Orgulho de ser (Antologia)

Título: Orgulho de ser 
Autor: Vários autores
Editora: Se Liga Editorial
Páginas: 108
Ano: 2020

Sinopse

A antologia reúne 8 histórias, contadas por 8 autores diferentes que, juntos, representam a comunidade mais colorida do mundo. Nesse livro, vocês encontrarão altas doses de representatividade em histórias de diferentes gêneros. Chore, sorria, vibre, angustie-se… Não importa o sentimento que invada você: permita-se SENTIR. Escancare as portas do armário e não se esqueça de se orgulhar por ser exatamente quem é!

Resenha

Vira e mexe aparece resenha de antologias por aqui e sou uma forte defensora delas. Como já comentado neste post, acho que elas são uma boa forma de conhecer novos autores, além de nos permitir, muitas vezes, mergulhar em gêneros diferentes.

A antologia Orgulho de ser ainda tem aquele toque a mais que eu adoro: histórias com muita representatividade.

Como o livro é composto por apenas oito contos, vou falar brevemente sobre cada um, na ordem em que estão colocados no livro.

Multicolor (Thati Machado)

Orgulho de ser se abre com esta narrativa que nos faz ressignificar a palavra lar.

“É  possível ressignificar a palavra lar? Nossos cinco protagonistas provam que sim. Agnes, Tomás, Clarice, Dante e Mateus definem o Instituto Multicor como a casa aconchegante e tranquila que nunca tiveram”

(Multicolor — Thati Machado)

Indo e vindo no tempo, a história nos conta um pouco sobre seus personagens e o que os une.

“Cada um deles sabia como era se sentir completamente sozinho em um mundo habitado por tanta gente. Cada um deles sabia como era se sentir sem um lugar para chamar de lar”

(Multicolor — Thati Machado)

O Instituto Multicolor com certeza é um sonho para as pessoas da comunidade LGBTQIA+, sobretudo aquelas rejeitadas pela própria família.

“Porque família nunca foi uma questão de sangue, afinal de contas. Família sempre foi questão de ser. E de estar”

(Multicolor — Thati Machado)

Uma história que dá um quentinho no coração e muita vontade de fazer o bem.

“Nós ajudamos os outros da mesma forma que somos ajudados”

(Multicolor — Thati Machado)

A garota no bar – Delson Neto

A garota no bar já é uma história mais distopica, que se passa em Nova Avalon.

“O sono poderia voltar, mas Nova Avalon não a deixaria dormir”

(A garota no bar — Delson Neto)

É muito interessante como algumas críticas à nossa sociedade são colocadas ao longo das linhas.

“O humano estava acostumado com a destruição de si mesmo desde o princípio, ‘do pó viemos, ao pó retornaremos’, dizia a antiga religião”

(A garota no bar — Delson Neto)

Seu clima é sombrio e melancólico

“O futuro não tinha misericórdia e nem paciência para lidar com a dificuldade alheia perante a mudança daqueles anos inconstantes”

(A garota no bar — Delson Neto)

Mas, ainda assim, a história também fala sobre o amor.

“Amar não era sortear um nome, sexo ou identidade. Era espontâneo, vindo de dentro”

(A garota no bar — Delson Neto)

E, mesmo que de maneira não tão direta, mas deixando muito claro, esta é uma narrativa sobre preconceitos.

“A cidade permitindo ou não, mais uma história começaria em Nova Avalon”

(A garota no bar — Delson Neto)

Monocromático (Rafael Ribeiro)

Depois, temos Monocromático, um conto com uma temática que sempre me conquista: o final do ensino médio.

“Quem foi que disse que nós temos que escolher a trilha da nossa vida toda aos 17 anos? Não consigo entender, sério!”

(Monocromático — Rafael Ribeiro)

Neste caso, mais especificamente, estamos na formatura de Luiz — o narrador — e Paulo — seu melhor amigo e algo mais.

“Todo mundo espera um “felizes para sempre” para um casal, ou que pelo menos eles fiquem juntos no final da história. Eu estou aqui pra dizer que tudo bem se eles não ficarem. As coisas boas duram pra sempre, mas nunca da mesma forma como começaram. Absolutamente tudo é mutável. E acolher as mudanças e lidar com elas só depende da gente”

(Monocromático — Rafael Ribeiro)

O outro Vicente (Camila Marciano) 

O começo deste conto me deixou um pouco confusa. A narrativa parecia poética. E então eu me apaixonei. Pela escrita, pela história, pelos personagens.

Trata-se da história de um neto que está acompanhando a internação da avó, dona Odete.

“Como pode um lugar onde a gente morre não ter cor nem de vida, nem do contrário?”

(O outro Vicente — Camila Marciano)

Claro que, neste momento, um mistério surge: à beira da morte, Dona Odete quer que o filho dê um recado para Paloma. Mas quem é Paloma?

Uma história que quase me fez chorar

Corações tortos (Luiz Gouveia)

Corações tortos é uma história um pouco mais pesada, pois contém cenas de briga e agressão. E, apesar disso, é uma história extremamente necessária, por retratar uma realidade que, infelizmente, ainda persiste.

O conto termina com uma dose de quentinho no coração que alivia parte da angústia ali apresentada.

“É… não sei como te dizer, mas parece que você fez uma bagunça aqui dentro e eu… gostei”

(Corações tortos  — Luiz Gouveia)

Banho de lua (Mariana Jati)

Ao contrário do conto anterior, este aqui inspira leveza: um grupo de jovens amigos que vai passar a noite na mansão da Lai. 

Uma narrativa cheia de representatividade, umas doses de insegurança e muita fofura

3 versões de mim (Leonardo Antan)

Acho que o título já nos dá um bom panorama do que vem pela frente. Mas ele não nos conta uma coisa: é o dia do casamento de Daniel e Gui.

