O som e o sentido – José Wisnik

Título: O som e o sentido: Uma outra história das músicas
Autor: José Miguel Wisnik
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 283
Ano: 1989 (2º edição)

Como eu comentei na resenha de Itinerãças, o Som e o sentido é um livro que eu vinha há tempos enrolando para ler. O momento, porém, finalmente chegou. Ou não, pois confesso que ainda ficou muita coisa para que eu possa realmente entender tudo o que é dito no livro. Confesso, inclusive, que até tive dúvidas se deveria escrever uma resenha desse livro ou não, mas percebi que havia algumas coisas que eu gostaria de comentar.

O som e o sentido está divido em cinco partes, além de contar com uma apresentação e, ao final, um cd com exemplos sonoros do que é explicado ao longo do livro. As cinco partes são:

  1. som, ruído e silêncio;
  2. modal;
  3. tonal;
  4. serial;
  5. simultaneidades.

Dessas cinco partes, a que mais me interessou foi a primeira: som, ruído e silêncio.

“O som é presença e ausência, e está, por menos que isso apareça, permeado de silêncio”

O som e o sentido (p.18)

Destaco esta parte em detrimento das demais, não só por ser um assunto interessante e que muitas vezes não nos damos conta, mas também porque o resto do livro é muito mais histórico e teórico no quesito musical (sendo, portanto, as partes mais difíceis para mim).

Quando falamos em “som” quase sempre acabamos logo pensando em “música” e quando falamos em “ruído“, quase sempre pensamos em algum barulho incômodo. Som, porém, vai muito além de música, bem como ruído vai muito além de barulho. Mesmo música, se pararmos para pensar, é tanta coisa mais que aquilo que logo pensamos.

“Mexendo nessas dimensões, a música não refere nem nomeia coisas visíveis, como a linguagem verbal faz, mas aponta com uma força toda sua para o não-verbalizável”

O som e o sentido (p.28)

Além disso, “som”, “ruído”, “música” e qualquer outro termo análogo são elementos presentes em nosso dia a dia de maneiras que às vezes sequer nos damos conta. Por vezes, damos atenção àquilo que vemos e os ruídos, principalmente aqueles mais cotidianos, passam desapercebidos. Mas tudo faz parte do ambiente em que vivemos.

“A música ensaia e antecipa aquelas transformações que estão se dando, que vão se dar, ou que deveriam se dar, na sociedade”

O som e o sentido (p.13)

Outra reflexão que achei bem interessante, e que também faz parte da primeira parte do livro, foi a questão de que instrumentos, não só os musicais, mas utensílios no geral, desde a antiguidade, possuem, em grande parte, origem animal. Deste trecho destaco uma passagem que condensa bem a questão:

“Todos os instrumentos são, na sua origem, testemunhos sangrentos da vida e da morte”

O som e o sentido (p.35)

E a última reflexão que eu gostaria de destacar, ainda da primeira parte do livro, é sobre o modo como ouvimos música nos dias de hoje:

“O modo dominante de escutar (em ressonância com o da produção de som industrial para o mercado) é o da repetição (ouve-se música repetitivamente em qualquer lugar e a qualquer momento)”

O som e o sentido (p.56)

Graças à evolução das tecnologias, podemos transportar, em minúsculos aparelhos, infindáveis músicas para ouvir quando quisermos, na ordem que quisermos. Vocês já pararam para pensar que nem sempre foi assim? Que não era comum vermos pessoas nas ruas com fones enfiados nas orelhas e como isso também transformou nossas relações sociais?

Já sobre as outras partes do livro, deixo aqui breves comentários ou impressões:

Os capítulos de modal discorrem sobre as tradições musicais pré-modernas, enquanto em tonal o autor vai do desenvolvimento da polifonia medieval até o atonalismo. É um capítulo que fala sobre muitos compositores europeus renomados até os dias de hoje, nos mostrando quais foram, efetivamente, as contribuições deles para o campo da música. Já em serial, Wisnik fala sobre as formas radicais da música, chegando à música eletrônica.

Há muitos exemplos ao longo do livro, não somente os sonoros, encontrados no cd, mas também de partituras e músicos, além das inúmeras referências a outros estudos ou estudiosos.

O som e o sentido com certeza é um livro riquíssimo, mas não tão facilmente legível para quem não é mais ligado à música como uma área de conhecimento. Como eu disse, ainda preciso entender muitas coisas dele e esta leitura foi, sem dúvidas, uma aventura.

Aproveito e deixo, para aqueles que se interessaram pelo assunto, um vídeo curto, mas bem interessante: Sobre o som (música) – John Cage. E se você quiser ler o livro, saiba mais aqui:

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Um comentário em “O som e o sentido – José Wisnik

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