Título: Faca na língua Autora: Eunice Mendes Editora: AGWM Editores Páginas: 158 Ano: 2019
Faca na língua é uma obra singular que nos traz contos variados e um projeto gráfico lindo; uma coletânea que nos faz refletir sobre a vida em seus mais diversos aspectos; um livro que surge da necessidade de colocar no mundo as palavras que estão dentro de nós.
“Acredito que as palavras podem ser janelas abertas para o amanhã”
(p.13)
A obra é dividida em três seções: Personificação, Alteridade e Persona. A seção de que mais gostei foi Personificação, que além de ser a primeira, já começa nos dando diversos tapas na cara.
“Silêncio traz verdades incômodas e impede de nos escondermos sob a luz da ignorância”
(p.19)
Por falar em gostar, alguns dos contos que mais chamaram minha atenção foram:
- Silêncio: é o primeiro conto do livro, abrindo-o de forma impactante e reflexiva (o trecho acima foi retirado justamente deste conto);
- Decreto: por retratar o peso daquilo que “profetizamos” aos outros;
- Livre-arbítrio: pelo questionamento da obrigatoriedade do desejo e do prazer sexual;
- Dança urbana: pelo retrato fiel de um horário de pico, em apenas duas linhas.
Esse são apenas alguns. Eu conseguiria destacar tantos outros, pois em diversos momentos ao longo da leitura tive de parar, respirar refletir. Os contos são de tamanhos diferentes e há inclusive uma página com três contos que mais parecem três poemas (não só pelo tamanho, mas também pela disposição no papel).
“A busca extenuante por respostas virou sua vida de cabeça para baixo”
(p.51)
Quando vamos chegando ao final do livro podemos ter a sensação de conhecer o eu lírico dos contos ou até mesmo a autora. Isso porque algumas temáticas vão e voltam, mas sem que fiquem repetitivas.
“Tinha se acostumado tanto a enxergar a vida pelo reflexo do espelho que se esquecia de continuar vivendo o dia a dia, retirar o lixo e entulhos, fechar portas e janelas. Acessava o mundo por meio daquela janela translúcida que dispensava a necessidade de atravessar barreiras ou pontes”
(p. 99)
Ao longo das páginas, portanto, nos deparamos com textos que falam sobre isolamento, preconceito, identidade (e a perda dela), envelhecimento, relações familiares e até dor nas costas.
“O homem deformado foi embora para sempre. A humanidade e seu aleijão permaneceram”
(p.47)
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