“Sorrio ao pensar no meu futuro marido, o Dani. Imagino-me anos atrás e fico orgulhoso. Afinal, cheguei onde mais sonhava. Se o Gui do passado estivesse vendo essa cena estaria comemorando”

(Três versões de mim — Leonardo Antam)

Um dia que já nos deixa carregados de emoção, mas que para Gui ganha contornos ainda mais interessantes: a possibilidade de conversar com seu eu do passado, mas também de receber alguns spoilers do futuro.

“Viveria uma história sabendo que ela pode dar errado?”

(Três versões de mim — Leonardo Antam)

Um conto que, para além de nos fazer viajar nessa situação hipotética bem interessante, também nos coloca para pensar sobre variados tipos de preconceito.

“Afinal, o mundo faz questão de dizer que só as pessoas magras que importam”

(Três versões de mim — Leonardo Antam)

Flores para Ellen (Jonas Maria)

Para fechar a antologia, outro conto distopico e sombrio.

“Acho que já devemos ir, Niko. Ela já deve estar lá — Alisson usou um tom de voz mais ansioso do que gostaria”

(Flores para Ellen — Jonas Maria)

O conto é triste e retrata uma realidade em que seus personagens precisam lutar para conseguir remédios e sobreviver.

Gostou da antologia Orgulho de ser? Então clique abaixo para saber mais sobre ela e depois me fale qual foi o seu conto preferido!

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Som do fim do mundo — Maicon Moura

Título: Som do fim do mundo: contos 
Autor: Maicon Moura
Editora: Publicação independente 
Páginas: 156
Ano: 2024

Sinopse

Em “Som do Fim do Mundo”, uma coletânea cativante de contos do autor de “Não Quero Patos Elétricos”, somos levados a explorar uma nova faceta de sua narrativa. Em vez do cenário típico de ficção científica, encontramos histórias breves e envolventes que desafiam as expectativas e nos transportam para mundos fantásticos e surreais, ocultos nas dobras do cotidiano.

Com uma prosa mágica e envolvente, Maicon nos apresenta uma série de contos que se destacam pela sua originalidade e charme. Influenciado por gigantes da literatura brasileira como Murilo Rubião e Lygia Fagundes Telles, o autor revela que a magia está presente nos detalhes mais simples da vida. Nestas páginas, o extraordinário emerge do comum, transformando o banal em algo verdadeiramente extraordinário.

Cada conto é uma jornada única, onde o humor se entrelaça com a melancolia, criando um universo narrativo rico em contrastes e emoções. Mesmo os momentos mais absurdos nos fazem refletir sobre nossa própria existência e os mistérios que permeiam nosso dia a dia.

“Som do Fim do Mundo” é mais do que uma simples coletânea de contos; é uma porta de entrada para o mundo encantador e multifacetado de Maicon Moura. Se você busca uma leitura que desperte sua imaginação e o faça questionar a realidade, este livro é o seu bilhete de entrada para um universo de magia e reflexão.

Resenha

Som do fim do mundo é uma coletânea que vem para desafiar nossas expectativas, com contos curtos e finais surpreendentes. Ao longo da leitura, nunca sabemos onde cada história irá nos levar. E essa é justamente a ideia.

A obra é composta por 10 textos e tentarei apresentar brevemente cada um, fazendo o possível para não dar spoilers.

As estrelas do lago

Sim, um lago como peça central. Um lago que carrega um mistério pelo qual dificilmente você não irá se render, ao mesmo tempo em que imagina o quanto ele deve ser bonito. Dá vontade de tocá-lo, mas sabemos que esta não é uma boa ideia.

Mas para além de todos os segredos que queremos desvendar, esta história também me encantou porque fala da adolescência de uma forma que só quem já passou por ela poderia falar.

“Que saudade da fase em que nossas decisões burras, em nossa cabeça, eram algo de que nos gabávamos. Mostrar uma cicatriz e contar sua história, mesmo que você estivesse totalmente errado em ter feito aquilo”

(As estrelas do lago)

Coma

Só lendo este conto para perceber que seu título tem um duplo sentido.

A história, que parece banal, tem um final horripilante, daqueles que nos deixa boquiabertos.

“Eu não conseguia dizer que estava bem. E não tinha certeza se estava”

(Coma)

Disco da Terra

A leitura deste conto é, sem dúvidas, uma experiência. A começar pelo protagonista, que se acha o melhor do universo e vive (podemos chamar isso de vida?) para manter esse status.

Além disso, esta é uma história de uma realidade talvez não tão distante de nós e que nos faz refletir sobre o cuidado (ou a falta dele) que temos com o nosso planeta.

“O engraçado da raça humana sempre foi sua paixão pelo planeta. E, mesmo assim, estavam tacando fogo em tudo o que podiam. ‘Amo as árvores, então vou fazer um guarda-roupa com elas’”

(Disco da Terra)

Por fim, o conto nos permite enxergar a Terra de outra perspectiva, para que possamos valorizar e conviver em harmonia com o que temos hoje.

“Os animais, em poucos anos, se tornaram armas mortais prontas para tirar o vírus humano da Terra. Então a humanidade decidiu sair por livre e espontânea vontade e ir para Marte. Um lugar que não estava tão vazio, mas, somos bem conhecidos por invadir lugares e dizer que os descobrimos”

(Disco da Terra)

Som do fim do mundo

Claro que o conto que serve de título ao livro não poderia deixar de ser um espetáculo

Além de fazer referência a elementos da nossa cultura narrativa, a história explora uma visão do fim de mundo que provavelmente você ainda não parou para imaginar.

“Talvez um meteorito explodisse o planeta, algo que sempre fora cultuado pela indústria do entretenimento. Um grande meteoro atingindo o planeta e tudo indo para os ares. Esse era o sonho”

(Som do fim do mundo)

Não pergunte

Como dito no começo desta resenha, essa antologia vem para desafiar nossas expectativas. E este conto é um ótimo exemplo disso: o final dele me pegou totalmente de surpresa.

A história em si já é bem interessante: será que não vivemos fazendo as perguntas erradas? (Seria essa mais uma delas?)

