Amor I love you — Marisa Monte

Em junho eu tive a grande oportunidade de ouvir Marisa Monte ao vivo e, desde então, tenho estado um pouco (muito) mais fascinada com essa artista e, sobretudo, com suas músicas, que falam tão bem dos mais diversos momentos de nossas vidas.

Foi durante o show — num momento um tanto quanto chocante, diga-se de passagem — que me veio o estalo de que eu ainda não tinha trazido para cá a música Amor I love you e, principalmente, a intertextualidade que acontece nela. Mas vamos por partes.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que o “momento chocante” do show foi perceber que ninguém mais ninguém menos que o próprio Arnaldo Antunes subiu ao palco para recitar os 10 segundos da obra que dialoga diretamente com Amor I love you. E é a partir daqui que este post começa de verdade.

Amor I love you faz parte do álbum Memórias, Crônicas e Declarações de amor, gravado em 2000. A letra foi composta por Carlinhos Brown e Marisa Monte e, como mencionado, conta com uma participação especial do Arnaldo Antunes.

Num primeiro momento, pelo título e pela letra, parece apenas mais uma música romântica, uma declaração de amor. Mas, basta um olhar mais atento e percebemos que esse é… um amor que não pode ser declarado e vivido como se espera?

É, é só assistir o clipe oficial (que colocarei ao final deste post) e essa suspeita acaba se confirmando: um casal idoso, apaixonado, mas cuja mulher esconde um grande segredo. Seu verdadeiro amor não é o seu marido.

Quando chegamos na metade da música, tudo se confirma: Arnaldo Antunes entra recitando Primo Basílio do Eça de Queirós, uma obra literária com a seguinte sinopse:

“Durante uma viagem prolongada de seu marido, Luísa se deixa seduzir por Basílio, um primo seu que voltava a Portugal depois de uma temporada no Brasil. Imprudentes e indiscretos, os amantes acabam flagrados por Juliana, a empregada da casa, que passa a chantagear a patroa. Com o anúncio da iminente volta do marido, está armado o cenário para um caso exemplar de decadência do estilo de vida pequeno-burguês, com seus preconceitos e moralismos, seus tipos parasitários, suas relações amesquinhadas e seu frágil equilíbrio” 

Uma história em que a protagonista busca amor e romantismo (como a música parece carregar quase em excesso) e acaba por encontrá-los não em seu “verdadeiro” relacionamento, mas no amor e na atenção que lhe são entregues fora do casamento.

E por que a música, sendo inspirada em uma obra literária portuguesa, carrega em seu título e refrão a expressão do amor em inglês?

Aqui são muitas as explicações possíveis. A começar pelo fato de que, inserindo I love you, o amor expresso na música torna-se quase “universal”.

Mas há também a época em que a música foi gravada. Se hoje ainda somos muito “submissos” à cultura norte-americana, antes talvez fôssemos ainda mais.

E ao cantar esse amor verdadeiro, mas não “tradicional”, com um romantismo exagerado, Marisa Monte (e Carlinhos Brown) também ironizam um pouco daquilo que se via como o melhor que se produzia em termos de cultura (músicas melosas e com backing vocals igualmente melosos).

Lendo agora o texto (e a citação) de Amor I love you o que você acha disso tudo? Eu só acho tudo ainda mais genial agora que parei para refletir sobre o assunto.

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma, me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo, caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É o espelho sem razão
Quer amor, fique aqui

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor que está aqui

Amor, I love you
Amor, I love you
Amor, I love you
Amor, I love you

Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam
Aquelas sentimentalidades

E o seu orgulho dilatava-se
Ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido
Que se estira num banho tépido

Sentia um acréscimo de estima por si mesma
E parecia-lhe que entrava
Enfim, numa existência
Superiormente interessante

Onde cada hora tinha o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase
E a alma se cobria
De um luxo radioso de sensações!

Amor, I love you
Amor, I love you
Amor, I love you
Amor, I love you

O “sol” na música

Introdução

Não, este não é um post sobre a nota musical, mas sobre o astro que nos ilumina cotidianamente.

Outro dia, ouvindo um pouco de música brasileira, parei para pensar na quantidade delas que usa o termo “sol” como sinônimo de coisas boas — principalmente esperança e vitalidade.

Nessas letras, mais do que ser o nosso astro rei, o sol funciona como um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a luz ainda está lá e a paz e serenidade que tanto buscamos há de chegar.

