Antes que a morte morra — Victor Marques

Título: Antes que a morte morra
Autor: Victor Marques
Editora: Publicação independente
Páginas: 26
Ano: 2020

Imagine viver em uma cidade onde ninguém morre, porque uma corajosa senhora matara a morte? Parece muito estranho esse meu pedido? Mas é exatamente a um cenário desses que somos introduzidos em Antes que a morte morra.

Claro, porém, que nada é tão simples quanto parece, não é mesmo? E é assim que acabamos ficando tão encucados quanto o protagonista desta história, Vicente, tataraneto desta heroica senhora, Dona Laura, que enfrentara e exterminara a morte de Santa Temis, uma cidadezinha amazônica.

“Queria ter força e coragem para fugir de casa e subir num barco, remar até a próxima cidade e matar a morte, como a tataravó fez. E então seguiria para a próxima, e mais uma, até que não tivesse mais dor em nenhum canto do país”

Acho que só pelo que eu apresentei no parágrafo e no trecho acima já dá para ter uma ideia da imaginação do autor, não?

E não para por aí não! Acho que, lendo, é muito difícil não se sentir ao lado de Vicente, uma criança curiosa, tentando entender como é possível matar a morte (até porque, se nada morre, como a morte morreu?), principalmente porque seu professor dissera que isso era tudo invenção. Como seria invenção se há décadas não são registradas mortes naquela cidadezinha? Como explicar isso?

“No fim, o maior horror da humanidade continua sendo o ser humano, raça inescrupulosa, que acha que pode brincar de Deus e enganar jovens almas como a do ingênuo rapaz. Ninguém merece isso”

O conto é narrado em terceira pessoa, o que poderia não nos deixar tão próximos de Vicente (bom, ao menos alguns leitores pensam assim), mas, como eu disse, os questionamentos dele e a trama são construídos de uma forma que é difícil não querer continuar e, ao lado do pequeno, desvendar todo esse mistério.

O final, não posso negar, me deixou de queixo caído. Um desfecho que aponta para uma crítica social, ao mesmo tempo que torna toda a narrativa ainda mais palpável. E para coroar a leitura, fiquei me perguntando se a escolha do nome da cidade foi mero acaso ou caso pensado…

Se você quer conhecer o desenrolar de Antes que a morte morra, clique aqui e visite a misteriosa cidade de Santa Temis.

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Eu escrevo poemas — Triz Santos

Título: Eu escrevo poemas
Autora: Triz Santos
Editora: Publicação independente
Páginas: 11
Ano: 2021

Eis que você decide ler um conto — “só 11 páginas, uma leiturinha rápida para passar o tempo” — e sai mais destruída do que quando iniciou a leitura.

Há histórias que são bonitas, mas há histórias que são ainda melhores quando lidas no momento certo. E foi o que aconteceu entre Eu escrevo poemas e eu. Literalmente, um conto que caiu do céu em meio à leituras que estavam sendo retomadas.

Na primeira linha da história conhecemos Ethan. Ele está em sua escrivaninha, aos prantos, e escrevendo… Um poema, claro. Poema este que, dentre tantos outros, foi escrito para Anthony, seu ex que nunca lerá nenhum desses versos.

“Sempre que Ethan se lembrava disso, seu peito doía e a sua respiração tornava-se escassa, enquanto se permitia chorar até não poder mais. Ele viu tudo de mais precioso que tinham se esvair diante de seus olhos, e não pôde fazer nada”

Não, Ethan não perdeu Anthony para a morte. O perdeu para a vida mesmo: sem mais nem menos, este decidiu que era hora de partir, de dizer adeus àquele relacionamento, deixando Ethan com o coração totalmente despedaçado e a mente totalmente caótica.

“E esse foi o fim. O fim de uma história de amor que ninguém jamais imaginou que um dia terminaria”

Há três anos Ethan tenta entender o que aconteceu. Há três anos Ethan vive no automático. E há três anos Ethan escreve para tentar expurgar essa dor que o consome.

“Muitas coisas foram deixadas pendentes

E eu revivo os momentos

Sempre que fecho os olhos

Como um filme

Que eu dolorosamente insisto em assistir”

Apesar de poder parecer apenas um conto extremamente dramático, Eu escrevo poemas é uma história bela, dolorosamente possível e, ao mesmo tempo, que nos faz refletir sobre a vida, sobre nossos sentimentos e a vontade ou necessidade de seguir em frente.