“As questões erradas continuam sendo realizadas diariamente, milhares de vezes, gerando em sua trajetória errônea, catástrofes que não são esperadas pela humanidade”

(Não pergunte)

E quais são as consequências de uma pergunta errada em nossas vidas? Qual seria o impacto de uma pergunta certa?

“A dúvida certa fez algo muito mais forte do que qualquer religião: ela abriu na mente dessas pessoas a janela para a conexão mental”

(Não pergunte)

Minha alma entre batidas

Só o título desse conto já seria capaz de me fisgar e, não vou negar, ele foi meu preferido, não apenas pela história em si, mas também pelo fato do texto ter ritmo, o que combina demais com o desenrolar dele.

“As batidas da música criavam ritmos em nossos movimentos. De longe, reparei que ela me olhava e, de longe, ela reparou que eu reparava. O ritmo da música nos fazia dar passos curtos e dançantes um em direção ao outro”

(Minha alma entre batidas)

Mas não se deixe enganar: este não é um simples conto romântico. A história tem muitas camadas e é sombria de um jeito delicioso.

“Não era amor. Não era paixão. Estava drogado”

(Minha alma entre batidas)

Ao mesmo tempo que nos arrepiamos, também ficamos abalados com os belos tapas na cara que esta história dá.

“Ali naquele grupo de amigos, éramos mais desconhecidos que conhecidos”

(Minha alma entre batidas)

Em busca do Éden

Este foi um conto que me arrancou belas risadas. Os personagens são exagerados e muito bem marcados e a história chega a beirar o absurdo de uma maneira bem interessante.

Tupavntis: o limite do poder é o estômago

Sabe aquela velha história de “seria cômico se não fosse trágico”? Pois é isso que acontece neste conto.

“Desde os tempos mais antigos, antes mesmo da primeira guerra, antes de inventarem o sanduíche e bem antes de Jesus morrer — ele nem chegou a saber sobre essa pequena aldeia que prosperava no meio do deserto, cultuando uma árvore — os Tupavntis já existiam”

(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)

Nesta fantasia bem maluca, Maicon explora uma narrativa cheia de comicidade na medida certa, mas também com algumas boas críticas ao comportamento humano e reflexões sobre a nossa existência.

“‘Louco é morrer tão jovem, louco é desistir de viver, louco é perder a esperança’. Muitos cantores de rock, country e outros ritmos que precisam de um violão ou guitarra e aqueles que usam ukulele ou cavaquinho, inspiraram suas canções nessa fala clássica de Rosnan. Uma fala que reverberou pelo universo. Mesmo que Rosnan nunca tenha feito nada para ser lembrado, essa frase ficou entre as paredes rabiscadas da cabana”

(Tupavntis: o limite do poder é o estômago)

O rapaz gentil do mercado

Com uma narrativa deliciosa e envolvente, neste conto Maicon consegue nos trazer uma história que, aos poucos, se revela de terror, mas que logo de cara nos desperta muita curiosidade e vontade de ler mais e mais.

Há nela um personagem que encanta, mas que de longe podemos sentir o cheiro de problema. Que se revela muito maior do que o esperado.

Oi, meu bebê

Para fechar esta antologia, que conto! Daqueles que são um soco no estômago e que nos deixam pensando o que o futuro reserva para a humanidade (ou para a falta dela).

“Antes éramos controlados por uns oitenta anos. Agora eles nos controlam para sempre”

(Oi, meu bebê)

Uma história para se ler com um lencinho do lado, porque para além de ser um baque, ela também fala muito sobre a solidão

“Eles queriam que você crescesse sozinho. A solidão é algo terrível. Talvez muito pior que a manchinha em seu pulmão”

(Oi, meu bebê)

Para além da pluralidade narrativa de O som do fim do mundo, esta antologia também nos mostra toda a habilidade de Maicon com o design. A diagramação é linda e torna a leitura ainda mais agradável.

E aí, que conto você acha que seria o seu preferido?

Não deixe de conferir e garantir seu exeplar de O som no fim do túnel e aproveite para seguir o Maicon em suas redes sociais (Instagram | Substack).

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Citações #48 — Cartola (antologia)

A antologia Cartola é uma obra recheada de contos encantadores, como apresentei ao longo desta resenha. Muitos trechos bonitos, porém, ficaram de fora e hoje trarei mais alguns deles (deixando, ainda, outros tantos sem a sua vez, porque tem realmente muita coisa boa ali).

“Quando uma estrela escolhe você, não existe caminho de volta, seu coração começa a precisar daquele brilho para viver”

Corra e olhe o céu (Ana Farias Ferrari)

Como mencionado na resenha, essa obra nos traz sentimentos e temáticas como a tristeza:

“Não ligava mais para queimaduras. Tinha vivido coisas piores”

Alvorada (Bruny Guedes)

“Pouco a pouco, a magia da música foi se perdendo”

Cordas de aço (Thais Rocha)

“Todos estavam tristes, mas não queriam lidar com isso”

Corra e olhe o céu (Ana Farias Ferrari)

A angústia:

“Eu acho que esse foi o instante que ela, Cilene, percebeu que havia mais felicidade no mundo do que ela tinha naquela ocasião”

Amor proibido (Nilsa M. Souza)

“As pessoas dizem que desistir é covardia, contudo, esse talvez seja o meu maior ato de coragem”

As rosas não falam (Lili Dantas)

“Temi que seu eu tivesse que passar pelo ritual de despedida, talvez não conseguisse virar as costas e seguir meu plano adiante”

Meu drama (Ana Paula Del Padre)

A amizade:

“Não se quebra uma amizade”

Amor proibido (Nilsa M. Souza)

A memória e o esquecimento:

“É curioso como cheiros nos imprimem memórias como se fossem tatuagens”

As rosas não falam (Lili Dantas)

“Dizem que as viagens favorecem o esquecimento”

Peito vazio (Simone Aubin)

Ou o distanciamento:

“Às vezes, a pior atitude é não querer se envolver”

O mundo é um moinho (Alessandra Solletti)

“Frio não é só sobre o clima, é também um estado de espírito”