Algumas músicas com “sol”

Garanto que só de ler esses parágrafos iniciais você já conseguiu pensar em alguns exemplos de músicas que serviriam para ilustrar este post. Bem, algumas eu realmente já até apresentei aqui pelo blog, como Enquanto houver sol e Mais uma vez. Mas também consigo mencionar, de cara, músicas como Primeiros erros (Capital Inicial) e, sendo mais óbvia, O sol (Jota Quest).

Se o meu corpo virasse sol
Minha mente virasse sol
Mas só chove e chove
Chove e chove

(Primeiros erros — Capital Inicial)

Se continuarmos na busca por músicas que tenham o sol como metáfora para as coisas boas já mencionadas, também encontraremos canções como Sol de primavera (Beto Guedes), Consciência (Cidade Negra) e Sol (Vitor Kley). Ou seja, apenas para citar alguns exemplos, músicas para todos os gostos e épocas.

Mas por que o sol?

A pergunta que fica é: por que há tantas e tão variadas músicas que usam da figura do sol para destacar algo positivo, inspirador e que nos impulsiona a seguir em frente?

Esse uso é comum a diversas culturas ao redor do mundo, desde a antiguidade, e podemos apontar variados motivos para isso.

A começar pelo fato de que o sol é fonte de vida e energia. Ao fornecer luz e calor, o astro rei permite o crescimento das plantas, a produção de alimentos e o funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, da nossa existência. 

Ô, sol
Vê se não esquece
E me ilumina
Preciso de você aqui

Ô, sol
Vê se enriquece
A minha melanina
Só você me faz sorrir

(Sol — Vitor Kley)

Mas o sol, com o seu ciclo diário de nascer e se pôr, representa também a renovação, o recomeço. Cada novo amanhecer traz consigo a promessa de um novo começo, independentemente do que tenha acontecido no dia anterior. Vai me dizer que você nunca foi dormir com a esperança de que seus problemas ficassem para traz?

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

(Sol de primavera — Beto Guedes)

O sol também é associado à ideia de iluminar caminhos, trazer clareza mental e revelar soluções porque é ele que dissipa, no mundo concreto, a escuridão da noite e, com ela, passando para o plano da metáfora, as sombras e os medos.

Vamos senti-la bem no fundo do ser
Clara luz do saber
O Sol nascente, o Oriente, a Luz eterna, o ser consciente

(Consciência — Cidade Negra)

Além da importância prática já mencionada, o sol é frequentemente admirado por sua beleza e grandiosidade, inspirando sentimentos de reverência e gratidão, que nos levam a produzir uma arte mais suave, leve e positiva. 

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha sol
É pra lá que eu vou

(O sol — Jota Quest)

Por fim, como não poderia deixar de ser, o sol, em diversas culturas, é visto, por si só, como um símbolo de esperança e otimismo. Sua presença constante, mesmo durante os tempos mais sombrios, representa a crença de que há sempre uma luz no fim do túnel e que dias melhores virão. E sempre vêm, não? 

E aí, que músicas com “sol” você conhece? Não deixe de me contar nos comentários. 

Sangrando — Gonzaguinha

Outro dia, ouvindo a música Sangrando, fiquei com vontade de trazê-la aqui e já não sei mais direito o motivo, para além do fato de ser uma linda canção.

A música em questão faz parte do disco de Gonzaguinha De volta ao começo, lançado em 1980.

Os primeiros versos da canção introduzem de maneira poética o seu argumento central: a necessidade de colocar em palavras aquilo que está dentro de nós e, principalmente, que as pessoas compreendam essas palavras, que busquem o significado daquilo que está sendo dito, pois também fiz respeito a elas (e às suas lutas). 

Em se tratando de uma música cantada, também podemos interpretar esses primeiros versos como um eu-lírico cantor que está, ali, falando sobre a necessidade de cantar e ser cantado.

Quando eu soltar a minha voz

Por favor entenda

Que palavra por palavra

Eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca, peito aberto

Vou sangrando

São as lutas dessa nossa vida

Que eu estou cantando

Vale lembrar que o verbo “sangrar” — que sozinho dá nome à canção — não significa apenas “derramar sangue”, mas também “dilacerar”, “entristecer”, “atormentar”, definições que também se encaixam nesta música.

Lá para o meio da canção, chegamos ao ápice do sentimento e da força do cantor. E ele ainda afirma que as palavras contidas nessa letra são também fruto do que ele vive e de como tudo isso é intenso e verdadeiro.

Quando eu abir minha garganta

essa força tanta

Tudo que você ouvir,

esteja certa

que estarei vivendo

Veja o brilho nos meus olhos

e o tremor nas minhas mãos

E o meu corpo tão suado,

transbordando toda raça e emoção

Por fim,  os versos finais, com o que resta de força, o cantor reitera mais uma vez que o que ele retrata ali é a sua vida e, acrescenta, o seu amar.

