E o resto é peixada — Bruna Ceotto

Título: E o resto é peixada
Autora: Bruna Ceotto
Editora: Duplo Sentido Editorial
Páginas: 42
Ano: 2021

Para concluir a região Sudeste, a quarta e última parada feita pelo ônibus do projeto Meu Brasil é assim, organizado pela Duplo Sentido Editorial: Espírito Santo, um Estado que nunca visitei. Será que a Bruna Ceotto conseguiu me deixar com vontade de conhecer?

“A história do Estado, completamente desconhecida para todos os amigos que eu tinha feito em São Paulo, parecia mais interessante quando contada por ele”

Se por um lado eu não conheço o Espírito Santo, por outro já conhecia a escrita da Bruna e costumo adorar! Com esse conto não poderia ser diferente: uma história que vai indo com calma, nos deixando curiosos com o que vem a seguir, ao mesmo tempo que, sim, desperta uma vontade de ver com nossos próprios olhos as belezas ali descritas.

“Eu podia dizer muitas coisas sobre o Espírito Santo, mas não podia dizer que o lugar não parecia um paraíso”

Helena é capixaba, mas mora em São Paulo e parece fugir de sua terra natal. Contudo, há momentos que não podem ser perdidos, como o casamento da sua melhor amiga, então nós a acompanhamos nessa rápida viagem de volta ao Espírito Santo e aproveitamos para espiar o que ela tem a oferecer.

“Amizades não são casuais por aqui. Não são meros encontros, uma noite de bar ou uma conversa no metrô. São a base sólida que nos impede de desmoronar por completo”

Ao mesmo tempo que vamos tentando entender porque, apesar de tudo, Helena parece fugir tanto assim de Vitória, vamos também nos encantando com toda a riqueza cultural e histórica do Espírito Santo, que conhecemos mais através dos olhos do motorista de Uber que a leva ao casamento de sua amiga, do que propriamente pelos olhos — que não querem ver e aceitar as coisas boas — de Helena.

“Há algo de especial em revisitar sua terra natal, acompanhada de alguém que nunca a deixou”

Foi difícil não torcer por ao menos um beijo entre esses dois personagens, ao mesmo tempo que era evidente que isso não era o que importava ali, mas o quanto encontros casuais podem nos fazer enxergar muito além do que queremos ou até mesmo conseguimos.

“Eu devia ter olhado pela janela. Minha memória não faz jus a isso”

Se você quer conferir com seus próprios olhos como um conto pode nos fazer imaginar lindas e imperdíveis paisagens, não deixe de conferir E o resto é peixada.

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O Rio de Janeiro continua lindo — Amanda Condasi

Título: O Rio de Janeiro continua lindo
Autora: Amanda Condasi
Editora: Duplo Sentido Editorial
Páginas: 50
Ano: 2021

Seguindo em nossa viagem pelo Brasil, com o ônibus da Duplo Sentido Editorial, chegamos ao Rio de Janeiro e, claro, o título deste conto não poderia ser outro. Contudo, a história começa, literalmente, do outro lado do mundo, mais exatamente em Seul.

“Mesmo amando minha família, não consigo mais sentir felicidade vivendo em Seul”

Dara é uma jovem brasileira que acabou crescendo em Seul, mas mesmo tendo se adaptado à vida nesse novo país, podemos sentir, pelas próprias palavras dela, que seu lugar sempre fora o Brasil e, mais especificamente, o Rio de Janeiro.

“Rio, quero te reencontrar e não vejo a hora disso acontecer”

No início do conto, portanto, somos apresentados a este contexto e acompanhamos a despedida de Dara e sua longa viagem de volta para a sua terra natal. E claro que é aí que tudo começa.

Em terras brasileiras, Dara irá (re)descobrir muito mais que a sua própria cultura, mas também um pouco mais de si mesma e de seus desejos.

“— Você não tem que provar nada pra ninguém e sua carteirinha bissexual não será confiscada por não ter ficado com meninas ainda”

Por meio de uma história leve, divertida e que emana o típico calor (humano e solar) carioca, temos a oportunidade de conhecer um poucos mais das belezas do Rio, com destaque para o pôr do sol no Arpoador.

“Sinto uma paz inexplicável estando aqui e agora”

A autora, por meio desta história, nos conduz para um Rio de Janeiro longe de estereótipos, principalmente aqueles relacionados à violência. Um Rio de Janeiro que, felizmente, pude conhecer quando visitei a cidade, graças aos conhecimentos que provavelmente só quem mora lá consegue ter.

