Luzes — Leblon Carter

Título: Luzes: quando as luzes se apagam (livro 1) 
Autor: Leblon Carter 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 2015 
Ano: 2022

Sinopse

Simas é um jovem de dezenove anos que acaba de se formar na faculdade de comunicação e artes de São Paulo. Apaixonado por literatura e escrevendo seu primeiro livro para participar do concurso de pequenos escritores de Nova Iorque, ele se vê obrigado a trabalhar em um cinema antes de poder concretizar seu sonho.

Lá, ele conhece Cedric, um jovem colega de trabalho por quem começa a despertar sinceros sentimentos. Em meio ao trabalho árduo, a escrita e o amor não correspondido, Simas se vê em apuros quando percebe que relacionamentos amorosos podem gerar diversos problemas para ele e para qualquer outro que queira se aventurar nessa história.

Aos poucos, ambos vão percebendo que a última sessão só acaba quando todas as luzes se apagam, ou quando o primeiro beijo acontece.

Resenha

Alguns livros conseguem equilibrar clichê e criatividade na medida certa, trazendo uma narrativa agradável de ler. É isso o que acontece com o livro que hoje vou resenhar: Luzes.

“O conceito de arte é meio único para cada pessoa. Não dá para generalizar”

Nesta obra, Simas nos conta sobre a sua vida, nos mostrando um cotidiano que poderia ser banal, mas que carrega tanta sentimentalidade e profundidade que fica difícil não se envolver.

“Às vezes penso que o ser humano é tão complexo e vazio ao mesmo tempo”

Simas é jovem, mas logo entendemos que sua infância não foi das mais fáceis e que ele ainda tem muita coisa para ajeitar na vida (assim como ainda tem muito o que viver também).

“Tudo se refere à passado, presente e futuro. Sem isso somos um amontoado de pele, osso e carne, que anda por aí, sem destino ou rumo fixo”

Ele mora com a irmã mais velha e, ao longo das páginas, vamos entendendo que ele tem uma relação complicada com a mãe (coisa que só se explica totalmente mais para o final do livro) e pai sequer faz parte de sua vida.

Em Luzes, acompanhamos o início de Simas em seu novo emprego. Apesar de ter formação em cinema, o único cargo que ele consegue é como PAC, aquelas pessoas que conferem nossos ingressos, recolhem óculos 3D, limpam as salas do cinema…

“Quando você se forma em um curso que escolheu por amor, provavelmente acredita que as portas do mercado de trabalho vão magicamente se abrir. Porém, não foi bem isso que aconteceu comigo”

O próprio autor de Luzes — Leblon Carter — trabalhou como PAC, o que torna essa narrativa ainda mais rica, nos apresentando detalhes que muitas vezes desconhecemos.

O mais interessante, contudo, é o uso dos paralelos — muitas vezes mais presentes na forma de narrar do que fazendo parte da história em si — entre cinema e literatura e, claro, a análise das cores e luzes que o personagem volta e meia faz.

“As luzes internas tinham tons azulados, dando um ar de tranquilidade e calmaria”

A história não se passa em um intervalo de tempo muito grande, mas é o suficiente para que a vida de Simas passe por boas transformações: ele faz novas amizades e, claro, se apaixona. Mas será que esse sentimento o levará a algum lugar?

“E, mesmo com o som alto do filme nos alto-falantes, no teto, e as luzes piscando, na tela, em ritmo frenético, nada conseguia ser tão mágico quanto olhá-lo, de perto, em quase um escuro completo”

A maior parte da narrativa se passa dentro do próprio cinema, ainda que possamos, ao longo dela, também conhecer alguns outros espaços que compõem a vida do protagonista. Por mais delimitante que isso possa parecer, em momento algum a narrativa é monótona (muito pelo contrários, aliás).

“Então, independente de qual cor sejamos lá fora, temos a mesma tonalidade, aqui dentro”

Para além do cinema, das luzes e do amor, este livro nos fala bastante sobre solidão, de uma maneira que é difícil não se sentir tocado.

“Já eu… bom. Eu era a solidão. O lado azul da família. E não que eu seja antissocial ou que odeie seres humanos, mas existem momentos em que aquela tristeza momentânea bate e você só quer ficar sozinho. Ouvir apenas as vozes do seu pensamento e tentar se entender, por um milésimo de segundo, antes que as coisas comecem a ruir novamente. E as pessoas parecem nunca entender isso.  Então, quando você as abandona por um dia, para poder se dedicar totalmente nos outros trezentos e sessenta e quatro, elas acreditam que você está bravo ou que não quer mais falar com elas. E, por tê-las ignorado por um dia, você é ignorado, pelos outros trezentos e sessenta e quatro restantes”

E, claro, sendo Simas um escritor, o poder da palavra (tema que sempre chama a minha atenção) também se faz presente ao longo das páginas.