Cantar é o que move o eu lírico dessa canção e, ao final da música, há também um apelo para que todos nós cantemos, porque é isso que move aqueles que vivem de produzir e reproduzir músicas. 

E se eu chorar

e o sol molhar o meu sorriso

Não se espante, cante

Que o teu canto é minha força pra cantar

Quando eu soltar a minha voz

por favor, entenda

É apenas o meu jeito de viver

O que é amar

É possível extrapolar a música para além desse arte: todo artista vive daquilo que produz e precisa ser apreciado e consumido, não apenas para ter seu retorno financeiro, mas também para ter forças para continuar. 

Se quiser ouvri a música completa, é só dar o play abaixo! E depois não esquece de me contar o que achou (não só da música, mas também do texto trazido aqui).

Açaí — Djavan

Acredito que eu já tenha falado isso por aqui antes: sou fã de Djavan. E é perceptível como, muitas vezes, ele é um compositor incompreendido.

O maior exemplo disto é, provavelmente, a música Açaí, que foi lançada no álbum Luz, em 1982.

Famosa por seu refrão “açaí, guardiã / zum de besouro, um ímã / branca é a tez da manhã”, essa música é uma das responsáveis por colocar Djvan no papel de compositor de músicas nonsense (ou seja, sem sentido).

O próprio cantor, no entanto, já explicou que Açaí só é nonsense para quem não conhece a cultura do norte e do nordeste brasileiro. Alagoano de nascença, ele deve saber do que está falando.

Para compreender melhor tudo isso, porém, vale a pena dar uma olhada em toda a letra da música — que é bem curta —, uma vez que ela traz uma narrativa que aparece desde o seu início.

Na primeira estrofe, o compositor fala sobre a solidão e, para isso, ele traz imagens que nos transmitem esse sentimento, como a “poeira tomando assento” ou seja, baixando no solo, e o “som de assombração” feito pelo vento, aquele barulho meio assustador que se amplifica em lugares ermos e silenciosos e que realmente nos dá a impressão de uma assombração.

Solidão de manhã
Poeira tomando assento
Rajada de vento, som de assombração
Coração sangrando toda palavra sã

Passando para a segunda estrofe, Djavan começa a tratar da paixão.

“Afã” é uma palavra que possui significados diversos, mas podemos entendê-la, nesta música, como uma aflição, uma ansiedade, coisa que ganha ainda mais força com as imagens que a seguem e que representam algo instável, passageiro e ilusório, como vemos em “castelo de areia” e na “ilusão” da “ira de tubarão”.

A paixão, puro afã

Místico clã de sereia, castelo de areia

Ira de tubarão, ilusão

O Sol brilha por si

Provavelmente o cantor está querendo nos contar de um amor que passou e que o deixou à deriva, teoria que consegue dar um sentido à união da primeira estrofe (solidão) com a segunda (paixão).

Por fim, chegamos à última estrofe, tão discutida desde o seu lançamento. Após a solidão e a paixão que acabou, aqui temos versos que trazem certa paz e quase nos dão a sensação de que tudo pode ficar bem.

Isso porque “açaí, guardiã” faz referência ao pé de açaí, tão importante na cultura nortista e nordestina. Realmente um guardião da vida, gerador de riquezas locais.

O “zum de besouro”, ao contrário do “som de assombração” é aquele barulho que, mesmo incômodo, nos atrai e hipnotiza (como uma imã). 

E, para concluir, a brancura de uma manhã que se inicia com aquela neblina que precede um lindo dia de sol. 

Açaí, guardiã
Zum de besouro, um ímã
Branca é a tez da manhã

Nos poucos versos que compõem esta canção, fica evidente a presença da natureza, quase sempre em seu sentido literal, ainda que, por vezes, a inversão no uso de alguns termos torne a frase um pouco mais difícil de compreender (principalmente na última estrofe).

É justamente a natureza, aliás, como fica evidente na última estrofe, que ajuda o eu lírico a se distrair e esquecer um pouco da solidão deixada pela tal paixão acabada.

Para coroar toda a letra da música, temos que levar em conta, ainda, o ritmo da música e a forma como ela é cantada pelo próprio compositor. Palavras faladas aos poucos, num crescendo que acompanha o ritmo.

Agora me conte: você ainda acha essa canção tão estranha assim?

Para fechar com chave de ouro e, como de costume, te deixo com a música em questão, para que você possa ouvir e curtir.

