Quais são os benefícios da leitura?

Estou um pouco indignada com o fato de ter este Blog há cinco anos, já ter escrito sobre como começar a ler ou como ler mais gastando menos e ainda como ler em outros idiomas, mas jamais ter falado (ao menos tão diretamente assim) sobre os benefícios da leitura.

Bem, antes tarde do que nunca, né?

Para corrigir esta minha falha — afinal, este espaço existe por causa da literatura e da vontade de incentivar o hábito da leitura nas pessoas — hoje eu finalmente vou falar um pouco dos talvez já tão conhecidos benefícios deste hobby.

Melhora o funcionamento do cérebro

Assim como o nosso corpo precisa de atividade física para se manter saudável, o nosso cérebro também precisa de exercícios para ficar cada dia mais forte e se manter saudável, processando, armazenando e interpretando corretamente as informações que recebemos através de cada um dos nossos sentidos.

Existem muitos tipos de exercícios para o cérebro e a leitura é, sem dúvidas, um deles (talvez o mais divertido, para quem gosta!).

Estimula a criatividade

Ao ler uma descrição (de um personagem, de um local, de uma cena), nosso cérebro cria imagens para aquilo que está apenas em palavras. E tenha a certeza: por mais que a descrição seja a mesma, aquilo que você imagina nunca será exatamente como outra pessoa imagina e essa é só mais uma das tantas magias que a leitura tem a oferecer.

O processo de criar imagens a partir daquilo que lemos é uma das tantas formas de exercitar nosso cérebro, o que torna este benefício intimamente relacionado ao primeiro.

Desenvolve o senso crítico

Ler livros diversos nos apresenta inúmeras realidades, sem que estejamos imersas nela (por mais incrível que o livro seja, jamais estamos vivendo aquelas situações literalmente na pele). Esse distanciamento nos ajuda a analisar com maior discernimento os acontecimentos e, assim, podemos avaliar situações diversas com um olhar crítico mais apurado.

Além disso, também passamos a refletir mais sobre escolhas e consequências, pois toda história — real ou inventada — é fruto do caminho que optamos seguir em determinados momentos.

Desperta empatia

Assim como a leitura desenvolve nosso senso crítico por nos apresentar diversas realidades, ela também desperta a nossa empatia, uma vez que, por meio dela, podemos conhecer pessoas e dores que jamais conheceríamos de outra forma (ainda bem?) e, assim, compreendemos que o mundo (e seus problemas) é muito maior do que poderíamos imaginar.

Reduz o estresse

Apesar de poder trabalhar com coisas reais, como já apontado em outros itens, a leitura o faz de maneira menos compromissada e mais leve. Além disso, o ato de ler diminui a nossa frequência cardíaca e relaxa os músculos, segundo apontam alguns estudos. Tem coisa melhor que ler um pouquinho antes de dormir? (confesso até que durmo melhor se consigo tirar uns minutinhos para ler antes de realmente me deitar).

Expande o vocabulário

Ao pegarmos um livro para ler, podemos nos deparar com palavras desconhecidas ou novas formas de construir frases. Assim, mesmo sem grandes esforços, podemos ampliar o nosso conhecimento e até mesmo melhorar a nossa escrita. Quanto mais lemos, mais nos acostumamos com as opções à nossa disposição e mais nos sentimos confortáveis para brincar com as palavras.

Aumenta a concentração e a memorização

Ler um texto significa compreendê-lo e, para isso, precisamos nos concentrar na informação contida naquelas palavras, para processá-las adequadamente. Além disso, precisamos ir memorizando as informações que vamos obtendo, a fim de uni-las ao final. Quanto maior o texto, mais informações teremos para processar e memorizar.

E quem lê mais de um livro ao mesmo tempo então? Exercita ainda mais todas essas capacidades, separando os acontecimentos de uma obra da outra.

Amplia horizontes

Dizem que ler é viajar sem sair do lugar e eu não poderia concordar mais com uma afirmação. Um simples livro é capaz de te levar para o outro lado do mundo, para uma cultura totalmente diversa e até mesmo para tempos distantes do nosso hoje. E o melhor: custa mais barato que qualquer passagem!

E aí, vamos começar a ler? Aproveite e comente aqui outros benefícios que você conseguiu pensar enquanto lia este post.

Ler e reler: uma teoria sobre a leitura [tradução 21]

Você tem o hábito de reler livros?

Eu não tenho (o que não significa que eu nunca releia livros, ok?), e provavelmente já falei isso aqui outras vezes. Sou daquelas pessoas que acha que a vida é muito curta para ler tudo o que queremos, então não dá para ficar relendo livros, por melhor que eles sejam.

Deparei-me, porém, com um texto muito interessante sobre o ato de ler e reler e achei que seria interessante trazê-lo aqui e saber o que você pensa sobre isso.

Você me acompanha nessa? O texto original foi postado no Il libraio, em 27 de dezembro de 2020 e aqui embaixo você encontra a minha tradução.