“Porque, seja de maneira intencional ou não, sempre machucamos outras pessoas. Palavras cortam como faca. Pensamentos escuros embaralham uma mente sã. Agressões físicas marcam a pele. E, às vezes, não nos damos conta disso. É como estar em uma guerra: você escolhe ser ferido ou ferir. E, acredite quando digo: a outra pessoa não vai pensar duas vezes em escolher te ferir”

Disponível apenas em formato digital, Luzes é um livro que vai te fazer vivenciar diversos sentimentos ao lado de Simas. Uma história para quem quer ler sobre amor e solidão apresentados de uma maneira quase poética, ainda que seja prosa pura.

“Não há nada mais instigante para mim do que ler um livro que me faça viajar para outro lugar”

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Citações #63 — Fisheye

Se você já leu minha resenha de Fisheye, da Kami Girão, deve ter percebido que esta é uma história muito bonita e interessante. Por isso, hoje trago aqui alguns dos trechos que ficaram de fora do post anterior.

Uma das coisas que me chamou a atenção na narrativa foi o humor ácido da protagonista, que a cada página fica mais e mais justificado diante de tantos percalços vividos por ela.

“E ri porque era humilhação demais para que eu me atrevesse a chorar”

A história tem como tema central a perda da visão de Ravena Sombra, mas ela também trata de muitos outros tipos de perdas.

“Ainda doía perceber que minhas amizades haviam morrido”

“Mas nem mesmo uma aceitação prévia consegue evitar a dor de perder alguém”

E também fala sobre o medo e o poder (muitas vezes negativo) que esse sentimento tem.

“Tinha tanto medo que já estava sufocada por ele”

Outro ponto interessante de Fisheye é a presença da internet (de maneira até que bem marcante) na construção de algumas das relações humanas ali retratadas.

“A gente nunca é pessoalmente o que parece ser pela internet”

Com estes trechos e este breve post, reforço minha recomendação para que você conheça esta obra tão sensível e importante! Não deixe de ler a resenha se você nunca ouviu falar sobre este livro e, claro, já garante o seu exemplar.

A chance de encontrar o amor no metrô — Rafael Dourado

Título: A chance de encontrar o amor no metrô 
Autor: Rafael Dourado 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 68 
Ano: 2016

Sinopse

Existem dias que simplesmente nada dá certo e o simples fato de levantar da cama nos leva a uma série de acontecimentos desagradáveis.

Tess sabia disso, ela tinha perdido o horário no único dia que não poderia se atrasar. Para piorar, seu carro não pegava de forma alguma e completando o pacote de azar, não tinha dinheiro suficiente para um táxi; o metrô era sua única opção.

O que ela não sabia é que as vezes, nossas melhores chances vêm embrulhadas em um grande pacote de problemas.

Resenha

Quem tem o costume de andar de transporte público sabe bem como é difícil — ao menos vez ou outra — não se pegar observando as pessoas ao redor e até mesmo — por que não? — acabar se apaixonando momentaneamente por alguém.

“Um amor de metrô é uma constante quase tão real quanto usar o transporte”

Tess, a protagonista desta história, porém, não é uma pessoa que pega metrô todos os dias: ela tem carro e costuma ir dirigindo para a faculdade.

Acontece que a vida nem sempre quer colaborar conosco e no dia em que ela acorda atrasada — e é um dia muito importante para ela, como aos poucos vamos descobrindo — seu carro resolve não ligar.

“— Saiba, pequeno gafanhoto, que os dias que parecem ruins podem ser os melhores da sua vida”

Sem alternativa, ela resolve correr para o metrô, mas nem mesmo ele consegue salvar a pele da pobre protagonista, porque, claro, é um daqueles dias em que o metrô está com problemas.

Está certo que esse drama todo era necessário para que a história acontecesse. Uma narrativa curta, mas cheia de emoções. E o melhor: num simples vagão de metrô.

Totalmente atordoada com os percalços do dia, Tess acaba conhecendo Adam, ainda no metrô, e o que poderia ser só o pior dia da vida dela, torna-se um dia inesquecível (de maneira positiva, que fique claro!).

“Acho que nunca fui pega de surpresa tantas vezes em um curto espaço de tempo”

A chance de encontrar o amor no metrô é um conto que consegue, em suas poucas páginas, tratar não somente da imprevisibilidade da vida, mas também dá importância de olharmos para o lado e de sermos empáticos com os outros, em tudo, inclusive seus traumas.