Brasileira academia — Moraes Moreira

Literatura e música são minhas paixões e não escondo isso de ninguém (até porque eu nem conseguiria). 

Encontrar um livro que fale de música ou uma música que fale de livros é sempre um doce acontecimento. 

Por isso não tinha como eu não me encantar com Brasileira academia, música de Moraes Moreira lançada em 2012, no álbum A revolta dos ritmos, pela Biscoito Fino.

O interessante é que este álbum é uma celebração aos diversos ritmos da música brasileira e, ao mesmo tempo, consegue ser uma celebração à toda a cultura de nosso país, homenageando também escritores, poetas e compositores, como podemos ver justamente na música escolhida para este post.

Ao iniciar a letra da música, Moreira menciona que é de um país e, mesmo sem usar seu nome, logo sabemos de que país se trata, pois ele enumera personalidades literárias daqui, começando por aquele que talvez seja o mais conhecido de todos: Machado de Assis.

Em seguida, o compositor cita outros grandes autores sem, contudo, colocar seus nomes de maneira mais completa. E mesmo assim, continuamos a reconhecê-los ao longo do texto: Guimarães (Rosa), (Manuel) Bandeira, (Carlos) Drummond (de Andrade), Darcy (Ribeiro), Anísio (Teixeira), Afrânio (Peixoto), (Jorge) Amado, (João) Ubaldo (Ribeiro), (Gregório de Matos) Boca do Inferno, Gonçalves (Dias), Gilberto (Freyre), Ariano (Suassuna), Patativa (do Assaré), (Luís da Câmara) Cascudo, (Mario) Quintana, (Luís Fernando) Veríssimo, Rubem (Alves), Vinícius (de Moraes), Clarice (Lispector), Rachel (de Queiroz), (Augusto) dos Anjos, (Augusto de) Campos, João Cabral (de Melo Neto).

Mas Machado de Assis não é o único mencionado com o nome completo pelo qual o conhecemos. Há também Castro Alves, Oswald de Andrade, Euclides da Cunha, José de Alencar, Olavo Bilac e Rui Barbosa.

Através destas figuras, Moraes Moreira também consegue fazer uma viagem do norte ao sul do Brasil, passando pelos sertões, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte (e também do Sul).

Vale lembrar, ainda, que a menção a tantos nomes e o título da música não são mero acaso: muitos dos escritores mencionados (mas não todos) estão entre os membros da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Deixo aqui a letra e a música, para que você também possa apreciá-la.

Brasileira Academia (Moraes Moreira)

Eu sou de um país

Machado de Assis

De lá dos sertões

Eu sou Guimarães

Divino é o dom

Bandeira e Drummond

Darcy e Antônio

Anísio e Afrânio

Amado e Ubaldo

Sou mesmo baiano

Maldito e eterno

Boca do Inferno

Eu sou Castro Alves

Até sou Gonçalves

Um Pernambucano

Gilberto e Ariano

Um ser paulistano

Sou Oswald de Andrade

Eu mudo de alcunha

Euclides da Cunha

José de Alencar

A chama está viva

Eu sou Patativa

E sou do Rio Grande

Do Norte contudo

Antigo e Cascudo

Piano e fortíssimo

Quintana e Veríssimo

Também sou do sul

E sob os auspícios

Sou Rubem, Vinícius

O Rio e o céu

Clarice, Rachel

Dos Anjos, de Campos

Augustos são tantos

Conforme o sotaque

Olavo Bilac

Sou pedra e pau

Eu sou João Cabral

Dois dedos de prosa

Eu sou Rui Barbosa

Poeta, poesia

De uma academia

Chamada Brasil

Dois dedos de prosa

Eu sou Rui Barbosa

Poeta, poesia

De uma academia

Chamada Brasil

Brasil

Brasil

Teresinha — Ana Larousse

Tem música que a gente houve e que nitidamente percebe uma história se desenrolando em forma de poesia cantada. Teresinha, de Ana Larousse, é uma dessas canções.

Toda vez que ouço esta música, é difícil não vislumbrar as imagens que são tão bem colocadas ao longo dos versos dela.

A música em questão faz parte do álbum Tudo começa aqui, lançado pela cantora em 2013 e cheio de outras músicas que carregam doçura, sentimentos e, claro, histórias.

Teresinha traz uma homenagem à vó de Ana. Com uma letra cheia de sentimentalidade e uma melodia gostosa de se ouvir, é difícil não se encantar por esta narrativa.

