Desmistificando o mestrado [14] — Minha pesquisa

Este é, muito provavelmente, meu último post desta série sobre o mestrado. Isto porque, acredito eu, já consegui abordar todos os pontos que gostaria. Mas, se eu estiver enganada, será um prazer continuar escrevendo sobre outros tópicos, basta me avisar nos comentários.

Porém, não posso negar, é bem simbólico para mim concluir esta série em novembro, pois foi neste mês que, há um ano, defendi minha dissertação de mestrado. E é por isso que também aproveito este momento para, depois de tudo o que expliquei aqui, finalmente falar um pouco sobre a minha pesquisa.

E claro, vamos partir do título dela: “A música no imaginário ítalo-pedrinhense: o pós-método no ensino e na revitalização da língua de herança”. Muito complexo? Apenas aparentemente.

Música todos nós sabemos o que é. O que você talvez não saiba é que sou apaixonada por essa arte quase tanto quanto sou pela literatura. E na introdução da minha dissertação eu falo um pouco sobre isso e sobre meu percurso em aulas de música (piano, coral…).

O imaginário ítalo-pedrinhense já começa a complicar um pouco as coisas, mas explico: Pedrinhas Paulista é uma pequena cidade do interior paulista e, mais que isso, uma ex-colônia italiana (uma das mais recentes, por sinal). E é daí que vem a junção desses termos assombrosos, isto é, em minha pesquisa eu trabalhei a questão da música em Pedrinhas Paulista e, principalmente, como esta arte aparece para as pessoas que vivem nesta cidade, o que a música significa para elas.

Sobre o pós-método, já expliquei um pouco no meu post sobre métodos didáticos, mas, claro, em minha pesquisa eu apresento de maneira um pouco mais aprofundada e também pensando na questão de como aplicá-lo no ensino de uma língua. Mas não uma língua qualquer, e sim uma língua de herança.

E aqui chegamos ao último ponto do título que eu provavelmente preciso explicar. Você se lembra que, ali em cima, eu falei que Pedrinhas Paulista foi uma recente colônia italiana, correto? Isso significa que os primeiros habitantes desta cidade falavam italiano, e foram aprendendo português com a convivência em terras brasileiras.

Alguns desses fundadores (cada vez menos) ainda estão vivos e morando ali, mas seus filhos e netos, tendo estudado em escolas brasileiras, foram cada vez mais se afastando da língua e da cultura italiana. Porém, ainda que filhos e netos tenham se afastado, eles ouviam seus pais (e até avós) falando italiano e dialeto e é por isso que se fala em revitalização da língua de herança.

Uma língua de herança, portanto, é muito diferente de uma língua estrangeira, que muitas vezes não traz nenhum vínculo emocional para a pessoa e pode ser totalmente desconhecida.

Para falar de tudo isso que mencionei até aqui, escrevi quatro capítulos, além da introdução e da conclusão. Cada uma dessas partes foi nomeada com termos derivados da música, que escolhi a dedo e expliquei a cada vez que eram usados. A introdução, por exemplo, foi chamada de Abertura.

No primeiro capítulo — chamado de Legato — eu falei sobre Pedrinhas Paulista (usando inclusive fotos da cidade), sobre o curso de Italiano como Herança, ministrado na cidade, e sobre língua de herança e histórias de vida.

O segundo capítulo recebeu o nome de Melodia e é nele que falo sobre a música em Pedrinhas Paulista, traçando inclusive um percurso entre as festas locais e a história da rádio da cidade. Antes, porém, também falo um pouco sobre a questão da identidade.

Arranjo — o terceiro capítulo da minha dissertação — foi dedicado ao ensino de línguas. Nele, assim como fiz em meu post (mas claro, de maneira mais aprofundada), falo um pouco sobre os métodos de ensino de línguas e sobre o pós-método, mas também falo sobre a música como recurso didático.

