem todos nós somo dotados de uma máscara e um cilindro de oxigênio que nos permitem descer às profundezas e quando o mar interior se mostra escuro, agitado e cheio de elementos que parecem assustadores, podemos apenas sentir a necessidade de permanecer na superfície. O mesmo vale para quando começa a acabar o fornecimento do cilindro e a pessoa sente a necessidade de subir novamente.

“Cantam-na os soldados, os filhos alcoolizados, os padres progressistas”

Seja o soldado em meio à guerra, seja o filho que depende do álcool, seja o padre que precisa combater pelos direitos humanos em uma Igreja ancorada no julgamento, têm-se em comum um elemento: todos se encontram lutando, seja em casa, seja no trabalho ou no fronte, pelos direitos humanos próprios e dos outros e justamente as lutas mais difíceis são cheias de sangue e lama.

TODOS NÓS TEMOS A NECESSIDADE DE VOLTAR PARA A SUPERFÍCIE

O ser humano não é feito para ficar muito tempo submerso na dor profunda. A mente precisa, de vez em quando, voltar à superfície, tomar um ar e isolar-se em suas zonas confortáveis. O termo “autista”, nos dias de hoje, nos faz imediatamente pensar no Distúrbio do Espectro Autista, mas cada um de nós tem uma zona de conforto, uma pequena zona autista salvadora, na qual podemos encontrar um pouco de espaço para fugir da dor quando ela se torna sufocante. Essa é a mensagem que parece nos transmitir Musica leggerissima: o ser humano precisa flutuar ou surfar sobre uma vivência interna emotiva que poderia nos levar para baixo como os pesos nas laterais de um mergulhador.

O buraco negro é algo que absorve, um lugar indefinido onde podemos nos perder para sempre, mas somente se o vemos assim. Na verdade, por mais que nos assustemos, os nossos lados mais profundos não são buracos negros, mas podem ser percebidos assim porque são intocáveis. As nossas partes escondidas, que fazem parte de nós, são mais parecidas a um abismo e do abismo pode-se voltar, munindo-se das ferramentas necessárias.

COLOQUE UM POUCO DE MÚSICA POP…

Coloque um pouco de música pop porque não estou com vontade de nada, ou melhor, muito pop, palavras sem mistério, alegre mas não muito é o pedido de que está sobrecarregado de vivências interiores pesadas e precisa enlevezar-se, não conseguindo entrar ou permanecer na profundidade.

Nós escavamos o buraco negro quando permitimos que pensamentos depreciativos tomem conta de nós, como repense sua vida, as coisas que você deixou cair no espaço da sua indiferença selvagem. Conseguimos transformar dentro de nós os irreparáveis buracos negros em abismos exploráveis a ponto de poder escutar e aceitar aquela nossa parte que, de tempos em tempos, precisa de música pop?