Acho que nas primeiras vezes em que ouvi a canção, me chamaram a atenção frases como “ela guiava colada no volante” e “e reclamava, tudo bem, do jeito dela”, pois são imagens tão comuns, mas ao mesmo tempo, tão únicas dentro da história aqui contada.

Ao mesmo tempo em que há imagens concretas, como o cabelo pintado de vermelho e o biscoito e o café para ir embora, a música também tem diversas imagens abstratas, como o velho tempo que entra e a hora de dormir em paz, que dão ares melancólicos à historia, nos fazendo entender que ela teve o seu fim.

Tudo que até aqui mencionei culmina com o final triste da música — também marcado pela diminuição do ritmo da própria melodia —, que talvez só quem já perdeu uma pessoa tão importante pode entender: a dificuldade em dizer adeus, o medo de ficar só e a capacidade de compreender que a morte também faz parte do ciclo da vida.

Deixo, abaixo, a letra completa da música, e também o vídeo, para quem quiser ouvir e se deliciar com ela.

Teresinha (Ana Larousse)

Ela pintava o cabelo de vermelho
Deixava os óculos do lado do chuveiro
Pra não cair
Deixava o velho tempo entrar
Ela guiava colada no volante
Rezava o terço pra cuidar do outro instante
Então vai
Que o tempo tá batendo atrás
E é hora de dormir em paz
Que falta você vai fazer
A casa é grande pra você
O medo te apagou, eu sei
Num carro azul 15 quilometros por hora
O mesmo biscoito e o café pra ir embora
E anoitecer
O riso que eu vi crescer
Ela esperava os filhos na janela
E reclamava, tudo bem, do jeito dela
É muito tempo eu sei
A vida cansa pra valer
Eu mesma vou adoecer
Talvez antes de ter historias pra contar
Antes de ver o amor passar
Isso deve doer
Ela fez a vida dela e de outros cinco
Se eu bem me lembro
Eu tava no colo dela
Ela guardou a minha infância no porão
Ela cuidou pra gente sempre se lembrar
Que antes era eterno
Mas tudo vai e volta só
Então vai que eu fico só a lembrar
Do tempo que era bom
Pé-de-manga, banhos de chuva
Jogar cartas, guaraná
Cor na poça d’água
Eu sei, morrer não dói
Mas ir embora nunca é fácil
Me ensina a dizer adeus
Me ensina a tricotar
Me ensina a cozinhar como você
Me ensina a não crescer só

Aos meus heróis — Julinho Marassi e Gutemberg

Para variar, estava eu ouvindo recomendações do Spotify quando a música que hoje trago aqui começou a tocar. 

Não me lembro se algo do início dela chamou a minha atenção, mas quando percebi que havia referências a outras músicas e nomes da MPB, parei seja lá o que eu estava fazendo para ver que música era essa.

Até o momento de sentar e escrever esse post eu nunca tinha ouvido falar em Julinho Marassi e Gutemberg, a “dupla número 1 da região sul fluminense”. Você já ouviu falar deles?

A música que trago aqui foi composta em 2001 e gravada pela primeira vez em 2002, no CD Julinho Marassi & Gutemberg Ao Vivo.

Como eu disse, o que me chamou a atenção na música foram as referências. Ao menos as que entendi, já que, pesquisando um pouco, descobri que elas somam quase  trinta.

Olhando a letra toda, porém, também achei interessante o início, no qual os compositores traçam uma crítica ao excessivo uso da televisão, o gradual abandono do uso da criatividade e o consequente empobrecimento das produções artísticas

Os músicos ainda fazem uma ressalva de que a crítica não é voltada aos jovens, ainda que haja um direcionamento maior desta para o “pancadão” que, conforme a letra, não deveria ser a única opção.

Depois disso, a música se volta para o passado — mais ou menos distante —, fazendo a sua ode aos nossos artistas.

É interessante que a composição cita os nomes dos artistas, de maneira que é bem fácil encontrar os homenageados, mas também há, em diversos casos, menções a músicas ou versos, que demandam um pouco mais de conhecimento das obras desses cantores e compositores.

É o caso de “Se eu quiser falar com Gil”, que faz referência a Se eu quiser falar com Deus (essa era fácil, vai?), ou então ao fato de haver a pergunta “O que será que o nosso Chico tá escrevendo?”, nos lembrando que além de músico, Chico Buarque é também escritor. 

Quem acha estranho o verso “Aquelas rosas já não falam de Cartola” talvez não conheça As rosas não falam, assim como “Nem do Cazuza te pegando na escola”, que é uma referência ao início da música Faz parte do meu show (te pego na escola / e encho tua bola / com todo o meu amor).

