Livros no escuro Feltrinelli [tradução 10]

Pensando no que traduzir este mês, aqui para o blog, deparei-me, entre as opções, com o tema “livros no escuro”. Na hora em que vi esse tema, lembrei-me do post Papo de clube: Tag, experiências literárias, da Nati, do Napolitano como meu pé e, pesquisando um pouco, encontrei um artigo que achei bem interessante (e talvez um pouco ácido — perdoa os italianos, gente) de traduzir aqui.

Por isso, hoje trago a vocês a tradução de Libri al buio Feltrinelli, escrito por Andrea Cabassi, em 19 de julho de 2016.

Apenas a título de curiosidade, a Feltrinelli é uma das maiores e mais conhecidas redes de livraria da Itália, e é também uma grande editora.


Eu estava, pela enésima vez, aproveitando o ócio na Feltrinelli, quando os meus olhos curiosos se depararam com um expositor que me deixou completamente perplexo.

Tratava-se da prateleira da iniciativa Livros no escuro, ou seja, uma seleção especial de títulos colocados à venda em uma caixa fechada, sem que seja possível conhecer o título, autor ou capa do livro. Únicos indícios: três adjetivos e um mini comentário escrito pelos vendedores da loja.

Movido pela curiosidade, fui até o caixa e fiz algumas perguntas ao Vendedor Misterioso, que, para não comprometer a segurança dos seus amigos e familiares, permanecerá anônimo.

Andrea Cabassi: Oi. Gostaria de pedir algumas informações sobre os Livros no escuro: como funciona?

Vendedor Misterioso: Nós, vendedores, escolhemos os títulos, dividindo entre nós os livros necessários para preencher o expositor. Uma vez selecionados, escolhemos para cada um desses três adjetivos que, para nós, são representativos daquele livro, e depois escrevemos um breve comentário ou copiamos uma citação do livro que tenha particularmente nos tocado. A escolha é basicamente orientada pelo gosto pessoal, ou então pensando naquilo que pode agradar aos clientes e fazem parte todas as editoras, não só os livros da Feltrinelli.

Andrea Cabassi: Você conhece o Appuntamento al buio con un libro [Encontro no escuro com um livro], de Sperling & Kupfer?

Vendedor Misterioso: Não, devo dizer que é a primeira vez que ouço falar. Sei que não inventamos nada, por exemplo: me disseram que no exterior é uma prática difundida há anos, portanto, não temos a pretensão de ter feito a descoberta do século. Mas não sabia que alguém na Itália já tivesse feito… O nosso, porém, é um trabalho manual, não uma produção automatizada de alguns títulos escolhidos, cada pacote tem um conteúdo diferente do outro… Pelo menos uma diferença importante existe!

Andrea Cabassi: E as vendas, como estão?

Vendedor Misterioso: Te digo: no início eu estava cético, me parecia uma jogada irresponsável. Como leitor, eu pensava que dificilmente alguém pudesse escolher um livro sem folheá-lo, ler o início ou qualquer outra página, menos ainda sem conhecer o título. Mas me enganei: os Livros no escuro estão tendo um bom sucesso e ontem mesmo uma senhora me cumprimentou pelo comentário que escrevi sobre um livro que ela comprou e me perguntou quando irei preparar o próximo… No momento, os meus Livros no escuro estão todos vendidos!

Andrea Cabassi: Você acha que a sua colega Anna Paola sabe a diferença entre um adjetivo e um substantivo?

Vendedor Misterioso: (não responde)

Fotografei alguns, pode-se ver que é realmente um trabalho artesanal. Ainda me lembram muito o Appuntamento al buio con un libro de Sperling & Kupfer e ainda me fazem arrepiar mas, resumindo, as diferenças são significativas:

  • São escolhidos pelos vendedores entre todo o catálogo da livraria, não se trata do estoque de um único editor.
  • Cada pacote é único, não tem aquela caixa de livros com papel amarelo que escondem todos o mesmo título
  • Voltamos à sensação que se tinha quando existiam os livreiros no lugar dos vendedores, com que podíamos conversar e escutar as sugestões.

Neste ponto, agradeço-o satisfeito e vou dar uma olhada nos livros. Não antes de captar o comentário de uma cliente que esclarece, definitivamente, a questão, dizendo mais ou menos o seguinte:

“Algumas dessas avaliações são muito bonitas, mas o risco de que te caia em mãos um livro de Fabio Volo é muito alto. Me valho da faculdade de escolher!”


Agora me diga uma coisa: você teria coragem de comprar um livro sem saber absolutamente nada sobre ele? Ou você já assina algum clube (que, de certa forma, é como comprar um livro no escuro)?

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9 comentários em “Livros no escuro Feltrinelli [tradução 10]

  1. Eu compraria! Aliás amei a ideia! Será que no Brasil tem algo assim?
    Clubes por enquanto eu não assino por questão financeira mesmo – Costumo adquirir meus livros em sebos. Mas estou participando de um clube da Editora Scenarium que não exige assinatura, a gente compra o livro, lê e na primeira segunda do mês participa de um debate sobre ele (é muito bom, e os livros são artesanais e lindos demais), e também estou considerando assinar o Box da Editora Quimera pois são autores brasileiros e eu acho fundamental esse incentivo. Vamos ver se sobra dinheiro pra isso heheh

    Abraços

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      1. Vale a pena conhecer! O Clube da Scenarium é incrível, são livros artesanais e com tiragens pequenas, é para quem realmente ama literatura. Já o da Quimera tem aquela pegada comercial – Livros de autores (ainda) pouco conhecidos, mas vendidos em grande tiragem e até mesmo disponíveis na Amazon. Uma coisa que gosto muito na Quimera é que vira e mexe parte dos lucros é destinada a alguma causa social – Publiquei em duas antologias dela e uma teve o lucro das vendas revertido para uma instituição que abriga mulheres vítimas de violência, a outra para uma organização que cuida de crianças… Já vi livros destinando lucros pro combate ao fogo no pantanal… Não sei se os box terão alguma destinação assim, mas só pelo que ela sempre faz com as outras obras, vale a pena incentivar!

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  2. Comprar, não sei se compraria. Bem provável que sim. Mas, lembro-me de um amigo cujo pai estava se livrando de uma vasta coleção de livros antigos, e eu resolvi pegar alguns. Pra ser honesto fazem tantos anos que nem lembro que livros eram, mas foram gratas supresas (inclusive tem uma edição bem antiga dos anos 40, mas não lembro agora do nome. Lembro tratar-se dum clássico britânico em dois volumes,e que muito bom por sinal!)

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      1. Nossa, fui atrás e acabei por encontrá-lo aqui. Trata-se de A história de Tom Jones, de Henry Fielding, publicado originalmente em 1749. A minha edição é de 1950, mas lembrei agora que foi lançada em 2 volumes e só tenho a segunda parte… Tá aí uma meta literária de 2021 (quase impossível creio), encontrar a parte I desta obra! obrigado pelo teu artigo e por me proporcionar este saudoso momento sem o qual eu jamais me recordaria!

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