O sol nascerá (Meg Mendes)

A vida e a morte (assim mesmo, juntas e misturadas):

“Em meio ao meu tormento, não mais particular, ele me abraça como se jamais fosse deixar-me ir. E eu não quero”

As rosas não falam (Lili Dantas)

“Você nunca pensa que vai morrer até estar diante da iminência da morte”

Autonomia (C. B. Kaihatsu)

E, claro, o amor, sentimento sempre tão presente e tão intenso:

“Há tempos eu não sentia as emoções juvenis de quando nos sentimos doentiamente atraídos por alguém”

As rosas não falam (Lili Dantas)

“Me pergunto, como ainda é possível eu amar o comportamento odioso nela, a resposta vem fácil logo em seguida, só é possível amar a luz de uma pessoa se também amarmos a sua escuridão, um não existe sem o outro”

As rosas não falam (Lili Dantas)

“O tema do meu trabalho, Amor: efêmero ou eterno?, era minha última esperança em acreditar que as relações duradouras e verdadeiras existiam de verdade. De que ainda valia a pena amar, ou então, me conformar que tudo é mesmo uma mentira e que o amor é apenas uma ilusão dolorosa”

Disfarça e chora (Juliana Kaori)

“Amor, amor de verdade mesmo, não olha a quem, não tem regra, dura o que tem que durar”

Disfarça e chora (Juliana Kaori)

Se tiver gostado desses trechinhos, não deixe de conhecer a obra completa. Como eu disse na resenha, a leitura me surpreendeu bastante (positivamente)!

Antologias para quê?

Janeiro foi um mês que acabei falando mais de uma vez sobre antologias, seja resenhando uma, seja trazendo quotes de outra.

A cada vez que leio uma antologia e falo sobre ela, acabo, de alguma forma, destacando o fato de que eu gosto da pluralidade delas, das possibilidades que elas carregam.

Por isso, finalmente resolvi tirar dos rascunhos (mentais, no caso) um texto que há tempos queria escrever, falando sobre os benefícios de uma antologia para todos aqueles envolvidos em uma, de organizadores e escritores até os leitores.

Como leitora, o que mais gosto nas antologias é a oportunidade de, com uma única obra, conhecer diversos autores. Como aconteceu mais de uma vez ano passado, peguei antologias para ler por ter contos de autoras que eu já admirava e, então, conheci outras que passei a admirar também.

Sem contar que, por vezes, a antologia tem um tema em comum, mas traz histórias de gêneros diversos ou o contrário: é de um gênero específico, mas com temas bem variados. O ponto é: dificilmente a gente não se surpreende lendo uma antologia!

Para autores, as antologias também têm os seus benefícios. Ali em cima, comentei como conheci novos autores graças às antologias que li ano passado, o que significa que elas acabam sendo uma boa vitrine para autores, sejam eles conhecidos ou não.

Mais do que isso, porém, como escritora (não que eu seja uma), vejo as antologias como uma oportunidade de exercitar a escrita. Os editais costumam colocar limitações diversas: tema, gênero, limite de palavras/páginas. Pensar em uma boa história que respeite tantos critérios, te garanto, não é nada simples!

Mas e as editoras, onde entram nisso tudo? Por que muitas (principalmente as editoras menores) investem tanto neste tipo de publicação?

Por um lado, a editora, ao organizar uma antologia, tem a oportunidade de mostrar aos autores um pouco do seu trabalho, do seu cuidado (ou não) com os manuscritos recebidos. Além disso, também é uma excelente oportunidade para conhecer alguns talentos que ainda estão escondidos por aí.

Mas há outro ponto que, certamente, torna as antologias tão vantajosas para as pequenas editoras: geralmente os autores acabam pagando para participar delas.

Quando as antologias vão para financiamento coletivo, também acaba sendo mais fácil bater a meta, porque são vários autores interessados nisso e, consequentemente, divulgando a campanha.

Sem contar que, para muitos deles, essa acaba sendo a primeira publicação, então os autores costumam ficar bem empolgados e fazer o possível para o projeto sair do papel.

Infelizmente, porém, é verdade que muitas (principalmente pequenas) editoras acabam fazendo um trabalho não tão bom com relação às antologias, o que acaba contribuindo para o preconceito de muitos leitores (e, às vezes, até mesmo de escritores) com relação a esse tipo de publicação.

Se você der uma procurada aqui pelo Blog, porém, poderá encontrar resenhas de diversas antologias. E a maioria delas eu super recomendo, por sinal.

Além disso, você também pode saber um pouco mais sobre como foi, para mim, a experiência de organizar uma antologia.

Por fim, não deixe de me contar aqui: você costuma ler antologias? O que acha delas?

Cartola (Antologia)

Título: Cartola
Autor: vários autores
Editora: Cartola Editora
Páginas: 203
Ano: 2021

(leia ao som de Cartola – playlist by Editora Cartola)

A antologia Cartola, publicada pela Editora de mesmo nome, é o primeiro volume de uma série que, quando vi, logo me apaixonei pela proposta: a coleção Músicos e Poetas será composta por antologias inspiradas em músicas de artistas selecionados, em uma homenagem a compositores e poetas brasileiros.

“Eu estava lá e num piscar de olhos não estava mais. Em um momento eu tocava meu violão enquanto Amália cantava a meu lado, sua mão tão relaxadamente posta em minha perna. E, então, eu não estava mais”

Cordas de aço (Thais Rocha)

Como amo a mistura de música e literatura, eu não poderia deixar de conferir o resultado desse trabalho. E uma coisa muito interessante é que ele é um prato cheio tanto para os que conhecem Cartola quanto para os que não conhecem.

“É possível sentir saudades de coisas que você mal lembra ter feito ou vivido?”

Cordas de aço (Thais Rocha)

Para quem já é fã, é uma forma de ver algumas das músicas dele ganhando nova vida, contando outras histórias. E para quem não conhece quase nada do compositor, é uma maneira de se interessar por algumas de suas letras. Eu mesma, não conhecia bem todas as canções selecionadas, então buscava a letra e depois lia a história, observando como aquele texto havia sido inserido na narrativa.