“Faço essa viagem todo dia, e é sempre muito solitária. Ninguém olha para ninguém, são todos muito reservados”

Uma leitura leve, rápida e capaz de ser tão surpreendente quanto a manhã de Tess.

“Seu sorriso fez tudo que estava ruim no meu dia melhorar um pouco”

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Crônicas e agudas — Antonio Carlos Sarmento

Título: Crônicas e agudas — histórias leves para divertir e fazer pensar 
Autor: Antonio Carlos Sarmento 
Editora: Becalete 
Páginas: 304 
Ano: 2022

Como é gostoso ver um trabalho que admiramos crescer e alcançar novos caminhos, não é mesmo?

Antônio Carlos Sarmento é o autor por trás de um dos blogs que eu mais gosto de acompanhar por aqui (tanto que já indiquei ele mais de uma vez em postagens minhas) e que tem o mesmo nome do livro que hoje venho resenhar: Crônicas e Agudas.

“As ruas, a literatura e a cultura em geral dão dinâmica ao idioma: criam palavras e expressões, tornam outras arcaicas e o transformam constantemente”

Um título que, por si só, já demonstra muito da destreza do autor com a língua portuguesa: ao mesmo tempo em que joga com um jargão quase médico, também brinca com o gênero que traz em sua escrita.

E eu, como uma admiradora de crônicas desde que conheci o gênero, quando ainda estava na escola aprendendo sobre o maravilhoso universo da literatura, não poderia deixar de me encantar com uma obra como essa, recheada de temas e reflexões tão interessantes.

“Passeava então pelas ruas, visitava uma livraria e encontrava prazer em ficar sem falar nem ouvir. É bom descansar um pouco os sentidos” 

É verdade que eu já conhecia a maioria das crônicas deste livro, justamente por ser leitora (quase) assídua do blog de Antonio Carlos. Mas como o próprio autor disse, não há nada como poder lê-las impressas. Pegar um livro em mãos, sentir o papel, escolher o local que for para ler.

“Ler é principalmente uma questão de gosto. E gosto vem com o hábito”

Mesmo (re)lendo esses textos e tendo enorme apreço por tantos deles (todos, talvez), não posso negar que tenho alguns preferidos

“Nossa individualidade nos obriga a desenhar nosso próprio trajeto, singular e único”

Na ponta da língua, por exemplo, além de abordar um assunto que sempre me agrada — as nuances de nossa língua — ainda me fez relembrar a época em que li Mario Prata, outro nome tão importante da crônica brasileira e que também mais de uma vez escreveu sobre as palavras e a riqueza da língua que falamos.

Também muito me agrada o texto Pizza de domingo, na qual o autor apresenta uma solução divertida para um problema que parecia insolúvel (que, claro, não comentarei aqui, deixando para que o leitor descubra qual é).

Corônica, outro jogo de palavras ótimo, é uma crônica linda, com uma lição que pode nos surpreender.

“Tem coisa mais contagiosa que vírus” 

Aniversário de 15 anos e Bate papo também são crônicas que ganharam demais meu coração. Textos que falam sobre a importância de ler, de desconectar um pouco e viver o real, o essencial, a nossa história.

“Tenho receio de que toda esta velocidade possa acabar por nos fazer menos humanos”

Crônicas e agudas, como o próprio subtítulo indica — histórias leves para divertir e fazer pensar — aborda de maneira leve, bem-humorada, clara e sincera os mais diversos temas, nos propiciando horas de uma leitura prazerosa que passa voando.

“Sim, porque maturidade não tem a ver com o simples passar dos anos, mas com a capacidade de absorver o aprendizado que a vida nos oferece e assim crescer em reflexão, bom senso e equilíbrio”

Se este livro despertou o seu interesse, entre em contato com o autor Antonio Carlos Sarmento para adquirir o seu exemplar. O contato pode ser feito por email (antoniocsarmento@gmail.com) ou Whatsapp ((21)99989-7239) e o livro pode ser enviado para todo o Brasil. Aproveite, também, para seguir o autor em suas redes sociais (Blog | Facebook).

Proibidos de esquecer — Tayana Alvez

Título: Proibidos de esquecer 
Autora: Tayana Alvez 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 528 
Ano: 2022

[leia esta resenha ao som de Pensando em você — Paulinho Moska]

Se você já viveu uma história de amor — talvez A história de amor da sua vida — e jurou que aquela seria a última após seu doloroso término, atenção para este livro.

“E é assim que eu percebo, três anos, dois meses e doze dias depois de sair de casa e jurar para mim mesmo que nunca mais me envolveria com ninguém, que estou me apaixonando”

A história de Paulo e Bianca é bem peculiar: Bianca casou-se aos 17 anos, com seu primeiro (e único) namorado; Paulo também logo constituiu família, mas um acontecimento — que vai sendo revelado aos poucos, como todos os detalhes que nos prendem a essa narrativa — nos mostra como ela ruiu de maneira irreparável. Assim como a de Bianca.