“Se for pra ser, vai ser perfeito e, se não for também, vou ter outras oportunidades”

Um trecho que me chamou a atenção foi a descrição de Dara sobre os trens cariocas, porque notei imensa similaridade com os trens paulistanos, o que me fez refletir que, no final das contas, para que tamanha rixa entre essas duas cidades que, no fundo, no fundo, têm tanto em comum e tanto a complementar uma à outra? O Brasil é grande, tem espaço para todo mundo e todos os gostos!

“E o que é ser alguém na vida? Para mim é ser feliz independente das escolhas de futuro, pois temos que estar felizes naquilo que o coração mais deseja”

Não deixe de conferir também os posts anteriores da série Meu Brasil é assim:

Quando a neve cair — Thaís Bergmann

Título: Quando a neve cair
Autora: Thaís Bergmann
Editora: Duplo Sentido
Páginas: 43
Ano: 2021

Segunda parada da nossa viagem pelo Brasil: Santa Catarina! Se você chegou aqui agora e não sabe de que viagem estou falando, não deixe de conferir esse post aqui. E antes de contar sobre a história da vez, quero contar da minha relação com Santa Catarina.

Visitei, apenas uma vez na vida, Florianópolis. E isso foi lá em 2013, um pouco depois de prestar vestibular Eram umas merecidas férias de janeiro e fiz essa viagem turística, com meus pais. Ficamos mais pelo hotel mesmo, mas em um dos dias, fizemos uma volta pela ilha.

Se eu fosse hoje para lá, a experiência seria muito diferente, sem dúvidas! Agora eu teria a possibilidade de conhecer pessoalmente muitas pessoas que conheci, nesse último ano, através das telas e, com certeza, aproveitaria ainda mais cada momento e conheceria muitos outros lugares.

Esse contato com tantas pessoas de Santa Catarina têm me ensinado muito, mesmo que elas provavelmente nem se deem conta disso. E acredito que esse aprendizado tornou a minha experiência de leitura desse conto ainda mais especial e divertida.

Quando a neve cair não se passa em Florianópolis, mas na Serra Catarinense. Camila, a protagonista, tem apenas 16 anos e está hospedada, com seus pais, em um hotel fazenda em Urubici. Eles estão ali não apenas para aproveitar o final de semana em grande estilo, mas também pelas notícias de que nevaria por lá.

A verdade é que eles sabem bem o que é a “neve” da Serra Catarinense, mas é evidente que Camila e sua família adoram aquele lugar e o passeio em si. A paixão de Camila, porém, fica ainda mais evidente quando ela conhece Hugo, um rapaz da sua idade, que também está ali com os pais, mas pela primeira vez e ansioso por ver neve!

“A afirmação me pega um pouco de surpresa porque nenhum catarinense chega aos dezesseis anos sem ter subido a serra pelo menos uma vez na vida. Ainda mais que, pelo “s” bem puxado, parecendo com o som de “x”, é óbvio que ele é manezinho da ilha, e Florianópolis fica ainda mais perto de Urubici do que Imbituba, de onde eu sou!” 

Este conto, porém, não é apenas uma história sobre “a neve na serra catarinense” — aliás, esse é quase um detalhe na história — mas sobre amor. Contudo, não se trata de uma mera narrativa melosa e de contos de fadas. Muito pelo contrário, para ser sincera!

Apesar de nova, Camila já sofreu uma bela desilusão amorosa, então mesmo sentindo um belo frio na barriga por ver — e conversar! — um rapaz tão bonito e simpático, ela tenta, a qualquer custo, se manter racional. Claro, ela acaba falhando em alguns momentos, mas tendo a certeza de que aquela história duraria apenas um final de semana, Camila se mantém firme em algumas decisões suas — daquelas que nos fazem pensar: “pare de ser assim, vai aproveitar a vida!” —, para evitar se machucar novamente.

“É nesse momento que tenho certeza que não importa que a gente tenha menos do que vinte e quatro ou quarenta e oito horas juntos: jamais vou esquecer dele ou dessa viagem”

Quando a neve cair é, portanto, um conto que consegue, mesmo em sua brevidade, nos apresentar belas paisagens catarinenses, ao mesmo tempo em que nos faz refletir sobre o quanto vale realmente à pena tentar ser mais racional que sentimental, apenas para evitar um sofrimento.