“O mundo é um moinho, vô. E a saudade de você me tritura por dentro”

O mundo é um moinho (Alessandra Solletti)

Além disso, alguns autores optaram por não apenas inserir a música, mas também alguns acontecimentos da própria biografia do compositor ao longo da narrativa, nos fazendo realmente mergulhar no mundo de Cartola.

“Junto com a sua chegada, ele trouxe uma angústia que nunca esteve ali. Descobri o medo da perda”

As rosas não falam (Lili Dantas)

Não posso deixar de confessar, porém, que mesmo animada para essa coleção, iniciei a leitura sem grandes expectativas, mas me surpreendi bastante (e positivamente) com a forma como ela fluiu. Ela contém contos que dão vontade de continuar lendo e desvendando seus segredos. Além disso, foi muito gostoso ver as escolhas de cada autor.

“Você deve escolher quais batalhas deve lutar, eu escolhi fazer o melhor que posso com o tempo que me resta”

Autonomia (C. B. Kaihatsu)

Esta antologia é composta por 20 contos, inspirados, por sua vez, em 20 composições diversas, sendo elas, em ordem (e com o nome dos autores):

1 – Acontece – Naiane Nara

2 – Alvorada – Bruny Guedes

3 – Amor proibido – Nilsa M. Souza

4 – As rosas não falam – Lili Dantas

5 – Autonomia – C. B. Kaihatsu

6 – Cordas de aço – Thais Rocha

7 – Corra e olhe o céu – Ana Farias Ferrari

8 – Disfarça e chora – Juliana Kaori

9 – Meu drama – Ana Paula Del Padre

10 – Minha – Aline Cristina Moreira

11 – Não posso viver sem ela – Edilaine Cagliari

12 – O mundo é um moinho – Alessandra Solletti

13 – O sol nascerá – Meg Mendes

14 – Peito vazio – Simone Aubin

15 – Pranto do poeta – Ana Lúcia dos Santos

16 – Preciso me encontrar – Vanessa Belo

17 – Sala de recepção – Walison Lopes

18 – Sei chorar – Priscila Morais

19 – Tive sim – Alec Silva

20 – Verde que te quero rosa – Rodrigo Barros

É interessante notar como há temáticas e sentimentos que se repetem — sem, no entanto, soarem repetitivos ao longo da obra —, como é o caso da tristeza, da melancolia, da angústia.

“falei sem mais saber o que dizer, como colocar em palavras os sentimentos todos, sendo que ainda não os sabia nomear?”

Corra e olhe o céu (Ana Farias Ferrari)

Mas também há, claro, amor, amizade, leveza. Sentimentos leves e pesados colocados lado a lado e construindo histórias fáceis de ler, mesmo quando surge aquele leve incômodo de um nó na garganta, que logo dá espaço para outros sentimentos.

“Éramos opostos, mas, apesar disso, ou, por causa disso, nos dávamos muito bem, sempre fomos unha e carne”

Meu drama (Ana Paula Del Padre)

A leitura de qualquer antologia pode trazer muitas sensações diversas para cada leitor, uma vez que carrega múltiplas histórias e escritas, mas eu não posso deixar de mencionar aqui que um dos meus contos preferidos foi “Corra e olhe o céu”, da Ana Farias Ferrari.

“Quando pequena, todo os sábados à tarde meus pais e meus tios deixavam os filhos na casa de paredes cor-de-rosa, quase no fim da pequena cidade do interior, sob os cuidados nada cautelosos de vó Naná e do vô Alceu”

Corra e olhe o céu (Ana Farias Ferrari)

Tenho total consciência de que essa é uma escolha bem pessoal, baseada no fato de que me identifiquei muito com a protagonista e com os momentos narrados por ela, dando-me muita saudade e nostalgia.

“Não sei exatamente quando essas tardes mágicas acabaram, talvez com a cobrança da escola e dos cursos extracurriculares nós passamos a ter menos tempo para brincadeiras aos fins de semana, ou talvez a idade e a vontade de ver o mundo se tornaram mais atraentes do que o mundo criado entre aquelas paredes rosas”

Corra e olhe o céu (Ana Farias Ferrari)

Mas já que cada um pode encontrar o seu conto preferido, deixo aqui meu convite para que você conheça essa obra e me conte qual foi a sua história preferida!

Citações #39 — Amor através do tempo

Muito foi dito na resenha da antologia Amor através do tempo, um lindo projeto literário que reuniu quatro autoras para que elas contassem histórias de amor — das mais variadas — em períodos diferentes da história. Mas mesmo tendo dito tanto, foi enorme a quantidade de quotes que tive que deixar de fora e que agora trago aqui.

“Palavras às vezes machucam mais profundamente que qualquer lâmina”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

“Suas palavras deveriam ter chegado aos meus ouvidos, mas elas foram direto para o meu coração”

(Amor através da dor – Tay Alvez)

Quando digo que é uma obra que reúne histórias de amor variadas estou me referindo a amores entre homem e mulher, entre mulher e mulher, amores felizes e amores infelizes (para citar o mínimo do mínimo dessa obra).

“Louise era sempre cega ao amor oferecido a ela”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

“É normal ter tanto carinho assim por alguém que viveu o mesmo inferno que você, certo?”

(Amor através da Guerra – Beatriz Cortes)

E claro que, com tantos amores e desamores, essa obra nos faz sentir uma infinidade de coisas (nos fazendo, inclusive, chorar um pouquinho, porque ninguém é de ferro, né?).

“Nunca fora tão sincera com ninguém antes. Sentia como se tivesse se jogado de um prédio sem saber se tinha asas para voar”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

“A vida nos obriga a conviver com algumas pessoas, a sobreviver sem outras, e seguir a jornada”

(Amor através da Guerra – Beatriz Cortes)

“Então, quando você disse aquilo, eu quis morrer, porque não era possível que você tivesse mudado tanto. Tivesse se perdido tanto. Mas, você tinha”

(Amor através da dor – Tay Alvez)

Fazer essa viagem no tempo acompanhada de tantos sentimentos também é algo que enriquece muito a obra. Poder perceber tensões diferentes a cada guinada temporal é muito interessante.