Por que precisamos ler? E por que, às vezes, desejamos reler um livro que gostamos? E se nós gostamos, podemos dizer que aquela obra é “objetivamente” um texto de valor? Partindo das teorias da recepção, um aprofundamento sobre a experiência da leitura, sobre o papel do leitor e sobre a nossa capacidade de compreender de verdade aquilo que lemos.

Por que temos necessidade de ler? De onde nasce essa exigência?

São diversas as razões pelas quais nos aproximamos de um texto, mas se refletirmos um pouco, podemos detectar dois motivos principais: a necessidade de conhecer informações e a busca pelo prazer estético.

Reduzidas ao máximo, as duas motivações que nos conduzem à leitura são, portanto, opostas: de um lado somos movidos pelo útil; de outro, pelo agradável.

De qualquer forma, seja qual for o motor, a leitura é uma atividade que requer um gasto de tempo e de energia e, por isso, cada leitor, quando se aproxima de um livro, espera ser recompensado pelo manzoniano cansaço de ler.

Trata-se, no entanto, para usar as palavras do crítico Vittorio Spinazzola, “em um confronto entre custo e benefício: quanto me custou a leitura daquele texto, a respeito do empenho que tive de empregar para me apropriar dele? Se se trata de uma leitura literária, a pergunta é: que riqueza e intensidade de prazer da imaginação eu alcancei?”.

O papel do leitor

Desde quando começaram a circular as teorias sobre a leitura e sobre a recepção, no mundo literário, o leitor assumiu um papel central, quase mais que o escritor e o editor: sem ele, a obra literária em si não existe, se é verdade que esta última é uma pião que ganha vida quando está em movimento, ou seja, quando alguém a lê.

Em Que é a literatura? (1947) o filósofo existencialista Jean Paul Sartre defende que sem leitores não há literatura: na prática, um livro, se não é lido por ninguém, é só um objeto material sem significado. Um amontoado de folhas cheias de palavras e tinta, sem valor algum. Existe, portanto, um vínculo fortíssimo entre quem lê e quem escreve, inclusive porque sempre se escreve para ser lido (até por si mesmo, visto que todo escritor é, antes de nada nada, leitor).

O valor de uma obra

Depois da revolução do romance, ler se transformou em um fenômeno extremamente pessoal e individual. Um gesto mudo, solitário, íntimo. Cada leitor, quando entra em contato com um texto, carrega consigo uma bagagem de conhecimentos, o seu percurso literário, um gosto pessoal e a sua própria sensibilidade. Pode-se dizer, portanto, que cada um formula juízos diferentes dos outros e que cada um desses juízos têm a sua razão de ser.

Mas então não existe objetividade na avaliação de um texto?

Não exatamente. Porque se é verdade que o juízo estético muda de pessoa para pessoa, também é verdade que o valor de uma obra literária pode ser estabelecido somente por leitores conscientes, espertos, estudiosos e literários. E não por leitores de puro prazer, para deixar claro.

Um exemplo? Eu posso dizer que subjetivamente eu não gosto de Os noivos, mas objetivamente não posso deixar de reconhecer seu valor literário. É preciso, portanto, distinguir (pelo menos no plano teórico) entre leitura de gosto e leitura de competência, mesmo que, como nos lembra Spinazzola, seja quase impossível separá-los no plano prático: “do texto provém um apelo total, que investe a globalidade das nossas atitudes: competência e gosto são duas dimensões de atividade que se reforçam reciprocamente, na concretude do ler”.

As duas leituras estão, portanto, estritamente ligadas: quanto mais me torno competente, mais meu gosto se afina. Por outro lado, o meu desejo de ser educado é feito da minha atitude, do quanto gosto ou não de ler.

Ler e reler

Vocês já se perguntaram por que releem um livro? A resposta certa, como geralmente acontece, é aquela mais imediata: relemos um livro porque gostamos dele. Porque os nossos esforços de leitura foram bem recompensados e, portanto estamos dispostos a renovar aquela experiência.

O ato de reler possui, porém, uma natureza mais profunda e consciente, e pode decretar efetivamente o valor de um texto. De um lado porque resolver voltar a um livro significa que aquele livro conseguiu satisfazer as nossas necessidades e as nossas expectativas; de outro, porque a segunda leitura será mais diligente e crítica que a primeira, na qual não podíamos estar particularmente atentos, porque estávamos nos movendo principalmente pela curiosidade (o literário Karlheinz Stierle a considera, com efeito, uma “não leitura”).

Ler uma segunda vez é, portanto, uma ação mais literária e formal: é dirigida a uma recolha das técnicas e das complexidades de uma obra, a decifrar os significados profundos, a não se deixar levar exclusivamente pelos eventos da trama. Não para exclusivamente no conteúdo e, por isso, pode compreender verdadeiramente a essência e o valor do escrito.