“Meu próprio filho me condenou ao inferno na Terra”

Dois corações que, mesmo após anos, ainda estão em frangalhos e que se encontram. Duas histórias bem diferentes, mas também muito parecidas.

“—  Sentir a dor é melhor do que não sentir nada. — Encolhe os ombros. — A dor é uma lembrança de que foi real…”

Aliás, é preciso dizer uma coisa: ao longo dessa história você vai sentir um nó na garganta inúmeras vezes. E vai chorar outras tantas. Provavelmente você vai se identificar em diversos pontos. Mas ao final, talvez você pense que jamais viveu algo tão forte quanto esses protagonistas. E isso é algo que torna esta história ainda mais incrível: mesmo ela estando longe de ser a sua história (ainda bem?), você vai acabar se identificando em alguma medida.

“Aquela que não carrega mais as dores, mas sempre terá as cicatrizes”

E preciso dizer que neste livro talvez esteja o ápice da representatividade que Tayana Alvez tenta sempre trazer em suas histórias, com protagonistas negras, mães solo… Para mim, finalmente uma protagonista que não bebe e que deixa isso bem claro (aliás, só fiquei curiosa com os motivos dela)!

“— Ah, eu não bebo — diz completamente sem graça. — Desculpa, eu devia ter avisado. — Sorri sem jeito”

Brincadeiras à parte, é difícil falar de Proibidos de esquecer. A narrativa já começa intensa, nos deixando claro que tem muito por vir mas, como eu disse, as peças desse quebra-cabeça vão sendo reveladas aos poucos, na medida certa.

“O que a garota me diz é triste, pesado e doloroso, mas seu tom é como o de alguém que pergunta as horas”

A leitura é catártica. Ao final, percebemos que há muita maturidade e, principalmente, muito amadurecimento. As falas e os acontecimentos impactam e é difícil não ficar com esta narrativa impressa na alma.

“Passei tanto tempo tentando encontrar minha voz que esqueci que ouvir também é necessário”

Proibidos de esquecer se passa — majoritariamente — em Búzios e o verão tem um papel muito importante na história: é a estação que permite a reconexão, tanto de Bianca, quanto, no final das contas, de Paulo.

“Vamos sarar feridas nesse verão”

A história é narrada, alternadamente, pelos dois personagens, mas Bianca certamente domina a narrativa. 

“Às vezes dá vontade de perguntar o que mais as pessoas querem de mim”

Ela, que perdeu a mãe quando ainda era jovem; que perdeu o amor da sua vida aos 20 e poucos anos; que está tentando provar — para os outros, mas também para si — que está bem, que está seguindo a vida.

“O problema com o sofrimento é que todo mundo tem um conselho para você”

Ela, que decide viver um verão inesquecível. Mas que não imaginava o quanto ele seria transformador e revelador.

“Querendo ou não, quando você se entrega totalmente a uma pessoa, você entrega sua verdade a ela também, e se tem algo que nós concordamos, mesmo que sem palavras, é que não estamos prontos para falar do passado”

Bianca passa o verão em Búzios porque é ali que sua família tem uma casa. A casa na qual ela passava o verão na infância, mas que, com a morte da mãe, acabou sendo deixada de lado, mesmo que, contraditoriamente, seu pai finalmente a tenha deixado como a mãe sempre sonhara.

“A vida não para quando alguém que a gente ama morre”

Claro que é em Búzios que Bianca conhece Paulo, o dono da sorveteria cujos sabores têm nomes bem… Exóticos (e adoráveis).

Mas quando Paulo oferece protetor solar para Bianca, na praia, ela não imaginava que ele era dono de uma sorveteria. Nem que era tão solitário. Menos ainda que carregava um fardo tão pesado e triste.

“É difícil descrever o quanto os ‘e se’ podem atrapalhar a vida de alguém”

Tentei colocar em palavras a intensidade de Proibidos de esquecer e talvez eu tenha feito parecer que essa é uma história só de tristeza, mas a verdade é que a Tayana sempre sabe equilibrar passagens mais leves e até momentos que nos arrancam no mínimo um sorrisinho de lado e nesta narrativa não seria diferente.

“E, por Deus, que sensação maravilhosa essa de contar o que a gente quer contar para as nossas pessoas favoritas no mundo”

Falei, falei e falei, mas no final das contas, não sei se consegui apresentar esta obra à altura e, infelizmente, a Tay a retirou da Amazon, por estar reestruturando a sua carreira. Ou seja, quem leu, deu sorte. E quem não leu… É torcer para ela relançar em algum momento!