“Ela cresceu ouvindo que seria apenas uma coisa, mas as mulheres deveriam poder ser quem quiserem ser sem ser julgadas por isso”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

“A bomba nos deixou bem mais do que cicatrizes”

(Amor através da Guerra – Beatriz Cortes)

“Alguns discursos que fazemos na vida são lindos, mas não passam de discursos”

(Amor através da dor – Tay Alvez)

E não ache que acabou! O tanto que essas histórias nos fazem refletir é até difícil de explicar.

“Mas ela aprendeu cedo que estar cercado de pessoas não te faz menos solitário”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

“Mas saiba que, se a guerra chegar até você mesmo sem sua permissão, você pode sobreviver a ela”

(Amor através da Guerra – Beatriz Cortes)

“O amor é formado por detalhes e é preciso ter coragem para amar, mas vi você se tornando um covarde e as coisas que formavam nosso amor, morrendo”

(Amor através da dor – Tay Alvez)

Cada história, a seu modo, nos transmite um pouco de força, de esperança e até de crença na humanidade.

“Às vezes, as pessoas não estão destinadas a passar a eternidade juntas. Às vezes, vidas se cruzam como estrelas cadentes em um vasto universo, juntas por um instante efêmero para criar beleza. Certas pessoas aparecem em sua vida não para ficar, mas para te transformar, para te levar onde você precisa ir”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

Já fiz minha recomendação para que você leia essa obra, na resenha, e reforço aqui o convite. Mas prepare-se para sentir muito, viu? O ebook está disponível na Amazon.

“Por que doamos tanto de nós mesmos para quem não nos dá nada em troca?”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

Amor através do tempo (antologia)

Título: Amor através do tempo
Autor: várias autoras
Editora: Publicação independente
Páginas: 271
Ano: 2021

Pode um livro ficar melhor a cada página? Sem dúvidas! Muitos livros são assim, aliás. Mas no caso da antologia que trago aqui hoje, temos algumas particularidades, sendo a primeira delas o próprio fato de se tratar de uma antologia, ou seja, uma obra escrita a muitas mãos e, portanto, com vozes diferentes.

“Raramente sabemos quando a vida vai dar uma volta na direção certa e nos empurrar em direção a algo extraordinário”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

Além disso, como é de se esperar, o título não é um mero acaso: Amor através do tempo reúne quatro contos que se passam em períodos diferentes, começando por tempo mais antigos — ou seja, por volta de 1800 — e chegando até os dias atuais. E, claro, são histórias de amor.

“Não tente entender o coração das pessoas se você não viveu a história que lhes acompanhou”

(Amor através da intriga — G. Goulart)

E talvez tenha sido justamente essa viagem temporal que fez com que, a cada conto lido, eu gostasse mais e mais da obra, o que me fez concluir que eu realmente gosto de ler não apenas histórias de amor — isso eu sempre soube e sempre comentei — mas histórias de amor mais contemporâneas.

“É difícil dizer com certeza o momento que as coisas dão errado”

(Amor através da dor – Tayana Alvez)

O primeiro conto é Amor através da intriga e foi escrito por G. Goulart, cuja escrita eu ainda não conhecia. Passa-se 1839, entre a Irlanda e a Inglaterra, apresentando-nos uma dama relativamente fora dos padrões da época, por querer ser, antes de mais nada, livre. E claro que, no caminho de uma dama dessas, tinha de aparecer um daqueles nobres que se acham a última bolacha do pacote, mas que, no fundo, escondem muito mais do que parece…

“Seguir sua paixão é importante filha, mas não vale a pena se for se machucar no percurso”

(Amor através da intriga — G. Goulart)

Pelo título e por essas poucas palavras, acredito que já dê para imaginar que é uma história leve, que nos faz rir em determinados pontos e, a cada linha, ansiar pelo desfecho.

Em seguida, com Camila Dornas, damos um salto para a França de 1913. Camila Dornas era uma autora que eu já tinha interesse em conhecer e, neste conto, ela traz um romance sáfico, o que é ainda mais interessante se pensarmos na época que a história se passa. Imagine os percalços da vida delas! Não é à toa que a história chama-se Amor através da liberdade, né?

“Chloé não entendia por que amar alguém podia ser pecado”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

A narrativa desse conto vai dando alguns saltos, terminando por volta de 1923. Para além do que já apontei, gostei de ver a intensidade dos sentimentos de uma das protagonistas, em contraposição à retração e ao medo da outra.

“Abrir o coração é como derrubar uma represa. Uma vez que você o faz, é mais fácil deixar tudo fluir”

(Amor através da liberdade — Camila Dornas)

No terceiro conto, viajamos entre Japão e Brasil e, só pelo título, já podemos esperar muita coisa: Amor através da guerra. Isso acende alguma luz em sua cabeça? Se não, aqui vai mais uma dica: a história se inicia em 1945…

“É uma grande tolice o tempo que se perde pensando no sentido do que é tão incerto”

(Amor através da guerra — Beatriz Cortes)

A narrativa começa em Hiroshima, não apenas no ano, mas no dia em que uma bomba atômica atingiu a cidade japonesa. Antes desse trágico episódio, porém, passamos a conhecer aqueles que serão os protagonistas de uma das histórias de amor mais lindas e mais fortes que já li.

“Compreender que está morrendo é doloroso”

(Amor através da guerra — Beatriz Cortes)

Ao mesmo tempo que a história vai se desenvolvendo mansamente — na medida do possível, após o conturbado acontecimento inicial — ela também vai nos fazendo refletir sobre esse episódio ainda tão conhecido e tristemente lembrado.

“Deve ser difícil sorrir quando se perde tanto, não a culpo”

(Amor através da guerra — Beatriz Cortes)

A autora deste conto é Beatriz Cortes, que eu não conhecia, mas que agora já quero poder ler mais e mais, pois fiquei realmente comovida com essa narrativa.