No quarto capítulo — denominado Diapasão — eu mostro o lado mais prático da minha pesquisa, falando sobre como apliquei tudo aquilo que fui apresentando ao longo dela e os resultados que obtive a partir disso.

Inclusive, isto foi um ponto muito importante para mim: minha pesquisa tinha um lado prático. Eu mesma pude ver a aplicabilidade daquilo que estava produzindo, também, de maneira teórica. A parte prática foi a elaboração de uma unidade didática, além da análise dos resultados obtidos a partir do uso dela (infelizmente não fui eu quem aplicou diretamente a unidade didática em sala de aula).

A conclusão recebeu o nome de Finale e, depois dela, ainda temos as referências bibliográficas e os anexos da minha pesquisa.

Se você tem interesse em se aprofundar em algum desses aspectos que mencionei, minha pesquisa está disponível de forma gratuita aqui.

E para quem caiu de paraquedas neste post, vou deixar aqui o link de todos os outros desta série, em ordem:

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Desmistificando o mestrado [10] — Enfrentando a página em branco

Já estamos no décimo post da minha série sobre o mestrado, então está mais do que na hora de falar sobre um assunto que dá medo na maioria das pessoas. Dá tanto medo, aliás, que alguns preferem pagar para que outros cumpram essa tarefa (e gente, isso é errado, ok?). É chegado o momento de sentar e escrever a sua pesquisa!

Depois de ler uma infinidade de textos relacionados ao tema escolhido e depois de separar e organizar os dados, tendo sempre a cabeça fervilhando de ideias, escrever não parece uma tarefa difícil. Até que você abre uma página em branco e… Bem, ela fica ali, gritando para ser preenchida, mas nenhuma ideia vem. Ou vem, mas depois você lê de novo, acha que está péssimo e apaga tudo.

PRIMEIRO GRANDE ERRO: APAGAR TUDO.

Você leu o que escreveu e achou tudo uma grande porcaria? Levanta, vai dar uma volta, respira. Mas nunca, em hipótese alguma, apague tudo. Principalmente se você ainda estiver no início do seu trabalho. Tente pensar no que vem depois, escreva frases soltas, reformule.

Ao longo da construção de minha dissertação foram muitas idas e vindas. O capítulo que deveria ser o segundo, acabou virando o quarto e o terceiro virou o segundo. Era como montar um quebra-cabeça, mas que, no final das contas, deu certo. Claro que, nessas mudanças, algumas coisas tiveram de ser reformuladas, tiradas, acrescentadas. Mas se, logo de cara, eu tivesse simplesmente apagado tudo, meu trabalho teria sido dobrado.

SEGUNDO GRANDE ERRO: querer escrever algo perfeito logo de cara.

Se você ficar com a preocupação de escrever parágrafos perfeitos e inalteráveis de primeira, é muito provável que logo encontrará uma barreira que te impedirá de seguir adiante. Nada sai perfeito de primeira. Aliás, se vocês me permitem ser bem sincera, dificilmente seu trabalho ficará realmente perfeito. E a busca pela perfeição só vai te travar.

Além disso, nem sempre escrever “em ordem”, isto é, seguindo a sequência final, é o mais lógico a ser feito. Para algumas pessoas, por exemplo, começar a escrever pela conclusão, para então decidir como chegar a ela é mais fácil do que o contrário. Então entenda que, se uma parte não estiver fluindo, você pode partir para a outra, até encontrar algo que funcione.

Mas se você sequer sabe por onde começar e a página em branco está ali, te atormentando, então a minha dica é: lembra tudo o que você já leu? Lembra todos os trechos que você já havia separado, pensando que poderiam ser úteis? Escolha um, preencha a página em branco com ele e, a partir disso, tente se lembrar o que há de interessante ali, que ideia havia surgido anteriormente e vá construindo o antes e o depois da citação.

Provavelmente te ajudará muito sentar e escrever um pouquinho todos os dias. Isso faz com que você não se canse de passar horas e horas escrevendo, além de te manter sempre em contato com a sua pesquisa e, consequentemente, pensando nela.

Caso você trabalhe oito horas por semana, de segunda a sexta e esteja pensando que nada a ver isso aí de escrever um pouquinho todo dia, afinal chegamos esgotados em casa, e que o melhor é escrever aos finais de semana: ledo engano!

Se você chega esgotado todos os dias, aos finais de semana vai querer descansar. E se não quiser descansar, provavelmente terá algum compromisso com conhecidos ou até consigo mesmo, com sua própria casa. E aí, mais uma vez, sua pesquisa será deixada de lado.

Quando eu falo em escrever um pouco todos os dias, eu realmente estou falando sobre escrever um pouco. Relaxe do seu dia estressante, se desconecte do mundo e separe 30 ou 60 minutos para focar totalmente na pesquisa. E saiba comemorar qualquer avanço que você tenha nesse intervalo de tempo, por menor que ele seja. No final das contas, você precisa ser seu maior motivador.

Mas a dica de ouro é: sente e escreva. Parece bobo? Talvez! Mas só quem já passou horas e horas encarando uma folha em branco sabe que, a melhor maneira de enfrentá-la é escrevendo algo. Uma palavra solta ou uma frase que seja. Assim, a página em branco deixará de ser um monstro e se tornará a sua página. E o melhor é fazer isso em um momento de total concentração, então realmente separe uma hora do seu dia para se dedicar somente a isso.

Para concluir, gostaria apenas de deixar uma dica prática (ao menos para mim foi algo bem útil, principalmente pelo que contei acima, de ter mudado a ordem dos capítulos): procure escrever cada capítulo de sua dissertação em um arquivo diferente e somente quando tudo estiver concluído monte o arquivo final. Isso vai te ajudar a visualizar melhor o que pertence a cada parte do trabalho, assim como facilitará caso você decida que a linearidade escolhida não está funcionando e que é melhor modificar um pouco a ordem das coisas (que foi o que fiz).

E então, vamos colocar a mão na massa?

Desmistificando o mestrado [9] — Dados da pesquisa

Esse post é para você que ingressou no Mestrado — ou está quase para ingressar — e não sabe nem por onde começar a pesquisa. Mas esse post também é para você que nunca pensou em fazer um Mestrado por achar que é “areia demais” para o próprio caminhãozinho. Dar o primeiro passo pode ser assustador, mas não é impossível. Vem comigo?

Esse tal “primeiro passo” é a definição do tema. Se você está realmente para iniciar a sua pesquisa, esse tópico já deveria estar resolvido, não? Afinal, eu falei aqui sobre o projeto de pesquisa. E se você ainda está pensando se faz ou não faz um Mestrado, não deixe de ler o post que eu indiquei, os demais e, claro, esse.

O que você deve fazer em seguida é começar a ler muito sobre o assunto. Porque, veja bem, por mais original que a sua pesquisa seja, ela precisa se sustentar. E, para isso, você vai precisar da ajuda de pessoas mais experientes que você, que vão te ajudar a argumentar sobre as suas hipóteses e respostas encontradas.

Mas não leia tudo o que encontrar pela frente e pronto. Já vá separando aquilo que te chamar mais atenção, destaque trechos que podem ser úteis e, o melhor de tudo: reúna em um mesmo arquivo todas essas referências. Será o seu arquivo de consulta básica.

Este arquivo deve conter os trechos que você acha que pode vir a usar em sua pesquisa, completamente referenciados, porque na hora que você tiver perdido as contas de quantos textos já leu, não vai mais saber de onde tirou o quê. Um trecho completamente referenciado é aquele que indica de onde foi retirado (que livro ou texto), quem é o autor e em que página se encontra. O ideal é já colocar as demais informações que você precisará para fazer as referências segundo as normas da ABNT.

Se você já tiver costume de lidar com planilhas, fica ainda melhor organizar os trechos que você destacar. As colunas base dessa planilha são: assunto (para você já mais ou menos saber em que parte da pesquisa aquilo pode ser usado), trecho, como citar e referência bibliográfica completa (já de acordo com as normas da ABNT, porque aí depois é só copiar e colar).

Depois de conhecer bem o assunto que está pesquisando, você precisa de dados que corroborem — ou não, e isso não é um problema — com a sua tese. Esses dados podem ser de vários tipos: estatísticas, depoimentos, amostras… Tudo depende de come é a pesquisa que você está desenvolvendo.

No meu caso, por exemplo, eu elaborei um material didático e, para saber se ele funcionou ou não e o que poderia ser modificado, elaborei um questionário para os alunos e um para as professoras que usaram o material. Cada questionário tinha cerca de dez questões e as respostas me ajudaram a ter um bom panorama das informações que precisava.

Com os dados em mãos, precisamos dar ainda mais um passo: analisá-los. Você já pesquisou bastante sobre o assunto e já reuniu os seus próprios dados, falta somente compreendê-los e usá-los adequadamente em seu trabalho. Algumas pessoas montam tabelas e gráficos, para poder apresentar visualmente esses dados. Outras pessoas apenas os descrevem textualmente, sem a necessidade de outros aparatos.

Vocês se lembram que eu contei que coletei dados por meio de questionários, certo? Todas as perguntas desses questionários eram de resposta aberta e dissertativa. Na hora de analisar, portanto, eu li resposta por resposta e agrupei as mais parecidas, para também ter uma ideia quantitativa sobre algumas opiniões.

Para coletar e analisar os dados de sua pesquisa, portanto, não há uma fórmula mágica. Tudo depende muito do tipo de pesquisa e da área com a qual você está trabalhando. Mas uma boa dose de organização e de paciência para entender qual é a melhor forma de compreender seus dados e apresentá-los ao público serão essenciais para que você não acabe arrancando os próprios cabelos no meio do caminho! Procure sempre deixar à mão aquilo que lhe parecer mais útil e necessário à sua pesquisa, a fim de evitar momentos de preguiça na hora de escrever a dissertação, tema que abordarei em um post futuro.

Desmistificando o mestrado [6] — Créditos e disciplinas

Destimistificando o mestrado [6]

Depois da aprovação no Mestrado chega o momento de se preocupar com as obrigações que ela traz. Eu já falei um pouco sobre isso aqui, e agora venho me aprofundar em um dos tópicos: os créditos e as disciplinas.

No Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas eu precisava cumprir 8 créditos para poder fazer a qualificação e 24 créditos (com o 8 anteriores incluídos neste número) para poder defender a minha pesquisa.

Na Letras, os cursos de Pós costumam ter uma duração de 120 horas, o que corresponde a uma disciplina de 8 créditos, com 4 horas semanais de aula, durante um semestre (um pouco menos, na verdade). Isso significa que, em tese, você precisa cursar 3 disciplinas ao longo do seu mestrado, sendo obrigatória ao menos uma antes da qualificação. As aulas costumam ocorrer no período da tarde (sim, um grande empecilho para quem trabalha), uma vez na semana (ou seja, 4 horas de aula em um único dia).

Também existem matérias mais curtas (e que, consequentemente dão menos créditos) que são oferecidas vez ou outra. Elas podem durar um mês, ou ser “intensivas”, isto é, ministradas ao longo de uma ou duas semanas. Você pode, ainda, fazer matérias em outros institutos e a quantidade de créditos acaba variando. Eu, por exemplo, cursei uma matéria na ECA que valia 7 créditos.

Isso me lembra outro ponto importante a ser destacado: a única coisa obrigatória na Pós é a quantidade de créditos. Não existe nenhuma matéria básica que deva ser feita, nem o requisito de se cursar ao menos uma matéria no seu Instituto de origem (que, no meu caso, seria a FFLCH).

Claro que você deve buscar matérias minimamente relacionadas à sua pesquisa, pois o intuito é que as leituras e os trabalhos derivados dela possam ser úteis no desenvolvimento de sua dissertação, ou que te ajudem a escrever artigos científicos, por exemplo. Portanto, a matéria que fiz na ECA não foi por mera liberdade de escolha: minha pesquisa estava relacionada à música e, por isso, optei por olhar se havia algo lá que me pudesse ser útil.

Mas aqui vai outra dica (que eu adoraria que tivessem me dado): leia atentamente a ementa da disciplina. Veja a bibliografia, a forma de avaliação e a descrição do curso em si. Eu não fiz isso com a matéria da ECA, e a maioria dos textos que precisávamos ler para a disciplina eram em inglês. Tudo bem, eu leio em inglês, mas foi um pouco mais penoso do que o esperado. Depois disso, aprendi a lição. E na Letras é preciso tomar ainda mais cuidado, pois às vezes pode acontecer de a própria disciplina ser ministrada em outra língua.

Se você for bolsista CAPES (ou melhor, se você conseguir ser abençoado com uma bolsa CAPES, porque hoje em dia, só rezando muito, né?) você terá de, obrigatoriamente, fazer o PAE (Programa de Aperfeiçoamento ao Ensino). Farei um post só sobre ele, porque é algo que gera muita dúvida entre os alunos, mas o que adianto aqui é que, no meu caso, consegui 6 créditos apenas com isso.

Outra forma de conseguir créditos, mas de maneira limitada, é através de participação em eventos científicos (com apresentação de trabalho) ou publicação de artigos. A quantidade de créditos que você pode obter com essas coisas, porém, varia de Programa para Programa, então é preciso ler com atenção o regimento do seu Programa de Pós.

E onde saber quais disciplinas serão ministradas? Sempre no nosso fiel escudeiro Janus. Também vale a pena ficar de olho em outros meios de comunicação do Programa de seu interesse.

Para concluir, gostaria de falar mais uma vez sobre a importância de se tentar cursar uma matéria como aluno especial, isto é, antes do seu ingresso efetivo na pós-graduação. Ainda que eu tenha dito que você precisa cursar basicamente três matérias ao longo do mestrado para atingir a quantidade de créditos necessários, lembre-se que existem muitas outras obrigações que tomarão boa parte do seu tempo e que você tem apenas dois anos para concluir tudo (ao menos no caso do Programa de Pós-Graduação em Línuga, Literatura e Cultura Italianas).

Desmistificando o mestrado [5] Passei no processo seletivo, e agora?

Desmistificando o mestrado [5]

Depois de meses escrevendo um projeto de pesquisa decente, depois de passar por uma prova de proficiência, pela prova de conhecimentos específicos e pela entrevista, é chegada a hora de ver seu nome na tão sonhada lista: os aprovados no processo seletivo para o Mestrado. Mas, passada a euforia inicial, vem a pergunta de sempre: e agora, estou realmente preparado(a) para iniciar essa fase?

É aquilo que sempre dizem: se der medo, vai com medo mesmo. A verdade é que nunca saberemos se estamos prontos ou não para algo até realmente tentarmos. E se chegamos até aqui, alguma condição de seguir devemos ter. E se não tivermos, desistir está liberado.

O que vou dizer agora provavelmente é bem clichê (sim, tanto quanto a frase ali em cima), mas se você passou no Mestrado, sua nova palavra amiga é a organização. Os prazos são curtos, as obrigações são muitas então… Organize-se! E se informe, sempre.

Eu diria até que, se você passou no Mestrado, seu primeiro passo é reunir o maior número de informações possíveis sobre todo o processo. Sobre o que você tem de fazer, quais são os prazos, tudo. E isso com certeza não é uma tarefa nem um pouco fácil, principalmente se você não tem o hábito de realmente perguntar as coisas para os outros.

Na Universidade de São Paulo (e, creio eu, na maioria das Universidades) nenhuma informação cai do céu. Então busque estudar o terreno no qual você está pisando. Mas existe algo que nos ajuda demais: a ficha do aluno, disponibilizada no sistema Janus, que é onde você também verá seus dados e notas relativas à Pós-Graduação. Nessa ficha, seus prazos também estarão registrados e é muito importante que, desde o início, você se atente a eles.

Não me lembro bem se já disse isso por aqui ou não, mas no Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas temos apenas dois anos para concluir o Mestrado. Esse prazo pode ser um pouco maior ou até mesmo um pouco menor, variando de Programa para Programa. Pense que, nesses dois anos, você precisa:

  • Cursar as disciplinas (para o Mestrado, são necessários 24 créditos);
  • Passar pela Qualificação (que é a avaliação feita na metade da sua pesquisa);
  • Coletar os dados da pesquisa;
  • Organizar os dados e as leituras realizadas;
  • Escrever.

E isso sem contar que, muito provavelmente, vão pedir que você participe de eventos acadêmicos. E que escreva artigos científicos. É, não é pouca coisa.

Já pensou conciliar isso com uma rotina de trabalho? Se você trabalha 8 horas por dia, fica realmente bem puxado. Se você tem horários mais flexíveis, isso ajuda muito. Em qualquer um dos casos, como eu disse, a organização será essencial.

No próximo post eu pretendo falar um pouco sobre os créditos e sobre as disciplinas, mas uma coisa que eu gostaria de adiantar: levando em consideração esse prazo de dois anos para fazer tudo o que listei acima, o ideal é que você ingresse no Mestrado tendo cursado ao menos uma disciplina como aluno especial (e que essa disciplina possa ser validada após o seu ingresso). Pode parecer pouco, mas já será de grande ajuda! E também é bom para te dar uma dimensão de como é a Pós-Graduação, o ritmo das aulas, as avaliações.

Desmistificando o mestrado [4] — Projeto de pesquisa

Desmistificando o mestrado [4] O projeto de pesquisa

O post de hoje talvez seja um dos mais difíceis dessa categoria e digo isso porque pretendo falar sobre algo que, ao mesmo tempo que é essencial para uma pesquisa, é algo sobre o qual temos poucas orientações.

Eu poderia dizer que o projeto de pesquisa é o início de tudo. Um documento que mostrará suas ideias e que, se bem feito, servirá de guia para toda a sua pesquisa. Em outros termos, ele é um esboço do que virá.

No Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas (PPGLLCI) — e creio que na maioria dos Programas de Pós —, a entrega do projeto de pesquisa faz parte do processo seletivo. É através desse documento que os professores avaliam a sua ideia, se ela tem sentido, se é relevante e, claro, viável.

Um bom projeto de pesquisa deve ter, essencialmente, as seguintes partes:

  • Introdução: para que você conte um pouco de onde surgiu sua ideia, da sua relação com o tema proposto. Tema, aliás, é a palavra chave aqui: o que você vai pesquisar?Eu acabei usando essa parte, também, para citar algumas pesquisas sobre o mesmo tema que a minha e qual era o “buraco” que eu queria “cobrir”, o que relacionou muito essa parte com outra que aparecerá logo mais.
  • Objetivo:  se você está se propondo a se debruçar sobre um tema, você provavelmente tem um objetivo, quer chegar a algo. E aqui você vai tentar mostrar onde pretende chegar. No caso de pesquisas de Doutorado, é necessário colocar também uma hipótese que será ou não comprovada ao final da pesquisa. Para o Mestrado, você pode elencar uma ou duas perguntas para responder ao final da pesquisa.
  • Justificativa: depois de apresentar sua ideia, dizer onde quer chegar, alcançamos um ponto crucial: por que você quer fazer isso? Qual é a relevância da sua pesquisa? (e essa era a parte que estava muito ligada à minha introdução).
  • Metodologia: com todas as informações acima tendo sido apresentadas, você precisará esclarecer como pretende realizar a sua façanha. Aqui você poderá descrever os passos necessários, as ferramentas que utilizará e o que mais achar necessário esclarecer.
  • Fundamentação teórica: essa é uma parte complicadinha do projeto, pois você precisará mostrar quais autores/pensadores te ajudarão em sua caminhada. Afinal, mesmo a mais original das ideias precisa de forças para se concretizar, e é nesta parte que você mostrará quem te inspirou e como as ideias dessas pessoas podem te ajudar. Acho que essa foi a parte mais extensa do meu projeto, porque a ideia é você realmente falar um pouco sobre cada obra que pode vir a te servir na pesquisa (isso acaba mudando muito depois, você descobre novos textos, elimina alguns anteriores, não tem problema nenhum!)
  • Cronograma: para terminar, é hora de mostrar em quanto tempo você pretende realizar a pesquisa proposta. Mas não se engane: você não tem o tempo que quiser para isso. No PPGLLCI, por exemplo, temos no máximo dois anos (Mestrado) ou três anos (Doutorado) para concluir a pesquisa. Então, nessa parte, tudo o que você precisa mostrar é que é viável fazer o que você quer fazer no tempo que tem à disposição.
  • Referências bibliográficas: como todo trabalho acadêmico, você fechará o seu projeto de pesquisa com as referências dos textos utilizados para construí-lo. O ponto positivo dessa parte é que ela será muito útil no resto de sua pesquisa, afinal, boa parte dos textos usados no projeto serão utilizados no restante do trabalho (a menos que ele sofra uma mudança radical — o que pode vir a ocorrer também).

Como eu disse, essas são as partes essenciais de um projeto, mas a sequência e a estrutura dele pode variar de um Programa para outro, por isso é sempre importante tentar conseguir essas informações com outros alunos ou mesmo com professores.

Se você se sente extremamente perdido(a) com relação ao projeto de pesquisa, dá uma procurada no livro Como elaborar projetos de pesquisa, ele pode ser bem útil! O mais importante, porém, é não ter medo. Faça um rascunho, converse com que já passou por essa etapa, pergunte, pesquise. O projeto de pesquisa é uma parte importante da pesquisa, mas não é a pesquisa em si. Muita água ainda vai rolar depois disso.

Desmistificando o mestrado [3] — Prova de conhecimentos específicos e entrevista

Desmistificando o mestrado [3]

Depois de falar para vocês sobre a prova de proficiência, chegou a hora de falar sobre as outras duas etapas de seleção do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas, que são, na sequência: prova de conhecimentos específicos e entrevista.

Neste Programa de Pós-Graduação, a prova de conhecimentos específicos é realizada no dia seguinte à prova de proficiência, para facilitar o acesso àqueles que vem de outras cidades ou até mesmo Estados.

Para realizar essa prova você deve ler a bibliografia indicada, que varia de acordo com a área para a qual você está prestando a prova (língua, literatura ou tradução). Essa prova acontece da seguinte maneira: recebemos cerca de cinco perguntas relativas à área que escolhemos e devemos responder a duas delas, com um texto dissertativo de cerca de 20 linhas para cada questão escolhida. Quase sempre essa prova acontece em salas que possuem computadores, o que ajuda muito na hora de escrever e rescrever as respostas.

Nesta prova não é permitido nenhum tipo de consulta, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. Claro que, para isso, é importante ter lido a bibliografia e também ter certo conhecimento na área e, principalmente, sobre aquilo que você irá pesquisar.

Superada essa etapa, chegamos à entrevista. Cerca de duas semanas depois das duas provas já mencionadas, os alunos selecionados (ou seja, que foram aprovados em ambas as provas) são chamados para a tal entrevista. A quantidade de professores que vão nos entrevistar varia de acordo com a disponibilidade deles (quando eu fiz, estavam praticamente todos lá!).