Agora, se você quiser conhecer um pouco da escrita maravilhosa desta autora, já segue ela nas redes sociais (Instagram | Twitter) e vem aqui neste link ver o que ainda é possível ler de obra dela em ebook. E, claro, não deixe de garantir o seu exemplar físico de O Irlandês, em uma nova edição tão ou mais incrível que a primeira.

Antes eu do que nós — Grazi Ruzzante

Título: Antes eu do que nós 
Autora: Grazi Ruzzante 
Editora: Rocket Editorial 
Páginas: 328 
Ano: 2022

Acho que a resenha desse livro que mexeu tanto comigo tem de ser lida ao som da música que tanto mexe comigo. Então aperta o play aqui e vem descobrir mais sobre Antes eu do que nós.

“— Amiga… — Ela respira fundo antes de continuar. — A vida não é uma comédia romântica. Vai doer e não vai fazer sentido de vez em quando”

É engraçado como a (Be)Tina, protagonista desta história, poderia ser (e talvez seja) qualquer uma de nós: uma mulher incrível que não consegue enxergar isso, principalmente depois de tantas desilusões (amorosas, mas não só). 

E o melhor: ela é professora (de artes). Muito gente como a gente (ou ao menos como eu). E claro que isso contribuiu para ainda mais identificações ao longo da leitura.

“Professor nem é gente, até porque fazer planejamento em pleno domingo tá mais próximo de bicho do que de ser humano”

Em mais uma fossa, porém, Tina topa sair com Beca, sua melhor amiga, para uma balada LGBTQIA+. E o que deveria ser só diversão, sem pretensão alguma, vira mais uma história para Tina.

“Eu voltaria os ponteiros de todos os relógios da cidade só para nos dar mais alguns minutos juntos”

Sim, porque é nessa balada que ela conhece Caio, que também é protagonista nesta obra. 

“Ele me faz querer derrubar todos os muros”

Ler a história desses dois, juntos ou separados, é como ver uma sessão de terapia se desenrolando diante dos nossos olhos, pois há muito amadurecimento e muitas lições.

“Todos deveriam saber que têm essa escolha. Todos deveriam ter a chance de escolher de novo”

Aliás, ao longo da narrativa, que é em primeira pessoa, há pequenas “notas” deixadas pelos personagens. E aquelas deixadas por Tina chama-se justamente lições

“Lição de Tina: cabe mais contradição no nosso coração do que a nossa mente entende”

As notas de Caio chamam-se nota mental e, ao final da obra, Beca e João — personagem que se torna muito amigo de Caio logo no início do livro — também ganham voz e suas notas chamam-se, respectivamente, veredito da Beca e babado do João. O mais interessante, como talvez já tenha dado para perceber, é como o nome dado a esse espaço diz tanto sobre a personalidade de cada um.

“Hoje eu entendo que somos feitos das nossas histórias”

A escrita da Grazi vicia e a leitura dessa obra é extremamente leve e rápida. Mas não se engane: há muita profundidade, muitos pontos que podem doer de alguma forma e, como eu já mencionei, muitas reflexões que podem surgir ao longo dessas páginas.

“Você nunca conhece direito quem uma pessoa é de verdade até descobrir que tipo de coisa ela chama de mi-mi-mi”

Além disso, não são apenas os protagonistas que são muito bem construídos aqui, mas os personagens secundários também. Ficamos querendo saber mais e mais sobre cada um e é evidente como nenhum ali é supérfluo. É por meio também da história deles que Grazi insere temas como aceitação, preconceito, abuso, abandono…

“Eu sou um livro fechado e criptografado, mas altamente previsível. O João é um livro aberto e explícito — às vezes muito mais do que eu gostaria —, mas com uma aventura diferente a cada capítulo”

E se você está lendo essa resenha e pensando que esse é só mais um daqueles romances água com açúcar que eu amo ler e resenhar por aqui, preciso te dizer uma coisa: não, não é nada disso.

“O meu mar e o rio dela se encontram. Água doce e salgada, misturando cores, gostos e dores num só oceano”

Tem romance sim. Inclusive eu me apaixonei pelo Caio no começo do livro, mas eu sabia que alguma bomba estava por vir, afinal, era apenas o início da história. Dito e feito: a bomba veio e eu mudei de opinião.

“Como tanta coisa cabe em duas pessoas? Como tantos momentos cabem em tão pouco tempo?”

Mas não é só por isso que essa história é diferente de tantas outras. Há um plot que torna o final realmente inesperado. Necessário (ainda que a gente não queira ele dessa forma), mas inesperado.

