O tatuador de Auschwitz — Heather Morris

Título: O tatuador de Auschwitz
Original: The tattooist of Auschwitz
Autora: Heather Morris
Editora: Planeta do Brasil
Páginas: 240
Ano: 2019 (2º edição)
Tradução: Carolina Caires Coelho e Petê Rissatti

Quando eu estava concluindo a leitura de O tatuador de Auschwitz, vi pessoas indignadas (e com razão) com algumas resenhas/comentários feitos à obra O diário de Anne Frank. A indignação deve-se ao fato de que alguns leitores parecem se esquecer que esta não é uma obra ficcional e que ela não foi escrita com o intuito de agradar ninguém. Preciso confessar, porém, que durante muitas páginas da obra O tatuador de Auschwitz eu tive dúvidas se a história era verídica — retratando a história de vida de um verdadeiro prisioneiro — ou apenas baseada em fatos históricos. Detalhe: está escrito na capa do livro que é baseado em uma história real…

“A política nos ajuda a entender o mundo até não o entendermos mais, e, depois, faz com que você acabe em um campo de prisioneiros. A política e também a religião”

Talvez o meu estranhamento tenha se dado pelo fato do protagonista ter uma “faceta heróica” que me pareceu um pouco romantizada, ao menos perto de outras obras que já li sobre o tema, além do fato da narrativa retratar, também, uma história de amor, coisa que certamente não estou habituada a ver neste tipo de livro.

“Lale olha para aquelas meninas e percebe que não há mais nada a dizer. Elas foram levadas ao campo como meninas, e agora — ainda que nenhuma tenha chegado aos vinte e um — estão afetadas, prejudicadas. Ele sabe que elas nunca se tornarão as mulheres que deveriam ser”

Não estou querendo dizer que não tenham existido pessoas como o Tätowierer nos campos de concentração ou que, apesar de tudo, não pudesse existir amor ali. A verdade é que eu espero, de coração, que tenham havido muitos outros prisioneiros como Lale — o protagonista desta obra —, que fez o que pôde para tentar salvar alguns além de salvar a si mesmo. E também acredito que o amor — e a força que ele nos dá — foi uma das coisas que fez com que muita gente lutasse ainda mais para sobreviver.

“Escolher viver é um ato de rebeldia, uma forma de heroísmo”

Sim, O tatuador de Auschwitz é, também, sobre isso: sobre como, mesmo em meio à escuridão, pessoas de bom coração se mantém firmes àquilo que acreditam e que isso não necessariamente é a fé delas – como talvez possa-se imaginar, visto que estamos falando de uma perseguição, sobretudo, a judeus. Lale era uma pessoa de bom coração em sua essência e nem mesmo a escuridão de um campo de concentração o fez perder isso, por mais difícil que tenha sido aguentar tudo o que aguentou.

“Os dois resistiram, por mais de dois anos e meio, ao pior da humanidade. Mas é a primeira vez que ela vê Lale mergulhar tão fundo na depressão”

O que está obra trouxe de diferente para mim foi a perspectiva de uma pessoa com um trabalho que, ao mesmo tempo que era “privilegiado”, não deixava de ser extremamente ingrato: tatuar o número na pele dos prisioneiros que chegavam aos campos de concentração. Este era um cargo privilegiado porque era necessário proteger o Tätowierer da possível fúria dos demais prisioneiros, além da necessidade que ele tivesse forças para realizar o seu serviço. Por isso, esta pessoa possuía aposentos mais reservados e porções extras de comida. Eu realmente nunca pensara em quem seria a pessoa a tatuar os números nos prisioneiros e, menos ainda, no que esse “cargo” representa.

“— Vi um homem meio morto de fome arriscar a sua vida para te salvar. Imagino que você deva ser alguém que valha a pena ser salvo”

Mas Lale, como já mencionei, buscava fazer mais e conseguiu ajudar inúmeros outros prisioneiros, não só pelo cargo que ocupava, mas por estar sempre atento e também por não ter medo de se colocar em risco para ajudar. Ainda assim, todos esses fatores não impediram que ele também sofresse muito. Os campos de concentração foram capazes de sugar a vida até daqueles que saíram vivos de lá.

“— Digamos que dei outro passo para dentro do abismo, mas consegui dar um passo para trás”

Se você tem estômago para encarar uma leitura sobre holocausto, mesmo esta não sendo uma das mais pesadas, mas ainda assim, retratando uma realidade difícil de digerir, clique abaixo, assim você também contribuiu com este espaço.

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4 comentários em “O tatuador de Auschwitz — Heather Morris

  1. Excelente texto Tatiana, parabéns.
    Já li muitas obras sobre o holocausto, algumas sim romantizadas, talvez para tornar a leitura um pouco menos dura e cinza. Mas de fato alguns prisioneiros eram selecionados para trabalharem nos chamados Kapo (ou funcionários prisioneiros). Como vc bem escreveu havia uma luta psicológica muito grande nesses casos, pois para garantir a própria sobrevivência tinham que manter a máquina da morte nazista em funcionamento. A questão da história de amor é que acho improvável, já que os homens e mulheres eram separados na entrada e não tinham, em regra, contato. Recentemente assisti um filme chamado O Fotógrafo de Mauthausen que trata dessa mesma situação.
    Obrigado por trazer esse livro, entrou no meu radar de leituras.
    Parabéns novamente pelo excelente texto.
    Abraço.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Obrigada pelo comentário, Gabriel! Verdade, nunca parei para pensar nas implicações de ser um(a) kapo! Provavelmente eles lutavam dentro de si um dilema que poucos conseguiriam compreender.
      E sim, havia a separação, mas pelo que entendi, nos dias livres eles podiam se encontrar (e, para além disso, o Tatowaier tinha um certo “passe livre”, então ele até conseguia transitar pelas áreas femininas). Gostei da dica do filme também, obrigada!

      Curtido por 1 pessoa

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