
Chegou o meu momento de falar sobre algo que provavelmente é bem desconhecido/ incompreendido entre os alunos de pós-graduação, mas que, ao mesmo tempo, tem uma grande importância. E eu tive o privilégio de aprender quase na prática sobre como isso funciona.
Como vocês viram no título, hoje é dia de falar sobre a avaliação da CAPES. Mas o que é isso? Para que serve? E o principal: o que você, aluno, tem a ver com isso? Bem, vamos por partes.
Para começo de conversa, o que é CAPES?
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), é um órgão do Governo Federal — ligado ao Ministério da Educação — que visa promover e manter a qualidade das pessoas envolvidas na pesquisa científica e educação superior brasileiras. Para isso, portanto, tal órgão precisa realizar avaliações periódicas, as tão temidas Avaliações CAPES.
Por que temidas? Bem, em primeiro lugar porque elas são confusas e trabalhosas! E o que eu quero dizer aqui é que as pessoas diretamente envolvidas com um programa de pós-graduação — isto é professores, funcionários e alunos — têm de fazer uma série de coisas que, no final das contas vão facilitar um pouco o trabalho da CAPES. E essa série de coisas culminam no relatório CAPES (mas calma, daqui a pouco a gente chega nele).
A avaliação CAPES é dividida em duas: a Coleta CAPES, que acontece anualmente e a Avaliação Quadrienal que, como o próprio nome já diz, acontece a cada quatro anos (e aliás, 2020 encerra mais um quadriênio da CAPES… Que ano para isso, né?).
As avaliações anuais são mais um “acompanhamento” do que está acontecendo e uma preparação para a avaliação quadrienal, que é de extrema importância para os programas de pós-graduação. É na avaliação quadrienal que os programas recebem o conceito CAPES, que é uma nota que, de certa forma, determina o reconhecimento daquele programa. Mas também é algo que vai muito além disso. Veja:
Para os programas de mestrado, o conceito máximo é 5 e a classificação se dá da seguinte maneira:
Conceitos 1 e 2: um programa que recebe um desses conceitos é CANCELADO. Isso mesmo, para de existir e ser reconhecido. Começaram a perceber a importância dessa avaliação?
Conceito 3: o programa é SATISFATÓRIO, ou seja, pode existir e funcionar, mas tem que melhorar muito.
Conceito 4: o programa tem um bom desempenho, mas não é exatamente “de excelência”.
Conceito 5: o sonho distante de muitos, um programa de qualidade reconhecida pela CAPES e qualquer outra instituição.
Olhando só essas informações vocês talvez pensem: bom, então o ideal é ter uma nota 4 ou 5, sendo que não faz tanta diferença assim uma ou outra. ERRADO. Porque esses conceitos não são apenas uma questão de dizer “olha, parabéns pelo trabalho de vocês”. Eles determinam a verba que poderá ser destinada ao seu programa. Sim, estamos falando de bolsas de estudos e de financiamento de pesquisas, de participações em eventos científicos e tudo o mais.
E por que as avaliações CAPES são confusas e trabalhosas? Bem, imaginem que uma avaliação desse porte, para ter alguma eficácia, precisa analisar muitos pontos. Além disso, com o intuito de cada vez mais aprimorar essa avaliação, ela está constantemente mudando. Ou seja, em um determinado ano os avaliadores dão mais importância a determinado ponto do relatório CAPES e, no ano seguinte, é outro elemento que ganha essa importância. Acontece que o que é avaliado é fruto de ao menos um ano inteiro de trabalho, então não é tão fácil assim se adequar a regras e conceitos que sequer sabemos exatamente quais são.
Um exemplo mais concreto: imaginemos que na coleta do ano passado a CAPES avaliou melhor programas com um bom número de publicações em revistas científicas. Ótimo, então este ano vamos investir em publicações! Mas aí, próximo à nova coleta, descobre-se que, este ano, programas que investiram no seu relacionamento com a sociedade terão uma avaliação melhor. E aí, como é que fica?
E para vocês terem uma ideia, aqui vão algumas das coisas avaliadas pela CAPES: publicação de artigos (tanto por parte dos professores quanto por parte dos alunos), quantidade de alunos e a quais linhas de pesquisa eles pertencem, pessoas que já não são alunos (os egressos) e no que elas atuam, integração da pós-graduação com a graduação e com a sociedade, intercâmbios, eventos, histórico do programa, disciplinas dadas…
O documento de referência para analisar tudo isso é o tal do Relatório CAPES, um documento extremamente extenso (como bem se pode imaginar) e que deve ser redigido anualmente.
E agora a grande pergunta que não quer calar: onde entram os alunos nisso tudo?
Quem melhor do que você para dizer o que fez durante o ano e que possa ser importante para o seu programa de pós-graduação? Quem melhor que você para dizer a quais eventos científicos foi, que monitorias deu, como está o andamento da sua pesquisa, que outros projetos realizou?
O que os programas fazem — ao menos o meu e muitos outros da universidade que frequentei — é solicitar, ao final do ano, que os alunos preencham um formulário com todas essas informações, facilitando, assim, a escrita do relatório CAPES, uma vez que, claro, esses formulários já são separados de acordo com os tópicos necessários para a redação do relatório. Porém, ajuda ainda mais quando os alunos preenchem o formulário corretamente e com as informações completas.
Como e por que eu sei de tudo isso? Porque fui estagiária do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas e por dois anos seguido ajudei na elaboração do relatório CAPES. Muitas das coisas que fiz foi um trabalho meramente braçal, de copiar as informações dos formulários e organizá-las de forma a ajudar na elaboração do relatório. Mas em alguns momentos também tive de bancar a detetive para compreender informações incompletas.
E tem outra coisa: imaginamos que nossas obrigações terminam quando entregamos a dissertação, mas, como egressos de um programa de pós-graduação, precisamos atualizar nossas informações para o relatório capes por mais cinco anos (afinal, tem o item que avalia o que estamos fazendo depois de termos conquistado nosso título de mestre, para averiguar a relevância deste em nossa carreira). Só que as pessoas esquecem/não sabem disso e aí temos de ficar correndo atrás de cada uma, como se todo o resto já não fosse trabalho suficiente.
Gostaria de encerrar esse post com um conselho e uma dica:
Conselho: mantenha o seu Lattes atualizado. Isso é ótimo não apenas para ajudar a você mesmo com o preenchimento do formulário para o relatório CAPES, mas também para a sua vida acadêmica, afinal esse é o seu “perfil profissional”, requisitado inclusive em concursos públicos.
Dica: faça um “diário CAPES“, isto é, crie um documento ou uma pasta e anote TUDO o que você fizer e que tenha relação com seu mestrado, sua pesquisa, sua vida acadêmica. Se você já conhecer o formulário que terá de preencher depois e ainda conseguir organizar suas informações na ordem certa e com as informações necessárias, melhor ainda. Isso vai tem poupar muito tempo e evitar muita dor de cabeça. Pense que, geralmente, o formulário é enviado no final do ano, naquela época mais corrida, mais cheia de festas. Então, como sempre, não deixe tudo para o último momento.
2 comentários em “Desmistificando o mestrado [13] — Avaliação CAPES”