“Alguns segredos só clareavam de verdade na escuridão do quarto”

Antes eu do que nós me fez abrir um sorrisão, me deu um leve aperto no coração, me fez querer abraçar o mundo (e os personagens). Uma leitura que acho que todo mundo deveria fazer

E se você pretende ouvir o meu conselho, adquira seu exemplar diretamente com a Grazi, ou então através do site da Rocket Editorial. Você também pode ler em ebook, basta clicar no link que deixarei abaixo.

Ah, aproveita e já segue a autora nas redes sociais (Instagram | Twitter) e, claro, vem conferir a resenha de Querida quarentena, obra em formato digital, disponibilizada gratuitamente pela Grazi.

Citações #54 — A filha primitiva

Um dos motivos pelos quais gosto de marcar e anotar trechos que me chamam a atenção nos livros que leio é que, através deles, posso relembrar a história, além de, em alguns casos, ter novos insights sobre a mesma.

Mas se tem uma coisa que não precisaria de trechos para lembrar, é da força que a narrativa de A filha primitiva, da autora Vanessa Passos, tem.

“A fome ensinava a ser criativa”

Uma histórias que vai direto e reto ao ponto e que toca em muitas feridas.

“Gente é assim, gosta mesmo é de rir das desgraças dos outros”

Uma narrativa sobre partos, não somente físicos, mas também mentais.

“Fico pensando que escrever é um parto infinito”

E, ainda, um texto que fala sobre paternidade e abandono, mas também sobre a história que nos é negada.

“A busca pelo meu pai e pela escrita caminhavam juntas”

A filha primitiva é também sobre vícios.

“Tinha esquecido que a bebida dá coragem pras pessoas”

Sobre humanidade e desumanidade (não sei se essa palavra existe, mas acho que dá para entender a ideia, né?).

“É fácil esquecer o erro de homem”

“Incrível como o ser humano gosta de se enganar”

Não se trata de uma leitura fácil, como os conteúdos já podem indicar, mas ela é necessária. Para saber mais, você pode ler minha resenha aqui e garantir o seu ebook clicando abaixo.

Urdiduras — João Bastos de Mattos

Título: Urdiduras 
Autor: João Bastos de Mattos 
Editora: Patuá 
Páginas: 144 
Ano: 2022

Aos que acham marmelada eu resenhar o livro escrito pelo meu tio, sinto muito, mas eu não poderia deixar de falar sobre essa deliciosa obra que reúne diversos contos do autor.

O prefácio, escrito por Humberto Werneck, recebe o título de “Valeu a espera” e é exatamente essa a sensação que temos aos concluir a leitura. Como ficamos tanto tempo sem poder apreciar contos tão bons?

No entanto, não é só o prefácio que já nos deixa extremamente dispostos a mergulhar nesta leitura. Se analisarmos o título e a capa, percebemos muito da intelectualidade do autor. “Urdidura” é o ato ou efeito de “urdir”, isto é, “tramar, maquinar o desenvolvimento de algo” e ainda “compor o conteúdo, o enredo de uma obra de ficção” ou “pensar ou inventar algo na imaginação”.

Vale lembrar que a palavra “texto” também vem do “entrelaçamento, tecido”. Escrever nada mais é que tecer. Emendar e remendar palavras. E, assim como na imagem da capa, composta por um lindo e colorido patchwork — ou uma colcha de retalhos — Urdiduras nos oferece um tecido cheio de nuances e belas histórias.

Contribui muito para a leitura, também, a diagramação da obra: limpa e confortável de ler, com o livro impresso em papel de boa qualidade.

Mas vamos ao que interessa, certo? Os contos de Urdiduras estão divididos em cinco partes, que não necessariamente precisam ser lidas em ordem. Os textos são totalmente independentes um do outro, mas a verdade é que é difícil pegar o livro e ler apenas um.

As cinco partes, separadas sempre por uma folha preta — daquelas que facilmente identificamos, mesmo com o livro fechado, o que facilita muito —, recebem os seguintes títulos:

  • Que amor, que sonhos, que flores…
  • As traças da paixão
  • Ainda além da Taprobana
  • Allegro ma non troppo
  • Minhas memórias dos outros

Por esses títulos, umas vez mais, temos mostras da intelectualidade do autor. Vale ressaltar, contudo, que em momento algum a leitura fica enfadonha ou difícil de entender. Muito pelo contrário, aliás: com criatividade de sobra e uma linguagem instigante, cada conto torna-se único e saboroso.

Dentre as partes já mencionadas, acredito que a minha favorita seja a última, na qual o autor brinca com personagens e pessoas famosas, construindo histórias que nos fazem pensar que poderiam ser reais (será que não foram realmente?).