“Sua vida não ia para frente nem para trás, estava completamente estagnada…”

É, também, um conto para nos fazer lembrar que ciclos se fecham — repentinamente ou não —, mas que podemos (e devemos) nos permitir sentir a dor necessária, nos mostrando, porém, que também é importante buscar uma forma de contorná-la, porque ninguém quer seguir vivendo no automático, não?

Se você quiser realizar essa leitura também (e depois me contar a sua opinião, pois, como eu disse, li no momento certo, então, para mim, o impacto desta breve narrativa foi bem forte!), clique aqui.

Gostosuras ou travessuras (Antologia)

Título: Gostosuras ou travessuras
Organização: Equipe Lettre
Editora: Lettre
Páginas: 128
Ano: 2020

Gostosuras ou travessuras é a mais nova antologia de distribuição gratuita da Editora Lettre. Este é um formato que a Editora está testando, para incentivar a literatura nacional de maneira verdadeiramente acessível a todos.

A antologia reúne contos que se passam no Halloween, mas com uma proposta um pouco diferente: os protagonistas de cada conto são seres fantásticos. Você já se perguntou como essas criaturas — que geralmente são as que dão origem às nossas fantasias — passam essa data?

“A verdade era que nenhum deles entendia muito bem, mas algo lhes dizia que eles se veriam em breve”

(Conto: O início de uma nova era)

Em Gostosuras e travessuras você pode descobrir as respostas — sim, no plural, porque cada criatura passa a seu modo! — para esta pergunta. São textos que nos apresentam anões, unicórnios, leprechauns, dragões, fadas, bruxas, zumbis, anjos, vampiros, lobos…

Além da temática similar, todos os contos foram escritos para que mesmo os mais novos possam ler. Ou seja, Gostosuras e travessuras é uma antologia de classificação indicativa livre e com histórias que, mesmo no mais assustador dos casos, são leves.

“Eu não chorava só por mim. Chorava toda noite pela vida que se perdera, pela fome, pelos abusos e assassinatos. Eu chorava pelas pessoas que cresceram comigo, que cuidaram de mim, que fizeram aquela vila existir e que agora, assim como eu, estavam perto de suas mortes”

(Conto: A esposa do espírito branco da lua)

Esta antologia foi pensada um pouco às pressas e, por isso, juntamos apenas os autores da própria Editora e alguns convidados para compô-la. A Lettre, porém, tem planos de lançar outras antologias do tipo, contando com uma participação mais ampla. Inclusive, o edital da próxima já está aberto e as inscrições vão só até o dia 06/11 (para saber mais, clique aqui).

Uma coisa que gostei ao longo das páginas de Gostosuras ou travessuras é que a antologia traz diversos textos sobre amizade ou então sobre respeito ao próximo. Foi muito bom encontrar tantos textos que trazem lições tão importantes, mas de maneira leve e gostosa de ler. E mais ainda: em uma antologia de halloween! Ou seja, não é apenas mais do mesmo.

Eu não vou me deter muito, principalmente no elogios aos contos porque também sou uma das autoras e isso seria no mínimo suspeito!

Brincadeiras à parte, foi um desafio para mim a participação nesta antologia. Mesmo lendo fantasia, este não é um gênero com o qual tenho muita afinidade. Por isso, acabei escolhendo como personagem uma sereia, figura fantástica pela qual sempre nutri certo fascínio. Meu conto chama-se “A vida em ondas” e é narrado em primeira pessoa.

Se você ficou com vontade de conhecer essas histórias ou então se está buscando algo relacionado ao halloween para ler nesta época, aproveite que Gostosuras ou travessuras é gratuita! E não, não é por tempo limitado. Basta acessar o site da Editora Lettre e baixar o arquivo. Ou então clique aqui para ir diretamente para a página correta.

E se você decidir ler, depois venha me contar o que achou! Será uma alegria poder trocar figurinhas ou mesmo ouvir sugestões do que poderia ter sido diferente em meu texto!

