Não é (só) sobre política

Acho que só existe uma verdade universal nesta vida: a de que não existem verdades universais.

Ok, isso parece ser bem contraditório, mas combina bem com o que quero falar aqui. O assunto do post de hoje é sério (e longo) e quis começar de maneira um pouco descontraída, mas já que você chegou até aqui, que tal ficar mais um pouco e ler até o fim?

Se não existem verdades universais, também não podemos achar que o que é bom para um é, sem sombra de dúvidas, bom para todo mundo (até porque “todo mundo é muita gente”). Assim sendo, eu não pretendo, aqui, dizer que este é melhor que aquele, mas apenas te ajudar (e me ajudar também) na reflexão.

O primeiro turno das eleições de 2022 está à nossa porta. Chamamos estas de eleições presidenciais, mas não é apenas para este cargo que votaremos. E esse é um dos pontos principais daquilo que quero falar aqui.

Antes, porém, quero te contar uma coisa: eu não gostava nem um pouco de política. Não que hoje eu ame, mas entendo melhor o seu papel (e o meu no meio disso tudo). E eu não gostava justamente por isso: eu não entendia nada de nada!

Só ouvia falar de escândalos, de corrupção e, por outro lado, de gente passando necessidade, de escolas sucateadas, de problemas na saúde. A conta não fechava e eu achava que não tinha como melhorar, que o Brasil já não tinha jeito, então eu não “perdia meu tempo” indo atrás. Até porque eu “era uma só”, que diferença poderia fazer?

Bom, eu ainda sou uma só, mas hoje eu entendo que é de um em um que a gente faz mil, dez mil, infinitos.

Tirei meu título de eleitor com 16 anos, não por querer, mas por sugestão dos meus pais, que disseram que tirando com essa idade, eu tinha menos chance de ser chamada para ser mesária. Ao menos funcionou! Mas nas primeiras vezes em que fui votar, eu mal sabia o que estava indo fazer.

Em 2018, porém, as coisas foram diferentes. Ainda perdida entre tantas informações, eu tentei buscar entender um pouco melhor as coisas.

Isso, contudo, é um processo. São muitas informações, vindas de tudo quanto é lado. Algumas verdadeiras, outras falsas. É preciso aprender a separar o joio do trigo e, sendo sincera, isso cansa. Mas (apesar de tudo) sou brasileira e não desisto nunca!

Como eu disse lá no início, não estou aqui para falar sobre candidatos — nem mesmo sobre partidos —, não apenas por entender que cada um deve buscar aquilo que é melhor para si (ainda que não possamos desconsiderar os direitos humanos e outros direitos essenciais), mas porque eu sequer escolhi os meus. E não é por falta de opção, mas porque me falta uma coisa essencial: a pesquisa.

Contudo, não vou fazer como anos atrás. Até domingo eu tenho apenas uma lição de casa: ler, pesquisar, entender. E só então escolher. E pode ter certeza, eu farei isso.

A verdade, porém, é que esse post já é o pontapé da minha pesquisa. Porque, como eu também disse ali no começo, a gente chama essas eleições de “eleições presidenciais”, mas há outros cargos em jogo. E eles são de extrema importância. Será que sabemos realmente disso?

Vou ser bem sincera: eu não sei tão claramente não! E, justamente por isso, resolvi escrever sobre as obrigações de cada um dos cargos para os quais votaremos esse ano, para então, durante a minha tarefa de casa, poder analisar o que eu espero de cada um e quem representa melhor aquilo que eu busco (e o mais legal é que, enquanto esse Blog existir, este post estará aqui e eu poderei voltar a ele sempre que precisar).

Vou escrever aqui na ordem em que teremos de votar no domingo, combinado?

O que faz um Deputado Federal?

Os Deputados Federais trabalham (ou deveriam trabalhar) lá na Câmara dos Deputados, em Brasília. Digamos que eles são quase tão centrais quanto o próprio Presidente no cenário político.

A função deles é legislar (ou seja, criar leis) e fiscalizar (ou seja, ver se as leis estão sendo cumpridas). Basicamente, colocar o país para funcionar e garantir que ele funcione seguindo as regras. Bem importante, não?

E você sabia que nós temos 513 deputados? É bastante gente! Mas de que adiantaria se esses 513 deputados pensassem da mesma forma e, pior ainda, pensassem apenas em si e esquecessem de todo o resto da população, principalmente daquela (grande) parcela que mais precisa deles?

Por isso, é muito importante que você avalie quais são os seus ideias inegociáveis, ou seja, aquilo que, para você, é essencial para que o país cresça de maneira saudável e próspera. Pode ser saúde, educação, meio ambiente, tecnologia. Com esses itens em mente, busque por candidatos que apresentem propostas relacionadas a eles.

Outra forma bem interessante para encontrar o seu candidato ideal é ver quem são os deputados atuais e o que eles realmente fizeram nos últimos quatro anos. Pode ser um bom começo para acrescentar algumas opções à lista, ou, principalmente, para saber de quem você quer passar longe. Além disso, você aproveita para se interar do que anda acontecendo na Câmara.