Quando falam de Oswaldo Montenegro, Julinho Marassi e Gutemberg usam duas referências: a música Agonia e e Não há segredo nenhum.

Uma das melhores junções de referências, no entanto, acho que aparece mais adiante na música, quando ele junta a Casa no campo com o Dia branco e até com o Chão de giz, quase construindo uma narrativa aqui (com músicas que também são ótimas).

Apesar de ser quase um clássico, não sei se ficou clara, também, o “Quero sem lenço e sem documento, Caetano”, indicando a música Alegria, Alegria. E já que estamos aqui, eu não poderia mencionar a minha alegria em ver Oceano, do Djavan também!

Ao final da música temos, ainda, alguns pedidos dos compositores, que buscam uma música mais original, inteligente e que nos faça pensar.

Deixo, abaixo a letra completa e, ao final, a música, para que você possa ouvi-la. E, claro, não deixe de buscar os demais artistas mencionados na canção. Pelos nomes citados, você já consegue encontrar muita coisa boa.

Faz muito tempo que eu não escrevo nada

Acho que foi porque a TV ficou ligada

Me esqueci que devo achar uma saída

E usar palavras pra mudar a sua vida

Quero fazer uma canção mais delicada

Sem criticar, sem agredir, sem dar pancada

Mas não consigo concordar com esse sistema

E quero abrir sua cabeça pro meu tema

Que fique claro, a juventude não tem culpa

É o eletronic fundindo a sua cuca

Eu também gosto de dançar o pancadão

Mas é saudável te dar outra opção

Os meus heróis estão calados nessa hora

Pois já fizeram e escreveram a sua história

Devagarinho, eu vou achando meu espaço

Mas não me esqueço das riquezas do passado

Eu quero a benção de Vinícius de Morais

O Belchior cantando como nossos pais

E se eu quiser falar com o Gil sobre o Flamengo

O que será que o nosso Chico tá escrevendo?

Aquelas rosas já não falam de Cartola

Nem do Cazuza te pegando na escola

Tô com saudades de Jobim com seu piano

Do Fábio Júnior com seus 20 e poucos anos

Se o Renato teve seu tempo perdido

O rei Roberto, outra vez, o mais querido

A agonia do Oswaldo Montenegro

Ao ver que a porta já não tem mais nem segredos

Ter tido a sorte de escutar o Taiguara

E Madalena de Ivan Lins, beleza rara

Ver a morena tropicana do Alceu

Marisa Monte me dizendo: beija eu

Beija eu, beija eu, deixa que eu seja eu

Beija eu, beija eu, deixa que eu seja eu

O Zé Rodrigues, em sua casa no campo

Levou Geraldo pra cantar no dia branco

No chão de giz do Zé Ramalho, eu escrevi

Eu vi Lulu, Ben Jor, Tim Maia e Rita Lee

Pedir ao Beto um novo sol de primavera

Ver o Toquinho retocando a aquarela

Ouvir o Milton lá no clube da esquina

Cantando ao lado da rainha Elis Regina

Quero sem lenço e documento, Caetano

E o Djavan mostrando a cor do oceano

Vou caminhando e cantando com o Vandré

E a outra vida, Gonzaguinha, o que é? (O que é?)

Atenção, DJ, faça a sua parte

Não copie os outros, seja mais smart

Na rádio ou na pista, mude a sequência

Mexa com as pessoas e com a consciência

Se você não toca letra inteligente

Fica dominada, limitada a mente

Faça refletir, DJ, não se esqueça

Mexa o popozão, mas também a cabeça

A cabeça

Cabeça, DJ

A cabeça

Mais uma vez — Renato Russo

Apesar deste ser um blog majoritariamente de resenhas, um dos posts mais lidos por aqui, desde que foi postado, é o de Enquanto houver sol (Titãs).

Faz um tempo, porém, que, no mesmo estilo, sinto vontade de escrever sobre Mais uma vez, uma música que também me lembra de ter esperança, ao mesmo tempo em que me deixa pensativa.

Lançada em 1987, no álbum Sete, a música ainda é muito atual e pode despertar grande identificação.

Isso porque a letra já começa falando que os dias bons voltam, por mais difíceis ou doloridos que tenham sido os anteriores ou que venham a ser alguns futuros (“Mas é claro que o sol / Vai voltar amanhã / Mais uma vez, eu sei / Escuridão já vi pior / De endoidecer gente sã“).