Entre estantes — Olívia Pilar

Título: Entre estantes
Autora: Olívia Pilar
Editora: Publicação independente
Páginas: 14
Ano: 2017

Logo de cara, o que me chamou a atenção para esta história foi o título. E então a capa. Por fim, a sinopse. Tudo me remeti a livros, a paixão, a conhecimento.

“Entre estantes” é um conto e, como tal, é de rápida leitura. Poucos acontecimentos, poucos personagens. Uma narrativa de fácil compreensão, mas, nem de perto, rasa.

Trata-se da história de uma jovem, Isabel, que está em seu primeiro ano de faculdade. É ela mesma quem nos conta o seu percurso, começando lá em fevereiro, com o início das aulas. O lugar central da história, porém, não é simplesmente a faculdade como um todo, mas um ponto específico: a biblioteca. Agora ficou mais claro o título, não?

Mais do que encontrar os livros de que precisa, porém, Isabel encontra algo mais entre as estantes da biblioteca: autoconhecimento. E não falo apenas sobre o início da vida adulta, as inseguranças com nossas escolhas. Neste conto, Isabel repensa muito mais que isso. E tudo isso ao se deparar com uma figura que rapidamente lhe chama a atenção. Uma figura que ela tenta esquecer, mas não consegue.

Essa é uma leitura que eu recomendo entre um livro e outro, uma pausa gostosa, rápida e incrível. Uma leitura de minutos, mas que vai te acompanhar por dias. E Olívia Pilar tem vários outros contos publicados, que agora estou bem curiosa para conhecer!

Se interessou? Então clica aqui.

Tatianices recomenda [13] — Michelle Pereira

Em tempos de distanciamento social pode acontecer da criatividade aflorar e de sentirmos necessidade de ocupar tempos que antes não eram ociosos. Algumas pessoas, porém, se superam nesse quesito. E hoje, aqui, venho falar especificamente sobre uma delas: a escritora Michelle Pereira.

Eu conheci (infelizmente apenas virtualmente) a autora Michelle Pereira no ano passado, quando demos início a uma parceria. Li todos os livros dela até então publicados e me encantei com a escrita dela, tão plural e criativa.

No dia 9 de abril de 2020, em seu instagram pessoal, a autora pediu para que seus seguidores dessem uma palavra a ela, que, ao longo dos dias, ela escreveria um microconto baseado em cada palavra. Essa é uma forma não apenas de exercitar a criatividade, como também de se aventurar por outros estilos e, claro, praticar a escrita. Uma ótima dica para escritores.

E gente, que presente! A Michelle consegue criar textos muito diversos e completos, mesmo que em poucas palavras. Histórias bem feitas e que, ao mesmo tempo, deixam margens para que nós mesmos nos aprofundemos nelas por caminhos diversos.

Até o momento temos microcontos com as seguinte palavras:

  • Samambaia
  • Horizonte
  • Cobra
  • Pôr do sol
  • Sonoridade
  • Amarelo*
  • Tempo
  • Metálico
  • Delírio

*Amarelo foi uma palavra sugerida por mim e, sabendo que eu gosto de romance, a autora quis escrever algo nesse estilo. Obviamente eu AMEI, mas o que me encantou mais ainda foi o quanto ela conseguiu escrever algo que me remeteu à minha própria história de amor (por si só já intimamente ligada à palavra amarelo), mesmo sem saber tanto sobre ela! É magia atrás de magia que sai das mãos da Michelle.

Mas fala sério, só por essa lista já dá para imaginar o quão desafiadora tem sido essa experiência, não? E a Michelle ainda faz tudo parecer tão natural! Se quiser conferir com seus próprios olhos, você pode ler os textos no instagram ou no Blog dela. Passem lá, leiam os contos e depois voltem aqui para me contar o que acharam. Estou curiosa com a opinião de vocês!

E também deixo aqui minhas resenhas, caso vocês ainda não conheçam as demais obras dela:

Faca na Língua — Eunice Mendes

Título: Faca na língua
Autora: Eunice Mendes
Editora: AGWM Editores
Páginas: 158
Ano: 2019

faca na língua blog

Faca na língua é uma obra singular que nos traz contos variados e um projeto gráfico lindo; uma coletânea que nos faz refletir sobre a vida em seus mais diversos aspectos; um livro que surge da necessidade de colocar no mundo as palavras que estão dentro de nós.