E, entre os contos dessa seção em específico, um dos que mais gostei foi aquele sobre Tarsila do Amaral — História de Tarsila, nascida e nascida —, que não poderia faltar numa obra de um autor capivariano como João Mattos.

“Não sei se algum dia tirei a limpo essa história. Pra mim, uma mulher como Tarsila podia muito bem ter nascido duas vezes”

Outros contos que destaco aqui são A linguagem dos sinais — cujo título me deu um leve susto, pois, vale lembrar, quando estamos falando de Libras (o que não é o caso aqui) devemos dizer Língua (e não linguagem) de Sinais — e Assassinato em Logan Manor, que nos faz lembrar do famoso jogo de tabuleiro “Detetive”. 

“Os sinais. Eu não soube ler”

Também me surpreendi muito com Dicionário analógico, conto que o autor dedica a Chico Buarque e que, não sei se por influência da dedicatória ou não, realmente me fez sentir uma certa sonoridade e notar um jogo de palavras bem típico do cantor e compositor.

Acho que com os contos que mencionei, também deu para perceber que a obra está recheada de referências (e olha que tantas outras eu não cheguei nem perto de pincelar aqui), levando a leitura deste livro para muito além de suas páginas. 

Se eu tiver despertado a sua curiosidade, não deixe de conhecer este livro, seja adquirindo seu exemplar no site da Editora Patuá ou, se este privilégio ainda for possível, diretamente com o autor, que sempre oferece muitas boas palavras para além daquelas já impressas em Urdiduras.

O segredo de Susan — Maicon Moura

Título: O segredo de Susan 
Autor: Maicon Moura 
Editora: Publicação independente 
Páginas: 140 
Ano: 2022

Acho que dificilmente alguém não se interessa pela palavra segredo no título de um livro, afinal, são muitas as possibilidades narrativas a partir dessa simples junção de letras, não é mesmo?

Uma vez mais, o autor Maicon Moura soube fazer um bom uso dos recursos narrativos à sua disposição, construindo uma história que não apenas gira em torno de um mistério interessante, mas que também nos coloca para refletir sobre alguns elementos que nos rodeiam.

“Se isso fosse um romance, isso tudo pareceria loucura”

Como podemos imaginar, pelo título, Susan é a protagonista desta obra. Aos 12 anos (ou 11, se quisermos ser mais exatos), a pequena Susan Ernesto foi sequestrada e passou os seus 12 anos seguintes em cativeiro.

“Os hematomas em meus braços lembram aquilo que vivi”

Assim, a história se passa em dois momentos: os anos do sequestro e o presente. A obra inclusive começa no momento em que Susan chega à delegacia, após finalmente fugir do cativeiro.

“— Deve ter sido horrível ficar doze anos presa — ele diz. — Imagino como deve ter sido. 

Penso em todos que me falaram isso, imagino qual seja a fantasia que querem realizar”

O que chama a atenção, logo de cara, são as críticas que o autor vai inserindo de maneira natural, dando coesão e peso à história.

“Você lê o jornal e percebe como o sujeito que escreveu aquilo sabe como é viver em um cativeiro”

As críticas, porém, não são direcionadas a um único assunto e, se por um lado, isso faz com que o autor não se aprofunde em nenhuma das questões apontadas, por outro lado, isso dá ainda mais sentido à história como um todo.

“No mundo você precisa mudar para sobreviver”

De início, como eu disse, acompanhamos Susan voltando à sociedade e vivendo toda a fama que o cativeiro acabou gerando para ela, que se torna uma influencer conhecidíssima e disputadíssima.

Nas revistas, eles pensam que todo mundo é igual”

Alternadamente, vemos flashes do sequestro muito bem inseridos ali, mesmo quando parecem ser apenas episódio aleatórios e soltos. Isso nos faz entender a história de Susan e nos aproxima da protagonista.

Mas o ponto alto da história é que Susan se perde em seu personagem e com a aparição de Marvin nós também acabamos por nos perder. Mas não de uma maneira ruim!

“Quem sou eu? Essa é uma pergunta difícil, considerando a filosofia por trás disso tudo. Estamos presos em pessoas que falaram quem somos” 

A verdade é que já vivemos perdidos: em um mundo feito de aparências — e das aparências que queremos mostrar — é difícil saber quem cada um é de verdade. E, ao mesmo tempo, é muito fácil acreditar em qualquer um e se deixar levar pelos discursos de quem tem coragem de se impor.

O final dessa narrativa mostra justamente isso: como as pessoas — nós inclusive — se deixam levar e como isso pode trazer muitas consequências. Como é preciso que tenhamos calma no momento de processar as informações que recebemos e, principalmente, de julgarmos os outros ou darmos voz a qualquer um.