“É estranho como as memórias traumáticas são capazes de invadir tudo de bom que a gente tenta guardar”

(Amor através da guerra — Beatriz Cortes)

E, enfim, chegamos a ela, a responsável por eu ter comprado essa antologia correndo e ter lido assim que possível: Tay Alvez. Como eu disse na TAG dos 50%, ela vai ter que me aguentar lendo e resenhando todas as obras dela e, se bobear, até a lista de compras. Veja bem, eu não estava brincando!

Porém, isso provavelmente acontece, também, porque eu devo gostar de sofrer, viu? O conto dela, o mais atual de todos na antologia, se passa entre Portugal e Brasil, nos anos de 2019 e 2020 (mas relembrando uma história que começara alguns anos antes) e o título não é nada mais, nada menos que Amor através da dor. Já comecei a chorar aí!

“É engraçado como a gente sempre olha para a pessoa que a gente ama como endgame… Eu queria que você fosse o meu fim de jogo desde o nosso primeiro beijo e, sendo honesta com nós dois, meu amor seria o suficiente para isso, mas o amor sozinho nunca tem a força que a gente imagina…”

(Amor através da dor – Tayana Alvez)

Uma história de amor lindíssima mas… Real! E quem disse que todas as histórias de amor terminam como a gente gostaria que terminassem? Só os contos de fadas disseram e nós insistimos em acreditar neles mesmo quando tudo indica que não passam de histórias…

“Mas, Mateus, depois de três meses aquilo começou a me machucar e o que mais triste disso tudo é que você sabia. Sabia que estava me machucando, só que isso não importava mais pra você”

(Amor através da dor – Tayana Alvez)

Mateus e Malena formavam aquele casal de filme perfeito, mas, apesar de realmente serem atores, eram também seres humanos. E seres humanos que tiveram de lidar com certas mudanças grandes em suas vidas. E é assim que Mateus se perde, enquanto Malena não quer se perder.

“Nós dois choramos e era palpável que o motivo era um só: nós nos amávamos e sabíamos que estávamos nos perdendo”

(Amor através da dor – Tayana Alvez)

Olha, sinceramente, sem palavras para esse conto. Aliás, para a toda obra. As autoras estão de parabéns pela ideia e pelo empenho em torná-lo real. E se você quer conhecer e se apaixonar por essas histórias também, clique aqui. Ela está disponível apenas em formato ebook, mas faz parte do catálogo do Kindle Unlimited.

Loucuras de Verão (antologia)

Título: Loucuras de Verão
Autor: vários autores
Organização: Tati Iegoroff
Editora: Lettre
Páginas: 174
Ano: 2021

Logo logo chegam as águas de março, fechando o verão, mas, antes disso, por que não ler esta antologia quentinha? Claro que eu sou suspeita para falar qualquer coisa, pois sou a organizadora dela, mas estou muito feliz em ver tantos autores incríveis reunidos em um só lugar (e isso eu posso falar, já que só organizei a antologia, não contribuí com nenhum texto meu!). E sabe da melhor? Essa antologia é gratuita! Isso mesmo, você pode ler todos esses textos incríveis sem pagar nada por isso (já já explico melhor).

“Naquele pequeno fragmento de realidade eu era infinito como o oceano”

(Amor à primeira vista — Abraão Nóbrega)

Há quem ame e quem odeie o verão que, assim como qualquer outra estação do ano, tem o seu lado bom e o seu lado ruim. Se bem que também há quem diga que no Brasil só temos essa estação! Em que time você está?

Eu, confesso, não gosto de extremos: nem muito calor, nem muito frio. Mas o sol com certeza me dá uma alegria que aqueles dias cinzas logo espantam. Foi por isso que pensei que uma antologia leve, deveria ser sobre o verão, sobre férias, sobre aventuras e, por que não, sobre amor.

“Se a vista já valia a pena por si só, ambos sabiam que, para eles, aquela vista sempre seria descrita mil vezes mais bela do que, de fato, era”

(Uma semana de gelato e amor — Carolina Mantovani)

A proposta de “Loucuras de verão” era, portanto, reunir textos leves e, claro, relacionados ao verão. E isso os autores souberam fazer com maestria. Tem até história que se passa na neve, mas que soube muito bem captar o espírito da antologia!

“Naquele instante, o verão ficou frio”

(2000 verões — Alvaro Tallarico)

Algo que achei incrível foi a variedade de temas que surgiram para a composição da antologia. Sim, o fio condutor é a estação mais quente do ano, mas há textos mais reflexivos, inclusivos, aventureiros, românticos, de fantasia… Tirando quem curte terror, tem para todos os gostos!

“Muitos outros verões estavam por vir”

(Amor no Araguaia — Rubem Gleison)

Ao todo, Loucuras de verão conta com 22 textos. Sendo uma antologia, é possível apreciá-la aos poucos, como quem toma um sorvete. E ela também não foi feita para ler apenas no verão, porque há contos que são capazes de aquecer seu coração mesmo nos dias mais frios do ano.

“— Tu sofre estando sozinha, eu sofro estando com a minha mãe preocupada comigo todos os dias. Eu tenho dores que correm da ponta dos meus dedos da mão até os dos pés, tu tem dores nos olhos cansados de tanto ler palavras sem sentido. Eu sei que parece diferente, mas é que dor não tem medida”

(Não importa a forma que a gente exista — Grazi Ruzzante)

Como eu disse lá no início, esta é uma antologia gratuita. Então, se você tem interesse em conhecer esse trabalho (e se me permite um conselho: conheça!) basta clicar aqui e garantir o seu arquivo.

Serial Killer: a verdadeira face do mal (Antologia)

Título: Serial Killer: a verdadeira face do mal
Organização: Larissa Oliveira
Editora: Lettre
Páginas: 135
Ano: 2020

Recém saída do forno, a antologia Serial Killer: a verdadeira face do mal veio para abalar as estruturas. Bom, pode ser exagero meu, mas é que realmente me surpreendi com essa obra e não acho que seja simplesmente pelo fato desse ser um gênero com o qual não tenho tanto contato.

