Ensinando a transgredir – bell hooks

Título: Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade
Original: Teaching to transgress
Autor: bell hooks
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 283
Ano: 2017 (2º edição)
Tradução: Marcelo Brandão Cipolla

O livro Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, escrito por bell hooks, é um livro de ensaios tanto para alunos quanto professores. Isso porque a autora fala sobre o tema apresentando tanto suas reflexões, quanto suas vivências com os mais diversos alunos e espaços de ensino.

“Com estes ensaios somo minha voz ao apelo coletivo pela renovação e pelo rejuvenescimento de nossas práticas de ensino”

Ensinando a transgredir (p.23)

Antes de falar sobre a obra, porém, gostaria de falar um pouco mais sobre a autora. Isso porque vocês talvez estejam se perguntando porque estou escrevendo o nome dela com iniciais minúsculas. Em primeiro lugar, trata-se de um pseudônimo: bell hooks é, na verdade, Gloria Jean Watkins. Mas se escrevo esse pseudônimo em letras minúsculas é porque está escrito assim na capa do livro. Intrigada com isso fui pesquisar e descobri que a autora faz isso para valorizar o conteúdo de suas obras e não a pessoa que as escreve.

“A sala de aula não é lugar para estrelas; é um lugar de aprendizado”

Ensinando a transgredir (p.216)

Para além desse curioso fato, bell hooks é uma escritora e professora universitária norte-americana nascida na zona rural do sul dos EUA. Se destaco esses elementos da biografia da autora é porque eles nos ajudam a compreender essa obra. Ela estudou em escolas públicas para negros, por ter crescido em uma época em que ainda havia segregação racial. Na adolescência, passou a estudar em escolas mistas e sentiu a discriminação com intensidade.

“Cheguei à teoria porque estava machucada — a dor dentro de mim era tão intensa que eu não conseguiria continuar vivendo”

Ensinando a transgredir (p.83)

A despeito de ser mulher, negra, pertencente à classe trabalhadora (assim denominada por seus conterrâneos), bell hooks prosseguiu seus estudos até o fim, tornando-se professora universitária, contrariando inclusive suas próprias expectativas.

“Eu tinha medo de ficar presa na academia para sempre”

Ensinando a transgredir (p.9)

O livro possui 14 capítulos, além de contar com uma interessante introdução. Os textos são bem diferentes uns dos outros e há dois capítulos em que há uma espécie de diálogo.

“A voz engajada não pode ser fixa e absoluta”

Ensinando a transgredir (p.22)

No primeiro desses capítulos em forma de diálogo, bell hooks dialoga consigo mesma. Mas esse capítulo merece destaque por outro motivo também: ele fala sobre Paulo Freire. Sim, o “nosso” Paulo Freire! Para bell hooks esse teórico é de grande importância em sua jornada, tendo sido uma enorme inspiração e salvação para a autora. Ainda assim, ela consegue analisar a obra de Paulo Freire de maneira crítica, o que torna esse capítulo ainda mais interessante.

O segundo “diálogo” do livro aparece somente no décimo capítulo, e se dá entre bell hooks e Ron Scapp. O título do capítulo é “A construção de uma comunidade pedagógica” e é delicioso de ler, pois dá para perceber que há muita química entre o pensamento deles.

“Queria incluir aqui esse diálogo porque ocupamos posições diferentes”

Ensinando a transgredir (p.176)

Em Ensinando a transgredir, bell hooks fala sobre muitas temáticas — como o a necessidade da pedagogia engajada, o multiculturalismo em sala de aula, a necessidade da teoria e o valor da prática, a experiência, a importância da língua, a primordialidade de levarmos em consideração que um professor não é somente uma mente, mas um corpo na sala de aula — mas, certamente, os temas que mais ganham espaço nessa obra são o feminismo e a questão negra. Ou, melhor ainda, o feminismo negro. Eu, que nada sei sobre o assunto, pude me beneficiar imensamente dessa leitura, mas confesso que me deliciei ainda mais com todas as reflexões sobre o ensino — e o ensino como prática da liberdade — presentes nessa obra.

“A educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”

Ensinando a transgredir (p.25)

Ensinando a transgredir é uma leitura que eu sem dúvidas recomendo. Seja para professores que ainda têm medo/dúvidas sobre como ensinar de maneira transformadora/sensível/aberta, seja para alunos que estão acostumados demais a um ensino quadrado e pouco reflexivo. A primeira edição (em português) dessa obra é de 2013 e, no entanto, li como se tivesse sido escrita ontem. Um livro necessário em tempos de crise (na educação e no mundo).

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