Morangos mofados — Caio Fernando Abreu

Título: Morangos mofados 
Autor: Caio Fernando Abreu 
Editora: Companhia das Letras 
Páginas: 188 
Ano: 2019 (1º edição)

Sinopse

Em sua obra mais célebre, publicada em 1982, quando tinha trinta e quatro anos, Caio Fernando Abreu faz transbordar de cada página a angústia, o desassossego e o estilo confessional que o consolidaram como uma das vozes mais combativas e radicais de sua época. A prosa visceral dos dezoito contos de Morangos mofados ― potencializada pela hesitação coletiva de um país que vislumbrava a redemocratização ante a falência incipiente do regime militar ― traduziu as inconstâncias humanas mais profundas e continua, ainda hoje, arrebatando leitores de todas as gerações. Para José Castello, que assina o posfácio desta edição, embora seja um livro de narrativas curtas, “a obra mantém uma férrea unidade, em torno da coragem de se despir, da fidelidade aos sentimentos mais íntimos e mesmo os mais terríveis, e ainda à dificuldade de ser”.

Resenha

Em algum momento, uns anos atrás, li algo sobre Morangos Mofados e resolvi incluir este livro na minha lista de livros desejados e no meu aniversário deste ano, este foi um dos livros que a Isa me deu de presente e logo resolvi pegá-lo para ler.

Não me lembrava que se tratava de uma antologia de contos e confesso que, num primeiro momento, fiquei em dúvida do porquê havia me interessado por esta obra, até que entendi: os contos dela retratam, em sua maioria, relacionamentos homoafetivos.

“Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também”

(Conto: Terça-feira gorda)

Os personagens, na maior parte das histórias, não possuem nome e em mais de um momento me enganei com relação ao que imaginava sobre eles (porque, claro, meu pensamento sempre acabava seguindo, mesmo que sem querer, um padrão que não era o que o autor estava retratando).

Achei alguns textos de uma poética bonita, mas que os deixam mais difíceis de ler, tornando o ritmo de leitura um pouco mais lento. Ritmo este que talvez fosse necessário para uma obra como esta.

“Sempre posso parar, olhar além da janela. Mas do interior do trem, nunca é fixa a paisagem”

(Conto: Eu, tu, ele)

As temáticas também nem sempre facilitam: falar do ser humano, da nossa complexidade, dos nossos medos, sem sombra de dúvidas não é algo que se faça de maneira simples.

“Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio”

(Conto: Caixinha de música)

A obra é dividida em três partes:

  1. O mofo — contém nove contos e é dedicada aos tempos da ditadura militar.
  2. O morango — contém oito contos e trata sobretudo das transformações interiores.
  3. Morangos mofados — contém o conto que dá nome ao livro.

Esta edição da Companhia das Letras é muito bonita: o papel tem um toque gostoso e torna a leitura confortável e as bordas são arredondadas. Além disso, ela conta com uma carta do autor a José Márcio Penido e um posfácio de José Castello, que torna toda a leitura ainda mais significativa.

“Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos — acordar, comer, caminhar, dormir —, dentro dele algo permanecia imóvel”

(Conto: Transformações)

Apesar do período em que foi publicado, Morangos mofados ainda conserva ares de atualidade (o que não necessariamente é bom). E alguns de seus trechos ganham novos e inesperados significados com o passar dos anos.

“Então pensei devagar que era proibido ou perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval”

(Conto: Terça-feira gorda)  

Todos os contos possuem uma dedicatória, o que acrescenta mais uma dimensão às narrativas e também à obra.

O texto que mais gostei foi Aqueles dois — história de aparente mediocridade e repressão. Uma das poucas histórias em que os personagens têm nome e cuja narrativa possui uma clareza deliciosa de acompanhar.

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Conhecer Morangos mofados se faz necessário em alguma medida.

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