Título: Eu quero mais Autora: Tayana Alvez Editora: Publicação independente Páginas: 359 Ano: 2019

Você já se apaixonou por um livro da primeira à última página? Mas não estou falando somente das páginas da história em si, mas também aos extras, como o prefácio ou uma nota da autora? Isso provavelmente já aconteceu algumas vezes comigo, mas dessa vez foi bem intenso.
Eu já estava com vontade de ler Eu quero mais por ter visto diversos comentários positivos sobre ele, inclusive da Camila, do A bookaholic girl. Mas depois de ler o prefácio da obra, também escrito por uma leitora, minhas expectativas foram parar nas alturas. E isso poderia ser bem ruim, porque quanto mais alta a expectativa, maior o nosso tombo. Porém, para minha sorte, não foi o que aconteceu!
“Mas naquele momento, percebi que a verdade era que eu enfrentaria tudo aquilo. A única coisa que não conseguiria enfrentar seria ele amando outra pessoa…”
Logo de cara é preciso dizer que o que diferencia essa obra dos inúmeros romances que eu tanto amo é que a protagonista é negra. Sim, infelizmente. Não, não infelizmente que a protagonista seja negra, mas que esse seja o diferencial. Infelizmente que, em pleno 2020, seja necessário falar para o mundo sobre esse livro para que, quem sabe, as pessoas comecem a refletir sobre algumas coisas.
“Eu não podia ser a morena de ninguém, porque eu não sou morena”
Podemos dizer que em Eu quero mais, temos três personagens centrais: Elizabeth, essa mulher negra que luta contra o preconceito em suas mais diversas formas e que passa uma imagem de mulher forte e destemida, mas que guarda no coração uma história muito complicada; Joaquim — ou Joca — melhor amigo de infância de Elizabeth e também seu primeiro amor e primeiro “namorado”; e Breno, o cara que está ali para nos lembrar que as aparências enganam sim.
“Eu não queria que a gente fosse essa bagunça tão grande”
Não bastasse a vida de Elizabeth ser difícil por si só, ela e Joca têm de viver uma relação extremamente complexa. Ambos se conhecem desde a infância, pois Joca era melhor amigo de Paulo, irmão de Elizabeth. Aos pouco, a dupla inseparável se torna um trio, mas a amizade entre Joca e Elizabeth também se torna algo mais. E a proximidade entre eles acaba por afastar Paulo.
“Você também já engoliu alguns sapos e ninguém pode viver a vida inteira assim”
Esse afastamento precisa ser mencionado pois ele traz muitas consequências para a história. Não se trata de um simples distanciamento entre irmãos ou amigos de infância, mas algo que vai mexer com o futuro de nossos protagonistas e, principalmente, com a autoconfiança de Elizabeth.
“E você só não se vê como eu te vejo porque acredita mais no espelho do que no seu coração”
As relações familiares de Elizabeth, aliás, são construídas de maneira bem interessante nessa obra. Tendo crescido em Campos, uma cidade do Rio de Janeiro que, pela descrição, me pareceu relativamente pacata, Elizabeth teve uma infância feliz (apesar de ter poucos amigos na escola, justamente por ser negra) ao lado de seus pais e seu irmão. Quando esse dois últimos se afastam, porém, Elizabeth também acaba se afastando um pouco da mãe, pois — palavras da protagonista — ela optara por tomar partido do filho. A sua ligação com o pai, contudo, é admirável e rende lindos diálogos ao longo do livro.
“Não aguento mais ver você se submeter aos tombos da vida como se eles tivessem sido feitos para você não levantar”
Depois que Joca se muda para o sul do país, não há mais nada que prenda Elizabeth a Campos. E sim, ela é aquele tipo de protagonista livre, que quer viver a sua história de maneira plena. E é assim que ela se muda para São Paulo, onde conhece Breno.
“Ele era um cara legal, mas não me conhecia, não sabia nada sobre mim na verdade”
Breno era um mineiro, com um jeitinho nerd e poucos amigos na faculdade. Elizabeth tromba com ele em seu primeiro dia e eles logo viram amigos. E apesar de todo o amor que ela sente por Joaquim, ela também acaba se apaixonando por Breno. E é aí que o problema começa…
“Breno conhecia quem eu era por causa da vida, mas não sabia como a vida tinha me moldado até aquele momento”
Eu quero mais, porém, é uma história construída de maneira a nos deixar — até determinados momento, claro — um pouco em dúvida sobre qual lado “torcer”. Enquanto a relação entre Elizabeth e Breno — apesar do pesares — ter um certo ar de calmaria, de estabilidade, a relação entre ela e Joaquim parece fervilhante, intensa.
“Afinal, a história não é sobre com quem a garota fica no final, mas sobre o que faz a garota feliz”
Eu simplesmente não conseguia largar esse livro. Cada personagem que aparece ao longo da trama não está ali por acaso. Até mesmo Aline, a garota que divide o apartamento de São Paulo com Elizabeth e que, de início, mal dá as caras, vai, aos poucos, se revelando. E eu poderia passar horas e horas escrevendo sobre cada um dos outros personagens, mas essa resenha talvez já esteja longa demais…
Se eu fosse você, não deixaria de ler esse livro. Uma obra nacional imensamente rica, com menções inclusive à nossa História e que aborda temas que ainda precisamos discutir muito. E não estou falando apenas de racismo, mas também de relacionamentos abusivos, gaslight e saúde mental.
“Às vezes o peso me desequilibra”
Já se convenceu que está na hora de ler “Eu quero mais”? Então clica aqui.
Poucas resenhas desse livro me deixaram tão realizada. E não só porque você gostou da história, mas porque você a entendeu, você entrou de cabeça e deixou a Elizabeth te contar a história dela sem querer decidir o que ela faria, ou melhor, “o que você faria se fosse ela” isso nunca dá certo, pq você não é ela.
A Lizzie toma decisões que eu odiei veementemente, mas eu não podia alterá-las.
Ler o que você escreveu fez com que meu coração se enchesse <3
Obrigada, mesmo!!!
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Aaah, caramba! Que coisa gostosa receber esse comentário! Inclusive, lembrei que eu queria falar sobre o que você escreveu também ao final do livro, sobre não gostarmos dele. IMPOSSÍVEL!
Eu realmente esperava qualquer final para essa história e estava muito disposta a ver como tudo se encaminharia a ele. E foi um prazer imenso conhecer uma protagonista tão autêntica e tão… Real. No final das contas, nossas vidas são assim, não são? Então quem somos nós para julgar qualquer coisa? Errar faz parte também.
Eu quem agradeço por esse seu livro e por você ter passado aqui!
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