Título: Pirandello em cinco atos Autor: Maurício Santanda Dias (tradução e organização) Editora: Carambaia Páginas: 184 Ano: 2017

Um título que diz muito sobre o livro: Pirandello em cinco atos nos apresenta a tradução de cinco peças deste grande autor italiano. São peças breves, de ato único, mas repletas de conteúdo. O livro está organizado, segundo explica o próprio tradutor e organizador do livro, em ordem cronológica da encenação das peças.
O primeiro texto com o qual entramos em contato é O torniquete, que se passa em uma cidade do interior (da Itália), na “atualidade” (essa peça foi escrita entre 1889 e 1900). Tal peça conta com apenas 4 personagens: Andrea Fabbri e sua esposa Giulia; Antonio Serra, um amigo do casal; Anna, a empregada do casal.
Uma das acepções possíveis para “torniquete” é “instrumento destinado a apertar ou a cingir apertando”. Nesta peça, ao descobrir que Giulia o trai com seu amigo Antonio Serra, Andrea começa a contar uma história para fazer com que sua esposa confesse seu próprio crime. Ele faz isso como se “apertasse” sua esposa.
“Nesse estado, as palavras mais inofensivas parecem alusões: cada olhar, um gesto; cada tom de voz, um…”
Pirandello em cinco atos (p.13)
Uma história bem interessante, dramática e que prende nossa atenção.
Depois, entramos em contato com Limões da Sicília, que se passa no norte da Itália também “nos dias de hoje” (esta peça foi encenada pela primeira vez em 1910). Afora os figurantes, nesta peça aparecem Ferdinando, Dorina e mais alguns criados de Sina Marnis — uma grande cantora — e de sua mãe, Marta Marnis. Por fim, temos a presença de Micuccio Bonavino, que viaja horas e horas para reencontrar sua amada cantora.
O final dessa história é bem interessante e a encenação, creio eu, pode até ser engraçada.
A peça seguinte chama-se A Patente, e não tem uma localidade precisa, como nos textos anteriores. Somos apresentados a 7 personagens: Marranca, um oficial de justiça; três juízes; D’Andrea, também este um juiz (mas o único com nome); Rosario Chiàrchiaro, personagem central desta narrativa; Rosinella, filha de Rosario.
Essa foi uma das peças que mais gostei: Rosario é chamado à presença do juiz D’Andrea, por estar movendo uma ação que certamente perderá. No entanto, nosso protagonista faz isso para provar a todos que morrem de medo dele que sua fama de mau agouro pode lhe render muito dinheiro.
Foi nesse texto, também, que li uma das melhores passagens desse livro:
“Porque o mal, minha querida, pode ser feito a todos e por todos; já o bem, só àqueles que precisam dele”
Pirandello em cinco atos (p.100)
A penúltima história de Pirandello em cinco atos chama-se O Homem da Flor na Boca. Trata-se de uma história com apenas dois personagens: o tal homem do título e um cliente. Esta peça também não tem uma localidade definida e o que achei mais interessante foi a questão da “flor na boca”, que é uma metáfora para um epitelioma que o homem traz em sua boca, um sinal de que a morte se aproxima. Acho que esse é um dos textos mais malucos desse livro, mas que pode trazer reflexões interessantes.
Por fim, temos a peça O outro filho, que se passa na Sicília, nos primeiros anos do século XX, quando muitos jovens saíam da cidadezinha em que se passa a história. Saíam em campanhas militares, em busca de uma vida melhor. Nesse texto aparecem as comadres da vizinhança e Ninfarosa, uma bela jovem; Maragrazia, uma mãe que sofre com a ausência de seus filhos; Tino, que está de partida; Jaco Spina, também da vizinhança; um jovem médico, com um coração cheio de compaixão; Rocco Trupìa, o filho bastardo.
Esse texto traz um desfecho um tanto quanto interessante e reflexivo, sobre o filho não querido por conta da forma como ele foi concebido. Um tema que, vejam só, aparece numa peça escrita há tantos anos, mas que até hoje é considerado um tabu em nossa sociedade.
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