“E terão pessoas que vão duvidar de você. Que não vão acreditar no quão forte você é. Essas pessoas são as que você menos espera”

Geralmente eu tenho dificuldade de relacionar uma leitura com outra que eu já tenha feito, mas ao longo das páginas de O segredo de Susan, por diversas vezes, me lembrei de Luigi Pirandello, um autor clássico italiano que eu gosto muito. Ao final desta obra brasileira, tive ainda mais certeza da proximidade entre os escritos desses autores, mesmo que Maicon nunca tenha lido Pirandello.

Se você já leu Pirandello e duvida do que eu estou falando, leia O segredo de Susan. Se você nunca leu Pirandello, mas entendeu que temos aqui uma obra incrível para ler, baixe O segredo de Susan. E se você ainda está em dúvida… Bom, está esperando o quê para já garantir o seu exemplar e se apaixonar por essa história também?

A longa noite de Bê — Fernando Ferrone

Título: A longa noite de Bê 
Autor: Fernando Ferrone 
Editora: Publicação independente
Páginas: 348 
Ano: 2021

Muito mais que uma linda capa, A longa noite de Bê me conquistou pela sinopse, fazendo com que a obra descaradamente furasse a fila de livros por aqui.

“Acho muito legal isso de não falar sobre algo e esse algo não existir”

Devo dizer que a diagramação da obra (que li em formato físico) logo me conquistou também: é bem limpa e confortável de ler.

A narrativa realmente se passa durante uma única longa noite, mas boa parte do livro é composta de flashbacks que nos deixam a cada página mais curiosos para saber o que vem a seguir.

“Enfim, a gente é feliz quando é inocente”

Como não há um bem e um mal estabelecidos, eu fui lendo sem saber onde essa história poderia dar. E, definitivamente, não seria possível prever o fim, porque mesmo não esperando por algo em específico, há um plot twist (isso talvez soe estranho, mas lendo você provavelmente há de concordar comigo).

A história, aos nossos olhos, se constrói através de algumas vozes, que vão trazendo seus pontos de vista e suas informações. Parece haver mais pluralidade conforme nos aproximamos do final e isso também tem relação com o desfecho surpreendente.

“Porque viver é experimentar sensações diferentes. Viver é não se restringir àquilo que acham que é o melhor pra ti. Viver é descobrir do que você é capaz”

Uma das coisas que mais gostei enquanto lia foi ver o ambiente universitário ali retratado: sem glamour — assim como os próprios personagens não são nem um pouco glamourizados — nos deparamos com um ambiente cotidiano, palpável que, para quem conhece, quase se materializa diante dos olhos ao longo da leitura.

“Um cachorro sem dono entrou na sala de aula”

E olha que estou falando de uma realidade universitária bem distante da que eu vivi. Em A longa noite de Bê, os protagonistas — se é que podemos chamá-los, e somente a eles, assim — Bê, Rasta e Lila montam um laboratório amador para produzir e vender cocaína nas festas estudantis.

“O mundo da pesquisa científica também vivia de gambiarra”

Essa ação, que apesar dos pesares, apenas tinha como função ajudar financeiramente Bê, acaba desencadeado uma série de acontecimentos que nos levam à narrativa apresentada no livro, na qual também conhecemos alguns outros personagens para além desses três, que estão sempre no centro da narrativa (em especial Lila e Bê, sendo que este último já era de se esperar, pelo título da história).

“Mesmo que quem mais precisasse de ajuda naquele momento fosse ela”

Uma narrativa feita para ser saboreada e descoberta a cada linha, composta por personagens complexos, como o próprio Bê que, aos poucos, vai nos revelando traços que nos permitem compreender sua condição.

“Você não foi feito pra esse mundo mesmo, Bê”

É até difícil falar muito sobre essa história, para não correr o risco de estragar o prazer do leitor em descobrir cada reviravolta.

Contudo, também não posso deixar de mencionar como o autor conseguiu mesclar elementos de uma narrativa densa, misteriosa, com alusões e menções a elementos da cultura que nos circunda e abraça.

“Sabe aquela música? Ela era de leão e ele tinha dezesseis. Era bem isso mesmo. Só que a Lila não era de leão e você tinha já seus vinte”

Se você quer conhecer Bê, Rasta e Lila e descobrir como seus destinos se cruzam, descruzam e encontram-se de novo, não deixe de clicar aí embaixo ou garantir sua edição física nas tantas livrarias que o autor conseguiu disponibilizar sua obra. Para saber mais, não deixe de acompanhá-lo em suas redes sociais.