“Quero mostrar para ela que os monstros vivem na superfície, que o bem e o mal estão dentro de todos e que nós escolhemos qual lado queremos vivenciar”

(Conto: Na superfície)

As histórias que encontrei ao longo das páginas dessa antologia me surpreenderam pela variedade. Os seriais killers são muito diversos entre si: homens, mulheres, crianças (!), jovens, adultos, ricos, pobres… Isso sem contar, claro, aqueles contos que deixam certa dúvida no ar.

Nós somos o verdadeiro mal. Somos um mal que está oculto nas sombras, esperando o momento certo de rasgar sua garganta.

(Conto: Lady Jack)

Outra coisa que chamou a minha atenção é que há tanto homens quanto mulheres escrevendo. E há homens que fizeram protagonistas femininas e mulheres que fizeram protagonistas masculinos e assim por diante. Realmente bem mesclado e bem fora do padrão.

“A festa estava lotada de pessoas superficiais”

(Conto: Antes que o leite acabe)

E não, caro leitor, não se deixe enganar: muitas reviravoltas também nos aguardam nas páginas de Serial Killer. É claro que, num livro como esse, nem tudo é o que parece ser!

“Miguel se achava muito inteligente, e isso o tornava alguém altamente manipulável, pois bastava dar um sorriso meigo, se fingir de atrapalhada e dizer que acreditava em alguma besteira, para que ele confiasse ter alguém ingênuo à sua frente”

(Conto: Lady Jack)

Agora, uma coisa que me surpreendeu ainda mais que tudo o que já mencionei até aqui foi o fato de que, em mais de um conto, os seriais killers se apresentam a nós com uma falsa capa de moralidade, isto é, buscam justificar as mortes que cometem como uma espécie de justiça ou “limpeza da sociedade”.

“As palavras do dono do estabelecimento só comprovam o que eu sempre digo: as pessoas só se importam com os problemas das outras quando eles não causam problemas para si mesmas”

(Conto: Jingle Bells – Jungle Hells)

Isso me surpreende pela forma como os autores usaram desse elemento para construir suas histórias. Elemento este que, infelizmente, faz realmente parte de nossa sociedade. Afinal, quantas pessoas não fazem coisas ruins acreditando ou alegando estar fazendo algo de bom para o mundo?

É, essa antologia talvez tenha me deixado reflexiva. E tanto me deixou reflexiva que, olhando aqui a sinopse dela, me pergunto se eu não deveria ficar com certo medo dos autores. Isto porque na sinopse diz-se que “buscamos, nesta antologia, fazer com que cada autor mostrasse o seu monstro interior. Isso mesmo, todos temos um monstro adormecido dentro de nós”.

Ora, se a ideia era que cada autor mostrasse seu monstro interior e disso nasceram contos tão bem escritos… O que será feito desses monstros que agora estão entre nós?

Brincadeiras a parte, essa é uma antologia que vale a pena ser lida. Eu já solicitei a minha versão física (que está em pré-venda no site da Editora), porque vi que está com uma diagramação incrível, melhor que a de muita editora grande. Mas, por enquanto, li na versão digital (disponível na Amazon), que tem uma diagramação mais simples, mas que não muda em nada a qualidade das histórias lidas.

Se você é amante do gênero, a leitura desta antologia te permitirá conhecer novos autores. Se, por outro lado, você é como eu e não tem o hábito de ler coisas nessa área, aventure-se. Não me arrependo nem um pouco de ter me jogado de cabeça nessa.

Sobre meu conto “A língua do amor”

Sobre meu conto _A língua do amor_

Quem me acompanha para aqui já deve estar cansado de saber que eu ajudei a organizar uma antologia, publicada esse ano, pela Editora Lettre. Além de fazer parte da organização, eu também escrevi um conto para compor a mesma, intitulado “A língua do amor”.

Mesmo tendo outros contos escritos (e mais um publicado), não me considero uma escritora. Não sei, me parece surreal dizer que eu faço parte desse mundo tão mágico e, ao mesmo tempo, tão árduo. Mas tenho recebidos feedbacks incríveis sobre meu conto e, confesso, a cada vez que vejo um elogio ou alguém dizendo que ele foi o preferido dentre todos, meu coração se enche de alegria. Depois de ver uma leitora dizendo que meu conto deveria virar livro (!!!), coisa que nunca pensei, quis vim contar um pouco mais sobre ele para vocês.

“A língua do amor” é narrado por uma menina espoleta e curiosa que adora brincar com seus vizinhos no playground do prédio em que mora. Ela fica intrigada, porém, quando chega um novo vizinho, que nunca desce para brincar com eles, ainda que fique espiando-os pela janela, enquanto eles gritam para que o menino se junte a eles.

Conversando com sua mãe, a narradora faz uma descoberta sobre Daniel — o tal vizinho que nunca desce para brincar com eles — que muda a sua vida e talvez a de muitas outras crianças da escola que ela estuda. Daniel é um garoto surdo e, por meio dele, tentei inserir um pouco desse universo na história, falando brevemente sobre a Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Comecei a aprender Libras em 2018. Desde então venho aprendendo muito mais que uma simples língua, mas também toda uma nova forma de enxergar o mundo. E isso certamente é uma tarefa que demanda muito tempo e que ainda me acompanhará por anos e anos.

Quando eu escrevi o conto eu o via assim, do jeitinho que ele foi publicado. Logo mudei de ideia, porém, quando uma amiga me questionou sobre o final. De início, não pensei outra maneira, mas refleti um pouco e existiam modos de fazê-lo diferente. Mas quando eu vi  sugestão de transformar o conto em livro meu primeiro impulso foi rir. Impossível, não há mais nada a contar! Mas há, sempre há. E aí, claro, várias ideias começaram a pipocar na minha mente. Será que um dia “A língua do amor” vira livro?