Fiquei abismada com o desfecho da história, que é daqueles que acende uma luzinha em nossa cabeça, nos lembrando que a vida está aí para ser vivida e sentida. E se você quiser entender do que eu estou falando, já vem aqui garantir o seu conto.


Confira a viagem do Meu Brasil é assim através das minhas resenhas:

Santo Butiá — Sofia Neglia

Título: Santo Butiá
Autora: Sofia Neglia
Editora: Duplo Sentido Editorial
Páginas: 40
Ano: 2021

Antes de dar início à resenha propriamente dita, gostaria de contar um pouco mais de onde surgiu esse conto e alguns outros que irei resenhar nas próximas semanas (e meses).

A Duplo Sentido Editorial, uma editora pela qual nutro certo admiração, devidos às lindas obras que publica, criou um projeto chamado Meu Brasil é assim, no qual visitaremos todos os Estados brasileiros através de uma viagem ser sair de casa e totalmente segura em tempos de pandemia.

“O Projeto Meu Brasil é assim reuniu 27 autoras, uma de cada estado do país, para usar e abusar do poder que a literatura tem de nos transportar para qualquer lugar”

A ideia é fazer uma viagem “de ônibus”, passando por cada um dos Estados brasileiros e conhecendo-os através de histórias escritas por autoras que neles nasceram/cresceram.

“As autoras tiveram total liberdade para escrever sobre sua cultura, como a vivenciam e a sentem. A intenção do projeto é fugir dos estereótipos criados ao longo dos anos sobre algumas das nossas regiões, dando espaço para que autoras usem sua voz para contar indiretamente suas vivências em suas cidades”

O projeto durará nove meses e, a cada mês, receberemos três contos. Já estamos no terceiro mês e, no segundo, ao invés de três foram quatro os contos recebidos.

Para garantir as suas “passagens” é preciso apoiar ou assinar a campanha disponível no Catarse (por apenas R$15 mensais você já garante uma passagem básica, que dá direito à visita aos três Estados da vez) ou então aguardar a publicação dos contos na Amazon, mas por um preço um pouco maior daquele que os apoiadores no Catarse estão pagando. Como o ônibus já partiu, você pode pegar o bonde (ônibus) andando e, ao mesmo tempo, conferir os Estados que já visitamos, que são os do Sul e do Sudeste. Hoje, portanto, estou aqui para falar sobre o primeiro deles: o Rio Grande do Sul.

Um dos motivos pelos quais sou admiradora da Duplo Sentido é que, além de publicar mulheres, é uma editora que publica histórias de amor (num sentido bem amplo), coisa que eu amo, como você bem deve imaginar. Os contos desse projeto, portanto, são um prato cheio para a minha zona de conforto literária, ainda que Santo Butiá não tenha como foco um relacionamento romântico e sim questões familiares (coisa que, quando bem retratada, também é ótima de se ler).

A protagonista deste conto chama-se Johanna e ela está para começar uma faculdade de Medicina Veterinária, em Santa Maria (sim, a cidade do acidente na boate Kiss). Sendo de Porto Alegre, Johanna precisa decidir onde morar em Santa Maria e acaba aceitando o convite de uma tia que não conhece tão bem, para morar com ela no sítio da família.

A tia — de nome Astrid — é irmã do pai de Johanna, mas ele parece um pouco contrariado pelo fato da filha escolher morar com ela, ao mesmo tempo que acredita que possa ser bom, por ela ser uma pessoa solitária. Quer dizer, isso é o que ele explica a Johanna.

Ao chegar no tal sítio, e conforme vão passando os dias, Johanna se surpreende cada vez mais, tanto com o local quanto com a própria tia. E nós, leitores, somos fisgados pela magia do lugar, mas também pela vontade de, assim como Johanna, entender porque o pai praticamente não falava do tal sítio e de sua dona. Será que esse mistério irá se resolver?

“Me senti amada como nunca, e me perguntei o que eu tinha feito para merecer aquilo, sendo que nunca havíamos conversado direito”

Ah, e você não sabe o que é butiá e não entendeu o título do conto? Sem problemas, eu também não sabia e adorei entender ao longo da leitura. Começamos muito bem a viagem por esse Brasilzão!

Este conto já está disponível na Amazon. E reforço o meu convite para que você entre nesse ônibus e visite conosco os Estados que ainda não visitamos. Eu já li os demais contos do Sul, que em breve resenharei aqui (um por semana, ok?), e logo mais iniciarei a leitura dos contos do Sudeste. Você me acompanha nessa viagem?