“Acredito que as palavras podem ser janelas abertas para o amanhã”

(p.13)

A obra é dividida em três seções: Personificação, Alteridade e Persona. A seção de que mais gostei foi Personificação, que além de ser a primeira, já começa nos dando diversos tapas na cara.

“Silêncio traz verdades incômodas e impede de nos escondermos sob a luz da ignorância”

(p.19)

Por falar em gostar, alguns dos contos que mais chamaram minha atenção foram:

  • Silêncio: é o primeiro conto do livro, abrindo-o de forma impactante e reflexiva (o trecho acima foi retirado justamente deste conto);
  • Decreto: por retratar o peso daquilo que “profetizamos” aos outros;
  • Livre-arbítrio: pelo questionamento da obrigatoriedade do desejo e do prazer sexual;
  • Dança urbana: pelo retrato fiel de um horário de pico, em apenas duas linhas.

Esse são apenas alguns. Eu conseguiria destacar tantos outros, pois em diversos momentos ao longo da leitura tive de parar, respirar refletir. Os contos são de tamanhos diferentes e há inclusive uma página com três contos que mais parecem três poemas (não só pelo tamanho, mas também pela disposição no papel).

“A busca extenuante por respostas virou sua vida de cabeça para baixo”

(p.51)

Quando vamos chegando ao final do livro podemos ter a sensação de conhecer o eu lírico dos contos ou até mesmo a autora. Isso porque algumas temáticas vão e voltam, mas sem que fiquem repetitivas.

“Tinha se acostumado tanto a enxergar a vida pelo reflexo do espelho que se esquecia de continuar vivendo o dia a dia, retirar o lixo e entulhos, fechar portas e janelas. Acessava o mundo por meio daquela janela translúcida que dispensava a necessidade de atravessar barreiras ou pontes”

(p. 99)

Ao longo das páginas, portanto, nos deparamos com textos que falam sobre isolamento, preconceito, identidade (e a perda dela), envelhecimento, relações familiares e até dor nas costas.

“O homem deformado foi embora para sempre. A humanidade e seu aleijão permaneceram”

(p.47)
Para conhecer melhor esses contos, clique aqui.

Conto: O servo do rei — Juliana Lima

O conto O servo do rei faz parte da antologia Entre Amigos organizada por Giuliana Sperandio e publicada pela Editora Sinna

O servo do rei

O servo do rei nos traz a história de uma forte e secreta amizade entre dois jovens: o narrador e Dim. Seus nomes verdadeiros, no entanto, são desconhecidos até mesmo entre eles.

“O brilho em seus olhos era diferente da falta de brilho das outras garotas”

Como todo ser humano, porém, eles crescem e isso acaba por afastá-los aos poucos.

“Já éramos melhores amigos desconhecidos”

O amor que o narrador nutre por Dim está claro desde o começo, mas vai ganhando forma e intensidade com o passar da narrativa.

“Não sei o que sentia por ela antes, mas, depois que se afastou, entendi que não era algo bom. Doía — bons sentimentos não devem doer”

Como todo ser humano, também, esses dois jovens (já não tão jovens assim) são surpreendidos pelos acasos da vida.

“Tudo estava certo, menos o que me aguardava naquela tarde”

O servo do rei, além de falar sobre amizade e amor, fala sobre o poder que nos cega, e sobre vingança desmedida. Uma ótima história para nós fazer refletir.

E aproveitando que a Bienal carioca está chegando, se você quiser conhecer a autora Juliana Lima e seu novo livro, Contos de Fadas de Cabeceira, ela estará no estande da editora The Books (Estande R70 – Pavilhão Verde) no dia 07/09, às 13h00 autografando e distribuindo brindes.

 

Miniconto: Banho — Michelle Pereira

banho capa

Depois de Arvoredo e Chifres, essa semana é vez de Banho, um miniconto em que a Michelle narra essa ação tão banal e prazerosa de uma maneira que a torna uma experiência única.

Sinopse:

Para algumas criaturas, o banho é dispensável.

Para essa, ele é especial.

Banho é um miniconto do arco Contos das Terras Mágicas, um universo onde mito e realidade se misturam.

Para ler Banho de maneira gratuita e rápida, acesse: bit.ly/contobanho