
Leia este post ao som de E daí (Gal Gosta)
Outro dia, movida por uma curiosidade repentina, resolvi preparar uma aula sobre Romeu e Julieta.
A pergunta que havia surgido em mim era sobre o porquê da história se passar na Itália, tendo sido escrita por Shakespeare.
Em minhas pesquisas para a preparação da aula em questão, encontrei textos interessantes e um, especificamente, acabei separando para trazer para este espaço.
Por isso, a tradução de hoje, que você pode ler abaixo, é do artigo Attualità di Romeo e Giulietta, escrito por Goffredo Fofi e publicado em 20 de outubro de 2016 no Messaggero Santo Antonio, tendo sido atualizado, ainda, em junho de 2017.
Uma amiga que trabalha em uma escola de italiano para jovens imigrantes me conta sobre os preconceitos étnicos contra os quais tem que lutar, entre alunos asiáticos, africanos, norte africanos, latino americanos, europeus do leste e do sul, mas também, por sorte, sobre as histórias de amor que aconteceram entre alguns deles e terminaram bem.
Isso provavelmente também se deva ao grande esforço que ela e seus colegas empregam para quebrar aquelas barreiras. Ela me conta com satisfação de alguns casais que souberam resistir aos preconceitos, mesmo àqueles, os mais duros de combater, das próprias famílias. De vez em quando o amor vence o preconceito e qualquer outro conflito entre “famílias” e a história de Romeu e Julieta tem um final feliz. Viva.
Aquela de Romeu e Julieta, na versão que nos deu William Shakespeare, é certamente uma das histórias mais contadas no mundo, talvez, quem sabe, a mais contada de todas. Pelo simples motivo de que continua a ser uma história verdadeira, um daqueles tropeços destinados a se reproduzir na vida das sociedades e das comunidades, sempre e onde for. Existem centenas de versões dessa narrativa na história da literatura (e da fábula), a inglesa vem de fontes italianas, de Massiccio Salernitano, de Luigi da Porto, de Matteo Bandello.
A história de dois adolescentes que se amam mas pertencem a duas famílias ou classes sociais ou etnias ou vilas ou partidos ou países em guerra ou simplesmente a bairros de uma mesma cidade, a grupos que entre eles se odeiam, rivalizam, conflituam, reproduziu-se e se reproduz nas situações mais dispares e nas mais diferentes épocas.
Hoje, entre italianos e estrangeiros ou entre estrangeiros de diversas proveniências, de diversos países, de diversas cores de pele, de diversos hábitos culturais e, principalmente, aliás, de diversos credos religiosos, a vitória do amor sobre o preconceito é possível, mas geralmente, muito geralmente, esse amor tem um fim trágico ou, em alguns casos, infeliz, e deixa sozinhos dois jovens que poderiam ter se tornado um casal, um exemplo de uma convivência feliz e possível. Nas artes — no cinema, no teatro, nos quadrinhos, nos romances — raramente acontece dessas histórias acabarem bem: ele pobre, ela rica; ele branco, ela negra; ele chinês, ela latina; ele protestante, ela católica; ele sueco, ela siciliana; etc. Sobretudo, hoje, ele cristão, ela muçulmana. Algumas vezes acaba bem e se trata, nesse caso, de uma comédia e não de uma tragédia.
Li ou vi histórias, romances, filmes nos quais essas histórias acabam mal. Mas também ouvi músicas de bêbados sobre jovens comunistas e garotas cristãs democráticas, e li ficções nova iorquinas do final do século XIX sobre o amor entre um jovem imigrante hebreu e uma irlandesa, no qual os bate-boca eram explosivos, mas nos quais, graças ao amor, tudo acabava bem.
Hoje a diferença mais grave é aquela entre cristãos e mulçumanos. Mas mesmo aqui algumas histórias acabam bem, e os Capuleto e os Montecchio se reconciliam não no funeral dos filhos, mas no casamento deles.
E então, qual é a sua opinião sobre isso? Ainda temos muito a melhorar como pessoas e sociedade, não?