Onde você pode encontrar informações confiáveis? No site da própria Câmara dos Deputados, claro!

Vale lembrar que os Deputados Federais possuem 4 dígitos (os dois primeiros representam o partido e os dois últimos o candidato).

O que faz um Deputado Estadual?

Em menor âmbito (isto é, pensando no seu Estado), o Deputado Estadual tem as mesma funções do Deputado Federal, elaborando e aprovando leis que estiverem relacionadas a temas pertinentes à esfera estadual. Eles também são responsáveis por fiscalizar as contas do Estado. Ou seja: se você é contra a corrupção, precisa procurar por candidatos honestos (eles hão de existir).

Novamente, portanto, vale pensar no que você acha que seu Estado pode melhorar, para então buscar candidatos que tenham propostas relacionadas a este ponto.

Os Deputados Estaduais trabalham na Assembleia Legislativa (cada Estado tem a sua) e o site delas também é uma excelente fonte para verificar o trabalho daqueles que estiveram ali nos últimos quatro anos (e não só). Se quiser ter uma ideia, este é o site da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Para votar no Deputado Estadual você precisará de 5 dígitos (novamente os dois primeiros são do partido e os três últimos do candidato).

O sistema proporcional

Antes de continuar falando sobre as funções de cada cargo, um grande parênteses necessário: Deputados (federais e estaduais) são eleitos pelo sistema proporcional. E isso é bem complexo, mas é bom termos uma ideia de como ele funciona, porque também pode influenciar o nosso voto.

De maneira extremamente reduzida e simplista, o sistema proporcional é um sistema no qual os partidos e coligações recebem vagas (na Câmara ou na Assembleia) em quantidade proporcional às suas votações. Ou seja, um candidato não depende apenas de si mesmo parra ser eleito, mas também com os votos que o partido recebe.

Isso significa que, ao votar em um candidato, você pode ajudar outro candidato do mesmo partido a ser eleito. Por isso, neste caso, analisar o partido, e não apenas os candidatos de maneira individual, pode ser importante.

Como eu disse, é um sistema complexo e entendê-lo mais a fundo nos permite, também, buscar algumas estratégias, visando contribuir para uma Câmara (ou uma Assembleia) mais representativa.

O que faz um Senador?

Preciso começar esta parte com uma informação que sempre me esqueço: Senadores não são eleitos por quatro anos, mas por OITO. Ou seja, vamos escolher bem, né?

A cada quatro anos votamos em Senadores porque, mesmo o mandato sendo de oito anos, a renovação acontece a cada quatro anos, na proporção de 2/3 e 1/3. Isso significa que este ano votaremos em apenas um Senador e, nas próximas eleições, em dois.

O Senado, com a Câmara dos Deputados, compõe o Congresso Nacional (sim, aquele de Brasília). Mas enquanto a Câmara representa o povo, o Senado representa os Estados.

Na hora de escolher o seu Senador, há uma coisa que você também precisa levar em consideração: os suplentes (ou os “substitutos” daquele Senador). Cada Senador é eleito com 2 suplentes na chapa.

Uma importante função do Senado é a de julgar crimes de responsabilidade. Por isso é importante que a constituição do Senado também seja diversificada, contando com representantes de diversas frentes e partidos, garantindo que não sejam defendidos os interesses de apenas uma parcela da população e dos políticos.

O Senado ainda aprova (ou não) os nomes indicados ao STF, o Procurador-Geral da República e os Presidentes e Diretores do Banco Central. Nomes que influenciam enormemente a gestão de recursos nacionais e a fiscalização do andamento das leis que nos regem.

Claro que o Senado também tem o seu site, no qual é possível verificar o que anda acontecendo por lá e o que podemos esperar dos próximos Senadores eleitos.

O número dos Senadores possui somente três dígitos (os dois primeiros são o do partido).

O que faz um Governador?

O Brasil é um país imenso e os cargos apresentados até aqui podem parecer distantes demais da nossa realidade.

Dá um sentimento de impotência perceber que há tanto poder nas mãos de pessoas que nem sempre estão realmente preocupadas com a população, mas apenas com a possibilidade de tirar vantagem de tudo. Por isso é importante escolher com consciência e de acordo com os seus ideias.

Mas se pensar no Brasil como um todo pode parecer uma missão impossível, que tal começar prestando mais atenção no seu Estado? Este ano, além dos Deputados Estaduais, também iremos escolher novos Governadores, ou seja, as pessoas responsáveis por administrar e representar o Estado em ações jurídicas, políticas e administrativas. Além disso, uma das principais responsabilidades do Governador é a segurança pública, assunto tão em alta em nosso país.

O Governador também controla as finanças do Estado e é responsável por buscar mais verba no Governo Federal para os investimentos necessários na infraestrutura do Estado (como saúde e educação).

Como sempre, vale dar uma olhada no site do Governo do seu Estado (aqui está o de São Paulo) e, claro, nas propostas de cada candidato, dando maior atenção aos pontos que você considera essenciais.

Para votar em um Governador você precisa de apenas dois dígitos. Ah, é bem importante também analisar não apenas o candidato em si, mas o seu vice! Os dois são eleitos juntos e é bem comum que, em algum momento, o vice assuma o cargo.

O que faz o Presidente da República?

E finalmente chegamos nele, o cargo de maior destaque (mas, como espero que tenha ficado claro, não necessariamente o único de real importância nestas eleições).

Dentre as funções do Presidente, temos: gerir a administração federal; criar e executar políticas públicas e programas governamentais; sugerir, vetar ou sancionar leis; escolher ministros; receber autoridades estrangeiras; representar o país no exterior.

São muitas atividades, é verdade, mas é preciso lembrar que nada disso é feito de maneira solitária. Então, sim, o Presidente deve ser bem escolhido porque ele é o retrato da nossa sociedade, mas ele precisa de toda uma equipe que também seja o retrato da nossa sociedade.

O ideal, portanto, é que, para que você possa realmente escolher aquele candidato que te representa, você leia a proposta de governo de cada um. Este é um documento disponível no site do próprio Tribunal Superior Eleitoral e você pode consultá-los clicando no nome de cada candidato aqui.

Para acompanhar de perto os trabalhos do Presidente da República e os rumos do nosso país, o site essencial é esse aqui.

Uma vez mais, também é muito importante olhar não apenas para o candidato em si, mas também para seu vice. E, nas urnas, você precisará de dois dígitos para votar no candidato escolhido.

Cola eleitoral

Como mostrado ao longo deste post, este ano precisaremos votar para cinco cargo diferentes.

É importante lembrar que na cabine eleitoral não é permitido o uso de celular, então o ideal é pegar o bom e velho papel para fazer a sua colinha eleitoral. Melhor ainda se ela já estiver na ordem certa, porque aí é só digitar, conferir e confirmar.

Então, depois de analisar propostas e escolher (com sabedoria) os seus candidatos, anota aí:

  • Deputado Federal: XXXX (4 dígitos)
  • Deputado Estadual: XXXXX (5 dígitos)
  • Senador: XXX (3 dígitos)
  • Governador: XX (2 dígitos)
  • Presidente: XX (2 dígitos)

Conclusão

Peço desculpas por esse post imenso, mas eu realmente precisava fazer isso, até para ter mais claro o que eu, como cidadã, tenho de fazer nesta (e nas próximas) eleição.

Com certeza faltou muita informação aqui, mas o nosso sistema político é realmente muito complexo e, faltando tão pouco tempo, não seria possível destrinchar todo o necessário.

A verdade é que deveríamos aprender isso aos poucos, na escola, mas a que político interessa que possamos votar com sabedoria, não é mesmo?

E se me permite um pedido (para além do pedido de desculpas), vote com consciência. Vá as urnas sabendo o que está fazendo e, mais ainda, sabendo que está escolhendo por você, de acordo com o que há de verdade em seu coração. Não acredito que o Brasil seja um país de ódio e preconceito, mesmo depois de ter visto de tudo um pouco nos últimos tempos.

Lembre-se que o voto é secreto e que você não deve satisfação para ninguém sobre as suas escolhas, então não aceite coerções e vote de consciência limpa.

No dia das eleições, você não tem obrigação alguma de vestir qualquer coisa que indique o seu voto e se alguém te perguntar, você também não tem obrigação de responder.

Por mais clichê que seja, a mudança começa com cada um de nós. E a política não acaba nas urnas, mas também no acompanhamento daquilo que vem sendo feito e na nossa manifestação de (in)satisfação com os rumos das coisas.

Por isso, também deixo aqui um convite que fiz, em meu Facebook, lá em 2018: ao longo dos próximos quatro anos (e dos subsequentes), independentemente de quem estiver no poder, procure acompanhar os sites que eu trouxe ao longo deste post (ou aqueles dos governos de seu Estado) e não se cale diante daquilo que não está de acordo com o prometido durante as campanhas eleitorais ou que não está de acordo com os nossos direitos.

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11 comentários em “Não é (só) sobre política

  1. Grande post! Legal ver a cidadania fazendo sua parte – coisas que deveriam ser feitas pelo governo e pelas grandes corporações. Fico envergonhado por não ter preparado um texto para a ocasião em meu blog. Valeu demais.

    Vou abusar da minha liberdade: NÃO VOTE NELE!!! :)

    Abraços e saudações democráticas.

    Curtido por 1 pessoa

  2. Perfeição de post. Só acho que o título poderia ser “Não é (só) sobre votar”, porque acredito que tudo é político, sim. Se todas as pessoas tivessem oportunidade para fazerem uma boa pesquisa como você, seria realmente incrível. Não teríamos eleições com votos do tipo “ah, votei igual meu marido, porque não sabia em quem votar” (exemplificando dizendo isso porque cerca de 70% dos eleitores indecisos são mulheres, ok?) e o povo fiscalizaria melhor o trabalho de seus representantes eleitos.

    Curtido por 2 pessoas

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