É sempre Spinazzola quem escreve: “segundo Gramsci o povo lê ‘conteudicamente’, procurando no apêndice melodramático uma consolação para os seus problemas e uma revanche imaginada das injustiças que sofre. Só o leitor educado literariamente educado sabe evitar as armadilhas de sonhar de olhos abertos”.

Ler com consciência

Pode-se, portanto, deduzir que ler é uma prática subjetiva que, como dissemos no início, deve satisfazer necessidades ou prazeres pessoais; reler, por outro lado, é uma ação orientada em um sentido mais objetivo, porque visa a um aprofundamento de alguns aspectos do texto — o estilo da prosa, a voz do autor, o papel e o significado social da ópera — que antes haviam passado em segundo plano.

Claro, não significa que a releitura seja sempre uma vitória, aliás, é possível que um livro que você tenha gostado uma vez possa não te agradar em uma releitura. Ao contrário, um livro que não havia agradado no passado pode nos surpreender positivamente e desmentir o juízo que havíamos feito anteriormente.

O que é certo é que para de tornar um leitor consciente é preciso ler e reler: só tendo múltiplos termos de comparação se poderá alcançar os instrumentos necessários para decifrar o valor do texto que temos diante dos olhos. E só assim poderemos finalmente nos aproximar da leitura de modo total e completo.

Ler é bom, por que nós não gostamos? [tradução 18]

Dia desses vi alguém comentando que hoje, mais do que nunca, ler é importante. Difícil discordar, né? Quer dizer, acho que ler sempre foi importante, mas às vezes a gente perde a dimensão do quanto um livro pode nos abrir muitas portas. Por outro lado, sabemos como existem muitos não leitores por aí, mesmo com tantos estudos e publicações que demonstram os benefícios que esse hábito nos traz.

E foi pensando nessas questões que me deparei com um texto (quase uma entrevista de uma pergunta só) que achei muito interessante e que acrescentou alguns pontos à minha reflexão, principalmente por mencionar o papel das escolas (e, em menor grau, dos pais) nisso tudo. O texto em questão foi publicado com o título “Leggere è bello, perché non ci piace?”, no Popolis, em 25 de julho de 2002 e, abaixo, você poderá ler a tradução que fiz dele.

Antes, porém, gostaria de ressaltar que talvez a opinião do autor possa gerar uma pequena polêmica, ainda mais se pensarmos no contexto brasileiro, que carece de tantas coisas: investimento material e intelectual, incentivos, formação adequada… Ainda assim, acredito que podemos retirar dessas palavras uma reflexão válida e que pode nos ajudar a encontrar um norte interessante e, quem sabe, até mais eficiente para o incentivo à leitura.


Prezado Mario Lodi, somos estudantes da IV de Bùssero, na província de Milão. Sabemos que ler é bom, mas nem todos nós lemos sempre de boa vontade e espontaneamente, mesmo sabendo que isso é importante para aprender a nos expressar de maneira correta, para experimentar novas emoções, enriquecer a nossa fantasia, sonhar e estimular nosso pensamento e criatividade. Por quê?

Responde Mario Lodi

Caros amigos, vivemos em um tempo em que se lê cada vez menos, sejamos adultos ou crianças. O fenômeno do abandono da leitura por parte dos jovens americanos havia se tornando quase generalizado e a opinião pública pensava que fosse por causa da televisão.

O psicólogo Bruno Bettelheim, com um grupo de outros cientistas, estudou o problema e publicou os resultados da pesquisa em um livro, traduzido também na Itália, com o título “Imparare a leggere” [aprender a ler] (Editora Feltrinelli). Eles descobriram que a culpa do abandono da leitura não era da televisão, mas da escola, ou melhor, do primeiro livro que a primeira professora oferece à criança na primeira aula, no momento “mágico” no qual ensina a usar os sinais alfabéticos para ler e escrever. Naquele momento, diz Bettelheim, as crianças estão prontas para entrar, através da leitura, nos jardins da cultura, com os livros mais lindos que existem.

As escolas, porém, oferecem às crianças de quase todo o mundo os livros mais chatos que existem, aqueles escolares, iguais para todos. Então as crianças, que são curiosas de tudo, recorrem à televisão. Mas se elas tivessem descoberto de início os bons livros, a leitura se tornaria a mais bela aventura criativa, e uma necessidade. Os pais e os professores, portanto, deveriam substituir os textos escolares e chatos, pelos livros mais lindos e adaptados às crianças de todas as idades.

E quando encontram um, deveriam ler junto, sem fazer exercícios de gramática, e depois procurar outro, e depois outro… Assim nascerá a vontade dos livros como descoberta do mundo real e fantástico. Quem não teve a sorte de, imediatamente, ler bons livros, prefere a TV, mais cômoda, e torna-se preguiçoso diante do monitor. A sua fantasia adormece, o seu pensamento para. E quando o pensamento para é quase impossível colocá-lo em movimento novamente. Boas leituras, caros amigos.


E aí, qual é a sua opinião sobre isso? Não deixe de me contar nos comentários!