Contos Russos – Tomo I e II (parte 3)

Antes de ler este post, leia também: Contos Russos – Tomo I e II (parte 1)Contos Russos – Tomo I e II (parte 2).

Neste terceiro post sobre a coletânea organizada pela editora Martin Claret, chegamos aos dois últimos contos do Tomo I, que, relembrando, apresenta textos da época do Romantismo e do Sentimentalismo russo.

Dessa vez, trarei a vocês os contos Vyi O capote, escritos por Nikolai Gógol, notável por sua prosa fantástica, histórica e satírica, elementos que podemos encontrar nas histórias aqui apresentadas.

Vyi, publicado em 1835, traz no título o nome de uma criação terrível do imaginário popular russo. E quando o conto começa, o leitor não tem nem ideia do tipo de história que o aguarda.

Esse conto nos mostra muitos elementos da cultura e dos costumes russos, a começar pela descrição da escola russa e do retorno dos estudantes às suas casas. O narrador, então, se concentra em três amigos – o teólogo Khaliava, o filósofo Khomá e o retor Tibêri – que buscam um lugar para passar a noite.

Quando encontram tal lugar, porém, o verdadeiro horror começa e Khomá torna-se o personagem “principal”, contracenando com a terrível bruxa, uma velha que transforma-se em uma linda moça durante o dia.

Depois de uma das primeiras cenas assustadoras dessa história, passamos a conhecer melhor a jovem filha de um rico cossaco que, à beira da morte, pede que Khoma leia os salmos durante três noites após sua morte. Quando o tal cossaco procura o jovem e lhe explica o desejo da jovem, este nada entende, mas não tem escapatória. O conto, então, passa a narrar os três dias de Khoma, a rotina dele na casa do cossaco, suas tentativas de fuga e suas três noites de puro terror.

Por outro lado, o conto O capote, publicado em 1842, também tem uma pegada de terror, mas somente mais para o final da história, que, como sempre, é surpreendente. O narrador, em alguns momentos, dialoga com o leitor e os personagens são minuciosamente descritos, pois como aparece no próprio conto:

“O caráter de todo personagem de uma novela deve ser, em regra, plenamente descrito”

Contos Russos – Tomo I (p.160)

O personagem principal dessa história é Akáki Akakievitch, um pobre servidor público que é alvo de chacota de todos no escritório, apesar de trabalhar de maneira excepcional.

Por outro lado, poderíamos dizer que o protagonista desse conto é o “capote”, que dá nome à narrativa. Isso porque quando o velho capote de Akáki já não pode ser mais utilizado, o personagem vê-se obrigado a fazer um novo, que torna-se motivo de admiração de seus colegas. Não é somente por esse motivo que eu diria que o capote poderia ser o protagonista dessa história, mas pelo que acontece ao final dela, após a morte de Akáki.

“Sumiu para sempre a criatura que ninguém defendia, a que ninguém dava valor, por que ninguém se interessava, a qual não atrairia a atenção nem mesmo de um naturalista que não perde a oportunidade de perfurar, com um alfinete, uma simples mosca para examiná-la ao microscópio”

Contos Russos – Tomo I (p.190)

É muito interessante perceber como, de certa forma (sem nos esquecermos da distância temporal entre o período em que ele foi escrito e os dias de hoje), esse conto fala sobre bullying, nos apresentando um personagem ignorado por todos e com uma profunda mágoa guardada dentro de si. Vejo, inclusive, como um conto com certo cunho social e satírico, representando uma parcela da sociedade russa de forma realista.

“Feitas as contas, não podemos penetrar na alma de um homem e descobrir tudo o que ele pensa”

Contos Russos – Tomo I (p.177)
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5 comentários em “Contos Russos – Tomo I e II (parte 3)

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