Logo em seguida a letra nos faz pensar sobre quem está ao nosso redor. Nos instiga a avaliar se realmente estamos cercados de pessoas que querem o nosso bem ou se temos pessoas conosco que não vibram por e com nós (“Tem gente que está do mesmo lado que você / Mas deveria estar do lado de lá / Tem gente que machuca os outros / Tem gente que não sabe amar / Tem gente enganando a gente/ Veja a nossa vida como está”).

Mais uma vez ainda toca num ponto que, para mim, é essencial: a confiança. E passa uma mensagem que, muitas vezes, ignoramos: devemos confiar sobretudo em nós mesmos (“Se você quiser alguém em quem confiar / Confie em si mesmo / Quem acredita sempre alcança“).

Confiar em si só é possível quando você se conhece bem e sabe entender seus sentimentos, suas necessidades. Quando você consegue acreditar nos seus instintos e confiar que sabe o que é melhor para si.

Por falar nisso, essa música ainda fala sobre ouvirmos e valorizarmos os nosso sonhos, pois apenas nós mesmos podemos saber o melhor para nós. Se você tem um sonho, lute por ele, mesmo que te digam o contrário e saiba que muita gente dirá o contrário! (“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena / Acreditar no sonho que se tem / Ou que os seus planos nunca vão dar certo / Ou que você nunca vai ser alguém“).

As pessoas têm muita facilidade em apontar dedos, criticar nossas escolhas. Mas se soubermos o que pode nos fazer bem, também poderemos escolher com quem queremos estar e quem vai realmente nos apoiar em nossas escolhas. 

Mais uma vez, portanto, é uma música realmente forte, com mensagens importantes em suas linhas e entrelinhas. Deixo abaixo a letra completa e o áudio, para quem quiser ler, ouvir e me contar o que acha dessa música.

Mas é claro que o sol

Vai voltar amanhã

Mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior

De endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem

Tem gente que está do mesmo lado que você

Mas deveria estar do lado de lá

Tem gente que machuca os outros

Tem gente que não sabe amar

Tem gente enganando a gente

Veja a nossa vida como está

Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar

Confie em si mesmo

Quem acredita sempre alcança

Mas é claro que o sol

Vai voltar amanhã

Mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior

De endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena

Acreditar no sonho que se tem

Ou que os seus planos nunca vão dar certo

Ou que você nunca vai ser alguém

Tem gente que machuca os outros

Tem gente que não sabe amar

Mas eu sei que um dia a gente aprende

Se você quiser alguém em quem confiar

Confie em si mesmo

Quem acredita sempre alcança

Vambora — Adriana Calcanhotto

Esses dias estava pensando que não sei quem conhece meus gostos musicais. Digo, há tempos não respondo à pergunta “qual é sua música preferida?”. Há quem saiba, sem dúvidas. Mas também há que não faça a menor ideia, creio eu. Ao mesmo tempo, também esses dias, estava trabalhando — para variar — com música em sala de aula e percebi o quão ingrata essa pergunta é. Difícil escolher a nossa música preferida, não é mesmo?

Eu não sou uma pessoa fissurada por bandas, cantores, pessoas famosas em geral (de qualquer setor, nem mesmo por autores). Admiro muito mais as pessoas que estão ao meu redor do que celebridades. Mas quando se é mais jovem, sempre tem aquelas perguntas do tipo “qual é a sua banda ou seu cantor favorito?” e, naqueles tempos, eu sempre pensava em Adriana Calcanhotto, que conheci como Adriana Partimpim. Hoje eu não sei se ela ainda seria “a minha preferida”, mas não posso negar que seu trabalho continua a mexer muito comigo. Também, pudera! Ela não faz apenas música, mas poesia musicada, e sua bagagem é notável em suas canções.

Mas não estou aqui para ficar exaltando essa artista e sim para falar de uma de suas músicas que, mesmo quando eu não entendia muito bem, adorava e que, um tempo depois, descobri que fazia referências a obras literárias que, somente anos mais tarde, eu viria a saber que existiam e que são tão óbvias nessa música. Mas vamos por partes?

Hoje eu quero falar sobre a música Vambora, lançada em 1998, no CD Marítimo. O título já chama atenção pela sua informalidade, nos trazendo uma palavra que representa um modo de se falar “vamos embora”, mas de um jeito leve, como um gostoso convite, o que combina totalmente com o ritmo dessa música.

A primeira clara menção literária da música está no verso “dentro da noite veloz”, que é o título de um livro de Ferreira Gullar. Esta obra fala da solidão, mas uma solidão diferente da experimentada pelo eu lírico da canção. Na música, sentimos que a cantora fala de amor, de uma separação, talvez, enquanto em Dentro da noite veloz (1975) Gullar fala da solidão política em tempos de ditadura.

