
Para variar, estava eu ouvindo recomendações do Spotify quando a música que hoje trago aqui começou a tocar.
Não me lembro se algo do início dela chamou a minha atenção, mas quando percebi que havia referências a outras músicas e nomes da MPB, parei seja lá o que eu estava fazendo para ver que música era essa.
Até o momento de sentar e escrever esse post eu nunca tinha ouvido falar em Julinho Marassi e Gutemberg, a “dupla número 1 da região sul fluminense”. Você já ouviu falar deles?
A música que trago aqui foi composta em 2001 e gravada pela primeira vez em 2002, no CD Julinho Marassi & Gutemberg Ao Vivo.
Como eu disse, o que me chamou a atenção na música foram as referências. Ao menos as que entendi, já que, pesquisando um pouco, descobri que elas somam quase trinta.
Olhando a letra toda, porém, também achei interessante o início, no qual os compositores traçam uma crítica ao excessivo uso da televisão, o gradual abandono do uso da criatividade e o consequente empobrecimento das produções artísticas.
Os músicos ainda fazem uma ressalva de que a crítica não é voltada aos jovens, ainda que haja um direcionamento maior desta para o “pancadão” que, conforme a letra, não deveria ser a única opção.
Depois disso, a música se volta para o passado — mais ou menos distante —, fazendo a sua ode aos nossos artistas.
É interessante que a composição cita os nomes dos artistas, de maneira que é bem fácil encontrar os homenageados, mas também há, em diversos casos, menções a músicas ou versos, que demandam um pouco mais de conhecimento das obras desses cantores e compositores.
É o caso de “Se eu quiser falar com Gil”, que faz referência a Se eu quiser falar com Deus (essa era fácil, vai?), ou então ao fato de haver a pergunta “O que será que o nosso Chico tá escrevendo?”, nos lembrando que além de músico, Chico Buarque é também escritor.
Quem acha estranho o verso “Aquelas rosas já não falam de Cartola” talvez não conheça As rosas não falam, assim como “Nem do Cazuza te pegando na escola”, que é uma referência ao início da música Faz parte do meu show (te pego na escola / e encho tua bola / com todo o meu amor).
Quando falam de Oswaldo Montenegro, Julinho Marassi e Gutemberg usam duas referências: a música Agonia e e Não há segredo nenhum.
Uma das melhores junções de referências, no entanto, acho que aparece mais adiante na música, quando ele junta a Casa no campo com o Dia branco e até com o Chão de giz, quase construindo uma narrativa aqui (com músicas que também são ótimas).
Apesar de ser quase um clássico, não sei se ficou clara, também, o “Quero sem lenço e sem documento, Caetano”, indicando a música Alegria, Alegria. E já que estamos aqui, eu não poderia mencionar a minha alegria em ver Oceano, do Djavan também!
Ao final da música temos, ainda, alguns pedidos dos compositores, que buscam uma música mais original, inteligente e que nos faça pensar.
Deixo, abaixo a letra completa e, ao final, a música, para que você possa ouvi-la. E, claro, não deixe de buscar os demais artistas mencionados na canção. Pelos nomes citados, você já consegue encontrar muita coisa boa.
Faz muito tempo que eu não escrevo nada
Acho que foi porque a TV ficou ligada
Me esqueci que devo achar uma saída
E usar palavras pra mudar a sua vida
Quero fazer uma canção mais delicada
Sem criticar, sem agredir, sem dar pancada
Mas não consigo concordar com esse sistema
E quero abrir sua cabeça pro meu tema
Que fique claro, a juventude não tem culpa
É o eletronic fundindo a sua cuca
Eu também gosto de dançar o pancadão
Mas é saudável te dar outra opção
Os meus heróis estão calados nessa hora
Pois já fizeram e escreveram a sua história
Devagarinho, eu vou achando meu espaço
Mas não me esqueço das riquezas do passado
Eu quero a benção de Vinícius de Morais
O Belchior cantando como nossos pais
E se eu quiser falar com o Gil sobre o Flamengo
O que será que o nosso Chico tá escrevendo?
Aquelas rosas já não falam de Cartola
Nem do Cazuza te pegando na escola
Tô com saudades de Jobim com seu piano
Do Fábio Júnior com seus 20 e poucos anos
Se o Renato teve seu tempo perdido
O rei Roberto, outra vez, o mais querido
A agonia do Oswaldo Montenegro
Ao ver que a porta já não tem mais nem segredos
Ter tido a sorte de escutar o Taiguara
E Madalena de Ivan Lins, beleza rara
Ver a morena tropicana do Alceu
Marisa Monte me dizendo: beija eu
Beija eu, beija eu, deixa que eu seja eu
Beija eu, beija eu, deixa que eu seja eu
O Zé Rodrigues, em sua casa no campo
Levou Geraldo pra cantar no dia branco
No chão de giz do Zé Ramalho, eu escrevi
Eu vi Lulu, Ben Jor, Tim Maia e Rita Lee
Pedir ao Beto um novo sol de primavera
Ver o Toquinho retocando a aquarela
Ouvir o Milton lá no clube da esquina
Cantando ao lado da rainha Elis Regina
Quero sem lenço e documento, Caetano
E o Djavan mostrando a cor do oceano
Vou caminhando e cantando com o Vandré
E a outra vida, Gonzaguinha, o que é? (O que é?)
Atenção, DJ, faça a sua parte
Não copie os outros, seja mais smart
Na rádio ou na pista, mude a sequência
Mexa com as pessoas e com a consciência
Se você não toca letra inteligente
Fica dominada, limitada a mente
Faça refletir, DJ, não se esqueça
Mexa o popozão, mas também a cabeça
A cabeça
Cabeça, DJ
A cabeça
Oi Tati, tudo bem?
Podemos fazer um paralelo bem fácil da TV pro TikTok, e me coloco nesse balaio também. Tem sido difícil fugir desse “refúgio fácil”.
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
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Bem pensado, Prih! Quando a música foi escrita ainda não haviam as redes sociais de hoje, mas se ela fosse mais recente certamente teria entrado um Tik Tok aí hahahahaha
Boa semana!!
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Oi Tati, tudo bem?
Passando aqui de novo pra agradecer sua visita <3
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
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