
Recentemente traduzi um artigo sobre o que os italianos leem. A Nati comentou que adoraria ver um comparativo dos dados daquele artigo com dados da realidade brasileira e pensei que isso não seria tão difícil, visto que temos a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
Para quem não sabe, a Retratos da Leitura “é a única pesquisa em âmbito nacional que tem por objetivo avaliar o comportamento leitor do brasileiro” (explicação retirada do site da Plataforma Pró-Livro). Com isso, realmente a tarefa deveria ser fácil, mas devo confessar que achei a exposição dos dados um pouco confusa e, de antemão, peço desculpas se avaliei algo erroneamente.
O artigo que eu traduzi é de novembro de 2020 e a última Retratos da Leitura saiu também em 2020 (tendo sido realizada entre outubro de 2019 e janeiro de 2020). Creio que seja possível fazer um comparativo com esses dados.
Para começar, é importante ressaltar que na Itália considera-se a população que lê ao menos um livro por ano, enquanto para a pesquisa brasileira considera-se leitor aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. Dito isso, temos que 40,6% da população italiana lê ao menos um livro por ano, enquanto no Brasil temos que 52% da população é considerada leitora (mas em 2015 éramos em 56%!).
Assim como na Itália, no Brasil a quantidade mais alta de leitores está entre os jovens, principalmente entre os 11 e os 17 anos. E, por aqui, as mulheres também leem mais que os homens, mas a diferença é bem pouca: 54% do público é feminino e 46% masculino.
Um dado muito interessante no cenário brasileiro é o percentual de leitores na região Norte (que é bem diferente da região Norte italiana em termos populacionais e de desenvolvimento/infraestrutura): 63%. É a região com maior percentual, seguida pela região Sul (58%), Sudeste (51%), Nordeste (48%) e Centro-Oeste (46%). Também é interessante notar que, com relação à escolaridade, a maior parte dos leitores está entre os que possuem Ensino Médio e não necessariamente o Ensino Superior, o que é um pouco diferente dos dados italianos.
Um livro que não sai dos mais lidos entre os brasileiros é a Bíblia. Para além disso, lê-se muitos contos, livros religiosos e romances. Entre os livros mais lembrados temos “A Cabana”, “O pequeno príncipe” e “Turma da Mônica” e dentre os autores preferidos pelos brasileiros temos Machado de Assis, Monteiro Lobato e Augusto Cury.
Na pesquisa italiana foi mencionado que crianças que crescem em famílias leitoras, leem mais. Na pesquisa brasileira, algo que salta aos olhos é que 67% dos leitores afirma não ter sido influenciado por ninguém em especial, enquanto 11% foi influenciado por professores e apenas 8% pela mãe ou responsável do sexo feminino!
Sobre formato do livro (físico ou digital) temos dados relativos ao último livro lido entre os entrevistados: 92% leu em papel e apenas 8% em algum formato digital. Além disso, 30% comprou o último livro em loja física e 9% pela internet. Na Itália também ainda há uma boa disparidade entre leitores de livros físicos e digitais. No geral, porém, no Brasil, 37% dos leitores já leu em formato digital, havendo ainda, contudo, uma declarada preferência (67%) por livros físicos.
Para 56% dos leitores brasileiros as bibliotecas representam um lugar para pesquisar ou estudar (em 2015 essa porcentagem era de 71%!) e para 22% um lugar para emprestar livros. Assombrosamente, por outro lado, a porcentagem de pessoas que respondeu que existe uma biblioteca pública em sua cidade ou bairro caiu de 67% em 2007 para 47% em 2019. Onde vamos parar??
E os motivos para ir a uma biblioteca são: ler livros para pesquisa ou estudar (51%), ler livros por prazer (33%), estudar ou fazer trabalhos (21%). E dentre aqueles que não frequentam bibliotecas, o que poderia mudar essa condição seria o fato dela ser mais próxima de casa (17%) ou ter mais livros ou títulos novos (14%). Mas a verdade é que para a maioria (29%) nada mudaria isso.
Esses são alguns dos dados que consegui comparar entre as pesquisas vistas. Como eu disse no início, achei a apresentação da Retratos da Literatura um pouco confusa e nem sempre foi possível analisar exatamente o mesmo tipo de dado entre uma pesquisa e outra. Porém, foi bem interessante ter essa visão, até porque aqui também ouve-se muito que o brasileiro não lê, que livro é coisa de rico e absurdos assim.
Por fim, também gostaria de fechar o meu post com algumas curiosidades com relação à pesquisa brasileira:
- O lugar onde mais lemos (principalmente agora, né?) é em casa e, em segundo lugar, na sala de aula;
- costumamos ler parte de um livro mais de uma vez, bem como muitos leitores começam a ler um livro e o largam sem terminar;
- 47% dos leitores não lê mais por falta de tempo (e a média é de 5 livros lidos por ano);
- em ordem, os fatores que mais influenciam leitores na escolha de um livro são: tema ou assunto, capa e autor.
Eu adorei sua comparação!!! Deu um ar lindo de curiosidade do lado italiano e conhecimento do nosso lado brasileiro. Tô intrigada que de 2015 pra 2020 nossos números mudaram muito! E agora tô mais tentada a continuar prestando atenção neles. Obrigada por esse post, Tati <3
CurtirCurtido por 2 pessoas
Fico feliz que tenha gostado, Nati 💜
Sim, realmente mudaram! É algo a se pensar e observar, sem dúvidas.
Obrigada pela sugestão de post!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Interessantíssimo! Adorei saber esses dados.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Fico feliz em saber! Obrigada pela leitura (:
CurtirCurtido por 1 pessoa
Bem interessante! Sabe que leio ultimamente muito menos do que gostaria, e tenho alguns livros na estante esperando a sua vez. Mas, agora que eu gasto um certo tempo de deslocamento para ir ao trabalho, penso seriamente em aderir aos audio livros, quem sabe isso aumente a quantidade de minhas leituras (ou consumos literarios) anualmente.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Acho que nossa leitura acaba tendo fases também. Você está num novo momento, se adaptando a novas rotinas, a leitura acabaria sofrendo. Mas os audiolivros com certeza são uma boa opção nesse caso. Ainda não me arrisquei nesse formato, mas também por não ver necessidade.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Maravilha.
Eu nunca ouvi um audiolivro. Há muito que não leio um livro de papel.(ah, coisa boa). Uso Kindle com muitos livros baixados de repositórios open-source. Grandes clássicos estão à disposição, sem custo. Talvez vocês conheçam o projeto Gutenberg:
https://www.gutenberg.org/
Paz e saúde.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Obrigada!
Também nunca ouvi, ainda não tenho muita curiosidade.
Mas alterno muito entre livros físicos e ebooks. Livros físicos ainda são um dos melhores presentes, então tenho alguns não lidos na estante… hahahahaha
Mas sim, ebooks têm muitas vantagens também, principalmente o acesso… E por isso tenho outra fila enorme de leituras ainda não realizadas hahahaha
Agradeço imensamente a visita!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Gostei muito Tatiana!
Informações muito interessantes e algumas, como você mesmo comentou, surpreendentes.
Obrigado pelo trabalho de fazer esta comparação, a meu ver importante para quem lê, escreve ou gosta de livros.
Parabéns!
CurtirCurtido por 2 pessoas
Obrigada pela leitura, Antonio! Valeu muito a pena fazer isso.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sensacional esse post, Tati!
CurtirCurtido por 2 pessoas
Obrigada, Brenda!!
CurtirCurtido por 1 pessoa