E a segunda clara menção literária está em “na cinza das horas”, título do primeiro livro de Manuel Bandeira. A cinza das horas (1917) é uma obra que, a seu modo, também fala de solidão: a solidão de quem se percebe perto da morte, com uma doença de difícil tratamento (felizmente, Manuel Bandeira conseguiu viver mais que o esperado).

É interessante notar, porém, que quem desconhece esses títulos — como eu desconhecia nas primeiras vezes em que ouvi essa música — pode facilmente ser levado a acreditar que são apenas figuras de linguagem, que “noite veloz” e “cinza das horas” sejam metáforas para a solidão sentida. Bem, são, mas também são mais que isso, não é mesmo? Tanto é que ambas são precedidas pelo verso “dentro de um livro”.

Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva

Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Dentro da noite veloz

Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas

E para quem quiser ver o clipe, deixo-o aqui embaixo. É interessante ver a melancolia nas cores, nas imagens. A solidão estampada na imagem da cantora solitária, vestida de preto, à meia luz.

Você já conhecia essa música? O que acha(va) dela?

Desenredo — Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro

Talvez os leitores da clássica literatura brasileira estranhem o título deste post, mas já adianto que nem você leu errado e nem eu fiquei maluca. Hoje vou falar sobre uma música, mas não temos como não mencionar Guimarães quando vemos um título desses, certo?

Comecemos, então, pela literatura, já que ela é, também, o assunto principal deste blog: sou daquelas leitoras que pouco leu Guimarães Rosa. Ainda estou à espera do iluminado momento em que finalmente me sentirei pronta para embarcar na leitura de Grande Sertão: Veredas. Mas já li Primeiras Estórias, um livro de contos do autor. Isso aconteceu lá em 2014, quando eu estava na faculdade e ainda me lembro, olhando os títulos das histórias, de algumas sensações que tive ao conhecê-las.

Meu primeiro contato com a escrita e a obra de Guimarães, no entanto, foi justamente através de um conto de título Desenredo, que faz parte da obra Tutaméia: Terceiras Estórias. É difícil explicar o que esta narrativa me fez/faz experimentar. Há, até hoje, uma frase dela que repercute em mim:

“Todo abismo é navegável a barquinhos de papel”

Forte, não?

Tempos depois, um amigo — que sabia desse meu encantamento com as narrativas de Guimarães, em especial Desenredo — perguntou-me se eu conhecia a música de mesmo nome.

Tudo o que narrei até aqui estava esquecido em algum canto de minha memória, até que, semana passada, meu Spotify colocou para tocar Desenredo, interpretada pelo grupo Boca Livre. E foi assim que resolvi escrever aqui sobre essa música.

Pesquisando um pouco sobre ela, descobri que não há exatamente uma relação entre esta e o conto homônimo. Mas, Dori Caymmi estava lendo Guimarães quando compôs esta canção e, provavelmente influenciado pela leitura, estava relembrando os tempos em que vivera em Minas, unindo, assim, diversas imagens que podem encontrar ecos durante uma leitura da obra Rosiana.

Desenredo — a canção — foi composta em 1976, mas só foi gravada quatro anos depois, ganhando versões também nas vozes de Nana Caymmi, Edu Lobo e Roberta Sá. Ao final do post, deixarei a versão que escutei, pelo grupo Boca Livre.

O ritmo dela me traz uma sensação quase tão difícil de explicar quanto a leitura do conto mencionado, mas posso tentar definir como uma sensação de paz, tranquilidade.

É muito interessante notar, ao longo do texto da música, como a escolha do título faz sentido, havendo esse jogo entre as palavras “fio”, “enredo”, “tramas”, “novelo”, “trança”, “corda”, “enrosco”, que são termos que, pelo seu significado e usos na letra, estão diretamente ligados ao “desenredo”, ou seja, ao “ato ou efeito de desenredar; desenlace; solução”.

Também está muito presente, na música, uma certa imagem desoladora e a própria morte — sem disfarces e sem eufemismos —, figuras que igualmente encontramos nas obras de Guimarães Rosa.

Para quem quiser conferir com os próprios olhos e ouvidos, eis a letra e, logo em seguida, o vídeo da versão que mencionei:

Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo
A morte tece seu fio de vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
Nas tramas do teu desejo
O mundo todo marcado a ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo
O olhar que assusta anda morto
O olhar que avisa anda aceso
Mas quando eu chego eu me perco
Nas tranças do teu segredo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando, o homem fazendo seu preço
A morte que a vida anda armando, a vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego eu me enrosco
Nas cordas do seu cabelo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe…