Título: Meu corpo virou poesia Autora: Bruna Vieira Editora: Seguinte Páginas: 184 Ano: 2021

Se você já leu outras resenhas minhas, provavelmente percebeu duas coisas: eu não costumo ler muitas obras de poesia (mas esse ano já iniciei umas três resenhas de livros desse gênero com essa frase) e nunca coloco alerta de gatilho, por um simples motivo: eu não sei o que pode ser um gatilho para você e em que nível isso pode acontecer. E o que isso tem a ver com a resenha de hoje? Calma, segue aqui que eu já te explico.
“Respeite os processos do seu corpo,
os que você controla, mas principalmente
os que não estão no seu controle”
Meu corpo virou poesia é uma obra linda, não apenas pela diagramação caprichada, mas também pelo conteúdo. O primeiro livro de poesias da Bruna Vieira carrega consigo muito sentimento, perda, dor, força, ajuda, renascimento. E por tudo isso e tantas outras coisas que sequer consigo mencionar, não pude deixar de pensar que, em algum nível, seu conteúdo pode despertar gatilhos variados em muitas pessoas.
“Juro que te esqueci
até o vizinho usar o mesmo perfume que o seu”
Ainda assim, esse é um livro cuja leitura eu indico e que certamente daria de presente a algumas pessoas, assim como eu mesma recebi meu exemplar de uma amiga que sentiu, acertadamente, que essa era uma leitura que eu precisava fazer (obrigada, Clari!).
Provavelmente o que torna esta obra tão forte é saber que a autora não jogou palavras em uma página em branco buscando fazer arte: ela jogou aquilo que estava dentro dela e aí sim transformou isso em arte. Ela pegou sentimentos, histórias e vivências reais e os colocou em versos que poderiam muito bem nos descrever e representar.
“Nós sempre nos lembramos
De formas diferentes
De como tudo aconteceu”
E se pode parecer que trata-se apenas de uma obra melancólica, já adianto que não. É uma obra que parece carregar um ciclo, nos mostrando que é possível voltar a ver a luz, mesmo depois de uma infinidade de dias nublados, inclusive quando essa parece a coisa mais absurda e improvável do universo.
“Um dia essa lembrança
que hoje é a chave de uma caixa de questionamentos,
que você esconde do mundo
e de si,
vai também ser um lembrete
do quão forte você é capaz de ser”
O livro é dividido em quatro partes — cabeça, garganta, pulmão e ventre — que também já ajudam a demonstrar o quanto suas poesias e sua autora estão intimamente conectados e podem se tornar, ainda, o nosso próprio corpo.
“O que você faria
se o seu mundo inteiro
te olhasse nos olhos
e te dissesse que você nunca realmente
pertenceu àquele lugar?”
Escolher uma única poesia preferida seria uma tarefa bem ingrata, mas gostaria de mencionar três que, para além de todos os trechos apresentados ao longo dessa resenha, me tocaram de maneira especial:
- Os detalhes que eu perdi
- Ruído na comunicação [essa pegou muito forte, dá vontade de estampar em todos os lugares]
- Obrigada
Por fim, gostaria de te lançar um desafio: duvido que você leia essa obra e não se identifique com ao menos uma poesia. E aí, topa? Depois vem me contar o resultado!