Os professores vão fazendo perguntas sobre seu projeto (que em algum momento, no meio do caminho, já foi entregue), para verificar se você realmente tem ideia do que vai pesquisar e, mais que isso, se é realmente viável a sua pesquisa. Também é uma forma deles conhecerem um pouco mais sobre você e seu percurso acadêmico até ali. É nessas horas que ter feito uma iniciação científica, por exemplo, faz diferença, ainda que ela não seja um requisito para esse Programa de Pós-Graduação (mas é para alguns outros, então preste atenção a isso).

Depois da entrevista, tudo o que nos resta é aguardar o resultado final. Neste Programa de Pós-Graduação não somos nós quem escolhemos o orientador, mas os próprios professores que dividem os candidatos entre si. Então, quando recebemos o resultado final, em caso de aprovação, ficamos sabendo, também, quem será nosso orientador.

Espero que tenham gostado do post e, se tiverem dúvidas, fiquem à vontade para perguntar. O próximo post será sobre o projeto de pesquisa, que acabei não explicando ainda.

Desmistificando o mestrado [2] — Prova de proficiência

Desmistificando o mestrado [2]

Hoje é, finalmente, dia de continuar a falar sobre o Mestrado! E, para falar dele, precisamos, antes de mais nada, falar como começar ele. O post de hoje, portanto, é dedicado à uma das etapas do processo seletivo: a prova de proficiência.

A proficiência é, em geral,  uma das primeiras etapas e é eliminatória. Isso significa que, para iniciar um Mestrado, você deve saber ao menos uma língua estrangeira. E falar dessa etapa é um pouco complicado, pois, só na Letras, já existem diversas nuances, imagine fora dela.

Por exemplo, se você vai fazer Mestrado em uma área de literatura (brasileira, portuguesa ou clássicas) — e se eu não estou enganada —, você pode escolher fazer a proficiência em qualquer língua. Agora, se você vai fazer um Mestrado em uma área de línguas estrangeiras (ainda que seja relacionado à literatura daquela língua), como foi meu caso, você, necessariamente, deverá comprovar proficiência naquela língua (o que, digamos, faz muito sentido).

Mas também existem diversos tipos de prova de proficiência. Na Universidade de São Paulo, a mais simples é a do Centro de Línguas, que prepara provas para diversos Programas da Universidade. Nela, você basicamente precisa demonstrar que consegue ler e interpretar um texto na língua estrangeira escolhida. Para isso, claro, há um texto na língua em questão e questões de múltipla escolha referentes a ele, em português. E ainda pode usar um dicionário monolingue.

O segundo tipo de prova é aquela preparada especialmente para os Programas de línguas estrangeiras, como é o caso do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura italianas. É uma prova relativamente parecida com a do Centro de Línguas, mas um pouco mais elaborada, entrando algumas questões dissertativas e de tradução.

Por fim, sempre temos a opção de fazer uma prova externa, que geralmente é bem mais complexa, porque abrange as quatro competências (ler, ouvir, escrever e falar). Acho que um dos exemplos mais conhecidos que posso dar desse tipo de prova é o TOEFL. No caso do italiano podemos mencionar o CELI e o CILS. E eu (que adoro complicar quando posso facilitar) optei por esse tipo de prova.

Aí você me pergunta “por que?”, já que além de mais difícil, esse tipo de prova é bem mais cara. Mas há uma vantagem: enquanto as duas primeiras provas que mencionei valem somente para ingressar no Mestrado dessa Universidade, e mesmo ali costumam ter uma validade de dois anos, as provas externas, são válidas/exigidas em diversos lugares/países, e quando têm validade, ela é de pelo menos 5 anos.

Espero ter conseguido explicar um pouco sobre as provas de proficiência, mas caso tenham dúvidas, basta comentar aqui! Em breve, falarei sobre as outras etapas do processo seletivo. Achei que caberia tudo em um único post, mas falar da proficiência já deu muito pano pra manga!

E se você não viu o primeiro post dessa série, clique aqui.